Um mês de desespero escrita por Leon Yorunaki


Capítulo 48
XLVII: Psywave


Notas iniciais do capítulo

Socorro!

Sei lá, as vezes eu me surpreendo com quão longe essa história chegou. Quando eu a comecei, nunca achei que ela ficaria tão grande, tão complexa e tão emocionante (escrever sobre a Himiko é emocionante para mim, espero que esteja sendo tão emocionante quanto ao ler sobre ela).

Com o final da história chegando, vem aquela sensação dupla de alívio e saudades... E olha que ainda falta uma última pernada pra chegar ao final... A sensação é de ter corrido uma maratona e estar enxergando a linha de chegada lá no final da reta.

No mais, perdão por ter demorado um pouquinho mais do que eu gostaria para ter terminado esse capítulo aqui. Ele está um pouquinho mais longo que os imediatamente anteriores, espero que gostem, apesar de eu ainda achar que está meio corrido e que deveria ter o dobro do tamanho para poder narrar tudo com calma...



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Eram pouco mais de cinco horas da manhã e o céu mal ameaçava deixar sua escuridão de lado, mas Himiko já estava de pé, encarando o oceano a sua frente e analisando por outra vez as dificuldades de seu plano. Com aquela noite sem dormir pesando sobre seus ombros, perguntava-se ser ou não uma grande loucura.

Ao olhar para a pequena bússola em sua mão direita, seu único instrumento de orientação desde que se desfizera de seu PokéNav, teve certeza de que era.

Olhou de volta para trás, vislumbrando seus seis pokémon a lhe encarar. Não foi tão difícil convencê-los a ajudar, mesmo os que consideravam o risco maior do que a recompensa; não quando Futa colaborava no discurso. A treinadora sabia bem que não era por ela que ele estava tão engajado no plano; o olhar do parceiro, fixo em Nolan, denunciava que o Gardevoir estava mais preocupado em estar certo do que em de fato ajudá-la.

Mas apenas cinco dos seis pokémon estavam dispostos a participar daquele plano. Para a surpresa de absolutamente ninguém, o Swampert se mantinha irredutível.

— Eu não pedi para vir com você, não conte comigo!

O pior de tudo era que o anfíbio era essencial para que a viagem pudesse ser realizada. Rejane era pequena demais para carregar Himiko naqueles onze quilômetros que os separavam da ilha Bakhold. Restava Nagrev como opção, mas tanto a treinadora quanto o Charizard concordavam não ser boa ideia ir voando até lá.

— Calma aí, grandalhão! — Ikazuchi provocou, ignorando os riscos de contrariar o Swampert. — Ela te capturou, o mínimo que você devia ter era um pouco de respeito!

— Eu respeito quem me respeita, ela sempre soube que eu não queria ser capturado!

— Depois de tacar uma bola de lama na cabeça dela, que moral tu tens pra exigir alguma coisa? — Rejane argumentou de volta, revelando um detalhe importante que o anfíbio preferia ignorar.

— Tente pensar do meu lado um pouco…

— É um pedido de desculpas que você quer? — Himiko interviu, respondendo ao Swampert.

— Eu só quero viver minha vida em paz! Mas não importa para onde eu vá, sempre encontro sangue no caminho e alguém me arrastando pro olho do furacão!

— Parece que nós dois precisamos um do outro então… Você quer sua liberdade de volta, eu quero uma carona. Que tal se um ajudar o outro nessa?

— Você tá dizendo que vai me libertar se eu te levar pra essa ilha? Então está feito!

Até mesmo Himiko se surpreendeu com a resposta do pokémon, não por ter conseguido o que queria, mas pela facilidade com que o Swampert concordara. Dava até para pensar que havia algo de errado.

— Certo, vamos repassar o plano então. Rejane, vou querer que você me acompanhe durante a viagem, pro caso de algum Pokémon nos atacar no caminho. Nagrev, vou lhe chamar assim que chegarmos pra você verificar os arredores. Kazu, dependendo do que encontramos na ilha você irá me acompanhar lá.

— Por que está me deixando de fora? — Futa perguntou, percebendo algo de estranho na fala da treinadora.

— Estou contando com você pra nos tirar de lá, lembre-se de que não temos carona para a volta. E é sempre bom ter um Pokémon descansado caso dê algo errado.

— Não preciso de descanso! — Nolan teimou, incluindo-se por conta própria no plano. O Gengar sabia muito bem que Himiko tinha bons motivos para não confiar nele, já que o fantasma estava torcendo para que ela quebrasse a cara. Talvez fosse medo de ele sabotar os planos, coisa que ele não planejava fazer, não quando imaginava que as coisas dariam errado por conta própria.

— Que seja! — Himiko retrucou. — Mesmo assim, quero vocês dois de fora até que seja necessário. Uma arma secreta pode vir a calhar.

Engolindo em seco, Futa entendeu a deixa e voltou para sua pokébola, percebendo que ela queria agir sem interferências. Kazu e Nagrev logo fizeram o mesmo, de acordo com suas partes no plano. Nolan aproveitou a oportunidade para desaparecer outra vez, deixando uma ligeira dúvida quanto a sua participação na viagem.

Restaram somente Rejane e o Swampert, este resignado em colaborar pelo único motivo de ter sua liberação prometida assim que chegassem a ilha Bakhold.

A Lombre, no entanto, seguia preocupada com alguma coisa.

— Tens certeza de que quer ir?

— Acho que é meio tarde para mudar de ideia…

Ela então sinalizou para o anfíbio, que se posicionou para que a garota subisse em suas costas. Não era uma posição muito confortável, mas ao se apoiar nos ombros do Swampert, estava segura o bastante para não cair no meio da viagem, em especial pela pele rugosa do Pokémon facilitando para que não escorregasse. O desconforto era maior por conta do peso que ia sobre as costas da garota, composto da mochila, da Lombre e de todas as inquietações que a Pokémon levava com ela.

Mesmo toda a carga que Himiko carregava não era incômodo maior do que a escuridão da viagem, acentuada conforme se afastavam de Pacifidlog. Mesmo com o céu começando a se tingir de tons mais claros, por conta do amanhecer, era impossível enxergar mais do que alguns metros a frente, estando a mercê dos perigos do mar apesar das águas estarem tranquilas como era esperado. Tal como a aparente ausência de Pokémon selvagens, isso significava que dificilmente desviariam da rota planejada.

Mas em uma coisa a treinadora havia se enganado, pois Rejane não fez qualquer comentário a respeito dos acontecimentos do dia anterior. Talvez fosse a tensão da viagem, ou meramente pela companhia do Swampert, mas a Lombre não tocara no assunto da antiga treinadora ou dos motivos daquela viagem; limitou-se a falar minimamente sobre os perigos do percurso, ou da falta deles, no caso.

Com a claridade surgindo com o sol no horizonte, tiveram a certeza de que mesmo os Tentacool ou Wingull que eram esperados não dariam as caras no percurso, distantes além do campo de visão da treinadora. Seria algo a lhe deixar pensativa não tivessem preocupações maiores pela frente.

Não tardou para que visualizassem a ilha ao fundo, apesar do leve desvio no trajeto que logo foi corrigido. O cansaço, porém, viera junto, atingindo aos três em intensidade semelhante. Apesar de ser o Swampert quem fazia o maior esforço, Himiko e Rejane estavam longe de se sentirem confortáveis. Somada a ansiedade da treinadora, não era de se estranhar que sua cabeça começasse a doer.

Tanto que, depois dos longos minutos para que chegassem ao litoral, ela sabia que um momento de descanso seria necessário assim que pusessem os pés em terra firme. O incômodo era tamanho ao ponto de que ela se esqueceu de chamar por Nagrev para vasculhar os arredores em busca de algum perigo iminente. Ou talvez porque não fosse necessário, pois ele se apresentava pelo forte odor a exalar de algum ponto ao meio da pequena praia, uma porção de talvez uns trinta metros de terra como única região possível para o desembarque.

Era a primeira das várias informações sobre Bakhold que Himiko desconhecia. A ilha era formada primordialmente por uma grande estrutura de pedra, mais se assemelhando a um enorme rochedo do que uma ilha de fato. Seu topo era ligeiramente plano, provavelmente habitável, porém a subida era íngreme ao ponto de ser impossível de ser vencida sem equipamentos.

Mas, quando desembarcaram na extremidade mais próxima da pequena faixa de areia, o cadáver agora visível no meio da praia era uma preocupação maior do que subir a montanha.

E, para completar, o Swampert decidiu que não esperaria nem mais um segundo para cobrar a sua parte no trato.

— Chegamos, agora é com você!

— Dá pra ter um pouco de calma?

— Que calma que nada, eu quero cair fora daqui o quanto antes!

— Então pode ir, cacete!

— Eu não tenho como ir se você não me soltar!

— Então você vai ter que me esperar!

E, nessa irritação mútua, os ânimos se mantiveram acirrados enquanto Himiko buscava a pokébola que usara para capturar o Swampert, perdida em algum lugar na mochila. Abrindo a esfera em seguida, ela procurou pelo botão interno que permitia a inutilização do objeto, pelo que o apertou, confirmando o processo com sua digital.

— Quebra logo essa porcaria que é mais rápido!

— Você que pensa! Se eu quebrar a pokébola você vai ficar preso a mim por mais algumas horas, é um mecanismo de segurança pro caso de acidentes…

— Eu não tenho todo esse tempo!

— Então espere eu terminar aqui…

A um bip emitido pela pokébola, Himiko atirou o objeto longe, apesar da liberação não ter sido concluída.

— Você tá de sacanagem com a minha cara, não é?

— Pra quê essa pressa toda? Não consegue esperar nem cinco minutos?

— Em cinco minutos pode acontecer muita coisa!

— Na boa, já pode ir embora se quiser. Pelo menos não fica me enchendo o saco!

— Ah, claro, aí você pega a pokébola e cancela o processo! Eu já falei que não confio em humanos?

— Puta merda, dá pra ficar calado?

Himiko sentou-se na areia, aguardando o final da contagem silenciosa para que a pokébola fosse inutilizada; mais um mecanismo de segurança a fim de evitar solturas acidentais. O Swampert, no entanto, permaneceu encarando a garota, ansioso para se ver enfim livre.

O segundo bip emitido pelo objeto, anunciando o fim do processo de liberação, mal pôde ser ouvido completamente pela treinadora, pois veio acompanhado de um jato de água com alta pressão. O pokémon, não mais preso ao dispositivo de obediência de quando capturado, atacou a garota tal como desejava fazer a muito tempo, atirando-a alguns metros para trás com o impacto.

— Isso é pra você aprender!

Felizmente para ela, não houve chance do anfíbio desferir um segundo golpe; Rejane, apesar de tão cansada quanto eles, usou de sua Drenagem Vital contra o pokémon, deixando-o sem forças tal como fizera da vez anterior, incapaz de se mover para atacar.

— Tu és um sacana mesmo, que golpe baixo! Eu devia era acabar com a tua raça!

— Deixe ele, Rejane! — Himiko respondeu, levantando-se sem nenhum ferimento, apesar de encharcada e coberta de areia. — Não sou cretina a esse ponto!

— Mas e se ele vier pra cima da gente depois?

— É por isso que você tem os esporos paralisantes, pode usá-los!

Rejane pareceu decepcionada com a sugestão, mas a obedeceu de imediato. Ela já tinha alguma antipatia para com o Swampert desde que soube o que levou Himiko a capturá-lo após ele se intrometer em uma discussão da treinadora com seu Gardevoir.

Deveria ter lhe causado estranheza o fato de a Lombre estar disposta a resolver as coisas pela violência, o que não era de seu feitio.

Aliás, a situação como um todo não lhe cheirava bem, e não era apenas por conta do aroma pútrido que eles tentavam ignorar. Agora, sem o Swampert a lhes roubar a atenção, era uma tarefa muito mais complicada, até porque eles teriam que passar pelo corpo se quisessem sair dali, visto que o caminho para cima certamente envolveria uma série de túneis escavados por entre as rochas na outra extremidade da praia.

Foi impossível não olhar ao menos de relance para o cadáver enquanto passavam por ele; a aparência quase irreconhecível daquele garoto denunciando que estava morto desde o dia anterior. A cabeça estava aberta em dois pontos distintos, o que sugeria que ele havia caído do alto do rochedo, ou talvez tentando escalá-lo.

O que chamou a atenção de Himiko foram os pertences dele que estavam caídos ao lado do corpo, um PokéNav e três pokébolas, sendo que apenas uma delas havia sido danificada na queda.

E nem mesmo ela soube dizer por que decidiu recolhê-los. E foi além, abrindo o PokéNav em busca de alguma identificação. Não conseguiu nada além de um nome: Reynard Larreine.

Por algum motivo que nem mesmo ela soube definir, atreveu-se a atirar as pokébolas longe, liberando os pokémon do falecido sem nem mesmo olhar para trás, ignorando os riscos de ser atacada pelas criaturas. O fato de ela já ter a companhia de Ikazuchi no momento em que o fez tornaria uma possível batalha minimamente justa, mas algo lhe dizia que as criaturas não a atacariam, estando chocadas demais ao constatar a morte do treinador, pelo qual ela teve tempo de sobra para se afastar em direção às grutas.

— Para que isso? — Kazu perguntou após se distanciarem o suficiente. — Eles podiam ter nos atacado!

— Acho que é digno. Se fosse comigo, eu gostaria que alguém fizesse o mesmo por mim.

— Ah, cala a boca, você fala como se estivesse prestes a morrer!

— Bem, talvez eu esteja…

— Espere um pouco aí!

Himiko congelou com a última ordem, ouvindo-a dentro de sua cabeça. Apenas Futa e Nolan costumavam se comunicar daquele modo.

Mas não poderia ser nenhum dos dois, considerando que se tratava de uma voz feminina.

Assustada, a garota olhou para trás, ato logo imitado por Ikazuchi e Rejane, ao que eles encontraram a dupla de pokémon que ela liberara um minuto antes.

— Quem são vocês? — A voz tornou a se manifestar, desta vez com Himiko observando sua dona, uma Slowking de aparência pouco usual que havia sido ignorada até então. Sua curta pelagem tinha tons apagados, em um tom que se aproximava mais do cinzento do que da cor rosada habitual da espécie. Essa não era a característica que mais chamava a atenção naquela pokémon, mas sim as várias fitas presas ao topo da carapaça em sua cabeça, nas cores preta e magenta, com as pontas desfiadas caindo a imitar um penteado punk.

— Meu nome é Himiko — a garota respondeu —, e esses são meus amigos. Por que quer saber?

— Queremos te agradecer! — a Slowking continuou. — Muitos não fariam o que você fez.

— Meus pêsames…

A pokémon do tipo psíquico se pôs de joelhos em resposta, abaixando a cabeça em uma reverência; o Crobat que acompanhava, este com a aparência habitual da espécie à exceção de uma bandana verde amarrada em sua cabeça, pousou ao lado dela, juntando suas asas em igual gesto de reverência.

Antes que a treinadora pudesse se virar de volta, contudo, a Slowking tornou a falar.

— Vocês vão subir? Se importam se formos juntos?

Himiko não respondeu de imediato, sentindo uma energia estranha naqueles dois pokémon, sua intuição lhe dizendo que não seria uma ideia segura.

— Digo, nós vamos subir de qualquer forma, e acho que vocês vão precisar de um guia para andar nessas grutas.

— O que tem lá em cima? — Himiko questionou.

— É o que preciso descobrir. — A voz da Slowking fraquejou, denunciando que ela agia de modo a querer entender como seu treinador havia morrido.

No instante seguinte, o Crobat levantou voo, dando uma breve olhada no que ocorria no alto do rochedo antes de descer.

— Trux diz que viu um campo com coisas humanas, dois deles ao lado de uma torre.

Era informação o suficiente para Himiko, mesmo que o Crobat não tivesse uma visão real aguçada; considerando que havia pessoas de prontidão, era fácil perceber que ir voando nas costas de Nagrev chamaria atenção demais, uma decisão acidental que se mostrara acertada no final das contas.

— Será que essas grutas chegam até o topo? — Himiko perguntou.

— Quase certeza que sim. Nós ajudamos a abrir caminho para Rey, uma pena que a pokébola do Adraen tenha se quebrado… Ele quem escavou metade desses túneis…

— Mas vocês dois sabem como chegar ao topo, não sabem?

— Queria poder dizer que sim, mas Rey nos recolheu antes de chegarmos.

Um breve instante de silêncio se fez, aonde todos se encaravam; Himiko não escondeu a desconfiança que sentia, esperando que a Slowking percebesse sem que fosse necessário explicar usando palavras para que o incômodo não fosse interpretado de maneira ofensiva.

— Nós vamos na frente. — A Slowking encerrou o assunto. — Se quiserem, podem nos seguir.

E assim se formou uma estranha comitiva a adentrar pelas galerias rochosas em busca de alcançar o topo da ilha. O Crobat liderava a fila, abrindo caminho com sua ecolocalização. A Slowking seguia logo atrás, seguida de perto por uma igualmente desconfiada Rejane. Himiko mantinha uma certa distância do trio, o suficiente para mantê-los no campo de visão, graças a ajuda de Ikazuchi, que fechava a fila enquanto iluminava o caminho com sua eletricidade.

— Falem um pouco de vocês! — Himiko sugeriu, tentando quebrar a tensão para não perder o pouco de sanidade que lhe restava.

— Eu sou Mayhem. — A Slowking se apresentou. — E ele é Truxton. Nosso treinador veio pra cá tem três dias, e agora queremos entender o que aconteceu com ele.

— Que mal eu pergunte, ele comentou com vocês por que decidiu vir?

— Rey nunca falava sobre ele.

— Deve ser chato ter um treinador assim… — Kazu rugiu, aproveitando para dar uma indireta em Himiko.

— Rey era muito legal conosco, acho que me expressei mal. Era um ótimo coordenador, gostava de cantar junto nas apresentações. Só não falava nada sobre os problemas dele.

A treinadora preferiu não se manifestar, percebendo que seu comportamento era em muito semelhante ao que era narrado. Tanto o era que nem o Manectric nem a Lombre sabiam dos motivos exatos que a levaram até a ilha, por exemplo.

— É, eu entendo…

— E eu devia dar uma na sua cara! — Rejane respondeu, percebendo a nuance na voz da garota.

— Como é que é?

— Tu trouxeste a gente pra cá e até agora não falastes nada sobre o que viemos fazer!

— Sei lá, eu pensei que você não se importaria em saber…

— Tu tá ficando doida!?

— Calem a boca vocês, estão me atrapalhando!

O guinchado áspero do Crobat se sobrepôs rapidamente aos quase gritos da Lombre e de sua treinadora. Ambas tomavam consciência de que não deveriam estar brigando em um momento tão crucial, mesmo se recusando a dar o braço a torcer. Estavam todos tão tensos e irritadiços que era quase esperado que acabassem trocando farpas entre si.

— Temos problemas a frente. — Truxton alertou, contendo o avanço do grupo. — O caminho foi bloqueado.

— E se a gente procurar outra rota? — Kazu perguntou. — Podemos voltar e…

— Esse é o caminho certo, ou era quando passamos aqui pela primeira vez.

— O que há de errado então? — Himiko perguntou.

— Tem alguma coisa bloqueando meu sonar.

— Talvez seja um pokémon. Afastem-se, eu vou verificar!

O Manectric disparou um pulso elétrico na direção do túnel, iluminando o caminho até o momento em que o raio foi também absorvido por uma barreira esverdeada a uns vinte metros de distância. Não tiveram como enxergar muito bem, mas a impressão era que fosse uma estrutura viva, a qual dava a impressão de estar derretendo.

Com essa informação, Himiko apontou sua pokédex em busca de informações, sem obter qualquer resposta. Sabendo não ser sensato se aproximarem sem saber como que estavam lidando, restava a eles se encararem.

— E agora? — Rejane perguntou, sentindo o clima de decepção que assolava o grupo.

— Essa é fácil, a gente cai fora daqui!

— Como assim, Kazu? — Himiko questionou, tomando a frente na conversa.

— Alguém colocou essa coisa pra manter todo mundo longe, e é isso que temos que fazer!

— Não podemos simplesmente desistir por causa de uma meleca verde no caminho, se não der pra passar por aqui nós vamos procurar outro caminho nem que eu tenha que abrir um sozinha!

— Só se for sozinha mesmo, porque eu estou fora!

— Achei que você tinha concordado com o plano antes de virmos pra cá!

— Concordar com o quê? Você iria me ignorar se eu dissesse que não queria vir, então fiquei quieto! É uma encrenca atrás da outra, eu cansei!

— Peste! — Rejane gritou, revoltando-se com os dois. — Se matem aí se quiserem, mas pelo menos a Mayhem tá tentando fazer alguma coisa!

Mesmo a Lombre não escondia que estava tão irritada com Himiko quanto o Manectric, mas ela ao menos entendia que deveriam seguir em frente. Apontou para a Slowking, que segurava uma pedra de tamanho considerável com sua telecinesia, atirando-a contra a barreira, que não demorou a absorver a rocha, tal como fez com os golpes que lhe foram projetados.

No momento seguinte, contudo, Mayhem usou um pulso psíquico contra a barreira, a qual recuou alguns centímetros, o suficiente para que soltasse a pedra que havia acabado de absorver.

— É uma barreira viva, você tem alguma pokébola para atirar?

Himiko escondeu a surpresa, logo buscando o objeto a pedido da Slowking. Atirou-a quando teve chance, sem ter muita crença de que funcionaria. Mas, se por um lado o plano não dera certo, por outro tiveram a certeza de que era, sim, um pokémon, com a esfera tendo sido repelida pela criatura gosmenta, em vez de ser absorvida como havia feito com outros objetos.

— Pelo menos agora sabemos o que estamos enfrentando…

Rejane aproveitou para se aproximar do grupo, com a intenção de investigar ao menos a rocha que a criatura havia tocado, mesmo sabendo que seria uma tarefa complicada por conta da relativa escuridão da caverna. Truxton, porém, a deteve assim que ela fez a menção de ir até o objeto.

— Fique longe! É uma toxina muito forte, até mesmo para mim!

Himiko, que observava a cena de longe, limitava-se a ignorar a apatia do Manectric; ele continuava a iluminar o local, mas se recusava a colaborar com qualquer esforço que pudessem fazer para transpor a barreira. A única que estava agindo de fato era Mayhem, tendo em vista que Rejane e Truxton agora conversavam sobre a toxicidade da criatura que teriam de enfrentar.

Foi aí que a treinadora percebeu que fora um pulso psíquico a única coisa que causara efeito na barreira até então. Talvez com uma força extra, a criatura pudesse ceder.

Futa teve um sobressalto ao ser liberado de sua pokébola, logo contornado quando ele e a Slowking fizeram contato visual; Himiko jurava ter visto um fio de energia brilhar ligando um ao outro por uma fração de segundo, na qual os dois pokémon se comunicaram em uma torrente de ideias, mais rápido do que qualquer palavra o faria.

— Já temos um plano. — Futa se manifestou de imediato. — Himiko, pegue aquela pokébola do Sr. Stone!

— Qual pokébola?

— A que estava no cubo que o Steven te entregou. Vamos usá-la agora!

— Você ao menos sabe o que é aquela coisa?

— Ele era presidente de uma fábrica de pokébolas, na pior das hipóteses ainda deve ser uma pokébola melhor que as convencionais.

— Vou confiar em você. No que está pensando?

— Eu e ela vamos atacar juntos. Atire a pokébola quando eu contar três!

A garota encarou o objeto, notando outra vez o seu topo na cor púrpura. Se aquela pokébola não fosse capaz de aprisionar aquela gosma gigante, provavelmente nenhuma outra o faria. Talvez fosse a única chance deles, afinal.

— Um… dois…

Himiko posicionou-se, apenas esperando o final da contagem para lançar a esfera; esta foi então impulsionada para frente com a força das ondas psíquicas desferidas por ambos os pokémon. Mesmo com os dois agindo em conjunto, a repulsa da pokébola por parte da criatura era considerável, de modo que o objeto pairou flutuando no ar, tal como um cabo de guerra ao contrário.

Felizmente, o esforço combinado do Gardevoir e da Slowking foi o suficiente para que a pokébola tocasse a criatura gosmenta, absorvendo-a rapidamente. Mesmo assim, o adversário levou quase dois minutos para ser capturado por completo, consequência do tamanho descomunal do oponente, revelado ao final do processo pelo tamanho do buraco que ele deixara, com pelo menos uns oito metros de altura e doze de largura.

Himiko preocupou-se primeiro em saciar sua curiosidade, verificando o pokémon capturado. A análise feita após o encapsulamento finalmente obteve um resultado positivo da Pokédex, revelando se tratar de um Muk, apesar da cor e tamanho incompatíveis para a espécie.

Mas, com a fenda a sua frente como obstáculo, teriam de pensar em um meio de vencê-la. Nada que os pokémon psíquicos não pudessem resolver.

— Chame os outros de volta! — Futa ordenou. — Quanto menos peso, melhor!

A falta de iluminação não seria mais um problema, cortesia de uma rachadura revelada com a captura do Muk; o fino feixe de luz poderia não iluminar a caverna tão bem quanto a corrente elétrica do Manectric, mas era suficiente para que pudessem enxergar o caminho. Não estavam tão longe do topo, afinal.

Himiko imediatamente concordou, olhando de cara feia para ambos seus pokémon quando os recolheu nas pokébolas. O comportamento agressivo de Ikazuchi em particular lhe irritara, de modo que lhe passou pela cabeça, por um breve instante, abandoná-lo por ali mesmo. Ignorou o pensamento de imediato ao encarar Rejane, lembrando-se de tudo pelo que ela passara por motivo idêntico.

Quando estavam apenas ela e Futa parados ali, Himiko olhou para o outro lado, observando como Truxton e Mayhem atravessaram a fenda voando, com o Crobat carregando a Slowking. A garota esperava que eles fossem usar da capacidade psíquica dela para fazer a travessia, o qual seria um meio mais prático de fazê-la.

Não foi impedimento para que treinadora e Gardevoir cruzassem a fenda, flutuando sobre ela com a telecinesia do pokémon.

Mas foi no momento em que puseram os pés no chão além do buraco que perceberam o motivo da escolha pouco usual da outra dupla.

Pois antes que ela pudesse se firmar em pé, sentiu uma onda psíquica a atingi-la no peito, atirando-a para trás em direção ao fosso que tentara evitar. Abraçava-se a Futa, igualmente atingido pelo golpe, sem tempo para reagir. Devido ao esgotamento causado pela telecinesia, ele precisaria de alguns segundos para se recompor, um tempo longo demais para que pudesse se defender da traição revelada com aquele ataque. A Slowking nem mesmo se deu o trabalho de explicar o porquê, mesmo que pudesse fazê-lo para Futa de forma quase instantânea por sua comunicação psíquica.

Para Himiko, restava encarar o sorriso maldoso de Mayhem enquanto despencavam através da fenda.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado, porque o ritmo agora vai ser esse: muitas coisas acontecendo, muitos motivos para se irritar, e principalmente muitos problemas a serem resolvidos!
Não tenho muito a dizer que não seja um spoiler exceto que prestem atenção no nome do próximo capítulo (espero não demorar muito com ele, pois será o capítulo mais importante da história — e considerando o que se passou para que Himiko chegasse até aqui, isso é dizer alguma coisa!)


Notas do In-Game:
Então, se no capítulo passado eu falei que estava arrancando com o freio de mão puxado, nesse eu digo que quase batemos o carro. Pelos níveis, dá pra imaginar que eu pulei muita coisa, e pulei mesmo. Esse capítulo foi o que seria o equivalente a Victory Road em um jogo tradicional, o que significa que não falei nada sobre o 8º ginásio (do tipo lutador). E sim, teve uma morte lá, apesar de eu ter representado ela de uma maneira mais sutil (até porque eu não teria como representar na fanfic se eu levasse a ferro e fogo). Em resumo, o Swampert morreu tomando um crítico enquanto setupava Bulk Up contra o Heracross adversário no ginásio...

Ah, a propósito: Tanto Mayhem quanto Truxton chegaram a entrar no meu time no jogo, por mais que não na fanfic. Então, fiquem com esse time de 7 por enquanto. É, eu sei que você também sabe o que isso significa na prática...

Status do time:
Pokémon: 7[!]
Futakosei (Gardevoir) Lv. 80; Bold, Synchronize.
Ikazuchi (Manectric), Lv.81, Serious, Lightning Rod
Nagrev (Charizard), Lv.80, Naive, Blaze
Rejane (Lombre), Lv.82, Bold, Swift Swim
Nolan (Gengar), Lv.80, Docile, Levitate
Mayhem (Slowking), Lv.55, Lax, Oblivious
Truxton (Crobat), Lv.34, Impish, Inner Focus


Mortes: 9 +1 = 10
Vash (Swampert), Lv.50~71, Relaxed, Torrent



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