— Hoje é um dia que será marcado na história.

Um homem de voz áspera estava sobre um palco improvisado, a céu aberto. Seu rosto escondia-se sob uma máscara, assim como o da maioria dentre as cerca de duas centenas de ouvintes. Eram em sua maioria membros da alta sociedade de Hoenn, e se escondiam com medo de serem identificados. Não havia iluminação elétrica na remota ilha escolhida para a reunião, e a luz fornecida por três dezenas de Lampents, juntamente com os mascarados e a fraca luz das estrelas que vinha do lado de fora, formavam o ambiente exponencialmente sombrio, que talvez fosse bastante apropriado para um encontro secreto.

— Depois de mais de um ano de pesquisas, e com a ajuda financeira e tecnológica de muitos de vocês, posso dizer com propriedade que o emissor beta que se encontra atrás de mim está pronto para entrar em funcionamento. — a plateia começou a se agitar. — Cada um de vocês aqui presente foi parte do resultado, e merece os devidos agradecimentos. Porém, há um entre vocês que merece uma menção especial. E é por isso que eu o chamo aqui ao palco neste momento.

Ao anúncio do nome, parte da plateia se entreolhou. Apesar das máscaras, muitos dos presentes se reconheciam. Era uma prática comum nas reuniões que nenhum deles mostrasse o rosto; fazia parte das crenças do grupo valorizar as palavras que eram ditas, e não seu interlocutor. E considerando as circunstâncias, talvez não fosse necessário usá-las naquele momento, quando o projeto já se encontrava concluído, ainda que a formalidade evitasse que a regra implícita fosse descumprida.

A surpresa devido ao nome citado se deu por ser de um desconhecido da maior parte dos presentes. E também pelo fato dele ignorar completamente o protocolo.

O rapaz que foi chamado contrastava bastante com a maioria dos presentes, não só pela ausência da máscara e das vestes negras. Sua idade também chocou boa parte dos presentes, tendo em vista que o convidado era bastante jovem. Talvez fosse até mesmo menor de idade. Sua camiseta vermelha e calças jeans se destacavam naquele ambiente artificialmente sombrio. Seu rosto, marcado pelas sobrancelhas espessas e pela boina branca e folgada que escondia seus cabelos, aparentava uma completa despreocupação com os presentes, mas ao mesmo tempo demonstrava bastante ansiedade. Talvez por isso, ele acabou tomando imediatamente a palavra assim que alcançou o palco, sem mesmo cumprimentar seu anfitrião, que tentou disfarçar a falta de respeito do convidado, como quem criticava os modos dos jovens, comparando com sua própria juventude.

— Sou muito agradecido a todos por ter tido a oportunidade de tomar parte deste projeto. — A voz do garoto era grave, contrastando com sua tenra idade. Ele pigarreou antes de continuar. — Os testes que efetuei durante minhas duas jornadas trouxeram resultados acima da expectativa, porém nunca acreditei que algo desta magnitude fosse possível. Graças ao Grande Irmão, este que me chamou ao palco neste momento, descobrimos a possibilidade de implementar este projeto em escala, como imagino que seja interesse de todos os presentes. — ele fez uma pausa calculada, como se tivesse ensaiado por meses para dizer a frase a seguir — E depois de todo o trabalho que tivemos, posso afirmar que o Dispositivo Locke está pronto para ser ativado.

Talvez se a plateia fosse mais jovem, eles teriam irrompido em gritos de alegria. Porém, por se tratar de um público mais envelhecido, se contentaram com palmas discretas. O mascarado que havia sido identificado como o Grande Irmão tomou novamente o microfone, com as mãos levemente trêmulas. Ele parecia tão ansioso quanto o jovem.

— Queira ter a honra de iniciar o gerador.

— Eu preferiria dar a honra a você, Grande Irmão.

O botão foi pressionado, gerando um campo de força quase imperceptível que começou a se irradiar por Hoenn. A previsão era de que o efeito pudesse se propagar por todo o continente durante as próximas horas. Não havia como prever se o experimento daria certo, mas os presentes se permitiram a iniciar uma pequena comemoração.