Mundo medonho escrita por Helen


Capítulo 15
À Sociedade Medonha.


Notas iniciais do capítulo

A crase dá o sentido de ida, por isso não está errado.



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Ronald andava por um pequeno bosque, que pertencia ao hotel onde estava. Ganhara uma espada de néon para se defender caso precisasse enfrentar outro Medo novamente, e Loch se desculpou pelos Intrépidos por não dado antes. O líder dos Intrépidos e Devit investigavam arduamente o paradeiro dos outros Intrépidos, espalhados no acidente. Enquanto isso, Adler passava boa parte do dia fazendo incríveis nadas, sentado num galho e encostado no tronco de uma árvore, enquanto seu Medo pulava como um macaco nos outros galhos.

Gradativamente, todo o resquício de medo em Ronald sumiu, fazendo-o voltar a ser um intrépido genuíno. Mas a experiência de ter sido "meio Medroso" o rendeu o caminho para memórias borradas pela cirurgia da intrepidez.

Algumas vezes, Devit (que se tornou o professor de esgrima de Ronald) dava um intervalo para que o rapaz pudesse absorver com calma todos os ensinamentos sobre como utilizar o sabre. Nesses intervalos, o rapaz sentava e meditava, vasculhando qualquer coisa que o medo tivesse deixado dentro de sua mente. Encontrou memórias antigas, de quando o medo ainda existia no seu coração humano, e a coragem era um atributo que se tinha orgulho, porque era raro. A coragem havia passado de algo bom, bonito e precioso para algo banal, que todos haviam recebido artificialmente. Naqueles dias, era difícil saber quem era corajoso de verdade. Havia uma mistura de intrepidez com uma libertinagem ousada e desregulada. O medo fora tirado, junto com a memória dos bons costumes. Talvez todos os "corajosos" estavam tão ocupados na sua nova liberdade que esqueceram que aquela "prisão" era o que os fazia ser humanos.

Os intervalos tinham sido suficientes para que Ronald caísse no poço da realidade. Mas ele a rejeitava, subindo e saindo do poço, ignorando toda a verdade que se abria diante de seus olhos. Se lembrava de como a intrepidez havia sido boa para a humanidade. Como pessoas foram abençoadas com aquilo. Aquela verdade que se revelava só estava ali por causa dos que faziam mau uso da coragem. Ele era grato pela dádiva da bravura. Se voltasse a ter medos, o que seria dele? Um miserável medroso, como era antes. Não! Nunca gostaria de ter receio novamente. Esperou completar onze anos para poder ser intrépido, e aqueles onze anos foram os piores que teve, graças ao medo que tinha. A coragem era uma dádiva que deveria ser dada a todos! Todos os bons, recebam a coragem! E usem-na para acabar com os maus! Não temam o amanhã, façam o que deve ser feito hoje! Ronald lembrou dos nove anos depois de se tornar intrépido. Tão bons...

Nesse momento, Devit o acordou dos devaneios, dizendo que já estava na hora de voltar para esgrima. Ronald focou-se novamente no sabre e na rapidez dos movimentos, procurando quebrar a defesa do inimigo o mais rápido que era capaz. A cada golpe, uma nova lembrança castigava sua mente. Era outra luta: Ronald contra ele mesmo.

...

Naquela mesma noite, alguém incomum surgiu na recepção do hotel, querendo falar com Loch. Ele pediu para que a secretária encaminhasse o estranho para o hall de visitantes. A moça assim o fez, enquanto Loch, Devit e Adler — este último, como um bom curioso — desciam as escadas para ver quem desejava falar com eles. Ronald foi também, puxado por Adler, que achava de extrema importância todos estarem lá, mesmo que fossem as escondidas, caso fosse alguém dos Scrupulum.

Ronald e Adler ficaram atrás da porta dos fundos do hall, que dava para um corredor vazio, de onde se poderia ou ir para os quartos (pela esquerda), ou simplesmente ir embora (ia reto, e dava em outro estabelecimento, chegando a rua). A primeira coisa que eles ouviram foi a voz de Loch.

"Ah, então é você?"

Um silêncio constrangedor perdurou na sala por algum tempo, até que se ouviu o som de algo se rasgando. Ouviu-se também o som espectral que Otsugua fazia quando se movia, e em seguida um protestar agudo. A voz interessou os ouvidos de Adler, que se empenhou ainda mais em ouvir o que estava do outro lado da porta.

"Uh..." era a voz de Devit.

"Algum problema?" perguntou a voz.

"Por que um Medo que acabou de descartar seu Medroso nos procuraria?"

"Primeiro, mande essa... coisa me soltar!"

"Haha, não." disse Loch. "Não podemos te deixar livre tão fácil assim."

"Ahh..." a criatura suspirou. "Beleza então."

Um minuto se passou. Talvez fosse o tempo em que a criatura conseguiu se "acomodar" com a “prisão” que Otsugua era.

"Sejamos diretos: Eu estou cansado dos Scrupulum." a voz do Medo soava com irritação. "Tudo o que eles fazem é dar voltas em torno do nada. Estou irritado já com isso. A missão de nos transformar em sentimentos novamente é a mais confusa de todas. Nenhum deles sabe como atingir o objetivo, e o pior: eles abusam de sua amizade com os Medos, descobrindo até mesmo sobre segredos de Estado, de Mundo!" era perceptível sua sinceridade e aborrecimento. "Estou falando sério. Acabei conhecendo alguns deles e eles ao invés de nos proteger — como tanto declaram — nos colocam como cobaias, tratando nossas vidas como lixo. Para eles, somos animais. Eles nos fazem lutar entre nós para descobrir nossas falhas. Eles testam químicos em nós, como se fôssemos ratos de laboratório. Tenho a certeza de que nos usarão até sermos extinguidos. Os Scrupulum nunca vão nos fazer sentimentos de volta."

"Então... Você veio até nós para se vingar deles?" perguntou Loch.

"Isso mesmo."

"Me dê um motivo para acreditar na sua fidelidade aos Intrépidos."

"Dou-lhe informação: Os Scrupulum estão com um plano de ir até os Territórios Medonhos. Já estão viajando, e creio que chegarão nos territórios dos Medos em quase um mês." ele fez uma pausa "Alguns dos Intrépidos desaparecidos desde o 'Caos' na cidade vizinha estão entre eles. São traidores. Foram adotados pelos Scrupulum, e agora treinam com eles. Alguns de nós, Medos, fomos utilizados como "saco de pancadas" pra isso."

"Querem ir para os Territórios Medonhos por quê?"

"Procuram o Medo Superior. Você sabe, o dono d'O Grito."

"O... Grito?"

"Esse mesmo. Provavelmente, vão fazer algum tipo de negociação..."

"Sabe a localização atual deles?"

"Em algum lugar perto das fronteiras do país."

"Maldição!" rugiu Devit, já deduzindo as direções. "Estão indo para a Ilha Medonha."

"Lá se encontra a maior parte dos Medos classificados em Psico-Físicos, e informantes me disseram que é onde se concentra a Sociedade Medonha." disse Loch, pensativo.

Sociedade Medonha? — Ronald se virou para Adler. — O que é isso?

— Colocam o adjetivo "medonho" pra qualquer coisa relacionada aos Medos, e sociedade você sabe o que é. — Adler não deixou de prestar atenção na porta.

— Uma sociedade de Medos?

— Sabe os humanos? — ele virou os olhos para Ronald, impaciente. — A maior parte deles vive em sociedade. Cada um cumpre sua função e cumpre seus deveres em frente a um líder. Os Medos funcionam da mesma forma. O Medo Superior é o líder e todos os outros estão em seu comando. Os Físicos são os responsáveis por lutar, os Psicológicos são os que organizam tudo e os Psico-Físicos são como juízes.

— Eles... são mais parecidos conosco do que a gente pensa.

— Somos mesmo. — o Medo de Adler surgiu dos cabelos do rapaz, sorrindo. — A criação, de alguma forma, sempre se parece com seu criador. — ela deu uma risadinha, como se aquilo que tinha dito era uma referência. Nem Alder nem Ronald entenderam.

...

A conversa continuou e, quando ela terminou, Devit e Loch dispensaram o Medo. Contaram os detalhes para Ronald e Adler. A conclusão foi rápida e direta: eles precisavam ir atrás dos Scrupulum e impedi-los. Com a simples informação de que eles estavam na fronteira do país, Loch já deduzia que eles iriam atravessar o país, até chegar em Ardenes, de onde facilmente encontrariam informações e um navio para zarparem, passando pelo mar e chegando até a minúscula ilha onde se localiza a entrada para a Sociedade Medonha. Essa ilha havia sido dominada por Medos desde antes d'O Grito. É perigosa, e por isso atraente. Só se consegue sair de lá intrépido se você tiver uma ótima oratória ou aliados excelentes. Os Scrupulum tinham seus Medos. Os Intrépidos teriam Loch.

Quando Ronald perguntou sobre Medo revoltado, Devit levantou os ombros e disse: "Era apenas um Medo Físico". Loch iria comunicar a alguns Intrépidos sobre o movimento dos Scrupulum e providenciar um carro, para que pudessem começar a perseguir a malta logo de manhã. Todos foram aconselhados a arrumar uma pequena mochila com apenas itens absolutamente necessários e algumas roupas e descansar bastante. E dessa maneira, começou a corrida até a Sociedade Medonha, e consequentemente, até o Medo Superior.


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