Causei uma comoção enorme no bar do Rick, dedicando outra música para a Shayera. O meu pedido de desculpas foi bem sucedido e está decidido que não pisarei na bola com a minha, agora, melhor amiga. Sim, apesar de conhecê-la tem tão pouco tempo, a considero assim.

Tipo, mal conheço mas já considero pacas. Hahaha

Era sábado de novo e acordei bem mais disposto do que nos últimos dias e por incrível que parível, meus amigos também. Não foi uma manhã de ensaio, mas sim uma manhã de composição para novas canções, tanto para o nosso debut quanto para a nossa aula de composição. Devíamos apresentar uma canção nova e pronta, incluindo estar totalmente gravada e remixada, para que ela seja apresentada a turma.

Agora me diz: Quem precisa de um empresário ou de funcionários quando a gente faz a porcaria toda sozinhos? Sim, porque a academia só oferece os equipamentos, não os funcionários para nos ajudar. Resultado: Nós quatro somos nossos próprios empresários. Acabarei pedindo para meu pai ser nosso empresário só de fachada, afinal, ele tem bons contatos.

Ficamos até a hora do almoço fazendo isso e graças a nossa sagacidade, terminamos a letra e a cifra da música numa tacada só. So tínhamos que reservar o estúdio para a gravação e remixavamos por lá mesmo.

E eu fui o encarregado de ir lá marcar o horário. A merda era que todos os alunos do nosso ano também tinham essa aula e obviamente, esse projeto. Sem contar que os alunos dos outros anos também estavam com algumas coisas paralelas. Alguns fazem programas de rádio por lá, outros gravam sua música ali. Sem contar as bandas e empresas que também usam o espaço.

Resumo da ópera: Eu tô fudido para marcar isso!

E não foi surpesa alguma ver que o quadro estava totalmente rabiscado. Tudo cheio, exceto por dois horários, um dia da semana no começo da noite e um outro dia com horário lá no começo da madrugada, que era na sexta-feira. O quadro era grande e era possível vê-lo de longe.

Mentalmente, escolhi o horário e fui caminhando, de boas. Até que senti uma tropada no meu ombro, mas tão forte que eu virei uns 180 graus. E quem era? Karmen!

E ela acabou pegando o horário que eu queria. Cheguei quando o carinha já estava colocando o nome dela no quadro.

–Oi, Niels. - ele falou comigo

–Oi, John. Karmen...

–Niels... - respondeu me fuzilando com o olhar

–Obrigado pela tropada viu?

–De nada, querido. Acho que você merecia muito mais, depois do que fez comigo.

Eu não acredito nisso! NÃO ACREDITO!

–E o que eu fiz a você, Karmen?

–Graças àquela sua amiguinha, ou deveria dizer, namorada?

–Ela não é a minha namorada, Karmen. Somos só amigos!

–Não parece. Sempre próximos e cheio de segredinhos por ai. E você se esqueceu de mim por causa dela.

Essa garota é maluca! Como eu levei tanto tempo para perceber isso? Devia estar cego pelo tesão que tinha nela, não é possível!

–Não foi por causa dela, foi por causa de você mesma. Alias, não vou ficar discutindo isso contigo.

–Ótimo, Niels. Até mais ver!

–Até mais! - retruquei

Ela saiu jogando o cabelo na minha cara e batendo o pé. Pela que ela não treina sapateado, ela era mestre nesses tipos de passo. John me chamou atenção.

–Então, Niels. Vai ficar com o último horário que restou?

–Sim. E faz isso rápido porque podem me roubar este ai.

Ele escreveu meu nome, agradeci e fui almoçar.

Os três ficaram meio putos pelo horário terrível, mas quando expliquei a história entenderam.

–A Karmen saiu do cásulo, né Niels? - indagou Stefan

–Tá mais para deixou a máscara dela cair. Ela virou... Sei lá... Uma garota completamente diferente!

–Lembra que eu te avisei né? - era a Shay, acompanhada das amigas – Bom dia, meninos!

Respondemos os cumprimentos e respondi:

–Sei disso. Só demorei a perceber! Tempo até demais.

–Não se preocupe com isso, Nil. Tem uma série de meninas doidas por você na Academia.

–Não me diga. Eu não sabia! - comentei irônico

–Vocês são a banda mais popular do terceiro ano, todas as calouras caem aos pés de vocês praticamente. - Comentou Miranda

–Alias, Shay, esqueceu que a gente tem que fazer aquele cover gravado?

–Ih... É verdade! - Shay bateu na própria testa – Precisamos marcar no estúdio.

–Lamento te informar, mas estamos sem horários, Srta Shayera Salem. - soltou Stefan

–O que isso quer dizer?!

–Que eu peguei o último horário que eu tinha. - respondi

–Ferrou!

–E o que a gente faz agora? - reclamou Britt

–Bom, eles tem um horário. - Miranda acrescentou – Se vocês quiserem dividir com a gente.

–Miranda, não se dá o horário. - Shay retrucou – Pergunta primeiro se eles podem dividir com a gente.

–Athos, você divide seu horário com a gente? - perguntou Miranda se pendurando no braço dele e fazendo carinha de criança pedindo doce.

–Se for de comum acordo com minha banda, claro que sim. E então, pessoal?

–Por mim, tudo bem! - falei

Stefan e Joseph concordaram também. Imagina a bagunça que seria todos nós gravando na sexta de madrugada. Sorte que lá tem isolamento acústico.

Terminamos de comer e eu fui com a Shay para a biblioteca para ajudá-la com algumas coisas da bendita teoria musical. Meus amigos foram procrastinar no quarto. E não faço ideia do que as amigas da Shay foram fazer, provavelmente foram à piscina.

Estudei um pouco de partitura junto com a minha melhor amiga, além também de um pouco da história musical. Essa parte é na verdade, um pouco inútil. Assim que ia escurecer e a biblioteca fechou, saímos. Shay se encontrou com o namorado dela e nos despedimos. Fico feliz por eles dois, fazem um casal bem legal. Combinam!

Segui sozinho o resto do caminho e incrivelmente, em todos os momentos em que passo sozinho, os meus pensamentos perturbados voltam. E toda vez eu fico repensando tudo o que estou fazendo e indecisão ainda me assombra. Eu quero mesmo seguir meu sonho, mas também não quero deixar os meus amigos na mão. Seria sacanagem com eles abandonar a Vollux agora! Eles teriam que arrumar ou um deles virar outro vocalista. E eu sairia com meu nome manchado e uma péssima imagem.

A minha sorte é que essas reflexões tem diminuído de frequência, por causa da companhia da Shay. Ela consegue me tirar isso da cabeça por um tempo. É realmente bom esquecer das coisas que te preocupam um pouco.

Abri a porta do quarto e vi uma coisa um bocado estranha. Stefan, Athos e Joseph estavam sentados na minha cama e eles estava muito entretidos lendo alguma coisa, nem perceberam que eu cheguei até que emitesse algum som.

–Cheguei, galera!

–Niels! E como foi com a Shay?

–Foi bem. Só estudamos! - me aproximei – O que estão lendo tão entretidos e na minha cama?

E eu pude ver melhor e conhecia muito bem aquilo, era um caderno. O meu caderno de letras! Aquele que eu deixo escondido dos olhos curiosos. Se eles acharam é porque mexeram nos meus pertences.

Não esperei o tempo suficiente para a resposta, já tinha formulado todas na minha cabeça. Eu tive a reação de apenas puxar o caderno e questionar:

–Por que vocês pegaram isso?! - gritei, com raiva

–Estava naquela caixa embaixo da sua cama... - começou Joseph

–Estávamos muito entediados e a caixa nos pareceu tão curiosa, porque você nunca deixa ninguém mexer nela. A gente queria saber o que escondia nela... - continuou Athos

–Encontramos o cardeno e pensamos ser um diário, mas é o seu caderno de letras. - completou Stefan

–Olha, vocês são os meus melhores amigos, somos companheiros de banda, mas isso não lhes dá direito de mexer nas minhas coisas, ainda mais no meu caderno de letras!

–E que você guarda a sete chaves. A gente queria saber o mistério que rolava nesse caderno e hoje finalmente descobrimos.

Merda! Eu não queria que isso acontecesse! Eu fiquei sem reação. Trocamos olhares, até que Joseph falou:

–Niels, suas letras... Essas letras são incríveis. Dá para fazer quase uns três álbuns completos só com elas.

E o violão encostado na cama evidenciava que eles além de lerem as letras, ainda tocaram-as. Não podia ter ficado pior, mas ai veio mais um comentário, do Stefan dessa vez:

–E nos tocamos algumas delas, mas trocando a cifra de guitarra para violão.

–Niels, por que escondeu isso por tanto tempo? - indagou Athos

–Eu quis, cara! São as minhas letras, só isso. São coisas muito íntimas minhas. Isso aqui - sacudi o caderno – é o meu diário, só que com letras.

–Quer dizer que você quer ser solista então? - foi direto Joseph – Porque eu gravei muito bem que “O pior dia da minha vida foi quando recebi o que deveria ser a melhor resposta”.

–Eu não quero ser solista. Eu só... Só...

Não conseguia falar, era algo forte e que com certeza os deixaria muito tristes comigo. E eu também estava me segurando muito, mas muito, para não chorar.

–O quê? Fala logo! - bravejou Athos

–Anda, Niels. Para que tanto mistério, já chega né? - complementou Stefan

Fechei os olhos para segurar ainda mais as lágrimas, respirei fundo e com todo o ar inspirado, soltei de uma vez só:

–Eu nunca quis estar numa boyband. Nunca me vi cantando pop. Sempre quis estar numa banda de rock. Meu sonho é ser tipo “um deus do rock”. E agora que estamos chegando perto do debut que eu vejo que não posso mais voltar atrás, porque não afetaria só a mim, mas a vocês também.

–Niels... - Joseph disse se aproximando

–Não toca em mim! - afastei o braço dele com um tapa e finalmente deixando meus sentimentos me fazerem demoronar– Por favor!

Me ajoelhei no chão totalmente ao prantos. Nem quando falei com a Shay sobre isso eu tinha chorado. Cabeça baixa, meu caderno no colo e vi as gotas molhando-o um pouco.

Os meus amigos estavam totalmente sem reação, eles não esperam uma resposta dessa. Alias, ninguém espera uma resposta dessa. Joseph ainda estava parado perto de mim e pude perceber Stefan e Athos chegarem perto também. Eles me chamaram ao mesmo tempo, me esforcei para olhar para cima. E os vi ali, fazendo um círculo em minha volta. Já espera os olhares de reprovação e o linchamento, mas não. Eles se abaixaram a minha altura e simplesmente me deram um abraço coletivo. E não falaram mais nada!