Beautiful World escrita por Libby Lobo


Capítulo 1
We live in a beautiful world


Notas iniciais do capítulo

Galera, antes de ler, somente uma nota: essa história foi baseada na música do Coldplay, chamada "Don't Panic", do primeiro álbum deles. Quem quiser ler escutando a música, recomendo muito. É gostosa de ouvir e não atrapalha na leitura. Bom, é só isso. Valeu aí. Boa leitura!



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Guerra. Uma palavra forte e bonita de pronunciar, mas com um significado muito feio. Destrói lares, destrói lugares, destrói o planeta em geral. E o pior de tudo: destrói a nossa esperança. Estou aqui, no alto do morro, sentada, refletindo sobre como a minha vida é miserável. E não falo sobre dinheiro, não. Esse eu tenho, e muito. Falo sobre a pureza. A pureza do ar e a dos nossos corações. Agora, no ano de 2122, quando todos no passado pensavam que seria uma época de tecnologia avançada e, consequentemente, teríamos uma vida melhor, as coisas se mostraram bastante feias. Depois da quarta revolução industrial, as potências do mundo começaram a exagerar nas competições entre si, o que resultou em uma pequena guerra. Pequena, mas fatal. Claro que não duraria muito, afinal, causaria muito prejuízo para vários países – e outros, já afundados na miséria, faliriam de vez –, mas foi o suficiente para a humanidade entrar em colapso. O planeta já não produzia recursos suficientes para alimentar todo mundo e, embora estudiosos afirmassem que a Terra se reestruturaria, o que levava tempo, a fome e a pobreza já havia invadido nossas casas. Nós não tínhamos esse tempo.

Não demorou muito para que os poderosos dominassem ainda mais o mundo. Grandes empresários, que tinham mais chance de conseguir água, comida e armas de fogo – o perigo ainda nos rondava –, aumentaram absurdamente seus preços, contribuindo para a maior crise mundial existente em nossa história. E, para piorar, matas tinham sido devastadas e rios, poluídos demais, o que gerou pane na área de turismo. Os resquícios da guerra eram tão contundentes e presentes em nosso cotidiano, nós podíamos vê-los pela janela. Isto é, se tivéssemos casas, coisa bem difícil nessa atual conjuntura. Somente os “sortudos”, filhos de gente bastante rica e influente, tinham esse privilégio. A humanidade havia regredido, ao invés de evoluir. Parecemos voltar à era primitiva, a diferença estava em nossa falta de esperança. O ser humano já tinha inventado tanta coisa, mas não conseguia transformá-la em uma escada. Era como inventar a pólvora e suicidar-se com um tiro.

Eu queria poder reclamar, falar sobre quão injusto o sistema financeiro era atualmente – na verdade, sempre foi, só havia piorado –, mas seria hipocrisia minha, pois eu desfrutava desse sistema. Eu, Thaís de Mello Moraes, era um deles, afinal. Era rica, influente, poderosa, qualquer um desses adjetivos usados para definir gente abastada financeiramente. Pois é, eu era cheia da grana. Mas ao contrário do que muitos pensam, não era exatamente uma benção, estava mais para um fardo. Ver gente morrendo de fome, enquanto você tem uma bicicleta com guidão de ouro maciço, era, no mínimo, sufocante. E eu não podia fazer nada, porque o dinheiro era dos meus pais, e sempre seria, mesmo depois de mortos. O novo sistema não permitia herdeiros totalitários. Funcionava assim: se os pais morriam, você poderia usufruir do dinheiro, mas sendo filtrado por um tutor, designado pelo governo, mesmo se você fosse maior de idade. Não me perguntem o motivo dessa lei, só sei que ela é assim. Em minha opinião, é só uma forma a mais de sermos roubados, mas quem pediu a minha opinião mesmo? Hum, ninguém. Ninguém nunca me perguntou o que eu achava de toda aquela palhaçada. E antes que me digam “você já nasceu nesse sistema, não conhece outro”, afirmo que conheço sim. Como? Das histórias de meus ancestrais. Minha falecida avó contava que na época da tataravó de sua tataravó – tempo pra caramba, fala sério! –, as pessoas eram livres. Não era um mundo perfeito, e piorava a cada dia, mas ainda assim nós tínhamos escolha. Já era alguma coisa.

A vida é mesmo muito louca. O tempo passa, a paisagem muda, as situações mudam, mas as pessoas continuam as mesmas. Sempre com as mesmas limitações, com as mesmas ambições. O mundo sempre girou em torno do dinheiro, não seria diferente agora. Ninguém aperta mais as mãos dos outros somente pelo sorriso, é preciso dar uma olhada no volume do bolso, para saber se vale a pena. Não posso dizer que sou completamente diferente deles. Quer dizer, eu não sou nenhuma mercenária, mas também não sou santa. Todavia, sinto-me menos suja, porque faço o possível pra não mergulhar de cabeça nesse mar de lama. E é sempre tão difícil não sucumbir às tentações. Volta e meia me vejo escorregando e caindo na imundice, mas mãos amigas me puxam para cima, nunca me deixam cair. Não são quaisquer mãos, são as mãos dela. Seu nome é Bárbara e, definitivamente, ela é o amor da minha vida. É a mulher mais linda que eu já vi, a mais inteligente e a mais perfeita do mundo. Sei que sou suspeita pra falar sobre, mas eu não ligo. Poderia passar o dia todo exaltando a sua perfeição e...

-Te achei! – uma voz feminina disse alto, e eu quase morri de susto.

Pulei assustada e caí de bunda no meio-fio da calçada, gemendo em seguida, sentindo meu traseiro doer. Olhei para o lado, pronta para dizer umas poucas e boas para a pessoa sem coração que quase me fez ter um ataque cardíaco, mas a minha raiva morreu no momento em que pus meus olhos nela.

-Quer me matar, é? – perguntei fingindo raiva, mas não consegui esconder meu sorriso ao ver aqueles olhinhos pequenos e castanhos me olharem com carinho. Cara, eu senti muita falta daqueles olhos.

-Só se for de amor. – ela respondeu dengosa e se inclinou para me dar um beijo, mas fiquei frustrada ao perceber que fora só um selinho.

-Você sumiu, me deixou sozinha, e quando volta só me dá um beijinho rápido? – fiz bico, encarando-a com um olhar pidão. Ela suspirou e riu, voltando a colar os lábios nos meus, dessa vez em algo mais duradouro.

A intenção de Bárbara não era me beijar profundamente, eu sabia bem. Ela não gostava muito de fazer isso fora de casa, alegando que sempre que nos beijávamos, íamos parar na cama – o que era verdade, diga-se de passagem –, e que na rua não podíamos saciar nosso desejo. Mas eu não me importava com isso, então a agarrei firmemente pela nuca e aprofundei o beijo. Ela não me contradisse, e correspondeu ao beijo, já me deixando acesa em poucos segundos. Aquela teoria estava certa mesmo.

Continuamos a nos beijar e, a cada segundo que passava, o beijo ficava ainda mais quente. Certamente não podíamos evoluir ali, no meio da rua, mas aproveitávamos ao máximo o que a situação nos proporcionava. Porém, me empolguei com as mãos bobas e ela acabou com a minha alegria, separando-nos.

-A gente já conversou sobre isso. – bronqueou, me olhando séria, mas ofegante. Sorri sem graça.

-Sim, me desculpe. – fiz bico de novo, e ela não aguentou, e abriu um sorriso para mim. O sorriso mais lindo do mundo. E sim, eu sou megalomaníaca. Me julguem.

-O que você estava fazendo aqui, tão longe de casa? – questionou e franziu a testa. Eu estava no alto de um morro, olhando as casas e as pessoas. E pela minha condição financeira, eu evidentemente não morava ali.

-Estava pensando sobre como tudo é tão insano. O tempo passa e o mundo não evolui. É sempre a droga do dinheiro que comanda tudo. Nós não temos a grana, a grana é que nos tem. E alguns têm tanto, outros tão pouco. E os que mais têm são os que mais brigam por mais. Não faz sentindo nenhum. As pessoas não se amam, sabe? – despejei tudo rapidamente, olhando para frente, fixando a vista em um ponto imaginário. Senti um aperto no peito e uma vontade súbita de chorar. Não era drama, eu sou o tipo de pessoa que se comove com a sujeira do mundo. É burrice, mas é verdadeiro.

-Bom – ela começou, segurando meu queixo e me fazendo virar para olhá-la. – Eu amo você e você. E isso é o suficiente.

Ao terminar de dizer isso, Bárbara sorriu tão aberto para mim, que quase desfaleci de felicidade. O aperto em meu peito havia sumido, pondo no lugar uma enorme satisfação por tê-la. Sorri de volta, do mesmo modo e a beijei, apertando-a forte em meus braços, garantindo que ela nunca saísse dali, que era onde ela sempre deveria estar.

A vida era horrivelmente feia, cheia de falhas, mas com ela tudo ficava lindo demais. Não havia mais problemas, só nós duas, e beijos e sorrisos. Ela havia melhorado a minha visão sobre tudo. Nós vivíamos em um belo mundo.


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Notas finais do capítulo

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