Chuva, não caia esta noite escrita por Krieger


Capítulo 1
Som, cheiro e melodia




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O jeito que ela cai expande por dentro, tudo o que já morreu. O cheiro que ela trás, praticamente ninguém sente. E quando alguém sente é o desejo de tudo dar certo. Por que teu cheiro lhe agrada? Olhe tantos pensamentos bons que lhe ecoam pela cabeça, sem nenhum sentido. Aquilo que você ouve infelizmente já morreu. A cada gota destruída no chão é uma pisada em seu coração. Porque, posso lhe dizer bem, uma melodia aos poucos se forma. Desculpe, não sinto mais teu cheiro. Mas, se eles falam sobre a mistura do que você junta em seu caminho, nada disso é seu. Você apenas caiu e eu desviei com a mão no peito.

Se for tão boa, por que todos se protegem? Fala-se tão bem, eles podem ficar na janela, escutando e sentindo. Mas, ninguém lhe sente realmente na pele, isso significa que ninguém precisa de carinho. Porém, gritei nessa noite, supliquei. Por apenas uma vez, poderia me acertar e deixaria. Ela não caiu sobre o chão na noite, mas de manhã acordei com uma melodia horrível na cabeça. Já estava se formando aquilo que imaginei, nenhuma gota agora faz som de esperança. Se caíres em minha cabeça, não sentirei. Desculpe, teu cheiro não agrada mais. Há apenas os loucos que te aplaudem, mas evito toda terra molhada.

Nesses dias tristes temo que Beethoven não tenha nada o que dizer para nós, assim saberei que o dia já se encerou. Tornei-me um surdo, sou o louco que aplaude. Apenas sorrio diante da sua tragédia porque não tenho talento. Agora consigo ouvir as maiores e raivosas batidas que traz contigo, como tambores e arranhões. Decidi então imaginar uma orquestra, mas isso não é possível, no céu não existe nada. Então, ela está ao meu lado.

Não me importo mais com o som, nem o do piano, nem o do coração. Finjo que a melodia não existe, que seu cheiro já sumiu tempos atrás. Só não ignoro os trovões, mas isso não significa que você exista. Por favor, não ache que eu te amo só porque não estou protegido. Só a curiosidade que deixou-me sentir as gotas em minha pele, ao mesmo tempo que cada uma escorre sinto a frieza de fora para dentro. Em meu rosto, em meus olhos, elas humilham as lágrimas que já não caem na mesma elegância. Faz tanto tempo que nada me lembro, mas as lágrimas não tinham cheiro nem som, apenas gosto. E nós não gostamos de sentir gosto, isso só prova o quão perto elas estão de nós. Gosto de tudo longe, mas, por favor, agrade-me.

Se logo me cansares, então terei que ir embora. E nada dura para sempre, pois logo sumirá do meu rosto. Não gosto que fique no meu corpo, ninguém gosta, pois logo um mal você pode trazer. Posso adoecer e isso não é ruim, mas há de existir suas consequências. Se adoeceres não conseguirei levantar, então estarei deitado para sempre. Imagino que tu podes trazer seu cheiro e melodia toda vez que pedir, mas infelizmente o som do piano nunca mais ouvirá. Nunca mais te sentirei, nunca mais conhecerei o carinho. Nunca mais, a friagem me dominará.


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