Somebody that I used to know escrita por Aquela Fujoshi


Capítulo 1
Somebody that I used to know


Notas iniciais do capítulo

Saudações, abiguinhos!
"Tia Izzy escrevendo yuri?"
Quié, posso naum? -q
Antes de qualquer coisa, eu queria muito dizer que essa oneshot foi um verdadeiro desafio para mim, considerando principalmente que ela é pequena. Sim, é pequena. Eu já fiz outras ones anteriormente, mas elas simplesmente fluíram. Talvez seja porque esse foi o meu primeiro yuri, talvez por ter sido meu primeiro drama... não sei, só sei que foi assim :v
Então espero que entendam que mesmo depois de várias modificações, eu ainda não consigo me orgulhar dessa obra. Nem um pouco.
Mas eu gostei muito de explorar essa área que eu nunca havia sequer chegado perto antes (yuri, drama, songfic, universo alternativo, Soul Eater e.e).
Apesar de tudo isso, eu espero sinceramente que vocês gostem do que lerão a seguir. Explicações esfarrapadas sobre a escolha desse casal nas notas finais, não deixem de ler Kk
MESMO QUE A MÚSICA ESCOLHIDA PELA FANFIC SEJA OUTRA, (caixa alta pra chamar atenção mesmo) eu recomendo lerem ouvindo a melodia deliciosa de Polly, de Gem Club.
Boa leitura!



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Orfanato Hepburn. Meu pai era dono do local. Juntos, nós cuidávamos de cerca de 300 crianças que ou não tinham pai, ou não tinham mãe, ou ambos. Era difícil manter um olho em cada uma delas, o que tornou necessária a contratação de mais funcionários para cuidarem de todas aquelas pobres almas desamparadas. Ou era assim que eu as chamava na época. Meu pai muitas vezes reclamava que eu era uma pessoa contraditória. Vivia denegrindo aquelas crianças com aspereza, mas cuidava delas com muito amor. Uma em especial, que se tornou a favorita do estabelecimento em poucas semanas.

Ela era franzina, delicada, desligada do mundo ao seu redor. E muito fofa. Tinha os cabelos curtinhos, presos em marias-chiquinhas, num tom castanho suave que me lembravam uma caneca de cappuccino. Os olhos caramelados caídos e desamparados analisavam o local calmamente, como à procura de algo em que se fixar. E foram nos meus que eles se prenderam. Nossos olhares se encontraram e eu senti que aquela menina era diferente.

Now and then I think of when we were together. Like when you said you felt so happy you could die

Fora a enfermeira Neigus que havia encontrado aquele pequeno milagre enquanto rumava ao orfanato.

Nós nos sentamos no grande salão, eu, meu pai, Neigus e a garota, como costumávamos fazer com cada órfão novo que chegava lá para fazer algumas perguntas e apresentar o local. E foi na parte das perguntas que ela nos surpreendeu.

O nome era Meme. O sobrenome veio alguns segundos pensativos depois, Tatane. A garota não se lembrava de praticamente nada, nem da sua casa, nem dos seus pais, nem de nenhum conhecido. Ao que aparentava, ela tinha a mesma idade que eu. E provavelmente tinha amnésia. Essa foi a ficha que conseguimos. Tivemos que praticamente adotar a garota.

Meme recebeu um tratamento especial durante toda a sua estadia, o que não significava que ela deixaria de ser uma garota normal. Ela brincava animadamente com os garotos e chegava a ser melhor que muitos deles nas brigas. Ela ganhou a predileção de quase todos que a conheciam. E de mim... Algo a mais.

Told myself that you were right for me but felt so lonely in your company. But that was love and it's an ache I still remember

Um ano havia se passado e nós fazíamos quase tudo juntas. Ela me ajudava em algumas tarefas - mas quem acabava precisando de ajuda era ela -, nós brincávamos sempre na mesma equipe, até dormíamos juntas no aconchego uma da outra, porque Meme era sonâmbula.

Com o passar do tempo, eu percebi que não conseguia ficar longe dela. Sempre que eu era chamada para uma tarefa e ela não podia ir junto, eu sentia uma ansiedade, uma vontade inquietante de voltar logo para onde eu a havia deixado me esperando. Os garotos do orfanato, já mais crescidos e despertando certas vontades, tinham ciúmes, pois eu passava muito tempo com Meme, sem deixar brecha para eles.

Naquela época eu ainda achava que o que eu sentia pela garota Tatane era só a vontade de protegê-la.

You can get addicted to a certain kind of sadness. Like resignation to the end, always the end

Meme também era muito boa nos estudos, apesar da memória confusa dela. Ela se esforçava pra lembrar as coisas importantes. Quando eu soube, por ela mesma, que Meme repetia todas as noites o meu nome várias vezes para não esquecê-lo no dia seguinte, foi uma das coisas mais gratificantes que eu já havia ouvido.

Nós brincávamos que íamos nos casar um dia, para não ter que passarmos o resto das nossas vidas compromissadas com homens burros e infiéis. Aquela fantasia era tão verdadeira para mim...

Então fomos aceitas na Faculdade de Nevada, Reno.

Meu pai queria que eu seguisse uma vida normal, sem ter que abandonar os estudos para cuidar de crianças órfãs. Eu puxei Meme comigo, querendo dar a ela a oportunidade de vivenciar o mundo comigo.

Foi uma ideia idiota.

Nós havíamos nos esforçado bastante e, no mesmo, ano recebemos as cartas da Faculdade. Fomos aprovadas. Estávamos tão felizes que todo o nervosismo que sentimos durante todo aquele tempo de espera parecia uma lembrança distante e embaçada.

So when we found that we could not make sense... Well, you said that we would still be friends. But I'll admit that I was glad that it was over

O lugar era um mundo. Havia todo tipo de gente, a decoração era exagerada e divertida.

Uma veterana nos levou até o dormitório feminino e nos mostrou o quarto. Ficaríamos no mesmo, e essa notícia me animou estranha e deliciosamente. Eu teria meu mundinho com a Meme, só nosso, como naquela promessa. Seríamos "casadas" e moraríamos debaixo do mesmo teto...!

Mas havia outra garota. Ela chegou duas horas depois.

Já estávamos organizando as nossas coisas no quarto quando a mesma veterana abriu a porta com uma garota que eu nunca havia visto. Seu nome era Harudori Tsugumi. Ela viera transferida do Japão. Harudori era muito tímida. Tinha os cabelos negros presos no alto da cabeça. E um olhar meio desesperado.

A veterana, depois de nos apresentar, nos deixou sozinhas no quarto. Ela ficou com a cama ao lado do beliche que eu dividia com Meme. Imediatamente, a minha caramelada se sentou ao lado dela, querendo puxar conversa do jeito amigável que ela sempre fazia.

But you didn't have to cut me off, make out like it never happened and that we were nothing. And I don't even need your love, but you treat me like a stranger and that feels so rough

Depois de dois meses, Tsugumi era parte do nosso recém-concebido trio. Ela era divertida e difícil de não se querer por perto. Mas quem mais se entrosou com ela foi Meme.

Aquilo que antes eu fazia com Meme, ela fazia com Tsugumi. Elas se tornaram muito próximas e me deixaram de lado. Eu sabia que deveria estar com raiva daquilo, sabia que deveria odiar Tsugumi Harudori com todas as minhas forças por ela ter roubado a minha Meme. Mas não. Eu não era capaz de sentir tanto ódio por alguém assim. A japonesa era minha amiga, afinal. Eu ainda gostava dela, mesmo vendo todas as noites que Meme ia sonâmbula para a cama dela e se agarrava na garota como ela fazia comigo, mesmo ouvindo todos os dias o meu nome "Anya" sendo pronunciado erroneamente e aquele nome japonês complicado corretamente, mesmo sendo deixada para trás durante nossas caminhadas pelo campus, mesmo sendo a segunda opção durante um trabalho em dupla... Por mais que eu odiasse tudo aquilo, eu me sentia bem. Por mais que eu quisesse segurar Meme em meus braços para sempre, estava tudo bem. Por mais que eu quisesse concretizar aquele sonho de nos casarmos e termos uma casa no campo só para nós duas, eu deixei passar. Agora eu amava Meme assim, de fininho, porque ela parecia mais feliz com Tsugumi do que eu já havia a visto comigo. Porque, naquela hora, eu concebi que o que ela sentia por mim era só aquela maldita amizade de infância. Era doloroso ter que ver o afeto reciproco das duas tão constantemente, viver ao lado daquele sentimento sendo esfregado na minha cara praticamente a todo instante.

Mas a gratidão de saber que Meme estava feliz, mesmo que não comigo, era um tranquilizante.

Mas eu devia ter dito a ela como eu me sentia. Ela iria esquecer logo, de qualquer maneira. Eu não devia... ter fingido que tudo era parte daquela nossa brincadeira.

Foi no dia que Tsugumi e eu ficamos sozinhas no quarto. Foi no dia que Meme havia sido colocada em um grupo pela ordem da professora, e havíamos as três nos separado. Ela era a única garota do grupo. E havia ido fazer pesquisas com eles. Ou era o que parecia.

No, you didn't have to stoop so low, have your friends collect your records and then change your number. I guess that I don't need that though. Now you're just somebody that I used to know

Tsugumi me contou tudo. Que Meme havia encontrado nela alguém para quem confessar. Que todo dia ela falava quase as mesmas coisas sobre mim. Que queria o quanto antes que eu soubesse daquilo. Que Meme até hoje não havia tido coragem de dizer que me amava e que estava tentando entender porque não conseguia se esquecer de mim como se esquecia do resto do mundo, que viu na Tsugumi uma oportunidade de se livrar desse sentimento que ela achava que era platônico.

Foi aí que eu percebi que o ciúme estava me fazendo ter uma visão distorcida das coisas.

Eu não tive reação. Fiquei parada ouvindo cada palavra da morena, tendo certeza que meus olhos deviam estar cheios de lágrimas. Ao final, dei um forte abraço nela antes de sair correndo do quarto em busca da biblioteca. Que se dane se era a biblioteca, eu só queria falar para ela logo que eu a amava mais que tudo naquele mundo, que eu precisava dela sem mais delongas, me declarar de uma vez em meio aos possíveis "shh" dos outros estudantes.

Now you're just somebody that I used to know. Now you're just somebody that I used to know

Minhas lágrimas de alegria pararam de cair quando eu fui avisada que Meme não estava lá. A ansiedade crescia em meu peito, dolorosa e palpitante, e eu quase não consegui perguntar para onde ela havia ido à bibliotecária.

Meme tinha saído dali com os garotos do grupo há cerca de meia hora.

Ninguém sabia onde os encontrar.

Ela não havia voltado para o quarto naquela noite.

Tsugumi e eu estávamos morrendo de preocupação. Não conseguimos dormir.

Então ouvimos as batidas. A veterana Jackie praticamente esmurrou a porta.

- Anya! Tsugumi! Acordem!

Já estávamos acordadas, mas o susto foi o mesmo. Harudori abriu a porta, dando de cara com o olhar pesaroso da Jackie. Atrás dela, outras garotas abriam as portas, acordadas pelo furdunço da veterana.

Somebody...

As palavras vieram rápidas e cortantes, e eu senti meu mundo inteiro desabar ao som da pronúncia de cada sílaba.

Corri, esbarrando-me contra pessoas e paredes, até onde Jackie disse que Meme estava. Escadas, corredores, jardins, postes, grades, tudo não passava de um borrão aos meus olhos que corriam pela paisagem escura junto às minhas pernas frenéticas. Eu já estava correndo muito, a distância era grande, mas não pude parar. Meu peito doía, e não era por falta de ar. Mas eu finalmente encontraria Meme. Iria provar que Jackie estava errada, que nossa vida juntas seria longa e não teria terminado de um jeito tão... Tão...

Eu só precisava encontrar o meu pequeno milagre, a minha garotinha caramelada, o amor da minha vida e dizer a ela tudo que ela precisava saber, tudo aquilo que eu nunca tive coragem de dizer.

Só... A veterana estava errada. Ela tinha que estar. Meme não podia... Não agora, não hoje! Simplesmente não!

Minha garota Tatane estava lá. Sentada aos fundos do almoxarifado. Ela estava... dormindo... "Que lugar estranho pra dormir, Meme."

Eu me abaixei e segurei seu rosto, que pendia para o lado, apoiada com a têmpora na parede. Ela estava toda suja, as roupas rasgadas e as pernas arranhadas. "Não me diga que você se perdeu pelo campus..."

Sua pele estava gelada, mas estava fazendo frio mesmo. "Vamos voltar para o dormitório. Vamos dormir quentinhas no calor uma da outra. Meme..."

A quem eu estava tentando enganar?

Jackie estava certa.

- Meme... Acorda, levanta, vai.

Eu puxei seus braços inertes para perto da minha cintura, trazendo-a de encontro ao meu corpo e embalando-a.

- Tudo bem, a gente dorme aqui mesmo.

Deitei minha cabeça sobre seu ombro, e o tecido do suéter dela ali logo ficou encharcado pelas minhas lágrimas.

- Quer que eu seja seu travesseiro?

Minha voz saía frouxa, trêmula, carregada de pesar e incredulidade. Mordi meu lábio com força, tentando inutilmente controlar os soluços sofridos que escapavam do âmago do meu ser. Apertei aquele corpo sem vida em meus braços com tanto descontrole sobre minha força que não sei como não quebrei uma costela dela.

- MEME!

Eu já estava repetindo seu nome pela enésima vez, meu peito subia e descia descompassadamente. Aquela dor era a mais excruciante que eu já havia sentido. Doía demais. Me matava por dentro. As lágrimas não paravam.

- EU TE AMO, DROGA! VOCÊ VAI MESMO ME DEIXAR?

Toquei seus lábios gelados e mortos contra os meus, querendo sentir sua respiração se misturar com a minha, querendo sentir suas mãos me abraçando, desejando ver seus olhos brilhando ao olhar pra mim e ver que o sentimento era recíproco. Mas seu rosto tão delicado e angelical estava lá, sem vida, sem cor, sem calor.

Ouvi Tsugumi me chamando delicadamente com a voz ofegante atrás de mim. Ouvi o murmúrio das outras garotas do dormitório à porta do almoxarifado.

- Me responda, por favor! Nós fizemos uma promessa, lembra? Nós íamos nos casar! Íamos viver juntas, só nós duas, nossa vida, felizes para sempre!

As palavras simplesmente saíam. Eu não tinha a mínima vergonha de dizer aquilo tudo. Eu não podia aceitar o que estava acontecendo. Não podia terminar assim. Ela não podia ir sem saber que era correspondida.

Tsugumi me segurou pela cintura e me puxou para trás.

- MEME! ABRE OS OLHOS! ME PERGUNTA QUE DIA É HOJE, VAI! EU TE AMO TANTO!

Eu fui levada para longe. Não lembro onde, mas era longe da Meme.

Muitos tentaram me acalmar, mas eu só parei de chorar quando me entreguei ao sono. Não queria mais sonhar, não queria ter pesadelos, mas o cansaço foi mais forte e eu acabei adormecendo numa cadeira.

Meme não passava de mais uma lembrança na minha vida. Não era mais minha futura esposa feliz, não era mais a razão da minha vida, não era mais a alegria de cada dia, não era mais a desleixada caramelada adorável que eu havia conhecido no orfanato há vinte anos. Mas também não era um cadáver, muito menos um pesar. Apesar de uma parte de mim ainda precisar dela, Meme era apenas alguém que eu conhecia.

...that I used to know.


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Notas finais do capítulo

Eu - Eu sei, pode xingar.
Rodrigo - Que depressivo...
Eu - AH QUANDO É YURI TU LÊ NÉ? QUEM É O NATIMORTO SANTO AGORA HEIM? VOU TE BOTAR PRA LER VIEWFINDER DEPOIS, VIU.
Lilica - Calabok e me deixa chorar em paz.
Izzy - Calo não que esse clima tá muito down. QUAL É, SOMOS O TRIO DAS NOTAS FINAIS, EXISTIMOS PRA CORTAR CLIMA MESMO.
Rodrigo - Você não ia explicar o motivo de escolher esse casal?
Eu - Ah sim. Bem, sabe quando você acorda de manhã mas ainda tá meio dormindo? Bem, nesse momento foi que eu "ouvi" no meu "sonho" um "flashback"...
Lilica - Pára de usar aspas!
Eu - Calabok.
Lilic...
Eu - Calabok. Eu vi como se fosse uma cena do próprio mangá, onde a Anya e a Tsugumiserável (-q nada contra ela kk) estavam em um ambiente escuro e depressivo, e a Anya falava pra Tsugumi algo sobre a Meme como "nós dizíamos que iríamos nos casar... Mas você chegou e estragou tudo."
Rodrigo - Sinal que seu subconsciente shippa mais que você.
Eu - *dá de ombros* Bem, nessa hora eu queria escrever algo em que a Anya perdia a Meme pra Tsugumi. Só. Ninguém ia morrer.
Lilica - E da onde veio a ideia de matar a Meme??
Eu - Do mesmo lugar que veio a ideia de fazer uma Fic de AU.
Lilica - Au? Você tentou me insultar?
Rodrigo - Alternative Universe *insira uma explicação enciclopédica aqui*.
Lilica - Ah.
Eu - Pois bem. Além do shipp vir de um lado desconhecido de mim, fazer um AU me deu maior liberdade de ações. Aí eu me empolgay e matei a Meme, MWAHAHAHAHAHAHAHA.
Lilica - Sassinhora...
Rodrigo - Também, depois de ler tantas deathfics, eu já imaginava que você ia entrar no clima.
Eu - Foi muito súbito, eu nem tava na onda SEn quando tive aquele sonho. Inclusive confundi as cores dos cabelos e olhos da Meme com os da Kim hehehe
Rodrigo feat. Lilica - *facepalm*
Eu - Ué.



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