O cômodo vazio dava uma sensação de desconforto para o jovem Dixon, que nunca poderia ter imaginado que um dia deixaria aquele lugar. A casa, que em algum momento de sua vida teria sido a realização de um sonho, agora não era nada mais além de uma lembrança dolorosa do que costumava ser a sua felicidade. Ainda sim, não podia deixar de sorrir ao lembrar-se dos olhos de sua esposa quando ele retirou aquela venda de seus olhos, foi o começo de uma nova fase de sua vida e ele jamais apagaria isso, mesmo que tudo tenha se dissipado e se transformado em cinzas e mesmo que estivesse deixando tudo para trás, porque simplesmente era incapaz de viver ali sem ela.

– Já está tudo pronto, é melhor irmos. - A garota adentra o cômodo que costumava ser o quarto do irmão mais velho, se escorando contra o batente da porta e cruzando os braços acima do peito, sabendo o quanto estava sendo difícil para ele estar deixando sua casa. - Daryl, nós precisamos ir agora.

O homem virá-se para a garota, sorrindo de lado e acenando com a cabeça. Deu uma ultima olhada no lugar, antes de soltar um suspiro longo e começar a caminhar na direção da irmã, passando um dos braços por sobre seus ombros.

Pensava o tempo inteiro, no porque de tudo ter que ser tão complicado, por que ele não podia viver feliz em sua casa, com sua bela esposa e sua filha? Por causa de um maldito tumor.

A cena repassava em sua mente o tempo todo. Ele chegando em casa após sair do trabalho e ir buscar Aurora na escola, encontrando a esposa caída no chão da cozinha, a pequena garotinha gritando pela mãe. Ele se lembrava perfeitamente de como se sentiu, o desespero, o medo e no final... A dor, dilacerando e triturando cada célula de seu corpo que, naquele momento, parecia tão minusculo. Ele se sentia minusculo, perdido, como se cada respiração que desse, fosse um grito de socorro preso na garganta. Era doloroso demais, era maior do que ele realmente poderia suportar, era como se seu coração tivesse se partido em pedaços e os cacos o rasgavam de dentro para fora. Daryl chegou a pensar que aquilo seria o seu fim e isso foi antes de colocar os olhos em sua pequena e tão absurdamente frágil, Aurora.

– Vai ser bom... para todos nós. - Ela diz, sorrindo docemente quando ambos alcançam a caminhonete. Daryl pôde ver a pequena figura encolhida no banco de trás.

– Vai sim. - Ele diz, abrindo a porta da caminhonete para que a irmã entrasse, antes que ele mesmo o fizesse.

Talvez ela tivesse razão, afinal, ele não poderia passar o resto de sua vida se lamentando. Ele tinha duas pessoas que precisavam dele.

Daryl aperta as mãos envolta do volante, olhando uma última vez para sua casa, antes de acelerar a caminhonete e seguir em rumo a sua nova vida.