O Silêncio da Sanidade escrita por lis


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Yo!Apenas gostaria de lembrar que não há nenhum tipo de explicação para o leitor nesse conto. Você colabora com a história e a história colabora com você. Ela te dará a base e você fará sua interpretação diante dela (que aliás, eu estou bem curiosa pra saber qual é. Compartilhe-a comigo nos comentários, se quiser).Qualquer erro, critica, elogio, e seja lá o que quiser falar comigo, é só comentar! Espero que goste c:



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Encarando suas mãos, Joshua berrou.

Ele tremia, desesperado. Estava paralisado, e sua única reação diante de tudo aquilo eram grunhidos de dor que escapavam de sua garganta. Eles ecoavam pelo quarto imundo e escuro, imploravam para serem ouvidos, em vão.

O corpo ensanguentado e sem vida que jazia à sua frente parecia o encarar profundamente, parecia ouvir seus pensamentos, ouvir a sua dor e algo mais, algo que nem mesmo o homem podia sentir. Nervoso, decidiu voltar a observar suas mãos, completamente ensanguentadas. As lágrimas escorriam de forma contínua, e os berros deram lugar à soluços.

Aquele cômodo parecia ter sido feito para que os olhos não pudessem enxergá-lo, e suas condições também ajudavam no trabalho. Mas é claro que não importava. Nunca vira nada com tanta nitidez. Uma pena sua mente não estar tão nítida para acompanhar.

Por que? perguntava-se. Por que comigo?

O que ele havia feito de errado? Por que merecia aquilo? Sempre fora um bom homem, diante de sua visão. Perguntava-se se haviam trevas escondidas em si onde nem ele pudesse enxergar. Talvez ninguém enxergue.

Mas a revolta falou mais alto que a razão, e os berros voltaram a preencher o ambiente.

Seu... seu desgraçado! Isso é tudo culpa sua!– Logo, seus berros se difundiram com uma voz entrecortada, preenchida de dor e arrependimento. - Por que você reagiu, Simon? Seu merda... Depois de tudo, você...

E ele continuava berrando, inutilmente. Tentava dizer palavras que deviam ter sido ditas, que mudariam o presente e o futuro, que salvariam uma vida. Não, não apenas uma vida. A vida de seu irmão.

Mas era tarde demais. Ele estava morto, com sua garganta cortada com uma faca. Morto pelas mãos do próprio irmão.

O que? Mas que merda foi essa?

Ele não havia matado seu irmão, certo?

Certo?

Respirou fundo.

Não, impossível.

E então, outro som ecoou pelo cômodo. Dessa vez, o que substituía tanto os berros quanto os soluços, eram risadas.

Ele realmente pensara, mesmo que por um breve momento, que havia matado seu próprio irmão!

Não era cômico?

...

Não.

As risadas pararam e, depois de alguns segundos de silêncio, Joshua grunhiu, frustrado e confuso.

Olhou à sua volta, esperando encontrar alguma pista, mas estava escuro demais para ver os detalhes. Tudo o que podia ter certeza, era que não haviam janelas e que a porta estava trancada.

Mas... ele não lembrava de tê-las trancado. Como tinha tanta certeza de que estava trancada? Tinha deixado algo passar.

Pousou os olhos na arma do crime. A faca ensanguentada fora deixada para trás. Que tipo de assassino cometeria tal descuido?

Voltou a observar o corpo.

Os cabelos loiros manchados de sangue vermelho vivo, os olhos castanhos vidrados numa expressão inquietantemente indecifrável.

Em meio à dor cruciante que sentia, um inegável prazer se escondia. Estar consciente daquilo o incomodava.

Foi enquanto examinava a arma que sua memória e sua sanidade começaram a voltar.

Fragmentos de memórias iam e vinham, vagando despreocupadamente por sua mente.

Até que tudo se encaixou.

Seu nome era Joshua Sysevich. Estava investigando o caso do assassinato de um jovem de vinte e três anos, Simon Sysevich. Mais especificamente, seu irmão.

Quando descobrira quem era o assassino, seu colega de trabalho o trancara naquele quarto, berrando pedidos de socorro, apenas para irritá-lo e logo depois, perdeu-se naquele mar de confusão.

Como era bom deixar a ilusão!

Arrastou-se um pouco para o lado, tentando pegar sua prancheta. Sempre anotava passo a passo da investigação, e esperava não ter sido diferente naquele dia. Esperava uma confirmação do que sua mente dizia ser a verdade.

Passando os olhos rapidamente pelo papel, percebeu que a prancheta não era dele, e sim de seu colega - mas não importava. As informações estavam claras, explícitas, detalhadas. Não tinha porque duvidar de algo. Sorriu.

Tudo fez ainda mais sentido! Nunca se sentira tão feliz e aliviado. Não percebera o quão ruim era perder a consciência, perder-se num mundo de incerteza.

Deixou a prancheta de lado e correu as mãos pelo chão - imundo como o resto do quarto - novamente à procura da arma do crime, afim de estudá-la melhor e ter certeza de que não tinha deixado absolutamente nada passar, afinal, tomar decisões precipitadas era a última coisa de que precisava.

Agarrou o cabo fortemente, até que seus dedos esbranquiçaram.

Por que estava tremendo? Estava tudo bem!

Iria apenas examiná-la e esperar que seu colega parasse com a brincadeira.

Lentamente, virou a lâmina para si.

Examinando-a.

Alinhou-a em frente à sua garganta, para obter um novo ângulo.

Examinando-a.

Encostou a lâmina na sua pele, aprofundou o corte e arrastou a faca lentamente pelo seu pescoço.

...examinando-se.

Os barulhos da porta tentando ser derrubada, os berros de desconhecidos dando-lhe ordens para sair do quarto e os estrondos de tiros, antes ignorados por Joshua, agora silenciaram-se junto com o resto do mundo.


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