O Guardião Noctua escrita por MarvinLucc


Capítulo 1
Naufrágio




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Era à noite após a quarta lua cheia do mês. O céu em resplendor com um azul que só se vê produzido pela majestosa natureza, apresentava juntamente uma camada de estrelas que mais parecia um pó de diamante jogado no azul profundo. O vento assobiava tranquilo, os animais noturnos caçavam como sempre, seguindo seu hábito. Alguns camponeses que costumavam aquecerem-se juntos tinham acendido uma grande fogueira como é feito praticamente todos os dias. Algumas camponesas dançavam ao redor da fogueira ao som de uma bela melodia de flauta, tambores e um instrumento de corda. Elas pareciam celebrar algo importante.

De fato estavam celebrando, hoje era o dia em que seus familiares chegariam do mar, voltavam de um reino próximo onde foram buscar comida, animais de criação e materiais para qualquer uso.

– Eu vou te pegar!! – gritava um menino por entre árvores no bosque onde viviam as pessoas daquele vilarejo.

Era Ollie, o primo mais novo do comandante do quinto grupo de batedores da capital de Unita Owls. É um garoto estranhamente grisalho, característica muito incomum entre os membros do clã Noctua. Ele tem quatorze anos, uma estatura normal de mais ou menos um metro e meio, seus olhos são cinza, característica incomum que acompanha seus cabelos grisalhos. O rosto é suave, fino, um sorriso quase infantil com dentes pequenos e brancos. Não é alto nem baixo, mas forte, mais forte que outros garotos de quatorze anos de sua vila.

– Volta aqui Alexys! Devolve meu totem! – Ollie gritava enquanto corria atrás de sua melhor amiga.

– Eu não vou deixar você andar por aí usando essa coisa feia e mal entalhada. - respondia ela ofegante e risonha.

Alexys corria entre as árvores, desviando de galhos e pulando sobre raízes acima do solo. Em sua corrida passou por baixo de um grande tronco de uma árvore que havia caído há muito tempo. Quando se virou procurando por Ollie, não conseguiu encontrá-lo. Ela parou. Se não conseguia vê-lo, com certeza era por que no meio da corrida ele havia se transformado. Ele dominava facilmente a transformação, diferentemente dela, que exigia de si mesma muita concentração e tempo. Odiava quando Ollie se transformava rapidamente sem que ela percebesse, isso era como tirar sarro dela.

– Ollie!! Não é justo, você está tirando vantagem! – ela dizia enquanto esperava que ele viesse de novo para o chão.

– Peguei.

Um sussurro rápido no ouvido de Alexys á fez sentir um calafrio. Ollie estava nas suas costas e tinha agarrado o totem da mão dela, mas não o havia puxado. Seus olhos cinza se encontraram com os olhos quase negros de Alexys. A ponta de seu nariz encostou-se ao dela. Ela fechou os olhos e esperou. Ollie segurou o totem, afastou a cabeça e deu uma rasteira rápida nela. Era muito jovem para entender o que ela esperava, não entendia nem o que queria para si mesmo. Alexys caiu sentada no chão com violência, abriu os olhos e o viu em pé á sua frente. O totem pendia na mão, seguro pelo cordão de lã. Uma raiva incontrolável crescia dentro dela. Ele colocou no pescoço o totem de cabeça de lobo do qual estava correndo atrás, olhou nos olhos dela e percebeu que deveria sair de lá rápido, pois agora ele era a caça.

De alguma forma a raiva de Alexys á ajudou, ela conseguiu transformar-se em poucos segundos. Como ela não conseguia se transformar rapidamente no treinamento, isso surpreendeu tanto ela quanto ele. Assim sendo Ollie usou seu dom e transformou-se enquanto as asas dela acabavam de alcançar o tamanho máximo. Os dois alçaram voo entre as árvores com pouca dificuldade, o vento estava forte, ajudava na subida.

Ao redor da fogueira onde mulheres dançavam e homens tocavam seus instrumentos, eles ouviram alguns gritos de crianças no meio das árvores e depois o silêncio. Vulfrick estava com uma caneca com um líquido negro na mão, e estranhou o silencio da correria das crianças no bosque. Ele é pai de Alexys e não gosta muito dos momentos em que ela está em silêncio, pois isso significa que vem confusão por aí.

Dito e feito.

Poucos segundos depois que se estabeleceu a paz, duas criaturas irromperam a barreira de árvores e começaram a voar sobre o vilarejo, eram enormes, do tamanho de uma pessoa pequena, do tamanho de uma criança, mas com enormes asas e garras afiadas nos pés. Uma tinha penas brancas e olhos cinza, outra tinha penas marrons e olhos caracteristicamente amarelos. Eram duas corujas gigantes. A coruja branca estava na frente, este certamente era Ollie, com suas características raras como o olho cinza e sua transformação em uma Nyctea, que normalmente é assumida em lugares com neve. Alexys seguia logo atrás com sua transformação em uma magnífica Tyto com manchas marrons. Era fácil vê-los, mas ouvir é que era a parte difícil. Corujas tem asas especialmente feitas para voo silencioso, por isso nunca dá pra ouvir uma coruja chegando, até que seja tarde demais.

Ollie voava incrivelmente rápido mesmo com suas asas de filhote, uma mancha branca cortando o azul profundo do céu, abaixo das nuvens esparsas. Alexys seguia-o de perto, ele conseguia voar mais rápido em alguns momentos, mas ela era determinada e esforçava-se ao máximo para alcançá-lo. Eles tomaram a direção da praia, davam rasantes sobre algumas chaminés para pegar o ar quente e subir mais, para poupar trabalho. O vilarejo era pequeno, tinha apenas algumas centenas de metros. As casas eram basicamente de madeira e com algumas ligas metálicas pra dar resistência. Elas tinham tetos quadrados e uma chaminé cada, exceto a casa do líder de esquadrão do vilarejo, a casa dele era enorme, e tinha três lareiras dentro. As ruas eram sinuosas e atravessavam morros e depressões. Quando chegaram á praia começaram a voar sobre a água do mar, às vezes muito próximos, tão próximos que deslizavam uma asa sobre a água enquanto viravam para o lado. Dava pra ver o próprio reflexo na água escura iluminada pelo brilho das estrelas e da lua minguante que ainda tinha força. A noite estava incrivelmente linda naquela data, um dia importante.

Ollie desistiu. Não queria mais fugir, então pousou na areia da praia, destransformando-se instantaneamente. Alexys pousou atrás dele, mas continuou como a bela Tyto em que se transformara. Eles se aproximaram um do outro, ela tem o mesmo tamanho que ele. Os membros do clã Noctua se transformam em corujas do mesmo tamanho que eles são.

– Não é muito bom ter esse tamanho quando a intenção é carregar pessoas, não é? – Ollie indagou – pois só podem carregar um por vez.

Dizem que os antigos membros conseguiam se transformar em corujas até cinco vezes maiores que o próprio corpo! – Alexys respondia com a comunicação mental que tinha aprendido a estabelecer nas aulas de treinamento - você acha que é verdade?

– Eu não duvido de nada. Aquelas pessoas são lendas, até quando estavam vivos eles eram considerados especiais, sem mesmo criar o clã! – ele respondeu dando de ombros e depois caindo na areia para descansar – Acho que é possível aprender a transformação, devia ser alguma técnica, não sei, mas conheço uma pessoa viva que com certeza sabe como fazer isso. – disse com ar misterioso.

Jura?! Diga-me, quem?! – ela ficou curiosa para saber.

– Ora, é simples. Um membro valoroso do clã que vive no extremo de Unita Owls, o líder de...

Uma corrente de vento forte jogou areia nas crianças fazendo Ollie quase comer areia. Eles olharam pra cima e viram três corujas com garras de metal reluzentes nos pés, armaduras no peito e elmos brilhantes na cabeça. Essas corujas voaram pouco e caíram logo á frente na areia. Ollie se levantou correndo e foi para o local da queda ver se eles estavam bem, Alexys ainda transformada foi planando, ela sabia que não poderia se de transformar agora, pois precisariam voar, mas precisavam ver quem eram essas pessoas e por que vinham do mar voando, sem barco, todos sabem que não é seguro voar sobre o mar aberto sem um barco na água.

– Olá? Você está acordado? – Ollie mexia com a coruja preta que tinha um elmo prateado, ele virou para Alexys – Todos estão respirando, mas parecem muito cansados e feridos, veja.

De fato estavam exaustos e machucados. A coruja de elmo prata estava com uma asa sangrando e sua armadura estava toda arranhada e com algumas correias soltas, aquelas corujas haviam lutado. Mais á frente a coruja era cinza e era maior que as outras, seu elmo era bronze e estava com cortes profundos no peito e nas costas. Seja lá o que tiver atacado aquelas corujas, atacou sem intenção de deixar sobreviventes, foi muita sorte terem chegado à praia sem cair no mar, e se não fossem levados dali rápido, a sorte logo acabaria.

– Anda Alexys! – gritou Ollie enquanto se transformava – tente levar esse aí, eu vou agarrar os outros dois, precisamos salva-los. – ele disse agora transformado e segurando um pela parte de trás da armadura, dirigindo-se para o próximo.

Não – a voz os pegou de surpresa – Não precisa me carregar, eles são muito pesados, eu consigo ir sozinho, estou bem.

Era a ultima coruja. Ele tinha penas marrons e seu elmo era bronze, como o da coruja cinza. Ele começou a levantar-se e esticar as asas, parecia que realmente conseguia voar ainda.

Vão!!! – ele gritou batendo suas asas com força na areia alcanço vôo parado.

Alexys e Ollie confirmaram e começaram a puxar suas cargas. Era muito difícil levantar um adulto com armadura e totalmente inconsciente, mas eles estavam fortes, estavam treinando diariamente, conseguiriam fazer isso. E realmente não demorou muito tempo para pegar velocidade com aquelas corujas nas mãos, quando perceberam estavam atravessando o vilarejo. O coração a mil por hora, a respiração acelerada, e Alexys não conseguia parar de pensar em seu irmão, ele deveria chegar hoje no barco com o resto dos membros do clã que estavam de viagem. O guerreiro que ainda conseguia voar estava poucos metros á frente, Alexys resolveu perguntar o que aconteceu.

Nosso navio foi atacado... Naufragou. – ele tinha dificuldade pra respirar, voar mais alguns metros estava exaurindo o resto de força que ele ainda tinha. – Fomos atacados no caminho de volta pelo clã Bat, poucas pessoas sobreviveram, mas acabamos com aqueles desgraçados, morcegos de merda. O resto de nós está isolado em uma pequena ilha seguindo para o oeste no mar.

Logo chegaram ao acampamento que ficava muito próximo a enfermaria do vilarejo, as pessoas começaram a olhar diretamente para eles. Assim que pousaram, os acampados logo reconheceram os guerreiros que as crianças ajudavam a carregar.

– Pelas penas do sábio! Traga-os aqui rápido. – o curandeiro que estava sentado na porta da enfermaria dizia abrindo as portas rapidamente – Esses homens precisam de cuidado médico urgente.

Eles vão ficar bem? – Alexys perguntou para o curandeiro antes que ele fechasse a porta da enfermaria

– Só poderei dizer isso depois que examiná-los. Volte aqui amanhã e lhe direi se eles ficarão bem. – o curandeiro respondeu com a única coisa que podia dizer.


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