Yuri Vs Yaoi escrita por Larissa Megurine


Capítulo 1
Yuri Vs Yaoi


Notas iniciais do capítulo

Esta é uma típica fanfic yaoi: Um casal gay principal e um monte de garotos gays em simplesmente todos os lugares. A única diferença é que ela é narrada por um tipo de personagem que quase não aparece nesse tipo de fic: uma garota! (Sim, foi assim que tive a ideia para essa fanfic!) Será que existe uma razão para existirem tão poucas mulheres em universos yaoi? Venha descobrir!



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Em nosso mundo, por conta de uma, a princípio, rara doença que afetava a bissomia do cromossomo x, a população mundial foi reduzida bruscamente. No entanto, pelo fato de a doença apenas se apresentar em mulheres, após um incontável número de mortes, nos encontramos em um mundo onde ver uma garota adolescente, ou, ainda mais, uma mulher é particularmente raro. Não que não existamos, mas a tal doença se evidencia logo na infância, então as contagiadas não costumam passar da puberdade. Seria de imaginar que uma hora o vírus pararia de se espalhar, mas o problema é que os homens continuam carregando-o. E o vírus costuma ficar em um estado latente tal que se torna quase impossível de se identificar.

... Que droga de mundo esse meu...

Com algum tempo, a sociedade percebeu que, em um mundo onde a maioria da população é de homens, o relacionamento homossexual era uma coisa que deveria ser vista como normal. Não muito tempo depois, o relacionamento amoroso entre homens e mulheres havia se tornado algo tão raro que passou a ser visto como.... Errado. Digo, garotos são criados desde pequenos para se relacionarem bem mais com outros garotos (já que suas amiguinhas de infância podiam... bem... morrer antes dos quinze anos...). Há ainda alguns que se apaixonam por mulheres, constroem famílias e tudo o mais, mas não é como se isso fosse comum.

Com meus próprios pais não foi diferente da maioria. Eles conseguiram uma barriga de aluguel para me ter. No entanto, um deles morreu ano passado em um acidente de carro, então agora só tenho um pai. Admito que a casa parece um tanto vazia sem ele... Ele costumava tocar piano para nós e eu o acompanhava cantando. Após meses com um piano intocada na sala de estar e porta-retratos que faziam meu pai encher os olhos de lágrimas toda vez que entrava em casa, ele pareceu se convencer de que deveria se focar em sua carreira profissional e garantir que eu fizesse o mesmo. Não que tivesse esquecido seu esposo, mas meu pai prefere não pensar em relacionamentos, ou amor, ou coisas do tipo. Exceto comigo, ele agora é sempre muito sério e as pessoas acham que ele nunca sorri. Bem, deve ser difícil sorrir quando se perde um grande amor, então não o julgo.

Não que eu possa dizer que o entendo... Nenhum garoto nunca se apaixonou por mim, nem tampouco uma garota, diga-se de passagem. Então nunca tive exatamente a chance de estar com alguém, romanticamente falando. Lembro que quando tinha 13 anos e estava naquela fase de assistir filmes e ler livros românticos, eu fiz birra em casa porque queria ser um garoto. Meus pais tiveram que fazer chocolate quente pra mim e ficar me consolando por horas, explicando que eu era incrível como era e que “um dia eu iria encontrar alguém especial”. Eu sei que eles estavam falando aquilo só para que eu não fizesse nada maluco para mudar de sexo e porque é sempre necessário se ter uma mulher a mais no mundo.

Mas ainda acho péssimo ser garota. Não é como se legalmente me fosse negado nada, mas eu sei que todos me olham diferente na rua... Mas agradeço um pouco por não chamar tanto a atenção dos rapazes. Sei que há alguns que buscam garotas e as seduzem apenas para exibí-las como se fossem um troféu.

Mas continuo a usar o cabelo longo, principalmente por estímulo de meu pai. Ele prefere que eu não “renegue a minha feminilidade”.

Ainda assim, ele aceitou essa oferta de trabalhar para o governo, na parte do planejamento e verificação de obras a serem executadas. A central do núcleo onde ele trabalha é no bairro de Shunkou, que ficou popularizado por ser habitado praticamente só por homens. Não que mulheres sejam proibidas, apenas são incomuns. Se antes eu era a única do quarteirão, agora sou a única no bairro inteiro. E agora nós moramos num prédio.

Isso faz com que eu esteja completamente nervosa quanto a ir para o colégio novo. Em meu colégio antigo, havia algumas garotas, mas nenhuma que representasse uma amizade muito relevante. Elas estavam sempre focadas demais em preservar suas qualidades de garota e admito que isso não é minha prioridade. Meus amigos mais próximos disseram que viriam me visitar assim que possível, e que entraríamos em contato. Mas os inúteis que estavam encarregados da mudança derrubaram, ou bateram, sei lá, a caixa onde tinha o meu holocrom e vou ter que comprar um novo. Confesso que foi um pequeno desespero chegar e ver aquele par de lentes rachadas. E o fone simplesmente tinha se desconectado da haste!!! Que raiva desses brutos que não compreendem que tecnologia como essa custa dinheiro e é sensível...

Então aqui estou eu com um Iphone9 que meu pai encontrou perdido nas coisas dele. Me sinto incomunicável... Você ainda tem que segurar isso para atender! Não sei como ainda presta nos dias de hoje, mas aparentemente é o único jeito de me comunicar com meu pai, então não é como se eu tivesse muita escolha.

... Estou parecendo um daqueles meninos ricos que quer sempre ter o último lançamento tecnológico... Não é como se eu precisasse dessas coisas, mas prefiro não causar uma má impressão no colégio novo. É também nesse bairro que moram os homens mais ricos da cidade, então não é só um colégio só com garotos, é um colégio só com garotos ricos! E eu aqui, sem conhecer ninguém, com um pai que só está começando a se inserir no mundo dos poderosos e com o máximo que tenho de tecnologia portátil de comunicação é um celular no bolso da caça.

Parando para pensar, devo estar ridícula. Tokiya High pede um uniforme específico, mas, por eu ser a primeira garota nele desde sempre, tenho que usar calça como os garotos. É, calça masculina, nada como jeans ou outra dessas roupas unissex. O blazer cinza escuro até que caiu bem no meu corpo, modelando minha cintura, mas em conjunto com a parte de baixo, ficou um tanto esquisito. É um dia quente, já que estamos ainda no final do verão, então sinto que essa quantidade toda de roupa é bastante desnecessária.

- Queria estar em casa... – Sussurro pra mim mesma.

Prendo meus cabelos negros num rabo de cavalo. Tenho algumas mechas pintadas de vermelho-sangue, um velho costume que tinha com alguns amigos no antigo colégio, mas aqui não vejo ninguém com o cabelo de cores não habituais. “Eu mal passei pela entrada ainda. Tudo pode ser diferente lá dentro.”

Cruzo as altas portas do colégio e viro à direita, em direção aonde deve ser minha sala. 2-C, eu leio no papel que anotei. Passo pela 2-A.... 2-B....

- Ohayooo! – Uma cabeça sorridente e rechonchuda surge à minha frente quando entro na sala.

- O-ohayo... – Eu gaguejo. – Hã... Desculpe... Nós nos conhecemos?

O rapaz ri.

- Ainda não. – Ele estende a mão para mim. – Mas sou Akamine Tsuyoshi. Muito prazer!

Eu olho para ele um tanto confusa com a empolgação dele. Ele é tão... Feliz. Mas ainda não conheço ninguém, então também me apresento:

- Usami Yuri. É meu primeiro dia aqui...

- Dá pra perceber... Você não falou com ninguém, mas passou por gente de pelo menos cinco grupos sociais diferentes. E você é uma garota usando calças de homem, isso é algo que não se vê todo dia.

Sinto minhas bochechas corarem imediatamente e, para disfarçar, vou me sentar em alguma das cadeiras vagas.

- Então, Yuri-chan, o que a traz a Tokiya? Pensei que meninas preferissem estar juntas... – Ele fala um bocado... Pergunto-me se ele é simpático assim, ou só não tem com quem conversar.

- Bem... Meu pai começou a trabalhar aqui perto e preferiu que nos mudássemos... Ele preza muito pela minha educação, então preferiu que eu estudasse aqui, já que ouvimos que é uma das melhores escolas...

- A melhor do país, segundo o diretor! – Ele diz imediatamente, imitando uma pose imponente de líder. – “Preparando jovens para a vida, com um ensino de excelência para a mente!” – Tsuyoshi volta ao tom de voz normal. – Ele é meio maluquinho, mas é bem legal.

Nos distraímos por um barulho de passos na sala. Dois rapazes entravam, de mãos dadas, enquanto o mais alto dava um beijo no rosto do outro, que sorria de orelha a orelha. Este tem cabelos loiros que lhe caíam de forma charmosa no rosto. Quando aquele afasta um pouco o rosto, posso ver que ele tem belíssimos olhos azuis claros. É o rapaz mais lindo que eu já vi na vida!

- São Ian e David, - Tsuyoshi responde aos meus pensamentos, baixo o suficiente para que só nós dois escutemos, indicando respectivamente o moreno e o loiro – nasceram fora, mas já moram aqui há alguns anos. São como celebridades no colégio... É uma pena que namorem, metade do colégio adoraria trocar de lugar com qualquer um dos dois...

Eu rio discretamente da sinceridade do garoto. O casal deixa as mochilas em mesas consecutivas e os dois se sentam, esperando a aula começar. Tsuyoshi continua tagarelando ao meu lado enquanto outros alunos iam entrando, até que finalmente o professor chega e dá início à aula. Ele não se importa em me introduzir, o que eu agradeço bastante. Passo horas tentando me concentrar apenas em aprender a matéria de cada disciplina, mas por fim ouvimos o toque que marca o intervalo.

Alguns alunos saem, aos pares, da sala logo, mas boa parte vem falar comigo e sinto meu rosto corar de vergonha com tanta atenção. Quando todos parecem ter enfim aceitado minha presença como algo quase normal e penso que estarei em paz, um último rapaz, que estava sentado no fundo da sala, pega sua mochila e se dirige até mim, enquanto eu arrumo minhas próprias coisas.

- Finalmente aqueles abutres saíram de cima de você. – Ouço o garoto dizer. Ele é alto e usa óculos que ficam muito charmosos nele. – Sou Sagara Aisatsu.

- Usami Yuri... – Respondo, tímida.

- Sei disso. – Ele sorri para mim. Seu sorriso é muito bonito e, involuntariamente, me pergunto se ele tem um namorado... – Pediram que um aluno ficasse encarregado de te ajudar, já que é nova na escola e aceitei a vaga... Você é bem mais bonita do que eu pensava.

Senti minhas bochechas ficarem vermelhas pelo elogio repentino. Ele riu discretamente.

- Na verdade, você é a primeira adolescente que conheço.

- Não sou muito diferente dos garotos, na verdade. – Tento descontrair. – O cabelo longo é o que há de mais feminino em mim, eu acho.

Ele ri e percebo que ele me olha como se fascinado. Antes que um de nós diga outra frase, escuto atrás de mim a voz de Tsuyoshi:

- Ai! – Aisatsu se vira para ele e o abraça. E em seguida o beija nos lábios. – Você trouxe o livro que te pedi?

- Claro, amor. Tá na minha mochila.

Só nesse momento, Akamine Tsuyoshi parece notar minha presença. O que sei que não é verdade mesmo, já que eu estava me destacando de todos os outros alunos de Tokiya High...

- Ah, Yuri-chan, – ele diz para mim – esse é o meu namorado, o Ai!

- ... Não me apresente assim para as pessoas... – Aisatsu responde rapidamente, ruborizando, e volta a olhar para mim. – De qualquer forma, já nos apresentamos...

Minha cabeça para de processar todo o resto ao ouvir duas palavras: Meu. Namorado.

Olho para Aisatsu abraçado a Tsuyoshi. Este fala para mim que iam em algum lugar, mas não presto atenção. Eles se beijam de novo e saem da sala.

Comecei a pensar na forma como Sagara Aisatsu me olhou. Os olhos escuros e sensuais por trás dos óculos... Por que estou pensando nisso??? Ele tem um namorado, que foi super simpático comigo! E ele é gay! Assim como o resto do mundo... Por que eu tinha que nascer garota? Por que simplesmente assistir os homens terem uma vida e construírem relacionamentos de uma forma normal, não podendo ter um para mim? Aisatsu não é o cara mais bonito que já conheci, mas, por um momento, eu realmente pensei que ele podia... Se interessar por mim... Eu sei que não deveria ter me iludido, a princípio, mas, a forma como ele me olhou e falou comigo...

Isso foi a gota d’água para eu aprender a não criar expectativas assim. Talvez um dia eu conheça uma garota e me apaixone por ela, isso poderia dar certo... Aí olho ao meu redor na sala, agora que a aula já voltou, e vejo todos esses garotos... Droga, eu gosto mesmo de garotos... Para completar meu mau humor arruinado, o professor de história está falando sobre meados do século passado, quando a doença começou a matar em massa a população feminina. Apesar de o termo correto seria “bissomose viral”, ele se refere a ela como Praga do X, um nome que não ficou muito popular, por ser potencialmente ofensivo, mas que alguns homens adotam como que para lembrar aos outros que seu sexo é melhor.

Eu desenho aleatoriamente na tela de minha mesa, já que sei tudo a respeito dessa aula de cor. De repente, uma imagem de um envelope surge num dos lados. Eu não sabia que as mesas tinham conexão, isso facilita bastante conversas durante a aula... Clico no ícone e o rosto de Aisatsu aparece, ao lado de um espaço para texto dizendo: “Já que você é nova por aqui, pensei em te mostrar a cidade depois da aula. Topa?” A imagem de seu rosto olha para mim na tela e pisca.

“Tsuyoshi também vai?”, pergunto de volta.

“Não, não... Ele tem atividade no clube de matemática. Além do mais, meu foco tem que ser você e acho q ele não ia deixar”, sua imagem ri e revira os olhos de brincadeira.

“Por mim, pode ser”, me permito sorrir para a tela.

“Ótimo!”

O rosto dele e a caixa de mensagens somem e me pego procurando por ele na sala. O vejo no fundo da sala, com um sorriso sonhador no rosto, rabiscando na tela. Volto num instante a olhar para frente, para ao menos fingir que presto atenção na aula, me censurando por ter voltado a pensar em Aisatsu.

“Ele é gay”, volto a lembrar. “Ele tem namorado”. Mesmo assim, ele não teria por que olhar para mim. Sou uma garota com calça masculina, cabelos compridos e, percebo agora, unhas com esmalte preto descascando... Sou um retalho de uma pessoa que quer ser um garoto e nasceu com o corpo errado.

Suspiro e espero o sinal de término da aula, pensando que ao menos consegui um ou dois amigos no primeiro dia.


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Notas finais do capítulo

... Garanto que essa foi a distopia mais aleatória da qual alguém já escreveu a respeito! kkkkkkk enfim, como especificado no regulamento do concurso, é uma oneshot (apesar de eu ter um bocado de história ainda pra escrever, se preciso fosse kk), mas fico muitíssimo grata se vocês comentarem, favoritarem, etc. Agradeço à Por Que Clichê, Nyah? por realizar o concurso e espero sinceramente que muitos outros escritores honrem essa inciativa de vocês. E obrigada a você, leitor(a), que leu até aqui, você é muito importante, afinal, só escrevemos fics para que outras pessoas as leiam!



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