Goodbye escrita por MihChan


Capítulo 6
Aqueles rumores...


Notas iniciais do capítulo

Oi
Fiquei muito feliz em ver que estão gostando, muito obrigada pelos comentários.
Um obrigada especial para o Master Shoujo que favoritou *w*
Boa leitura~



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As aulas voltaram antes mesmo que eu percebesse.

Não falei mais com Murilo nem tampouco o vi depois de levá-lo para o hospital novamente. Não sei como acertei, mas me lembrei que sua mãe, dona Miranda, tinha me dito qual hospital ele estava no dia do seu aniversário. O médico estava irritadíssimo e disse que eu era a culpada de tudo aquilo, o que me deixou indignada.

– Desculpe o doutor, querida. – Miranda aproximou-se calmamente de mim, mas eu senti que também estava tão nervosa quanto o homem de jaleco – Ele é o médico de Murilo desde sempre. Ele é importante para todos nós, inclusive para o Doutor Leonardo.

E para mim também, foi o que eu pensei involuntariamente naquele momento, mas mesmo assim não consegui entender porque a culpa era minha. Resolvi tentar aceitar que ele dissera aquilo por estar fora de si.

Estava sem ânimo algum para ir pra escola no primeiro dia da volta delas. As pessoas da classe iriam mudar, minhas amigas podiam não ficar na mesma sala que eu, minha mãe estava louca da vida porque meus irmãos não tinham ficado no mesmo horário de aula e ficaria difícil levá-los e buscá-los. Estava pronta para convencer a diretora que não podia fazer isso.

– Manu, vá logo. – ela choramingou.

Eu ainda trocava os livros. Eu sou assim mesmo, deixo tudo pra fazer de última hora. A encarei de esguelha e suspirei.

– Tudo bem, mamãe. – falei – Pode ir. Eu tenho que comprar uma caneta nova no caminho mesmo. E a escola é bem perto. – sorri, tentando passar segurança do que dizia.

– Tudo bem. – disse relutante. Andou para dentro do quarto e me deu um beijo na testa – Tome cuidado.

– Okay.

– Tchau, Manu. – meus irmãos acenaram.

– Tchauzinho. – sorri.

Comi algumas bolachas e saí de casa, atrasada. Comecei a andar mais rápido já que teria que passar em uma papelaria antes e, a mais próxima, era para o lado oposto à escola, o que é irônico.

Olhei para meu pulso e vi uma pulseira meio estranha que eu ganhara de dona Miranda. Não sei como ela descobriu que meu aniversário era em janeiro, mas ela ligou em minha casa e me convocou para ir até a sua. Disse que tinha sido feita pelo Murilo no hospital para agradecer pelo presente que tinha dado na ano que se passou.

Ouvi um barulho de freio que me despertou de meus devaneios e me assustou de certo modo, mas não parecia de carro ou de moto, parecia de uma bicicleta. Olhei para trás e vi Murilo. Ele me encarou por alguns instantes, sério. Virei a cara, corada, e continuei a andar. Não só porque estava com raiva dele. Ele tinha me dado um susto dos grandes, isso era verdade e eu ainda me senti culpada o resto das férias inteiras, tentando assimilar porque que a culpa era minha na verdade. Mas eu também tinha chegado a conclusão de que achava que eu estava mesmo gostando dele. Não era a toa toda aquela preocupação, não era a toa aquela minha curiosidade, não era a toa aquele turbilhão de emoções que ele me passava. E ainda por cima, a bem dita pulseira que eu não consegui não colocar no braço.

– Ei! – gritou – É assim que você trata os amigos? – ele começou a pedalar ao meu lado.

– N-Não somos amigos. – gaguejei.

– Você é tão cruel. – comentou.

Ele não estava mais com o capuz na cara e não parecia tão vulnerável como da última vez que o vi. Ele até me parecia... saudável. Seus cabelos estavam bonitos a luz do sol da manhã e sua pele branca estava num tom mais rosado. Dei risada.

– O que foi? - ele olhou ao redor, procurando o motivo da graça.

– Você está parecendo um bebê, sabe. – falei.

– Bebê?

– Sim. Sua pele está até rosada. – ri mais um pouco.

Ele ia dizer algo, mas eu xinguei baixinho encarando a hora na tela de bloqueio do celular. Estava em cima do horário e eu teria que fazer todo o caminho de volta novamente. Ele parou a bicicleta a minha frente e me encarou. Corei levemente.

– Suba. – disse.

– Valeu, mas eu tenho que comprar uma caneta ali e... – minha ficha caiu - A propósito, o que você está fazendo aqui ainda?

Apontei na direção oposta que era a da escola. Eu tinha pegado a outra direção, como já expliquei, já que não podia ir para escola sem uma caneta descente.

Ele levantou uma das mãos e revelou um caderno. Ainda estava com preço. Ele tinha acabado de comprar, deduzi, na mesma papelaria que eu iria.

– Eu peguei essa bicicleta emprestada com Victor para vir comprar o caderno. Eu sou meio desligado e acabei esquecendo na escola um com muitas folhas em branco. – riu, envergonhado – Como esperado, ele não estava mais lá.

Ele tinha se aproximado de Victor durante o final do ano anterior e as pessoas, pelo menos as da nossa classe, já não o rotulavam tanto. Mas poucos sabiam da sua doença verdadeira, digo, corriam muitos boatos de doenças estranhas que ele poderia ter, mas ele mesmo disse a todos que sabiam que não espalhassem.

– Que coincidência... – desviei o olhar e sorri amarelo.

– Você também esqueceu algo? – perguntou.

– Eu preciso de uma caneta. – falei – Eu reutilizei quase tudo do ano anterior, mas esqueci de comprar canetas novas.

– Parece que mais alguém por aqui é desligada... - comentou - Eu te empresto. – sorriu – Vamos logo.

E com isso, eu subi no bagageiro da bicicleta, mas me arrependi no momento que percebi o quão rápido ele iria. Não estava nem ligando para a passageira atrás e eu não tinha onde segurar. Passamos em uma lombada que fez a bicicleta perder um pouco do equilíbrio e eu me agarrei a qualquer coisa, ou seja, ele.

Corei até a alma, se é que isso é possível. Ele continuou na mesma velocidade sem nem mesmo se importar que eu estivesse agarrada à cintura dele. Eu até soltaria, mas ele não me dava chance para fazer isso. Toda vez que eu tentava, ele acelerava um pouco mais me fazendo apertá-lo mais forte.

– Wah! – suspirei, sentando-me em um dos bancos da área aberta da escola quando finalmente paramos – Você é tão malvado.

Comecei a arrumar o cabelo, que estava preso em um coque que agora estava super mal feito. Não que eu tenha feito ele super requintado, mas agora estava pior.

– Por que você não usa um espelho? – perguntou, parecendo óbvio.

– Eu não tenho nenhum. – respondi, tentando domar a juba.

– Você não é muito feminina, certo?

O encarei pensando se bateria nele agora ou se sentiria compaixão e só bateria na próxima encarnação. No fim, a preguiça falou mais alto e eu voltei minha atenção para o cabelo.

– Digo, as meninas normalmente têm esse tipo de coisa na bolsa... – continuou sem em encarar – Espelhos, band-aids...

– Ora, você que não é nem um pouco cavalheiro. – retruquei – E eu tenho band-aids!

– Pff! – ele começou a rir e se sentou ao meu lado.

Pegou em minhas mãos e as soltou dos meus cabelos. Balbuciou um “me deixa ver” e começou a arrumar do seu modo. Reparei em como ele era bonito e que tinha um semblante infantil ao tentar tirar os nós que tinham se formado no meu cabelo. Logo as minhas madeixas estavam ao lado do rosto.

– Assim está bom. – ele sorriu e me despertou do transe.

Agora o cabelo estava solto. Não estava muito melhor que antes, mas era melhor isso do que aquele coque, com toda certeza. E ter o privilégio de ter sido ele o meu “cabeleireiro” me deixava envergonhada.

Murilo apoiou um braço no encosto do banco e com a outra mão enrolou alguns fios do meu cabelo em seu dedo. Continuou a me encarar e eu senti que aquilo já estava ficando estranho. Trouxe as mechas ao lado do rosto pra mais perto, discretamente, fazendo um tipo de “x” com elas, para esconder o tom vermelho que tinha adquirido enquanto ele me fitava sorrindo satisfeito.

Percebi que não tinham pessoas pelos pátios. A cantina estava fechada. Nenhum inspetor a vista. Eu estava matando aula justo no primeiro dia?

– As aulas! – me levantei – Rápido, estamos perdendo aula nesse exato momento. – me desesperei. Ele começou a rir enquanto me observava entrar em colapso nervoso – Por favor, me diz que sabe em qual sala estamos!

Ele pegou em minha mão e me guiou até a sala em que, supostamente, eu estava. Só então que fui perceber que ele estava sem material nenhum, já tinha vindo à escola e deixado suas coisas, pegado a bicicleta de Victor e ido em busca de um caderno. Talvez ainda tivesse esperança que seu antigo caderno ainda estivesse lá.

– Agora? – um professor disse, abrindo a porta.

– Desculpe. Ela estava perdida então resolvi ajudar. – Murilo mentiu descaradamente.

– Que bom coração o seu. – o professor ironizou, porque já conhecia a nós dois do ano anterior.

Entramos na sala. Vi que praticamente todos do ano que se passou tinham ficado juntos novamente. Só tinham algumas caras novas. As garotas acenaram para mim freneticamente e Mirela deu um sorrisinho de lado, que eu não compreendi de primeira.

As aulas passaram rapidamente e logo o recreio chegou. Eu teria que ir a diretoria buscar um papel para minha mãe ficar ciente do meu atraso. Já sentia minhas lágrimas escorrerem por saber que ela ia começar um jogo psicológico daqueles que me deixariam depressiva por dias. Já podia ouvi-la falando: “Entrou no ensino médio agora e já quer bancar a rebelde?”. Vai ser tenso. Suspirei.

– Você vai me seguir até quando? – perguntei.

Murilo, ao meu lado, pareceu tomar um susto e sorriu inocentemente. Ele tinha passado todo esse tempo me seguindo para todo lugar.

O clima entre nós não estava variando de estranho para normal, mas eu estava em combustão nervosa. A qualquer momento eu poderia explodir e sair correndo.

– Sabe... – ele começou – Obrigado por todo aquele discurso que você fez na praia...

– Hã? – o encarei.

– Nas férias, aquelas palavras admiráveis. – senti ironia em sua voz então o olhei - Eu realmente não queria ouvi-las de você, mas... – revirou os olhos.

– O que? Seu babaca! – dei tapas nele, mas pareciam não surtir nenhum efeito.

– Elas me fizeram refletir um pouco. – sorriu, segurando minhas mãos para que eu parasse meus ataques – Eu vou viver até quando puder, certo? Por você. – sorriu.

– Q-q-q-que? – corei e puxei minhas mãos das dele.

– Hã? – ele pareceu ter notado o que disse – Ah, quero dizer, porque você me incentivou dizendo tudo aquilo. – desviou o olhar, constrangido.

– Tudo... bem. – sorri me recuperando.

Por um momento, eu quis que ele dissesse que era aquilo mesmo que eu tinha escutado. Me senti um pouco feliz.

Quatro meses se passaram e nos tornamos amigos de verdade, daqueles que sabem segredos e tem piadas internas, mas meu pequeno sentimento por ele só cresceu, como uma flor desabrochando. Alguns rumores na escola diziam que estávamos namorando. Aki vivia suspirando e dizendo que combinávamos. Claro, os dois estranhos da escola, por que não? O rotulado por todos e a garota que teve coragem para se aproximar do mesmo.

Ele não se importava com o que diziam e continuava a me encher todas as manhãs.

Estávamos andando pelos corredores vazios enquanto a chuva caía forte do lado de fora. Era aula de educação física e nós não podíamos participar. Eu tinha feito o maior drama na diretoria para que me dispensassem porque eu tinha trauma de queimado e de qualquer coisa relacionada à bola devido a um pequeno acidente no primário e um braço quebrado. Ele até queria fazer, mas sua família preferia não arriscar.

– Você viu que as fofocas pioraram? – comentei.

– Sobre...?

– Nós.

As vezes eu jogava coisas assim no ar para ver o que ele pensava sobre... “nós”. Sobre esses boatos, que eu vivia sonhando se tornarem realidade das maneiras mais cafonas possíveis.

– Ah. – ele riu, despreocupado.

Silêncio. Entramos em nossa classe. Ele sentou-se em cima da mesa do professor e, enquanto eu rabiscava a lousa, me observava. Desconfortável. Era como eu me sentia naquele momento.

– Essa escola é meio estranha, não acha? – ele comentou do nada e nesse mesmo momento um trovão soou, imponente.

– Gabi disse que dava arrepios no ano passado... – falei tentando evitar demonstrar o quanto aquilo tinha me assustado.

– Você não tem medo?

– Um pouco... – respondi, sincera – É meio estranha devido a construção ser... Você sabe. – olhei em volta - Mas eu não me prendo nesses pensamentos. – sorri torto.

Eu quis dizer a ele sobre como eu pensava e agia sobre medo, mas achei que soaria muito patético naquele momento. Bobagem? Eu sei. Me calei e me limitei a pegar o apagador e limpar meus rabiscos.

O garoto saiu dizendo que iria beber água. A sala que tínhamos ficado dessa vez era no térreo. O lado para que dava as janelas, era onde os alunos guardavam as bicicletas ou algo do gênero que viesse para a escola.

Olhei de relance para as janelas e ouvi um ruído mesmo com toda aquela chuva fazendo um barulho estrondoso ao se chocar com força ao telhado. Senti meu coração sair do compasso. Nossa sala era um pouco exilada. Perto havia o refeitório e a biblioteca e, em horário de aula, ninguém estava rondando o bicicletário.

Logo na hora em que eu fiquei sozinha...!

Segui até as janelas e olhei para fora deduzindo ser alguma “tia da limpeza”. Não tinha nada. Suspirei aliviada, tinha sido minha imaginação fértil. Quando estava prestes a voltar ao que estava fazendo, senti algo soprar em meu pescoço. Congelei.

– Bu! – foi a única coisa que ele disse e também foi o bastante.

Ouvi-o rir um pouco por ter percebido que eu tinha mesmo me assustado. Senti meu corpo parar totalmente e tentei controlar a tensão que se espalhou pelo mesmo.

– Isso foi engraçado. – disse se sentando em cima de uma das primeiras carteiras.

Eu não consegui dizer nada, as palavras estavam presas na garganta. Talvez estivessem tão chocadas quanto eu mesma. Senti uma de minhas bochechas molharem repentinamente. Depois a outra ficou no mesmo estado.

– Está chorando? – ele pareceu surpreso.

Não respondi. Aquilo era frustrante demais. Me encostei na parede das janelas e deixem que meu coração se aliviasse um pouco. As lágrimas rolavam.

– Desculpe. – tentei sorrir – Eu... Eu não sei o que está acontecendo. – solucei – Isso é tão idiota! – forcei uma risada, passando as mãos pelo rosto.

Ele levantou e se aproximou, envolveu um de seus braços em volta dos meus ombros e o outro em minha cabeça, me acolhendo em um abraço. Tentei me soltar dele, mas ele não me deixou que o fizesse.

– Você é um idiota. – falei. Soou abafado por causa do abraço.

– Eu sei.

Então deixei que meus braços escorregassem até sua cintura e retribuí o abraço.

Ele me soltou quando me acalmei o bastante, andou até sua mesa, desenhou algo em seu caderno rapidamente e andou novamente até mim, o escondendo nas costas.

Ao chegar a minha frente, colocou o caderno aberto na altura do rosto e eu vi um desenho de uma careta estranha feito ali. Dei risada entre as lágrimas ainda no rosto.

– O que? Está tentando se redimir? – passei as pontas dos dedos abaixo dos olhos, me recompondo.

Ele começou a falar coisas aleatórias com uma voz irritante e foi impossível segurar o riso, ainda mais quando ele retirou o caderno do rosto e me mostrou que sorria também.

– Você viu o que estão dizendo agora? - Gabi me recebeu com um grito na porta da sala de aula dois dias depois do ocorrido e saiu me arrastando para um lugar mais reservado.

– O que...? - sorri sem entender absolutamente nada.

– Estão dizendo que vocês mataram aula para namorar! - Lara estava pasmada.

– Oi? - soei.

– Sim... - Aki parecia pensativa - Aconteceu alguma coisa naquele dia? - ela se referiu ao dia chuvoso.

– Não! - respondi de imediato, mas saiu forçado.

–... - Mirela sorriu de lado novamente.

– Okay. - me rendi.


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Notas finais do capítulo

Espero que gostem desse. Acho que foi o mais descontraído até agora, mesmo que tenha tido aquela partezinha clichê, enfim.
Comentem e me digam o que acharam.
Até o próximo