Goodbye escrita por MihChan


Capítulo 2
Aquela impressão...


Notas iniciais do capítulo

Okay, eu disse que postaria logo, mas conciliar tudo que é preciso é meio difícil. Ufa!
Espero que deixem algum comentário nesse ou me digam o que acharam c;
Enjoy!



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Quando eu o vi, confesso que fiquei assustada. Ele era alto e muito, muito, muito magro. Tinha os cabelos pretos lisos escorridos caídos sobre o olho num estilo meio emo e era branquíssimo, parecia até meio anêmico de tão pálido.

Ignorou todos os comentários sobre ele e até mesmo a inspetora, pedindo que ele pensasse em ser mais amigável com os outros.

Será que ele faz mesmo jus a como se referem a ele?

Ele apenas foi para seu lugar, que era na fileira ao lado da minha, de Gabriela, e na quinta carteira. Manteve o capuz do casaco cinza que usava na cabeça todo o tempo como se estivesse alienado em seu próprio mundo. Não o tirou em nenhum momento e os professores não pareceram se importar com ele, apesar de brigar com os outros para tirarem se estivessem do mesmo jeito.

Será que até mesmo os professores não têm uma relação boa com ele?

Lembro-me que nesse dia formulei em minha cabeça muito mais perguntas que o normal e que olhava vez ou outra de soslaio para tentar ver o que ele fazia. Na maioria das vezes estava com a cabeça baixa envolta por seus braços, batucando na mesa ou realmente prestando atenção na aula.

Em um determinado momento, eu não tive muita sorte no quesito espiã e ele percebeu que eu o encarava sem parar a algum tempo, se é que já não tinha percebido e apenas fingido o contrário. Ele me fitou com um ar ameaçador me fazendo repreender-me por estar tão curiosa em relação a vida dos outros. Eu queria verdadeiramente saber sobre ele. E ia muito mais além de sua doença ou sua relação com todos.

No intervalo, estávamos eu e as meninas, que eu fui encaixada na panelinha, sentadas em um dos bancos de pedra que tinham no pátio da frente, que era ao ar livre. A parte coberta, que ficava no meio da escola, estava cheia de gente merendando e conversando. Onde estávamos só havia eu, as meninas e algumas outras pessoas sentadas pelos bancos ou na grama molhada, já que mais cedo havia chovido um pouco.

– Murilo é meio estranho, não acham? – Mirela comentou despertando uma fagulha no meu cérebro. Me atentei ao assunto, que até então estava em um problema de matemática e o valor do x.

Ela era mais alta que eu, morena clara, cabelos ondulados e castanhos escuros. Sinceridade era o nome do meio dela, mas conseguia ser bem gentil quando queria.

– Eu acho que ele é complexado por causa da doença, sabe... – Aki disse com pesar.

Ela era uma garota meiga e fofa. Da mesma altura que eu, cabelos pretos cortados num chanel de ponta, tinha os olhos puxados e traços orientais que a faziam ser apelidada de japa.

– Parem de fazer bullyng com o garoto, coitado. – Lara riu.

Bonita, da mesma altura que eu, franja e o cabelo até a cintura liso e castanho claro, quase sempre está em um rabo de cavalo. Ela com certeza não é sedentária e é bem comunicativa. Está sempre dentro de tudo que acontece na escola, sendo vice-representante, sempre a procuram para ser responsável por algo, seja promover uma campanha ou provar do novo cardápio da cantina.

– Eu acho que vocês deviam calar a boca. – Gabriela acompanhou Lara, desconfortável com o assunto que se iniciara – E se ele aparece? Com aquele olhar e o capuz sempre na cabeça, parece que ele trama matar todos nós. – todas riram.

– Como um psicopata? - Aki era mesmo ingênua.

Depois que cessou as risadas e começou outro assunto, minha cabeça ainda rondava Murilo. Aquilo já começava a me incomodar de verdade.

– Ãnh, vocês sabem qual é a doença que ele tem? – me pronunciei, para espanto de todas já que o assunto já tinha mudado.

Gabriela bateu a mão levemente na testa e olhou em volta como se o procurasse por perto.

– Não sabemos. Mas parece que é algum tipo grave... – Lara ficou pensativa.

– Será que é contagiosa? – Aki perguntou, nervosa.

– Ebola? – Gabriela se apavorou.

– É claro que não, idiota. – minha vez de rir.

– Crianças... – Mirela riu comigo.

Fui ao bebedouro quando o sinal tocou. Tinha uma pequena fila. A explicação seria que uma turma estava tendo um tempo de exercícios na parte de trás da escola. Suspirei e me juntei aos mortos-vivos que andavam penosamente até o bebedouro. Depois de alguns instantes vi algumas pessoas se dispersarem e irem rapidamente para as suas salas com desculpas esfarrapadas entre si, como “é aula de que mesmo? Matemática? Preciso correr!” ou “esqueci que trouxe água” e até mesmo “acho que ouvi minha mãe me chamando”. Pareciam meio contrariadas e apavoradas ao mesmo tempo. Achei que talvez a diretora não gostasse que ficássemos fora da sala depois que batesse o sinal, mas quando olhei para trás apenas havia um garoto lá, Murilo.

Ele me olhou nervosamente e desviou o olhar para o nada. Eu tomei água e sorri para ele quando saí e ele pareceu surpreso com meu ato. Segui pelo corredor para a sala e pedi desculpas ao professor quando entrei.

Ele chegou um pouco depois e entrou sem nem mesmo dizer algo. Será que as pessoas não costumam conversar com ele por causa da história dessa tal doença? Mas se fosse algo contagioso, ele não poderia vir à escola. Realmente não vejo nenhum problema nele que o leve a ser tão “excluído” assim. Será que ele se sente sozinho? Olhei para ele de esguelha, o mesmo estava concentrado na escrita. Tratei de fazer o mesmo.

– Vamos tomar um sorvete? – Aki estava animada no horário de saída da escola.

– Mas está frio, menina. – falei, óbvia.

– O que há de mal nisso? Assim que é bom! – Mirela disse.

– Morrer de pneumonia também é ótimo... – ironizei, contrariada.

– Credo! – Lara riu.

– Vamos logo, Manu! – uma certa ruiva me obrigou a ir e foi me arrastando até a sorveteria.

Pegamos o sentido contrário à minha casa. Iríamos em uma sorveteria um pouco depois da creche dos meu irmãos. Passamos pela casa e, pela primeira vez, vi um carro estacionado na frente. Parei para observar sem nem mesmo notar que havia feito.

– Aconteceu alguma coisa, Manu? – Mirela perguntou mais à frente com as outras.

– Ah, não... – e corri para alcançá-las.

Chegamos à sorveteria depois de muita discussão, de nos perdermos por ninguém me dar ouvidos e de Aki bancar o Burro de Shrek quando eles estavam indo para o reino Tão Tão Distante.

Como eu já estava lá mesmo resolvi me divertir um pouco e tomar um sorvete com elas. Lara sorria mexendo no whatsApp enquanto as outras meninas davam risadas de algumas coisas que comentavam, e com isso eu quero dizer, que as meninas estavam rindo de Mirela enquanto ela fazia comentários das fotos dos outros no instagram.

– Ei, Lara – chamei-a – Você não acha que o tal Murilo se sente sozinho? Tipo... Eu nunca vejo ele com os outros garotos... Deve ser meio solitário não ter com quem conversar ou até mesmo dividir as dúvidas dos assuntos das aulas.

Lara me encarou cerrando os cílios e depois desviou seu olhar para seu ponto inicial.

– Por acaso está se interessando pelo lado misterioso dele? – ela sorriu maliciosamente, mas não tirou os olhos do celular.

– Não! – corei levemente e agradeci aos céus por ela não estar me olhando.

– Eu não sei, Manu. – ela falou sério dessa vez e me olhou por um segundo – Como já dissemos, ele falta demais e é um ano mais velho que todos nós naquela sala... Ele é repetente... Ele não se aproxima de ninguém.

– Hum... – confirmei encarando meu sorvete, que derretia.

Não que aquilo fosse um bom motivo ou tivesse esclarecido todas as minhas dúvidas, mas eles realmente pareciam não saber nada muito informativo sobre ele e eu não queria que pensassem errado das minhas intenções. Aliás, nem eu sabia minha intenções.

Como todo dia, naquele eu fui de ônibus e voltaria de pé, me preocupava o céu estar escurecendo e eu não ter um guarda-chuva comigo. Minha mãe só me levou no primeiro dia e eu também tinha obrigação de buscar os meus irmãos na escola.

Começou a chover, comprovando minha hipótese, quando passava em frente a creche novamente. Corri até uma casa que tinha um estreito telhadinho em cima de um grande portão de garagem. Fiquei ali até que a chuva parasse. Não que o mísero telhado adiantasse alguma coisa, mas impedia que os pingos pesados caíssem diretamente na minha cabeça.

Fiquei a observar o pequeno jardim da casa intrigante e como as plantas pareciam brilhar em contato com a água da chuva.

Assim que estiou um pouco, tratei de correr pra casa, tomar banho e voltar com um guarda-chuva para buscar pestinha um e pestinha dois.

– Manu! – gritaram juntos e correram para o portão da creche, onde eu me encontrava os esperando.

– Gui! Minzi! – os chamei pelos apelidos.

Peguei nas mãos deles de cada lado e fomos andando para casa, enquanto não chovia e eles me contavam como o dia deles tinha sido muito mais legal que o meu. Passamos em frente à casa bonita e, pela primeira vez em todos aqueles dias, para meu espanto, vi uma pessoa sentada no pequeno batente da porta encarando as plantas de seu próprio jardim. Meu espanto foi maior ainda quando percebi que a pessoa era Murilo, o garoto intitulado estranho da minha classe. Fiquei chocada e arregalei os olhos levemente.

Ele me olhou com a mesma expressão de nada. Tinha uma toca na cabeça, uma blusa de manga longa azul e uma calça moletom preta. Parei de andar e, consequentemente os meus irmãos também.

Um carro veio em alta velocidade e passou bem na faixa do lado que estávamos. O mais legal é que tinha uma poça enorme de água a nossa frente e eu fiz movimentos like à ninja para poder abrir o guarda-chuva e impedir de nos molharmos. Funguei e lutei para não falar mal do motorista do tal carro.

Olhei assustada para os lados. Meus irmãos estavam abraçados às minhas pernas. Suspirei aliviada percebendo que eles se encontravam em perfeito estado e com todos os membros em seus lugares de origem.

Por um momento, esqueci a coincidência mais que estranha que havia acabado de acontecer, mas olhar para frente foi o bastante para me trazer a minha realidade novamente.

Murilo, o estranho, gargalhava com as mãos na barriga. Tombei a cabeça para um lado, depois de me certificar que de fato era quem eu pensava. Ele pode ter sentimentos, afinal. O garoto percebeu que eu estava evidentemente assustada e entusiasmada ao mesmo tempo, levantou-se e entrou em casa, envergonhado.

Talvez no momento daquele seu ato, sentimentos que eu só perceberia bem depois, já tivessem sido plantados como uma pequena semente, pois um sorriso sem razão quis se mostrar no canto da minha boca rocha devido ao frio.

E a partir daquele dia, minha impressão dele que fora formada no primeiro dia que o vi, foi mudando aos poucos.


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Notas finais do capítulo

Comentem e me digam o que estão achando, certo? Espero vocês nos comentários e até o próximo!