One Shot - Help of Fate escrita por Alice Lattea


Capítulo 1
Ajuda do destino


Notas iniciais do capítulo

Minha primeira fic pra vocês, espero que gostem da história.

Quero agradecer a minha amiga Carol, que leu o rascunho dessa fic e me motivou a continua-la. Muito obrigada mesmo ♥

Acho que é isso.. enjoy!



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O Sol já esquentava o asfalto, mesmo às oito horas da manhã, e o banhava com sua luz dourada. Scott e eu estávamos a bordo do carro dos meus pais e rumávamos para o Six Flags Hurricane Harbor, em Los Angeles, que ficava a uma hora de carro de Chino Hills.

Saímos da minha casa por volta das sete e meia, o que significava que estávamos a pouco menos de meia hora do nosso destino. Passaríamos todo o fim de semana na cidade, e a nossa primeira parada era o parque.

Scott estava animado com a ideia. Primeiro, porque era o único Six Flags da Califórnia ao qual ainda não tínhamos ido — e ele adorava os parques; e também porque passar o fim de semana em Los Angeles era, de fato, uma coisa pela qual se animar.

Six Flags era uma rede de parques que se espalhava por todo o país, sendo visitada por milhares de pessoas todos os dias. Scott e eu, particularmente, éramos adeptos, por assim dizer. Era um dos nossos lugares preferidos.

A cinco minutos de Los Angeles, Scott bateu no volante e soltou um grito animado.

— Vai com calma, cara. Não quero morrer antes mesmo de chegar ao Six Flags — brinquei, rindo da careta que ele fez.

— É o nosso primeiro fim de semana sozinhos em Los Angeles, Stiles! Anime-se! — ele rebateu.

— Eu estou animado — respondi apenas, com um sorriso no rosto, enquanto observava a entrada da cidade, estonteante como sempre.

Los Angeles era, na minha concepção, uma cidade maravilhosa. Todos os lugares, todas as pessoas, absolutamente tudo ali emanava felicidade, calor e realização de sonhos. Naquele dia em especial, entretanto, meus olhos gostaram mais ainda do que viram, e algo me dizia que seria um dos melhores fins de semana do ano.

Depois de atravessarmos quase toda a cidade, finalmente chegamos ao Six Flags. Tamanha animação, deixamos para dar entrada no hotel que ficaríamos depois, quando retornássemos.

O parque era, de fato, um dos mais bonitos ao qual já fomos. Incontáveis piscinas espalhavam-se pelo local, cada uma de um tamanho, indo do menor de todos — para bebês e crianças pequenas — ao tamanho olímpico, ou muito maior que isso. Os escorregadores eram enormes, e o simples ato de olhá-los já dava calafrios, mas ao mesmo tempo aguçava o meu instinto de encarar desafios e aventuras.

Scott estava parado, boquiaberto, como uma criança de cinco anos olhando para uma confeitaria.

— Vamos lá, McCall. Ou vai ficar parado aí com essa cara? — dei um leve tapa em sua cabeça, despertando-o. Ele devolveu, mas em seguida riu e logo se colocou a andar ao meu lado.

Nossas camisetas já estavam devidamente jogadas no banco de trás do carro, o que nos permitiu sentir o calor do escaldante Sol de verão em nossos troncos e pernas, ainda que fosse de manhã. Se tinha uma coisa que eu amava a respeito da Califórnia, era isso: o verão de lá.

Scott me arrastou durante toda a manhã de um escorregador a outro, cada um desaguando em uma piscina diferente. Em alguns descíamos em bóias, em outros não. De qualquer forma, foi divertido, mas era hora de parar para almoçar e, quando voltássemos, eu pretendia ficar relaxando um pouco sob o Sol.

Almoçamos em um dos fast-foods presentes no parque, o que, na verdade, não podia ser considerado como almoço.

De sobremesa, pedimos um sundae com bastante chocolate, do jeito que Scott gostava. Enquanto apreciava seu sorvete, ele falou:

— Você já reparou na quantidade de garotas bonitas nesse parque? Meu Deus, Stiles! Isso é o paraíso!

Torci o rosto em uma careta.

— Sim, claro. Até porque tive muito tempo para reparar, com você me arrastando para lá e para cá desde que chegamos — resmunguei.

— Ora, não reclame! Pois repare agora — ele disse, levantando as sobrancelhas enquanto fixava os olhos em uma garota de cabelos loiros esvoaçantes e sorriso cativante, que passava por nossa mesa naquele exato momento.

Dei uma olhada rápida em volta, tentando encontrar todas aquelas garotas bonitas das quais Scott falava, mas dei de ombros e voltei a atenção para o sundae, que me parecia extremamente mais interessante no momento. Para ser sincero, havia muito tempo desde que eu me cansara de todas aquelas garotas padrões, que pareciam brotar de todos os lugares e encantar a todo mundo, menos a mim. Sempre com cabelos claros, na altura da cintura, e muito lisos. Passavam maquiagem no rosto como se não houvesse amanhã — eu desconfiava que, a cada início de semana, precisavam reabastecer o estoque de bases e sombras —, até mesmo para ir à praia! Na primeira vez que me dei conta disso, torci a boca em desgosto. Que tipo de pessoa passa maquiagem para entrar na água? Isso, é claro, se chegavam a entrar.

Eu não sabia desde quando começara a me preocupar com isso, mas percebia, cada vez com mais frequência, que o mundo estava se tornando um lugar repleto de pessoas fúteis, de plástico. Cada uma querendo ser melhor que a outra, mais bonita que a outra, mais rica que a outra. Como se isso, de fato, importasse. Bem, não para mim. Depois de pagarmos a conta, Scott anunciou que ia ao banheiro, e eu resolvi esperá-lo do lado de fora do fast-food. Entretanto, minutos se passaram e nem sinal dele. Quando fui procurá-lo, não havia uma alma sequer no banheiro masculino. Bufei, mal humorado, e novamente me encaminhei para fora.

Voltei pelo mesmo caminho que fomos, varrendo todas as pessoas ali com os olhos, na esperança de encontrar aquele par de olhos castanhos que tanto me eram familiares. Quando finalmente pensei o ter visto, fiquei tão empenhado em minha tarefa de segui-lo que, sem perceber, esbarrei em alguém e atirei essa pessoa diretamente na piscina mais próxima, encharcando-a.

Despertado do transe, olhei para o lado, atônito. Era uma garota. Ela voltou à superfície rapidamente, mas com uma expressão de absoluta surpresa no rosto. Quando o fez, voltou seus olhos diretamente para mim. Olhos de um brilhante castanho, que, no mesmo instante, me fizeram congelar novamente. Ela era… linda. Seu cabelo, com leves reflexos mais claros que o ruivo quando a luz do sol o atingia com maior intensidade, emoldurava o rosto delicado.

Diferente de todas que eu já tinha visto, ela não se parecia com a Barbie. Muito pelo contrário. Suas feições sustentavam uma expressão única, quase hipnotizante. Ao perceber que ela continuava a me olhar, sem reação alguma, pisquei os olhos rapidamente e lhe estendi a mão.

— Mil desculpas! Eu estava… eu estava distraído! Venha, eu te ajudo a sair daí — falei, todo estabanado, embaralhando-me com as palavras.

Depois de alguns segundos de hesitação, ela finalmente segurou minha mão e deixou que eu a içasse para fora da piscina. Felizmente, não era uma das mais fundas do parque.

— Está tudo bem? — perguntei, aflito.

— Sim, eu estou bem, não se preocupe — finalmente, a garota se pronunciou, tirando um enorme peso do meu peito.

Sua voz não saiu ríspida como eu imaginava, mas sim delicada e cuidadosa. — Só tome cuidado por onde anda, daqui a pouco é você quem está caindo na piscina! — riu suavemente, colocando uma mecha do cabelo molhado para trás da orelha.

— Oh, Deus! — suspirei, conseguindo rir um pouco também, mais de alívio do que de qualquer outra coisa. — Me desculpe, de verdade.

— Ei, eu estou legal! — ela sorriu novamente, dessa vez fitando-me direto nos olhos. Após alguns segundos, estendeu a mão delicada e úmida para mim. — Me chamo Lydia.

— Stiles — respondi prontamente, apertando sua mão com uma força medida, com medo de machucá-la.

— Muito prazer Stiles — Lydia apertou os olhos ao alargar o sorriso e soltar minha mão, torcendo a barra da canga que usava enrolada na cintura a fim de retirar o excesso de água. — O que estava fazendo antes de decidir empurrar desconhecidos na piscina? — perguntou, brincalhona.

— Eu estava procurando um amigo meu, na verdade, mas ao que parece eu o perdi de vez — soltei uma risada baixa enquanto esticava o pescoço para olhar por cima do ombro da garota procurando algum sinal de Scott. Nada.

— Estava o procurando para tirá-lo da forca? Porque, olha, você estava bem rápido — observou.

— Eu sei, me desculpe — sorri, sem graça, coçando a nuca.

— Eu já disse que está tudo bem, não se preocupe. Só estava brincando um pouco com você — ela abanou a mão como quem diz: “Esqueça!”. — Já que é assim, você gostaria de me acompanhar até uma daquelas lojas de doces do outro lado do parque? Eu estava indo para lá, você sabe, antes de tomar meu banho diário involuntário.

— Você não está colaborando para me fazer sentir menos culpado, sabia? — lancei-lhe um olhar reprovador, mas o ensaio de um sorriso brincava nos cantos dos meus lábios.

— Tudo bem, vamos lá, eu encontro do maluco do McCall depois. Estou te devendo uma, de qualquer forma.

No caminho até a Candy Store, eu e Lydia compartilhamos algumas informações básicas sobre nossas vidas. A garota residia lá mesmo, em Los Angeles, e estava no parque na companhia dos pais. Contei a ela sobre Scott e nosso fim de semana na cidade.

— Oh, uau, isso é bem legal da parte dos pais de vocês — comentou enquanto mordiscava uma jujuba vermelha.

Estávamos sentados em uma das pequenas mesas de madeira dispostas do lado de fora da loja, com um grande pote branco de plástico à nossa frente contendo uma generosa quantidade de guloseimas.

— Não. É bem legal da parte dos seus pais morarem, de fato, aqui.

— Los Angeles não é tudo isso, Stiles — Lydia riu. — Quando se vive aqui, torna-se uma cidade tão comum quanto as demais. Isso é no que a rotina e a monotonia transformam tudo.

— Não me venha com essa, Lydia. É a Cidade dos Anjos! Eu não me cansaria daqui ainda que vivesse mil anos e passasse todo esse tempo nas redondezas.

— Ora, troque comigo então, senhor Eu-amo-Los-Angeles — ela gargalhou, vasculhando o potinho com os longos dedos.

— Com prazer — sorri, mordendo um marshmallow colorido de azul e rosa.

E foi assim que gastamos boa parte da tarde e da nossa taxa diária de açúcar, comendo guloseimas na parte externa da Candy Store entre uma risada e outra.

Lydia era incrível. Tinha uma personalidade marcante e seu senso de humor era vezes melhor que o meu. Além de ser linda, é claro. Seus olhos cativavam-me com uma facilidade assustadora a cada vez que ela me olhava; a boca, carnuda e naturalmente rosada, escondia um branco e perfeito sorriso; o cabelo, já seco e levemente cacheado devido à água, fazia seu rosto brilhar ainda mais.

Eram quatro horas da tarde quando Lydia se assustou ao fitar o relógio na parede interna da loja de doces.

— Bom, agora que já estou devidamente seca e alimentada… — zombou, jogando a última bala de caramelo para dentro da boca e mastigando-a copiosamente antes de continuar. — Acredito que esteja na hora de encontrar meus pais para irmos embora.

— Você pode me passar seu número? Para combinarmos melhor os detalhes da nossa troca de cidade — sorri brincalhão, mas sabia que meus olhos entregavam a intensidade do pedido.

— Ah, sim, claro… — ela estreitou os olhos, sorrindo desconfiada.

Depois de Lydia pedir um pedaço de papel e uma caneta à simpática atendente da Candy Store, devido à falta do meu celular que ficara no carro, ela me passou o fragmento da folha contendo seu número e nos despedimos. Observei-a se afastar até perdê-la de vista, então saí novamente à procura de Scott.

Encontrei-o minutos depois, esticado em uma das centenas de espreguiçadeiras do local, parecendo despreocupado. Dei um tapa em sua cabeça e ele abriu os olhos assustadoramente castanhos.

— Ouch, Stiles! — resmungou, esfregando a área atingida.

— Ouch? Você some por quase quatro horas e ainda reclama, McCall? — ralhei, mas da forma com a qual esbravejávamos um com o outro quando não estávamos, de fato, nervosos.

— A culpa não foi minha, Stilinski. Eu não sabia que o fast-food tinha duas entradas e acabei saindo pelo lado errado. Foi mal, cara.

— A culpa foi sua sim, porque você é lerdo — rebati, deitando na espreguiçadeira ao lado da dele. — Só te perdoo porque o seu sumiço me fez conhecer uma garota incrível.

— Meu Deus! Eu já estava começando a ficar preocupado com você, sabe, com a sua sexualidade… — Scott estatelou os globos marrons e brincou, gargalhando.

— Cale a boca e me deixe falar.

Contei a ele sobre Lydia, e de cinco em cinco minutos o garoto concordava com a cabeça, parecendo realmente maravilhado por eu ter finalmente me interessado por alguém depois de um bom tempo.

Ficamos lá, aproveitando a tarde e jogando conversa fora até o Sol começar a se pôr no horizonte. Ao nos levantarmos para ir embora, entretanto, eu não percebi quando o papel com o número de Lydia que eu colocara cuidadosamente no bolso da minha bermuda escorregou da mesma e ficou ali, sobre a espreguiçadeira branca, o último lugar onde deveria estar.


Um ano depois
Los Angeles, Califórnia

Scott brigava com os cadernos e o livro de cálculo, irritado. Dei uma sonora gargalhada quando ele desistiu e foi para o XBOX.

Havia pouco mais de um mês que dividíamos um pequeno apartamento em um agradável bairro de Los Angeles. Nossa aprovação na faculdade foi o empurrão que faltava para os meus pais, juntamente com os de Scott, tomarem a decisão de nos mandar definitivamente para a Cidade dos Anjos.

A experiência estava sendo algo fascinante para mim, que sempre adorara o lugar. A cada dia que passava, mais eu me encantava, o que só confirmava o que tinha dito a Lydia um ano antes, sentado naquela pequena — contudo significativa — mesa de madeira da Candy Store. Toda vez que me lembrava disso, desejava que ela estivesse presente para testemunhar a veracidade das minhas palavras.

Ainda que parecesse impossível, durante o ano que se passou eu não fui capaz de permitir que a garota deixasse de vez os meus pensamentos, e sequer encontrei alguém que fosse metade do que ela se mostrou ser para mim. Todavia, depois do dia em que, ironicamente, a encontrei e a perdi, não tive mais o privilégio de olhar naqueles olhos e ser preenchido pelo mais genuíno sentimento de felicidade.

— Escute McCall, vou ao mercado. Quer que eu traga alguma coisa para você? — perguntei.

— Não, obrigado, estou legal — Scott respondeu sem tirar os olhos da TV. Rolei os olhos e saí.

As ruas, como de costume, estavam cheias de pessoas alegres e bronzeadas, que me davam a impressão de que a vida era algo fácil. Isso, talvez, fosse uma das inúmeras coisas com as quais Los Angeles me ganhava.

Transitei pelas seções do mercado encarando os produtos dispostos nas prateleiras sem muito interesse, desistindo da tarefa minutos depois. O que eu realmente estava procurando, não encontraria ali.

Adentrei a loja tão familiar e peguei o pote branco de sempre, enchendo-o com as mesmas porcarias que comemos naquele dia. A filial da Candy Store fora do parque era ainda maior que a matriz, e era onde eu me encontrava toda vez que desejava poder vê-la novamente, apesar de nunca ter acontecido.

Nunca, até aquele fatídico Sábado ensolarado.

Enquanto saía da loja de doces, o celular no bolso de trás da minha bermuda vibrou e eu parei onde estava, virando o corpo para alcançá-lo. Entretanto, antes mesmo de tocar o aparelho, alguém veio com tudo de encontro ao meu corpo, me desequilibrando. Se não fosse a bancada do caixa da loja na qual me apoiei, eu com certeza gastaria mais uma boa quantia de dinheiro para arcar com a despesa da prateleira de guloseimas que derrubaria.

— Ah, meu Deus, perdão! — uma voz feminina falou, aflita, e antes mesmo de encará-la meu coração pulou uma batida e depois acelerou vertiginosamente. Era ela, eu sabia.

— Tudo bem, um dia você teria que descontar, afinal de contas — murmurei, recuperando o equilíbrio e levantando o olhar.

O momento pareceu congelar quando nossos olhos se encontraram. Lydia estava ainda mais estonteante do que eu conseguia me lembrar. O cabelo, perceptivelmente mais longo, brilhava sob a luz do Sol em um tom de ruivo mais marcado, e a pele estava corada devido ao verão. Contudo, o brilho nos olhos e o sorriso que abriu ao me reconhecer continuavam os mesmos.

— Eu não acredito! Stiles? — indagou, com uma enorme carga de surpresa na voz.

— Sim, e para a sua surpresa, sem banhos involuntários de piscina dessa vez — sorri o máximo que meu rosto permitia, apertando os olhos carinhosamente.

Lydia me abraçou com vontade e eu retribuí igualmente, deixando naquele abraço toda a vontade acumulada de um ano desejando poder fazer aquilo.

— Quanto tempo! — ela falou quando finalmente me soltou, os olhos castanhos grandes e intensos. — O que está fazendo por aqui?

Eu queria contar-lhe tudo, desde como a procurei feito um louco mesmo depois de ter pedido seu número até a faculdade e como eu estava adorando morar em Los Angeles, mas ali, na porta da tão conhecida Candy Store, definitivamente não era onde eu desejava fazê-lo.

— Venha comigo, vamos dar uma volta, eu já comprei os doces — brinquei, balançando o pote fechado repleto de guloseimas a fim de convencê-la.

Lydia assentiu e saímos da loja caminhando despreocupadamente pelo calçadão, lado a lado. Abri o pote e o estiquei para ela, que pescou um marshmallow branco como a neve de dentro do mesmo.

— Escute, Stiles — Lydia chamou baixo e voltei minha atenção para ela. — Você não precisa fazer isso se não quiser, tudo bem? Não se sinta obrigado só porque…

— Ei! — interrompi, com a boca cheia de balinhas de chocolate, mas não me importei. — Do que você está falando? Não estou fazendo nada por obrigação.

Lydia respirou fundo, olhando para frente ao invés de para mim quando falou.

— Mais tarde, naquele dia em que nos conhecemos, eu recebi uma ligação de algum curioso perguntando-me quem eu era, e ele disse que encontrou o papel com o meu número jogado em uma das espreguiçadeiras do Six Flags. Eu só imaginei que talvez você esteja se sentindo culpado por ter jogando o papel fora.

Engasguei com as balas, tossindo ruidosamente antes de respondê-la.

— Você acha mesmo que eu pediria seu número apenas para jogá-lo fora? — perguntei, incrédulo. — O pedaço de papel escorregou do bolso da minha bermuda quando me levantei para ir embora. Você não tem ideia do quão desesperado eu fiquei quando me dei conta de que o tinha perdido. Pergunte a Scott se quiser — expliquei, rápido demais, respirando fundo ao terminar.

Nos sentamos na grama sob a sombra de uma árvore em um parque a poucos metros da Candy Store e Lydia encheu a boca de Sour Tubes, parecendo pensar. Aproveitei a falta de resposta da garota para tentar mais uma vez.

— Veja bem, eu te procurei enquanto ainda estava aqui. Voltei ao Six Flags, à Candy Store do parque, mas não encontrei nenhum sinal seu. Até me arriscar a percorrer as filiais da loja eu me arrisquei, mas não tive sorte. A propósito, você me viciou nessa porcaria de marshmallow — ralhei, fingindo indignação enquanto apontava para a guloseima dentro do pote. — Eu nunca gostei disso!

— Ora, pelo menos agora posso morrer em paz sabendo que mostrei a essa pobre alma uma das melhores coisas da vida —Lydia soltou uma gargalhada inacreditavelmente agradável de escutar, mas a mesma foi se dissipando aos poucos no ar até sumir de vez. — Eu fui uma boba, não é? — perguntou após alguns segundos de silêncio.

— Foi — respondi simplesmente e ela me fuzilou com os olhos, mas depois sorriu doce. — E foi mais boba ainda ao duvidar de mim quando eu disse que não me cansaria de Los Angeles mesmo em mil anos.

— Ah fui é? E como você pode saber se nem mora aqui? — perguntou, mas eu não respondi verbalmente. Tudo o que a garota obteve como resposta foi um levantar sugestivo de sobrancelhas. Demorou alguns segundos para a compreensão tomar suas feições. — Não brinca! Você está morando aqui?

Assenti e sorri, começando a contar-lhe sobre os acontecimentos desde a última vez que nos vimos. Lydia concordava vigorosamente com a cabeça com tudo que eu falava, parecendo verdadeiramente animada com a minha não-tão-interessante-assim vida. Ela também me deixou a par de tudo de relevante que fez e confessou-me estar adorando a faculdade de psicologia. E foi assim que, mais uma vez, sequer sentimos as horas passarem. Estar com Lydia era como entrar em uma redoma que era só nossa, onde o tempo passava rápido e devagar ao mesmo tempo, e nada mais importava senão a companhia um do outro e as risadas. Quando nos demos conta, já estava anoitecendo em Los Angeles.

— Eu tenho de ir, Stiles. Meus pais já devem estar pensando que fui sequestrada a caminho da Candy Store ou explodi de tanto comer Sour Tubes e marshmallows — ela riu, levantando-se e batendo na roupa para tirar a grama da mesma. — Mas, antes de ir, dessa vez sou eu quem quero seu número — a garota apertou os olhos em um sorriso e tirou o celular do bolso, fazendo uma careta ao se dar conta das inúmeras ligações perdidas da mãe. Contudo, deu de ombros e me entregou o aparelho.

Anotei o número de bom grado e aproveitei para dar um rápido toque no meu celular, a fim de deixar o dela gravado no mesmo. Nos despedimos com um abraço e ela depositou um beijo estalado na minha bochecha. Quando Lydia se virou para ir embora, entretanto, lembrei-me do pote branco em cima da grama, que ainda continha um último e solitário marshmallow.

— Ei, você esqueceu uma coisa! — chamei, e ela se virou com uma expressão enorme de interrogação no rosto. — Volte aqui — pedi.

A garota deu meia volta e caminhou até onde eu estava, então peguei o pote e tirei o doce de dentro do mesmo, mostrando-o a ela.

— Feche os olhos e abra a boca.

— Stiles… — ela começou, mas a interrompi.

— Lydia, feche os olhos e abra a boca.

Parecendo meio contrariada, porém sorrindo, ela me obedeceu. Eu estava prestes a, de fato, colocar a guloseima dentro da boca dela, mas a visão daqueles lábios rosados e entreabertos me fez mudar os planos. Era uma ideia louca, e eu poderia acabar com a marca dos cinco dedos da garota no meu rosto, mas no momento era o que eu queria fazer.

Então fiz.

Soltei o pote e o marshmallow no chão, não me importando em desperdiçar o doce, e envolvi a cintura de Lydia com uma mão, enquanto a outra ia até seu rosto delicado e o acariciava. Quando rocei meus lábios de leve nos dela, a mesma abriu os olhos e me fitou, nossos rostos a pouco centímetros um do outro. Nenhum de nós disse nada, mas o brilho em seus olhos praticamente gritava de expectativa para que eu terminasse o que quer que tivesse começado a fazer. Quando as pálpebras da garota se fecharam pela segunda vez, seguido de um suspiro fundo, eu soube que ela queria o mesmo que eu. Firmei o aperto em sua cintura e colei os nossos corpos, fechando também os meus olhos e, finalmente, juntando nossas bocas. A princípio, ficamos apenas ali, parados, sentindo a textura macia dos lábios do outro, mas quando Lydia entrelaçou os braços no meu pescoço e entreabriu um pouco mais a boca, aprofundamos o beijo. Eu sabia que era piegas, mas meu coração não pôde evitar disparar alucinadamente quando tudo aconteceu. E o dela, pelo que eu conseguia sentir, batia no mesmo ritmo desconcertante. O beijo de Lydia era como algo que eu nunca experimentara na vida. Era calmo, doce, e me fazia querê-la pelo resto dos meus dias, mas ao mesmo tempo tinha certa dose de luxúria, como se ela me prometesse o paraíso quando estivéssemos a sós. Era perfeito, e se encaixava perfeitamente com o meu, como uma peça de quebra-cabeça há muito perdida que finalmente fora encontrada e agora podia juntar-se ao seu encaixe.

A única coisa na qual conseguia pensar enquanto a beijava era em como tudo acontecia como tinha de ser. Eu nunca questionei os motivos de ter conhecido uma garota tão incrível como ela e, tão rapidamente quanto, a perdido. Porque eu sabia, bem lá no fundo, que uma hora ou outra nós iríamos nos esbarrar novamente. O que tem de ser tem muita força, e desde o fatídico empurrão na piscina do Six Flags, eu e Lydia éramos para ser.

E fomos.

E continuamos sendo.

Entre marshmallows, Sour Tubes, Candy Stores e piscinas.

Até onde o nosso destino quiser nos levar.


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Notas finais do capítulo

Foi isso, babes! Espero que tenham curtido a história tanto quanto eu.



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