Insonia escrita por Armamudi


Capítulo 11
Capítulo 11


Notas iniciais do capítulo

Gente mais um capítulo extenso( isso tá ficando recorrente, rsrrsrs)mas se faz necessário ok!! Qualquer coisa, comentem no review se está ficando "grande demais" que eu vo tentar uma reduçao deles. Um abraço.
 
" Ah sim, você me disse que logo ali à frente, naquela curva brusca na estrada, encontra-se um homem que pode me indicar o caminho de volta para minha casa. Mas você não me disse qual é o preço que ele cobra por tal informação não é?"



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/61341/chapter/11

Lucas nem mesmo havia endireitado em sua carteira na sala de aula, e a secretária de Luise apareceu na porta da sala, afobada, parecendo que tinha visto um fantasma. Puxava o ar com vigor para os pulmões, denunciando que viera correndo.

 

- Lucas Alcântara?

- Sim sou eu. – disse ele enquanto se levantava- O que foi dessa vez?

- A diretora quer falar com você novamente, e rápido! Ela arquejava, perdendo o fôlego.

 

Ele se virou para a professora, que o olhava com suspeita. Na certa ele estava aprontando algo, e estava usando a diretora em seus planos, indiretamente. “Quem não te conhece, que te compra moleque”, pensou, apertando o giz na mão direita.

 

- Eu tenho permissão pra ir professora? O mesmo tom de deboche, deixou a professora em estado de furor intenso. Adorava fazer aquilo com ela.

- Não brinque comigo Lucas! Você não perde por esperar. – disse ela entre dentes- Pode ir.

 

Lucas chegou rápido na sala da diretora, mas no caminho sentira novamente aquele calafrio percorrer sua nuca. Algo não estava bem, e aquela ida à sala da diretora, revelaria isso. Bateu na porta, e do outro lado veio a voz de Luise autorizando sua entrada.

 

- A senhora tinha me chamado. Pois não, o que foi?

- Bem Lucas, eu liguei para o seu pai há alguns minutos, e ele me disse que não poderá vir à nossa conversa hoje.

 

Ele vibrou ao ouvir a notícia. Com certeza era por isso que sentiu o calafrio. Na certa algo muito ruim iria acontecer com ele, quando o pai conversasse com as duas megeras. Estava dando gargalhadas por dentro, mas tinha que se controlar. Não podia externar isso.

 

- Eu tinha lhe avisado que ele é um homem muito ocupado diretora – e havia sinceridade no que disse, mesmo não querendo dizer – e creio eu que será dificílimo dele comparecer a essa conversa com a senhora e a professora Regina.

- Quanto a isso fique tranqüilo Lucas – e os olhos dela brilharam para ele – seu pai me deu certeza de que virá o mais breve possível. Mas, a notícia que eu tenho pra te contar não é boa.

- O que aconteceu? De novo, o calafrio começou a percorrer seu corpo, vasculhando seu ventre e subindo para sua garganta. Estava procurando sua nuca, e logo logo a encontraria.

- Seu irmão Jhon está no hospital Sagrado Coração de Maria, internado em estado grave. Pelo menos foi o que seu pai me disse.

- Ah não, o Jhon não! Deu um grito, que assustou a diretora.

- Você está bem Lucas? E ela viu que os olhos do garoto ficaram estáticos.

- Pra onde a senhora disse que ele foi?

- Para o Sagrado Coração de Maria e...

- Estou indo pra lá agora diretora. E sem deixá-la terminar de concluir a frase, saiu da sala em direção à sua sala.

 Chegando lá, ele começou a juntar o material que estava sobre a carteira, e sem dizer uma palavra, saiu da sala. A professora, que assistia ao ato de Lucas, tentou detê-lo com suas perguntas, mas ele nem deu ouvidos a elas. Deixou a sala, sem olhar para trás.

 

- Tenho que chegar o mais rápido possível no hospital para ver o Jhon. Tomara que nada tão grave tenha acontecido a ele, senão eu não vou me perdoar.

 

Um carro entrou cantando pneus na portaria do grande hospital que estava com o fluxo de pacientes abaixo da média aquele dia. O porteiro que estava de prontidão, tomou um susto, que o tirou da cadeira que estava sentado.

- Mas o que está acontecendo meu senhor? Disse assustado o homem uniformizado.

- Meu filho, - disse sem fôlego – meu filho veio pra cá da escola. Ele, ele...

- Como ele se chama senhor? E o porteiro foi entrando com ele, levando-o ao balcão de informações.

- Ele se chama Jhon...Jhonatan de Oliveira Alcântara.

 

Chegando próximo ao balcão de informações, uma bela moça negra se adiantou à eles. – Bom dia senhor, em que posso ser útil?

 

- O meu filho, veio pra cá em estado grave. Ele estava na escola, e trouxeram ele há mais ou menos uma hora.

- Ah sim, disse ela com um tom cordial, e se inclinou ao computador, procurando a lista dos pacientes que entraram naquela manhã. – O senhor é pai do Jhonatan ou do Adriano?

- Eu sou pai do Jhonatan. Ele está bem moça?

- Bom senhor isso eu não posso lhe informar, porque nós só temos a informação da entrada do paciente. Quanto aos procedimentos médicos, somente o médico é que poderá dar mais detalhes sobre o quadro clinico de seu filho.

 

Ela viu o desespero no rosto do homem. Já estava acostumada com aquilo. Todos os dias, várias pessoas chegavam na portaria do pronto-socorro do hospital, procurando por pacientes que chegavam aos montes todos os dias. Eram vitimas de arma de fogo, acidentados, psiquiátricos, paradas cardíacas. Acabou se tornando uma “carniceira” como ela se chamava. Não se condoia mais com os pacientes que chegavam. Criou um muro de proteção mental para aquelas diversas situações. Olhou no sistema e viu que o filho dele estava na ala da Psiquiatria. Não podia falar que o menino estava lá, senão o pai iria surtar ali na frente dela.

 

- Bom senhor, ele está no leito 425. – olhou para ele, que com certeza não sabia onde ficava – O senhor vai pegar o elevador à frente, e apertar o botão dois. Chegando no andar, pegue o corredor à esquerda, e senão me engano, esse leito fica na quarta porta do lado direito.

- Muito obrigado! Disse aflito, e se dirigiu apressado para o elevador.

 

Entrou nele, e logo em seguida se encontrava no segundo andar. O cheiro característico dos hospitais estava por toda parte. As paredes, brancas como giz, tinham cartazes pedindo silêncio, informações sobre doenças respiratórias, vasculares. O que não chamou sua atenção. Virou à esquerda viu o grande corredor, e viu sobre os portais dos quartos, placas indicando os leitos que estavam dentro deles. Na quarta porta do lado direito do corredor, lia-se: - de 422 à 425. Era ali.

 

Ao invés de se lançar afoito no corredor, Daniel foi a passos lentos, temendo encontrar o filho em uma situação muito grave. Várias imagens passaram pela cabeça, vendo Jhon desmaiado, sangrando pela testa, dando espasmos convulsivos. Teve medo. Mas tinha que enfrentar o que estava por vir, e pediu a Deus que o desse forças nesse momento. Cíntia estaria lá dentro também, esperando pelos seus braços, nas esperança de confortá-la. Tinha que ser forte. Chegou à porta e viu que lá dentro havia quatro macas, duas de cada lado separadas por biombos brancos. Viu um homem de alto, de jaleco branco conversando com Cíntia. Mas não via ela.

 

- Com licença – e foi entrando devagar, para não alarmar – O meu filho Jhon está aqui?

 

De repente, viu Cíntia sair detrás do biombo, e correu em sua direção. Os olhos dela estavam vermelhos e inchados de tanto chorar. Logo atrás, vinha a diretora e o médico.

 

- Ah querido, até que enfim você chegou! Disse aliviada, os olhos cheios d’água. Abraçou-o forte.

- Acalme-se querida. – e sua voz saiu firme, mas ainda temerosa – O que aconteceu com o nosso Jhon?

 

Ela se aninhou ainda mais a ele quando ouviu a pergunta. Tinha medo de falar pra ele o que acontecera com o filho. Olhou para os olhos dele, e percebeu que estavam serenos. Nunca tinha visto tanta serenidade antes nos olhos dele.

 

- Bom querido, eu ainda não sei direito. O doutor Antônio estava me explicando o que aconteceu, e daí você chegou.

 

Ele afastou a mulher, afim de alcançar a mão do médico, que vinha de encontro a sua. Era um homem já velho, na casa dos cinqüenta anos, cabelos grisalhos, olhos pequenos e objetivos, magro.

- Bom Daniel – disse com uma voz serena – eu sou o Dr. Antônio Marques, psiquiatra.

- Psiquiatra? Ficou surpreso ao ouvir a especialidade do médico.

- Sim, o quadro clínico que seu filho dera entrada nesse hospital, foi de choque devido ao acidente que ele presenciou na escola, agora a pouco.

 

As palavras saíam claras da boca do médico, mas ele não entendia direito. Não dava para acreditar que seu filho foi internado em um hospital por causa de um surto psíquico.

- Em outras palavras, ele surtou doutor? E sua pergunta saiu fraca, quase um sussurro.

- Quase isso pai – e olhando para os três a sua frente o médico os indicou para saírem do quarto. Lá fora, uma enfermeira passava, e o médico pediu a ela que ficasse com a criança enquanto explicava o caso para os pais.

 

O médico tomou a frente, e indo mais ao fundo no corredor, chegaram ao consultório dele. Lá dentro, diplomas e honrarias emolduravam as paredes do cômodo, e uma estante de duas colunas ficavam atrás da mesa dele, repletas de livros. Ele se sentou na cadeira e indicou as outras para que eles se sentassem. Daniel e Cíntia se sentaram, mas Magda não.

 

- Eu vou ver como anda a situação do outro aluno, disse ela arrumando o relógio. A sorte é que a mãe do Adriano é médica, e ela já está aqui. Eu vou ver o que está sendo feito, e na volta eu passo aqui pra saber mais sobre o Jhonatan tudo bem?

- Tudo bem Magda, e Cíntia se levantou para abraçá-la. – Muito obrigada por tudo o que você fez, não só para o meu filho, quanto para o outro aluno.

- Que isso Cíntia, fiz o que achei necessário ser feito – e deu um sorriso para eles.

- Avise aos pais do outro aluno, que estamos comovidos, e o que eles precisarem estamos a disposição, prestou Cíntia.

- Obrigada, e podem deixar que eu aviso eles sim. Saiu da sala, tomando o caminho para os elevadores.

 

Cíntia se sentou novamente, e o médico a esperou tomar o lugar para continuar com a explicação. Ajeitou os óculos, e voltou os olhos para os dois.

 

- Bom, pelo que me foi passado, o Jhon teve um choque, provocado pela cena que ele viu na escola, quando viu seu amigo de sala desmaiado e com a cabeça sangrando. Ele parou e observou a expressão dos dois. Estavam concentrados e aflitos, implorando em silêncio para que ele explicasse rápido o quadro da criança. – Geralmente isso acontece, quando acumulamos situações de estresse extremo, como discussões em família, brigas, e no caso de crianças, cenas muito fortes, como a que o Jhon presenciou.

- Certo doutor – adiantou Daniel – mas o que vai acontecer com ele a partir de agora? Ele vai ficar aqui? Vai ser tratado com doido?

- Acalme-se Daniel, apaziguou o médico – primeiro eu quero fazer uma pergunta para vocês dois, e espero uma resposta clara.

- Pois não doutor, pode perguntar, disse a esposa.

- Vocês tem discussões constantes dentro de casa? Digo entre vocês ou com outro membro da família, e que o Jhon tenha presenciado?

 

Esse era o ponto. O médico tinha encontrado a ferida que havia no seio familiar. Brigas eram constantes na casa de Daniel, mas pelo que ele lembrava, evitavam ao máximo colocar o Jhon no meio dos “furacões” que geralmente assolavam a sala, a cozinha e raramente o quarto de Lucas(porque ele nunca deixava o pai passar sequer da porta, trancando-a logo que a trespassava). Era quase improvável que essas brigas pudessem causar o que aconteceu ao filho. Melhor optar pela cena que ele presenciou na escola. Será mesmo?

 

- Bom doutor – e Cíntia se adiantou dessa vez – como toda família, temos discussões. Algumas acalouradas, outras brandas e tentamos ao máximo deixar o Jhon fora delas. Ela endireitou-se na cadeira, procurando esconder o constrangimento que sentia ao ser indagada sobre o que acontecia em sua casa. Era uma dona-de-casa exemplar, fazia tudo ao seu alcance e não admitia que outras pessoas julgassem a forma que viviam.

 

- Temos outro filho doutor – disse Daniel – e digamos que ele gera a maior parte dessas brigas. É um adolescente, e como a maioria, sempre está em conflito consigo mesmo. O senhor sabe, quer estar no controle de tudo, ser dono da verdade...essas coisas.

 

- Compreendo – e Antonio começou a fazer algumas anotações em uma folha amarela.

- Bom senhores, o que posso dizer sobre o quadro do Jhonatan é que... – foi interrompido por uma batida na porta, e em seguida a entrada de uma enfermeira quase da idade dele. Baixa, cabelos rigorosamente penteados para trás, óculos grossos e antigos, pele macilenta.

- Com licença doutor, e foi entrando na sala, arquejando levemente a cabeça para os dois sentados à sua frente. – A criança acordou e deseja ver o pai.

 

Daniel levantou de imediato da cadeira, e uma euforia percorreu seu corpo. Jhon chamava por ele, e isso fez seu coração inflar em seu peito. Olhou para o médico e Cíntia, e viu que ela sorria discretamente para ele.

- Eu posso vê-lo doutor? E sua pergunta saiu suplicada.

- Com certeza Daniel. Enquanto você conversa com ele, eu vou explicar o quadro clínico dele para Cíntia seu nome não é? E olhou para Cíntia, que confirmou com um aceno positivo com a cabeça.

 

Ele saiu ligeiramente da sala do médico, e voltando no corredor, viu que a porta do quarto de Jhon estava entreaberta. Deu uma batidinha de leve, e chamou por ele. Ouviu um murmúrio no fundo do quarto, e quando chegou a cama do filho, ele estava deitado, tomando um remédio que pingava de uma bolsa plástica em um tripé.

 

- Como é que você ta campeão? Olhou dando seu melhor sorriso.

- Eu to meio zonzo pai. O que foi que aconteceu comigo? Mexeu nos cabelos, tirando eles da testa para enxergar melhor o pai.

 

Na entrada do hospital, um jovem de roupas pretas e uma mochila repleta de desenhos estranhos e chaveiros, pedia informação de um paciente.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!