Pensão da tia Odete. escrita por Costa


Capítulo 9
Capítulo 9


Notas iniciais do capítulo

E aí, pessoal?
Me desculpem pela demora. Fiquei sem tempo, muitos trabalhos de faculdade.
Sem mais, deixo-lhes mais esse capítulo. Espero que gostem.
Forte abraço!



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Parece que a conversa que tive com a criatura funcionou para algo. O resto da semana passou um pouco mais tranquila. A besta até apareceu no meu bar, mas deixou ela trabalhar tranquilamente, mesmo me ameaçando vez ou outra. As coisas começaram a ficar estranhas mesmo foram no domingo.

Acordei tarde e estranhei não escutar nenhum rádio ligado. Levantei, tomei meu banho, coloquei umas roupas leves já que o calor estava de matar e fui para a sala. Também ninguém. Será que eu estava sonhando? Não liguei muito e decidi ir almoçar na rua, mas lógico que não no mesmo local que peguei aquela intoxicação. Já ia saindo quando Odete, Rodolfo, Djair, Flávia e a criatura chegaram com um enorme bolo nas mãos, carvão, várias sacolas com o que parecia ser carnes. Iriam fazer um churrasco? Passaram por mim a mil. Mas como tenho uma maldita curiosidade, não resisti e fui até minha informante.

–O que é tudo isso, Flávia? É o aniversário de quem? –Perguntei.

–Oi, Rogério. É o aniversário do Camilo. O Jorge nos pediu ajuda.

–Mas por que não me avisaram? Eu sou sempre o último a saber das coisas?

–O Jorge que nos avisou, mas acho que ele não falou com você por ciúmes. Ultimamente você e o Camilo estão muito juntinhos...

Como se fosse possível eu me relacionar com o Camilo. Sei que sou bonito, atraente, mas não sou gay.

–Claro, já entendi que ele não quer nem me ver pintado na frente. Bom, eu que não vou estragar a festa.

Sai de lá. Eu que não ia ficar esperando o Jorge para apanhar dele. É até melhor não ter sido convidado, assim não preciso ficar num lugar obrigado. Mas, como minha boa sorte dura pouco, dei de cara com a besta. Ele vinha andando trazendo uma caixa de garrafas de cerveja sobre os ombros. Como sempre, não perdeu a chance de me irritar.

–Aposto que não aguenta carregar isso aqui, fraquinho. –Ele começou cedo.

–Até consigo, mas não sou animal de carga como alguns. Para isso chamaria um táxi.

–Desculpa dos fracos. Dá sorte que hoje estou de bom humor, senão te quebrava esse seu focinho.

–Ui, que medo. Será que podemos ficar em paz por hoje, só hoje?

–Por agora pode ser, mas só porque ainda tenho que ir buscar mais 3 caixas e colocar pra gelar antes que o Camilo chegue.

–Vai lá, burro de carga. Vai fazer o trabalho que melhor se encaixa no seu perfil.

Ele colocou a caixa no chão e eu não pensei duas vezes, corri o mais rápido que pude. Por sorte, ele desistiu no meio do caminho e voltou. Não podia deixar as cervejas sozinhas. É, eu e essa minha grande boca. Agora sei que não vou escapar de uma surra. Mas pensarei nisso depois, agora a única coisa que quero é comer algo. Estou faminto.

Parei num boteco copo sujo, daqueles que tem mesinhas de plástico na rua, me sentei ali, pedi um suco e uma porção de batatas. Comeria aquilo o mais devagar possível só para não voltar cedo para a pensão.

Eu já estava lá naquele boteco há algumas horas, estava ficando entediado, mas algo, o som de uma buzina conhecida me chamou a atenção. Era Jonas com seu carro parado na minha frente e buzinando feito um louco. Levantei e fui até lá. Ele já estava me fazendo passar vergonha já que todos olhavam para mim.

–Mas é um amargado, como a Lívia diz. Todos lá na pensão festejando e você aqui no boteco sozinho. -Meu lindo amigo que me ama disse.

–O que quer, Jonas? E o que faz por aqui?

–Vim aqui preparar um churrasco com aquele tempero especial meu. A Lívia e o Carlos me pediram.

–Que bom, vai lá.

–E você, não vai na festa?

–Não fui convidado. Nem sabia que tinha festa.

Como o Jonas é um bom amigo, chorou de rir da minha cara.

–Terminou? –Perguntei.

–Cara, você tá mal. Precisa aprender a ser mais sociável.

–Mas eu sou sociável, só não me convidaram por ciúmes.

–Não me diga que o garanhão aí está causando mais ciúmes. Qual é a mulher agora que está de olho em você?

–Não é mulher.

–Como?

–O Jorge, namorado do Camilo, o aniversariante, está com ciúmes de mim.

–Como é que é?

–Você entendeu, não se faça de bobo.

–Meu amigo, você está melhor do que eu esperava. Além de mulheres você também arrebata gays?

–Isso, zoa mesmo. Não é com você, não é?

–Tô brincando, mas depois vou querer saber dessa história direito.

Jonas foi embora rindo e eu continuei ali no meu lugar mastigando aquelas batatinhas sem graça e tomando meu suco aguado. Fiquei assim a tarde inteira. Mas já estava ficando tarde e eu teria que voltar para a pensão. Paguei a conta e fui me arrastando de volta. Da esquina já dava para escutar a música e a farra que devia estar lá. Parecia que era música ao vivo. Respirei fundo, tomei coragem e fui.

Como esperava, tinha uma banda lá cantando e tocando, muito mal, posso dizer. A besta comandava a churrasqueira e parecia que já estava bêbado. Não me viu. Entrei na pensão, torcendo para ninguém me ver. Lá dentro também não estava muito diferente. Montaram aquela mesa improvisada e encheram de salgadinhos e cerveja. Aproveitei que todos estavam distraídos lá fora com a música e fui para o meu quarto.

Comecei a procurar uma roupa que não fedesse a fumaça. Esqueci a sacada aberta e a fumaça do churrasco empesteou o meu quarto. A churrasqueira também foi armada embaixo da minha sacada, aposto que a besta fez de propósito.

Não tinha jeito mesmo, toda minha roupa fedia a churrasco. Peguei qualquer camisa e desci para tomar um banho. Esbarrei com Camilo no corredor.

–Rogé, por onde você andava? Te procurei a festa inteira.

–Eu não estava. Feliz aniversário, Camilo.

Dei um aperto de mão nele. Acho que ele preferia um abraço, mas eu é que não vou dar.

–Obrigado, Rogé. Vem!

–Pra onde?

–Pra cortar o bolo. Só estávamos esperando você.

É brincadeira, né? Logo eu que fiz tudo para passar despercebido. Se a besta não me matar, o Jorge me mata. Acho que não passo dessa noite.

Como não tinha escolha, o segui. Ele chamou todo mundo. A besta me olhava com ódio e o Jorge bufava pra mim.

–Então, pessoal. Como chegou quem faltava, vou finalmente partir o bolo. –Camilo gritou.

Jorge então colocou aquelas velinhas cafonas no bolo com o número 37, acendeu e tivemos que cantar os parabéns. Jonas me olhava com cara de deboche. Camilo finalmente assoprou as velinhas e começou a partir o bolo.

–O primeiro pedaço vai para o homem mais maravilhoso desse mundo, o responsável disso tudo. Para Jorge, meu amor. –Camilo falou.

Ao entregar o bolo para o amorzinho dele, Jorge desatou a chorar. Parece que isso contagiou o pessoal e tinha gente chorando pra tudo que é lado. Até a besta chorava, mas acho que no caso dele era o álcool que saia pelos olhos. Camilo partiu mais dois pedaços.

–Esses vão para os velhinhos mais simpáticos e amados daqui. Aqueles que amparam a todos nós sempre que precisamos. Esses são para minha linda tia Odete e para o tio Rodolfo.

Ele entregou os pedaços para o casal e recebeu um abraço e um beijo na bochecha de cada um. Seu Rodolfo é corajoso em beijar outro homem. Admirável que não tenha preconceito, ainda mais que ele é das antigas. Camilo partiu outro pedaço e começou a falar:

–Esse eu vou oferecer para alguém que apareceu aqui há pouco tempo. Alguém um pouco mal humorado, mas que acredito ser uma boa pessoa. Espero que esse pedaço de bolo possa melhorar um pouco seu humor, Rogé.

Merda! Posso morrer de vergonha agora? Olhei pro lado e o Jonas chorava de rir em uma cadeira. A criatura também segurava o riso. O Camilo me entregou o bolo e o Jorge me matava com o olhar. Muito sem graça agradeci e comi aquilo para não fazer uma desfeita. Antes eu tivesse ido direto para o bar. Não passaria por essa vergonha.

– Que feio, roubando o namorado dos outros! O Jorge vai te acertar, hein! –Jonas se aproximou de mim e cochichou.

–Cala a boca, Jonas. Não começa.

–Sei que a emoção é forte e você fica com as pernas bambas, mas você vai abrir o bar hoje?

–Lógico que sim. Vou pra lá agora.

–Então vamos que eu te dou uma carona, Rogé.

–Rogério, Jonas, me chamo Rogério. Não me venha com Rogé você também.

–Claro que sim, Rogé. Vou só procurar a Lívia para ver se ela quer uma carona.

Jonas saiu rindo e imitando o Camilo. Agora eu me ferrei de vez, sei que ele não vai largar do meu pé. Maldita hora que eu escolhi essa pensão como moradia. Bando de loucos, desencaminharam até o Jonas. Que isso não seja contagioso. Sou o único normal desse hospício.

Continua.


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