Pensão da tia Odete. escrita por Costa


Capítulo 32
Capítulo 32


Notas iniciais do capítulo

Fala, gente! Pessoal, foi mal pela demora. Estou sem Internet há mais de uma semana. Aqui na minha cidade não para de chover e acabou danificando a caixinha de distribuição dos fios no poste. Enfim, já reclamei e fica aquele jogo de empurra e ninguém resolve nada. Aproveitei que hoje estou na faculdade (sim, num sábado!) e roubei um pouco o Wifi daqui. Digitei o capítulo pelo celular. Eu revisei, mas sempre passa alguma coisa, ainda mais com o maldito editor. Peço desculpa por possíveis erros. Sem mais, aqui vai e espero que gostem. Forte Abraço, gente!



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Depois da queima de fogos eu e minha mãe pegamos uma carona com o Camilo e o Jorge para casa. Já devia passar das 6 quando conseguimos chegar. O trânsito estava ruim e eles ainda passaram na casa dos pais do Camilo para pegar o Ricky Martin. Tive que aguentar as risadinhas e piadinhas dele e da minha mãe pro meu lado. Jorge não percebeu nada. Ele é gay, mas não tem intuição feminina como o Camilo, não pega as coisas no ar, para minha sorte.

Tomei um banho e finalmente achei que apagaria na cama, mas não. Dona Odete e seu Rodolfo chegaram e já foram logo matracar com dona Tetê. Descobri que a dona Odete era prima de uma das melhores amigas de infância da minha mãe. Ninguém merece. Agora elas me fizeram ouvir as histórias mirabolantes sobre suas juventudes. Acho que o seu Rodolfo também não ficou muito feliz. Ele estava como eu: caindo de sono sobre a mesa.

–Rogé, vem cá, preciso falar contigo um pouquinho. –Camilo, meu salvador, apareceu.

–Claro, vamos. –Falei.

–Também posso ir com vocês? –Seu Rodolfo perguntou.

–Desculpa, seu Rodolfo, mas o que tenho pra falar com o Rogé é particular.

Camilo saiu me arrastando e o seu Rodolfo ficou com uma cara de cachorro pidão. O pobre também não aguentava mais ouvir as duas velhas matracarem. Me deu pena dele, mas quanto menos gente souber das minhas coisas, melhor. Fomos até a rua, no meu cantinho habitual do meio fio.

–Te adoro, Camilo. Além de me salvar de uma roda de conversa chata, acho que também têm boas noticias para mim.

–Me adora? Olha que assim eu gamo hein! Ai se eu não fosse comprometido...

–Camilo, foco aqui. Deixa de palhaçada.

–Desculpa, não resisti. Adoro te ver estressado.

–Tá. E então?

–Então o quê?

–Pra que me tirou de lá? Alguma noticia da Lívia?

–É...Não sei...

–Camilo!

–Desculpa, adoro te ver irritado. Ela me mandou uma mensagem e falou pra você ficar despreocupado que ela chegou bem em casa.

–Graças a Deus!

–Ela também falou pra você tomar vergonha na cara e aceitar ela no whats que ela tá sem crédito.

–Eu não tenho isso não. Não sei nem o que é isso.

–Não tem whatsapp no teu celular?

–O meu celular é aqueles antigos que só tem rádio e só serve pra ligar.

–Nossa, eu te achava meio pré-histórico, mas agora confirmei. Até tua mãe tem zap.

–Minha mãe não tem isso.

–Tem sim. Eu já até adicionei ela no grupo pra trocarmos umas ideias e dicas de moda. Que vergonha! Tua mãe é mais moderna que você. Você não é igual aqueles homens da caverna que a única tecnologia que conhece é o fogo, é?

–Não, mas eu também nunca fui muito ligado nessas coisas modernas.

–Mas acho bom se ligar. Eu não me importo de te passar os recados da Lívia, mas se quiserem escrever sacanagem, me tirem disso. Não sou nenhum tele sexo.

O que fiz pra escutar esses comentários? Acho melhor nem responder e fingir que não ouvi.

–Se eu comprar um celular mais moderno, você me ensina a mexer nessas coisas?

–Lógico que ensino. Que emoção! Vou ser o cúpido de um amor proibido.

–Camilo, menos, por favor.

–Desculpa, mas me empolguei. Como vocês dois foram se enrolarem? Você e a Lívia sempre se xingavam, se espetavam

–Acho que foi por isso. Não dizem que o ódio e o amor andam lado a lado? Ventou e caímos no lado do amor.

–Então você a ama?

–Não sei ao certo o que sinto, mas sei que nunca me senti assim antes.

–Então é amor! Eu até gosto do Carlos, mas sempre te achei mais gato. A minha amiga fez uma boa troca.

–Será que dá pra parar com esses comentários:?

–Tá, não falo mais nada, mas que estou feliz por vocês estou.

O Camilo saiu empolgado pro quarto dele. O Jorge tinha o chamado. Eu aproveitei e fui subir de fininho pro meu. Se minha mãe ou dona Odete me vissem, eu teria que voltar pra lá e ouvir as historinhas delas. Eu achei que ia dormir, mas ao passar pelo corredor que dava pro meu canto, esbarrei com a Roseni e parece que ela estava chorando. Será que não passarei um dia tranquilo nessa pensão?

–Roseni, o que foi? Está chorando?

–Não é nada, Rogério. Já vai passar.

–Como não é nada? Me conta. Às vezes faz bem um ombro amigo, ter com quem aliviar.

–Não quero te encher com meus problemas. Você já deve ter os seus.

–E se você não me contar agora terei mais um. Ficarei me torturando tentando descobrir o que te passa.

–Acho que me fará bem conversar com alguém.

A convidei para ir até a minha sacada. Deixei a única cadeira com ela e me apoiei na mureta. Só espero não cair daqui, ultimamente tenho andado com uma “sorte”.

–Vai me falar o que te passa?

–Não sei se lembra que eu falei que não me dou muito bem com minha família.

–Sei. Você falou alguma coisa assim.

–Então, eu estava me sentindo um pouco sozinha e achei que seria bom se ligasse para eles. Apesar de tudo ainda os amo.

–E o que aconteceu?

–Aconteceu como sempre: Eles não me aceitam como sou.

–Como assim?

–eles querem que eu seja algo que eu não sou, que nunca fui. Eu fui uma tola ao achar que isso mudaria.

Ela começou a chorar e isso estava me partindo o coração odiava ver quem quer que fosse chorando. Me abaixei e a fiz me olhar nos olhos.

–Roseni, há muito tempo eu aprendi que devemos ser quem somos. Não mude quem é. Se sua família não te aceita, procure alguém que te aceita. Pode não parecer, mas esse pessoal daqui dessa pensão, mesmo loucos como são, são como uma família. Eu demorei a aprender isso. Aqui eles só não aceitam pessoas de mau caráter. Você pode ser rico ou pobre, feio ou bonito, empresário ou gari. Eles te tratarão da mesma forma. Não seja como eu fui. Teve um tempo que eu era bem pior que você. Odiava esse lugar, odiava a todos. Hoje eu vejo que não poderia ter melhor lugar e melhores pessoas para conviver. São loucos, mas lhe dê umas chance. Eles podem ser a família que você precisa.

–Vou tentar. Obrigada.

–Por nada. Sempre que precisar, pode contar comigo, serei sempre um amigo.

Ela me abraçou, me agradeceu mais uma vez e foi para o quarto dela. Eu finalmente consegui deitar para dormir.

***********************************************************************

Não sei ao certo por quanto tempo dormi, só sei que fui acordado por uma música infernal, um sertanejo universitário. Se a Lívia ainda morasse aqui, diria que era ela, mas... Acho melhor me levantar e ir ver que baderna é essa. Vê se pode, mal começou o ano e esse pessoal já tá nesse pique todo. Ou eu estou ficando velho ou eles são movidos a energia solar. Será que nunca dormem?

Fui ver qual era o barraco e eis que é a Flávia, o Djair, o casal ternura do Camilo, Jorge e mais o Ricky, e, para completar o time, mamãe, dona Telma no maior papo com eles.

–Batman! Feliz ano novo! -Lá vem o djair me abraçar e quase me jogar no chão.

–Feliz ano novo, meu querido! Estava dormindo? -Agora a Flavia vem se pendurar no meu pescoço.

–Tentando.

–Te acordarmos? -Ela me perguntou.

– Não, imagina... Vocês bem que poderiam ter escolhido uma musiquinha melhor, pelo menos.

–Foi mal, esquecemos que você não curte essas músicas. -Djair se desculpou.

–Como não gosta dessas músicas? -Minha mãe se meteu na conversa. Estou ferrado!

–Não gosto e ponto, mãe. Tenho bom gosto.

–Aham, acho que você se esqueceu do que ouvia na sua juventude, não é?

–Mãe, por favor...

–Se esqueceu. - É, me ferrei, ela vai contar mais podres meus. -Sabe, gente. Esse meu filhote rabugento reclama de vocês, mas tem uns gostos bem estranhos. Quando ele tinha seus 15 anos, mais ou menos, entrou na onda do sertanejo de raiz, mas isso não é tudo. O meu pai, avô desse ser, o ensinou a tocar violão e imaginem, ele ia nas noites de lua cheia cantarolar aquelas músicas bem antigas do Tonico e Tinoco, Mococa e Moraci, irmãs Galvão, Alvarenga e Ranchinho Pássaro e Passarinho...

–Pardal e passarinho. -A interrompi. Já qué vai contar meus podres, que conte direito.

Olhei ao meu redor e todos eles faziam cara de incrédulos pra mim. Qual é? Eu tinha, ou melhor, tenho bom gosto. Isso é sertanejo, não isso que eles estavam ouvindo há pouco.

–Mas isso não é tudo, gente. -Minha mãe, tão "discreta" vai acabar de contar meus gostos musicais. -Depois dessa fase do sertanejo, ele desenbestou para o latino. Era Perla paraguaia e Júlio Iglesias o dia inteiro. Dei graças a Deus que essa fase durou pouco, mas aí ele descobriu a jovem guarda, acho que foi pior. Essa durou mais de dois anos. Depois veio os bregas: Amado Batista, Reginaldo Rossi, José Augusto, Elimar Santos, Luiz Ayrão...

–Tu ouvia Luiz Ayrão e tocava violão? -Camilo cortou ela.

–Ouvia e tocava. Algum problema nisso? - Perguntei.

–Nenhum. Aguenta um pouco aí. Que babado! -Ele falou e saiu correndo pra pensão. Algo me diz que ele vai aprontar.

–Continuando, depois dessa fase ele passou para os rocks internacionais, especialmente Elvis. Agora já não sei qual é a fase que ele está.

–Ainda estou na do Rock, mamãe. É a melhor de todas e pretendo continuar assim.

E o Camilo voltou com um violão, jogou em cima de mim e desligou a música. O que esse louco espera que eu faça? Ou melhor, que cante?

–Que isso? -Perguntei.

–Pra você tocar e cantar pra gente. -Camilo me respondeu.

Esse aí tá louco, dois dois, xarope, pirado, desvairado, só pode.

–E então? -Jorge me perguntou. Até tu, Brutos?

–Não, não mesmo. Já passei dessa fase e não sei nem mais tocar isso.

–Sabe sim, não seja mau. Lembre-se. -Camilo falou sacudindo o celular no ar. Desgraçado! Isso era uma chantagem.

–O que quer que eu toque? -Perguntei, um pouco irritado.

–Os amantes de Luiz Ayrão. -Camilo respondeu, sem pestanejar. Ele está fazendo de propósito. Aí, Lívia, olha o que eu passo por você. Será que você não poderei ter contado pro Jorge ao invés dessa mariposa? Acho que o outro seria menos manipulador. E ele começou, novamente, a balançar o celular com as provas do crime no ar.

–Tá. Que escolha tenho?

Eles aplaudiram e eu me vi obrigado a tocar e a cantar os amantes. Ninguém merece. Até os vizinhos que passavam na rua pararam para ver. Que mico, meu Deus! Se eu pudesse, eu te enganava agora, Camilo.

Continua.


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