Eu nem sempre tive um coração de gelo escrita por Kethy


Capítulo 1
Como aprendi a ser mau.


Notas iniciais do capítulo

Oi, para você Iza, pq eu te amo!
Espero que goste, mesmo que eu tenha feito muita birra para escrever.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/612861/chapter/1

Era apenas mais um baile, eu dizia a mim mesmo enquanto a escrava ajeitava minhas roupas. Faltavam apenas dois dias para meu aniversário de 15 anos, mas ninguém estava nem aí para isso. Nem mesmo eu, na verdade nem significava muito. Mas naquele aniversário seria diferente, eu poderia escolher qualquer cavalo que eu quisesse do estábulo. Então aquele meu aniversário seria pelo menos um pouco mais significativo que os outros.

Pela janela eu podia ver as carruagens chegando, mas elas também não significavam nada para mim, por isso eu olhava mais longe, para o oceano de árvores que era a floresta. Meus irmãos iam para lá caçar. Eu gostaria de ir caçar com eles, mas eu apanharia, ou seria deixado na floresta para morrer ou ser devorado por um urso, que não é muito diferente de morrer.

- John! – alguém gritou puxando o meu braço. – John, você anda muito distraído. – resmungou a escrava.

- Eu não sou o John, sou o Hans. – falei e ela abanou a mão dizendo: - Que seja, não importa.

Não que eu soubesse o nome dela. Afinal ela nunca me disse, mas para mim, saber o nome de uma pessoa é algo importante. Eu nunca havia confundido um nome.

Ela disse que eu estava pronto e que já poderia descer para o salão e esperar com meus irmãos. Ou o que sobrou deles. Fomos apresentados um por um, mas os gêmeos desceram as escadas juntos, todos acompanhados de uma bela garota. Eu estava acompanhado de Dominique, que estava muito eufórica. Era a primeira vez que eu tinha de me apresentar com uma dama, mas de dama ela não tinha nada. Foi como eu pensei, apenas mais um baile.

Apenas por uma coisa diferente, um de meus irmãos mais velhos estava completamente bêbado. Eles tentavam ao máximo permanecer sóbrios durante as festas, para passar uma imagem boa para os convidados. Geralmente eles conseguiam, mas Glenn não estava muito disposto a abrir mão de seu vinho. Ele dançava com duas moças ao mesmo tempo, elas eram muito barulhentas.

Se Klaus, que foi o escolhido de nosso pai e que atualmente é o rei, o pegasse naquele estado ele estaria com sérios problemas. Mas Klaus já havia se retirado da festa, com Magda, sua concubina mal-criada. Ela acha que só por que o rei a escolheu ela pode fazer o que quiser, mas eu tenho certeza de que as coisas não são bem assim. Em resumo, ela é uma chata e é mais nova também.

Depois da sobremesa eu subi para meu quarto com dois dos guardas atrás de mim. Eles também ficariam na minha porta a noite toda. Pois em festas tinha aquele risco de alguém tentar me seqüestrar, estuprar ou matar. Talvez os três juntos Então eles ficariam ali, para minha segurança. Era muito bom pensar que por uma noite inteira minha segurança seja a coisa mais importante para alguém. Mesmo que eles estejam sendo pagos e não liguem realmente para mim. Eles estão ali por mim e com um único propósito.

Era meu aniversário, não era uma data importante, não realmente. Mas era um dia importante, pois eu teria o cavalo que eu preferisse, e não um pônei idiota. E teria aulas com outro professor também. Meu antigo professor não era ruim de tudo, ele só não era o tipo de pessoa que costumamos gostar de ficar perto. Mas isso não era tão relevante, não mesmo.

Depois de a escrava me ajudar a vestir a roupa para a aula de montaria - E sinceramente, eu acho que já posso me vestir sozinho, só que o rei não pensa assim. Eu fui ao estábulo, escoltado, como sempre. Tinha um cheiro muito ruim, mas não tão ruim quanto o do bêbado que era meu antigo professor. O soldado que me escoltava me levou até a área aberta, onde cavalos de dois anos estavam presos em fila, deviam ser uns sete, todos parecendo irritados.

- Eu tenho que escolher um deles? – perguntei para o soldado, ele era cego de um olho, me encarou como se não tivesse entendido a pergunta. Cruzou os braços e me mandou esperar que ele já devia estar a caminho. Então esperei, pensei que ele pudesse ser um de meus irmãos, mas no final, ele era bem melhor que qualquer um dos meus irmãos.

Ele parecia ter acabado de acordar, mesmo que já fosse onze da manhã. Tinha os olhos cansados e uma cabeleira loira quase branca, cachos que mal chegavam ao seu ombro, mas não passavam disso. No início só pensei que, mesmo ele dormindo até tarde e se atrasando muito, era bem melhor que o antigo. Ele olhou para o soldado que parecia incrivelmente irritado e depois seus olhos pousaram em mim.

- Hans, certo? – ele indagou e por um momento eu perdi completamente a voz. – O prazer é todo meu. – disse ele risonho. – Teremos de trabalhar nessa sua timidez, os cavalos gostam de mais segurança, entende?

Afirmei com a cabeça um pouco envergonhado, minha escolta deve ter notado, pois deu uma risada indiscreta. Lhe olhei e ele pegou algo no sinto e deu alguns goles, cheirava a vinho.

- Me disseram para pegar os de dois anos de idade. – disse ele passando a mão nos cachos. – Pode escolher, lembro-te que, por serem novos, não são muito amigáveis, eles podem morder. – ele deu uma risada e negou com a cabeça. – Só não invada muito o espaço deles tudo bem?

- Sim... – falei baixo e ele, o professor, se inclinou um pouco para perto de mim com uma expressão abismada. – O que foi?

- Por Thor, pensei que você fosse mudo. – disse ele negando com a cabeça. – Mas é só mal educado mesmo. – emendou e cruzou os braços. – Escolha.

Olhei para os cavalos, eram na maioria claros, como é o padrão para os cavalos da realeza. Eu não sabia como eu deveria escolher um cavalo, como eu saberia ali e agora que seriamos amigos? Acho que eu não saberia. Todos pareciam pouco amigáveis, menos um, ele parecia bem mais indiferente que os outros. Aproximei-me um pouco mais dele que pareceu ficar alerta, bufou e negou com a cabeça. Sorri um pouco, mas logo meu sorriso se desfez, senti os olhos dele sobre mim.

Ele era o mais escuro, mas tinha uma faixa branca na crina e na cauda. Era lindo. Estiquei a mão e ele permitiu que eu o tocasse. Sorri e olhei para o que deveria ser meu professor, ele sorria e batia palmas sem fazer barulho. Depois levantou os polegares e veio até mim.

- Isso foi ótimo. – disse ele desamarrando um dos cavalos ao lado do meu e começando a guiá-lo. – Na minha primeira vez quase perdi meus dedos.

- O que houve? – perguntei segurando meus dedos.

- Diferente de você, eu escolhi errado. – disse ele rindo. – Parabéns, Hans. Já vamos iniciar a aula, só preciso guardar os cavalos. Aproveite esse tempo e seja amigável com seu cavalo.

- Sim. – cheguei perto do cavalo novamente. – Oi. – disse e lhe toquei novamente, ele estava estranhamente calmo. – Espero que eu tenha acertado, e que sejamos amigos.

O cavalo relinchou e negou com a cabeça. Sorri e lhe acariciei mais o nariz. Pensei em pegar cenouras na cozinha da próxima vez que eu viesse, mal podia esperar para montá-lo. Mais tarde, o professor, que se chama Aaron. Parecia bem cansado, meu soldado havia desaparecido, mas ele deveria estar por ali, provavelmente. Teria sérios problemas se Klaus ficasse sabendo, mas eu não contaria. Preferia ficar sozinho com o novo professor.

- Então Hans. – começou enquanto ajeitava a cela no cavalo que eu havia escolhido. – Você sempre montou pôneis, certo? – assenti com a cabeça. –Sabe, você pode me responder falando. E também, essa sua roupa, além de ser ridícula é nova.

- Ridícula? – perguntei irritado, não que eu gostasse da roupa, também achava ela meio ridícula. Mas pareceu mais que ele me chamou de ridículo.

- Sem ofensa é claro. – ele deu uma risada, mas não me convenceu de que era brincadeira. – Eu devo ter alguma coisa melhor no meu escritório, vem comigo.

O segui para dentro do estábulo, ele entrou em uma porta, mas saiu rapidamente. Indicou outro lugar como para que eu o seguisse, fomos até um tipo de vestiário, alguns homens estavam ali, conversavam e mexiam nas coisas. Aaron conversou um pouco com eles enquanto pegava roupas velhas em um baú. Eles riam, pareciam bêbados rindo, sem nenhum pudor e alto. Nas festas ninguém tinha coragem de fazer algo assim, a menos que estivesse muito bêbado. Pareciam muito amigos, era interessante observá-los, pois eles nem se importavam muito com minha presença. E eu sempre quis amigos assim.

- Aqui. Vista-as e volte lá para fora, certo? – pediu Aaron e eu assenti com a cabeça, os dois homens saíram com ele e eu troquei de roupa. Aquelas me faziam parecer um garoto normal, não um príncipe. Mesmo que meu rosto ainda fosse o meu. Daquele jeito eu poderia sair à hora que eu quisesse do palácio.

Quando encontrei Aaron de novo ele cruzou os braços e andou em volta como se procurasse alguém, fazia “Hum” de um jeito exagerado. Depois se aproximou de mim com uma expressão engraçada, não pude evitar sorrir.

- Olá, vc por acaso viu o príncipe Hans? Eu não o encontro. – eu dei uma risada e ele deu um tapinha no meu ombro. – Você fica bem legal assim. Não. Mentira, você parece normal demais.

- Eu também acho. – comentei e o segui até o cercado onde meu cavalo estava. Já estava com cela e pronto para montar. – Vou montar nele hoje?

- Claro que vai, o melhor jeito de aprender é praticando. E para aprender a montar, você tem que montar. – Aaron sorriu, ele parecia um louco sorrindo, mas eu seria uma daquelas pessoas idiotas que pensam em fugir, mas não fogem. – Pode entrar, quero que monte nele sozinho. Ele tem que confiar em você.

- Mas acabamos de nos conhecer, ele não vai deixar. – disse eu olhando para Aaron preocupado, ele deu de ombros e sorriu.

- Se você cair, é só se levantar de novo. – disse Aaron e eu tinha quase certeza de que ele era doido. – Se bem que, se levantar com uma perna quebrada possa ser meio difícil.

- Isso é loucura. – disse e olhei para o cavalo que parecia totalmente indiferente.

- Entre logo e monte, seja homem. – disse ele e me empurrou para dentro. Olhei novamente para o cavalo e tomei coragem.

Tínhamos aulas três vezes por semana, claro que eu tinha outras aulas, mas elas não chegavam nem aos pés das de Aaron. Eram as melhores aulas, e eu mal conseguia esperar o fim de semana passar. E depois de dois meses eu notei que, sem querer é claro, que ele tinha atração por outros homens. Tive certeza disso na semana passada.

Ele estava muito atrasado, muito mais que de costume. Então eu fui a sua procura. Naquele tempo ele já havia me levado até sua casa, claro q minha guarda particular também foi. Eu bati, e ele gritou “entra”. Eu tenho certeza de que ele disse isso, mas ele devia estar sonolento, pois quando eu e meu guarda entramos ele estava em sua cama, que por acaso é no meio da sala, com outro homem. Meu guarda começou a rir e dizer que meu professor era um mordedor de fronha, Aaron ficou super vermelho e me pediu para sair. Eu fiquei com raiva, muita e logo notei que não era raiva especificamente, era ciúme. E soube que eu estava apaixonado por Aaron. Se ele não fosse casado com o homem que estava na cama com ele, eu teria uma chance em alguns anos, já que eu era homem e príncipe.

Certo dia depois da aula Aaron disse que iria sair para caçar com um de meus irmãos. Eu senti inveja, queria sair para caçar, mesmo que fosse sem meus irmãos. Então Aaron me convidou, disse que eu não poderia matar nada, mas que eu já montava muitíssimo bem e que não atrapalharia. Eu sabia que meu sorriso ia de orelha a orelha. E sabia que Aaron devia estar com pena de mim, como meu guarda disse na ocasião. Pois eu precisava de permissão, e o guarda poderia falar com meus irmãos. Ou até mesmo com o rei.

A caçada foi incrível, e como foi minha primeira vez fiquei muito nervoso, mas Aaron me ajudou a relaxar. Donar caçava com arco e flecha, já Glenn preferia a lança. E era bem mais difícil cavalgar na floresta, com raízes saindo do chão, troncos velhos no caminho e sem falar dos morros que apareciam do nada. Mas graças a Aaron eu me saí muito bem.

Quando nós voltamos Aaron me convidou para tomar chá em sua casa, e logo depois começou a rir. Não entendi até que ele falou que parecia uma mulher convidando amigas para um chá. Eu também ri, mesmo que não fosse uma piada de verdade. Só queria ver seu sorriso por mais um tempo. Sua casa era bem pequena, mas se eu fosse solteiro e desse aula de equitação iria querer ter uma casa daquele jeito. Ainda mais uma dentro dos arredores do palácio real.

Tomávamos chá, ele estava sentado na cama e eu na cadeira, pois só havia uma cadeira. Aaron estava como sempre, o cabelo de quem acabara de acordar. Sorriso de louco e roupas velhas.

- Você tem noiva Hans? – Aaron indagou do nada. Eu tinha, mas não a considerava.

- Tenho, mas não vou me casar com ela. – respondi e dei um gole no chá. – Posso me casar com quem eu quiser, quando eu crescer. Eu vou ir para outro país talvez.

- Então não pretende se casar com ninguém aqui? – indagou Aaron assenti com a cabeça e sorri. – Você sabe o que é uma concubina?

Eu não sabia o que eram realmente, Magda disse que faziam companhia para o rei. E era o que parecia, sempre estavam por perto, mas Magda disse que quando o rei se casasse ela perderia o emprego. Respondi que sim e ele se levantou.

-Você me viu aquele dia com outro homem não é? – assenti com a cabeça que sim, sentia meu rosto quente, ele se abaixou e tocou meus lábios com os seus. Quando ele se afastou sorriu e escondeu o rosto. – Me desculpe...

Neguei com a cabeça e levei dois dedos aos meus lábios. Mal podia acreditar que ele havia me beijado. E então eu tinha certeza de que estava apaixonado por ele. Olhei para a janela, meu guarda estava sentado do lado de fora de costas para nós. Queria me levantar e sair pela porta, só por que eu estava com muita vergonha para olhar para ele novamente. Mas tinha medo de que ele pensasse que eu não havia gostado. Mas qual seria o problema, nunca poderíamos ficar juntos de qualquer jeito.

- Acho melhor eu voltar, está ficando tarde e... – comecei e ele ergueu os olhos até mim, e eu também era apaixonado por seus olhos verdes. Eu estava apaixonado por cada pedacinho seu.

- Eu lhe acompanho Hans... – Aaron começou, mas eu o interrompi.

- Não precisa. Eu o tenho e... Não precisa. – respondi apressadamente e me levantei indo em direção a porta. – Até semana que vem Aaron. – sorri e ele me retribuiu o sorriso, acenou e então saí pela porta.

Comecei a caminhar de volta para o palácio sem esperar pelo guarda, mas sabia que ele estava atrás de mim. Olhei para trás sim, e Aaron me observava, encostado no batente da porta com os braços cruzados e sorrindo. Eu tinha certeza de que eu estava corado e com cara de idiota, então apertei o passo. Eu teria de vê-lo novamente no dia seguinte.

[...]

Pela manhã, logo depois do café eu tinha aula de esgrima, e já me gabando eu era muito bom. Depois do almoço teria aulas com Aaron, e eu ainda não conseguia pensar nele sem ficar envergonhado. Logo quando voltei da aula de esgrima me troquei, com a escrava, queria dispensar ela, mas talvez ela ficasse sem trabalho e passasse mais fome. Bateram em minha porta, e de repente meu guarda entrou com dois homens da corte e um de meus irmãos. Matteo, meu irmão, me olhava de cima como se desaprovasse tudo que eu era, mas era assim que ele normalmente olhava para mim.

Fomos para o pátio de execuções, eles diziam que eu deveria ver isso, me deixava mais forte, eu já estava até acostumado. Mas foi diferente daquela vez, pois eu estava do lado de Klaus, o rei. E Aaron estava sendo arrastado por dois guardas até a tora de madeira, ele estava sujo e sangue escorria por sua testa e chegava até seus olhos. Muitas pessoas estavam ali, assistindo aquilo. Tentei me mover e impedir, mesmo que fosse inútil, mas Klaus segurou meu braço com força. Lágrimas vieram aos meus olhos. Começaram a ler os crimes de Aaron e meu nome estava ali, eu queria gritar e negar tudo, eu queria ter o poder de parar aquilo tudo. Mas tudo que fiz foi chorar. Por um milésimo de segundo eu pensei ter cruzado meu olhar com Aaron, eu pensei ter o visto dar aquele sorriso louco de novo, antes da espada descer em seu pescoço.

...

Sua cabeça ficou em uma lança no muro por dias, e todos os dias pelas manhãs eu era obrigado a olhar para ela por longos minutos. Eu soube que fora tudo um plano, que queriam matar Aaron e mostrar aquele meu lado para todos, mas eu não baixei minha cabeça. E jurava todo dia de manhã que nunca mais me apaixonaria, e que seria frio como meus irmãos e assim, nunca mais alguém iria poder me fazer mal.

“Dentro de alguns meses irei para Arendelle, e terei a chance de ter um reino só meu, e não importa o que eu tenha de fazer para isso...”


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado, nossa, deu trabalho. Queria ter participado do desafio, mas não deu. Bjs.


COMENTE! Obrigada.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Eu nem sempre tive um coração de gelo" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.