Estava uma manhã chuvosa e fria. As ruas que outrora foram coloridas tinham perdido a cor. Tinham perdido a alegria.
Eu, caminhava entre elas ansiando chegar ao meu destino, mas caminhava lentamente pisando cada pedra do passeio calmamente. A cada passo que dava era deixar algo para trás e dava a sensação de que nada iria ser igual.
Enquanto caminhava, os meus pés estavam em Guadalajara, mas os meus pensamentos e o meu coração recaiam em Buenos Aires, mais precisamente, nela. No seu rosto corado, nos seus olhos profundos castanhos avelãs, na sua boca perfeita.
Suspirei pesadamente.
Passaram-se 4 meses, e depois daquela noite, eu não tenho coragem para lhe dizer tudo o que sinto. Não tenho coragem para lhe dizer que a amo.

A chuva continuava caindo, lentamente, gota a gota, com tranquilidade.

Eu, pouco ou nada me importava se iria ficar doente com um resfriado ou com uma pneumonia. Precisava de pensar.

Avistei ao longe o pequeno parte onde eu costumava ir com meus pai e meu irmão, Federico. Costumávamos brincar ao pé do lago, o que, praticamente sempre, significava voltar para casa todos sujos e molhados. Depois, corríamos pela casa toda tentando-nos esconder de nossa mãe, dona Esmeralda. Bons tempos...

Fui então na direção do mesmo, e, sem estar nem ai para o facto dos bancos estarem molhados me sentei. Afinal, eu já estava encharcado mesmo né?

Olhei em redor, e, mais uma vez, milhares de recordações me vieram ao pensamento. Uma delas foi um verão que eu passei aqui, em Guadalajara, com a Violetta.

Nós vinha-mos nesse parque praticamente todo o santo dia comer um sorvete ou passear mesmo. Ela comia gelado de chocolate com pepitas de framboesa, e eu comia gelado de framboesa com pepitas de chocolate. Na verdade, nos sujávamos mais do que comíamos.

Perdido nos meio destes pensamentos, nem me dei conta de que a chuva já tinha parado, mas ainda assim, as nuvens permaneciam no céu, anunciando que em breve iria chover novamente.

Ouvi então o toque irritante de meu celular me avisando de que recebi uma mensagem. O tirei do bolso. Embora estivesse molhado, funcionava perfeitamente. Deslizei o dedo sobre o ecrã, mas, em vez de ver o que queriam de mim, parei a olhar a foto de fundo. Era uma foto minha e da Vilu, de quando fomos no show de uma banda que ela amava, que se chamava "Just Girls". Tínhamos 18 anos na altura. Ela estava feliz e entusiasmada, e eu, apesar de ser uma banda de raparigas de que eu simplesmente não gostava, também estava contente, porque ela também estava.

Estou tão confuso, mas ao mesmo tempo, acho que nunca tive tantas certezas.

O que sinto por ela é maior que qualquer coisa que já fui capaz de sentir em toda minha vida. É incapaz de ser explicado. É para vida toda. É simplesmente amor. Eu a amo. A amo de um jeito que eu tento explicar e não sei. A palavra fica presa. Meu coração nunca foi pela metade: sempre foi inteirinho dela.

Vi então a mensagem, era do meu irmão.

"Já tomou uma decisão? Estamos contando com você"

Bom, eu já tinha tomado sim uma decisão, mas não é aquela que ele pensa.

Eu sei que a empresa precisa de mim, e que meu pai esta contando comigo mas... Eu não posso passar o resto da minha vida fazendo algo que eu não quero e a viver longe de quem amo.

Por isso eu tomei minha decisão...

Vou voltar para Buenos Aires e vou atrás dela, aquela de que realmente amo : Violetta Castillo