Capítulo 5

– A minha amiga fez tudo que podia por você, Thomas. Se humilhou, teve que mentir, enfrentou coisas absurdas e até chegou ao ponto de quase morrer, e sabe por que? Porque ela te amava mais que tudo. Ela confiava de olhos fechados em você. Você era a razão da vida dela – Vanessa chegou bem perto de mim apontando o dedo na minha cara – E o que o senhor sabe tudo fez? A trocou como se fosse uma mercadoria qualquer. ‘Não confio mais em você Teresa, pois mentiu pra mim’. Acredite querido, das mulheres que teve em sua vida, ela foi a que menos te enganou.

–Vanessa se acalme. Está muito alterada. – Minho tentou afastá-la de mim, em vão.

– Me acalmar? Não vou mesmo. Thomas, você teve toda a chance do mundo pra ficar com Teresa, mas não quis. Então por favor, deixa a minha amiga seguir em frente e ser feliz. Eu tenho vontade de socar sua cara ouvindo você dizer que queria que o bebê fosse seu. Acorda, não tem mais jeito, você perdeu. – Ela ria, zombando da minha cara - Ela agora está com um homem lindo e (desculpa Minho) gostoso e vão ter um bebezinho lindo, fofo e de olhos azuis. Uma família perfeita. E você não tem o direito de tentar atrapalhar isso.

Vanessa se sentou em uma pedra, com um pouco de falta de ar por ter despejado tudo aquilo de uma só vez. Eu não fiquei com raiva ou magoado pela forma como ela me tratou. Sabia que era minha amiga, mas era muita mais de Teresa. Depois do acidente ela ficou muito mal, não comeu por dias, apenas chorava lamentando pela amiga. Foi Minho quem a ajudou a se reerguer. Eu sabia que de certa forma ela me culpava pelo o que aconteceu, mas nunca me disse nada, até agora.

– E se você está sofrendo agora, a culpa é sua mesmo, por ter feito as escolhas erradas.

– Agora já chega Vanessa. Vamos logo fazer esse teste – Minho olhou para mim – Você vai vir, não vai?

Olhei interrogativo para Vanessa.

– Pode ir. Mas você vai se decepcionar com o que vai ver durante o teste.

E ela foi descendo a colina de mãos dadas com Minho e eu fui atrás. Assim que acabamos de descer vi que Gally nos esperava e ele estava com alguém. Era uma garota provavelmente da nossa idade, tinha os cabelos castanhos, era baixa e magra. Ela me encarava com curiosidade.

– Bem, como eu já conheci o Minho e a Vanessa, suponho que você seja o Thomas. – Eu assenti com a cabeça e ela se aproximou de mim estendendo as mãos.

– Prazer, sou Thais, sou como uma dama de companhia de Teresa – Ela me olhou com um olhar instigante – E acredite, eu já ouvir falar muito sobre você.

– Coisas boas ou ruins? – Gally perguntou, se divertindo com minha situação.

– Ele descobrirá em breve. Mas vamos, não temos tempo a perder.

Então entramos no Berg e ele era maior do que todos que eu já havia visto antes e o mais surpreendente de tudo é que parecia como uma casa por dentro. Havia uma sala bem na entrada, com poltronas que pareciam ser muito confortáveis, uma televisão enorme, carpete felpudo, livros em uma estante. Passamos pela sala e seguimos um corredor com várias portas e em uma delas era a cozinha. Era totalmente equipada e dali saia um aroma delicioso.

– Aqui é bem aconchegante, por dentro nem parece ser um Berg, mas sim uma casa. – Vanessa argumentou.

– Essa é a intenção. Andrew adaptou o Berg para que fosse o mais parecido possível com uma casa. Ele quer que Teresa tenha o maior conforto possível. – Thais disse olhando de canto pra mim – Bem, chegamos. Hora de começar o teatro.

Entramos em uma sala super iluminada, com quase tudo branco. Era uma sala de cirurgia. Teresa estava sentada em uma poltrona com o idiota ao lado e se levantou assim que viu Vanessa.

– Oh minha querida, quando saudade – As duas se abraçaram – Você está linda com essa barriga – Teresa acariciou a barriga de Vanessa.

– Você também está linda, não, deslumbrante. Nem parece mais aquela Teresa descabelada, suja e cheia de machucados quanto nos encontramos pela primeira vez.

As duas riam feito crianças, e aquilo era emocionante de se ver.

– Bem, foi muito lindo o reencontro de vocês, mas vamos acabar com isso logo. Vanessa, por favor, se deite na maca – Aquele mértila disse sem um pingo de emoção.

Minha amiga estava assustada, eu tinha certeza disso. Ela se deitou na maca e Minho foi para seu lado, segurando sua mão.

– Thais, pode começar – Ela olhou um tanto relutante para Andrew – AGORA.

Ela foi até um armário e trouxe de lá uma seringa e outras coisas que eu não sabia o que eram. Percebi que olhava com raiva para Andrew enquanto ele não olhava. Tinha alguma coisa estranha acontecendo ali. Ela chegou perto de Vanessa e pediu licença para levantar sua camisa. Ela tremia.

– Deixa, eu vou fazer isso – Teresa a afastou de perto de minha amiga.

– Você ficou louca? Você é a última pessoa que eu permitiria fazer isso – Andrew disse possessivo, afastando Teresa de Vanessa.

– Nós já conversamos sobre isso e eu estou cansada da sua estupidez – Ela disse com os olhos em fogo para Andrew, e eu adorei aquilo – Se tem alguém que pode fazer isso, sou eu e o assunto acabou.

Cara, como eu adorava a determinação daquela garota. O trouxa se afastou e não disse mais nada.

Percebi que Teresa olhava discretamente para Gally, o plano tinha que começar agora. O cutuquei e ele percebeu que era hora de agir.

– Nossa, os caras do Braço Direito ficariam malucos com tudo isso. Paraísos, novo vírus, a CRUEL tentando ajudar. Se eles tivessem sobrevivido tenho certeza que estariam armando um plano.

Andrew olhou imediatamente pra ele confuso.

– Gally participou do Braço Direito durante um tempo e tenho certeza que sabe muitas coisas sobre eles – Teresa disse tentando de todas as formas adiar o inicio do teste.

– O que sabe sobre eles? – Andrew perguntou com um ar sombrio.

– Muitas coisas. Os planos que tinham, a raiva que sentiam de vocês, os esconderijos super secretos – Gally olhou sinistramente pra ele – Experiências assustadoras.

– Me fale sobre tudo isso, eu preciso saber. É muito importante.

– Eu posso até te dizer, mas não aqui – Ele chegou mais perto de Andrew – As garotas estão grávidas, podem ficar impressionados com o que tenho pra contar.

O otário não sabia o que fazer, olhou pra Gally e depois pra Teresa, e essa acenou com a cabeça.

– Vá escutar o que ele tem pra dizer. É o nosso futuro que está em jogo. Eu dou conta das coisas por aqui.

– Eu já volto. Gally me acompanhe, eu quero saber de tudo, tudo mesmo, entendeu? – E os dois saíram da sala.

– Rápido. Nós temos muito pouco tempo. Thomas, eu não sei o que você está fazendo aqui, mas sirva pra alguma coisa – Ela me olhou com desdém – Fique na porta vigiando. Vanessa eu vou fazer o procedimento primeiro.

Nisso Vanessa saiu da maca e Teresa se deitou em seu lugar. Logo em seguida Thaís se aproximou e levantou a blusa dela e eu pude perceber que existia uma pequena protuberância ali.

– Pronta pra ver o seu bebê – Thaís perguntou com um sorriso no rosto.

– Vamos logo com isso – Teresa disse indiferente, o que eu estranhei.

Um gel foi passado em sua barriga e logo após imagens borradas começaram a aparecer no visor junto com um barulhinho de batidas rápidas.

– Aí, tá escutando o coraçãozinho? Não é emocionante – Vanessa estava ao meu lado, toda feliz, já eu, bem, sentia uma sensação de incomodo, tristeza. Aquele serzinho que estava ali dentro, cheio de vida, era um filho dela com o Andrew e eu não gostava daquilo.

– Eu acho que já da pra ver o sexo. Você quer saber?

– NÃO!!! Termine logo com isso, eu já falei.

Eu não entendia essa mudança de comportamento dela. Ela estava bem há alguns minutos atrás, antes do ultrassom começar. Parecia até que ela não queria aquela criança.

Thaís pegou uma seringa com uma mão e com a outra segurava o aparelho no ventre de Teresa, ela estava tendo certa dificuldade em manipular os dois.

– Thomas, você poderia, por favor, segurar o ultrassom pra que eu consigo coletar a amostra? – Thaís perguntou e eu fui pego de surpresa.

– Pede pra outro fazer isso, Thomas está vigiando a porta. – Teresa disse rancorosa.

Notei que Minho, Vanessa e Thaís se entreolharam como se estivessem combinando alguma coisa.

– Eu estou tão emocionada que não vou conseguir segurar e Minho tem pavor de ver sangue – Disse Vanessa. Mas desde quando Minho tinha medo de sangue?

– É Thomas, só sobrou você, amigo, vai lá, eu fico de olho na porta – Grande amigo eu tinha.

Teresa me olhou raivosa, mas permitiu minha aproximação. Eu segurei o aparelho sem a encarar enquanto Thaís inseria a seringa no seu ventre.

– Não saia desse foco, Thomas. Eu não posso perder a imagem do bebê – Eu concordei, mas minha mão tremia de nervoso.

– Pare de tremer, ou você está querendo que ela me machuque? Eu não duvidaria disso, você já fez isso uma fez.

Teresa estava convicta que eu a tinha abandonado naquela destruição e eu não aguentava mais aquilo.

– Não eu não fiz. Eu jamais abandonaria você se soubesse que ainda estava viva. Eu jamais abandonaria a garota que eu mais amei na vida – Desabafei.

Encarei os enormes olhos azuis de Teresa e vi uma lágrima saindo dali.