Capítulo Único

Porto Seguro

– X –

O quarto de hospital estava frio e os braços ao redor de Stiles quentes, seguros.

Segurança – se.gu.ran.ça. Uma palavra que há tempo não fazia mais parte de seu vocabulário, nem do dono dos braços ao seu redor ou de qualquer um de seus amigos. E Stiles sabia que nunca teriam vidas normais, e não adiantaria, da parte dele, tentar fugir, pois no momento em que descobrira que seu melhor amigo era um lobisomem as cadeias desse mundo repleto de caos já estavam em volta de seu corpo. Sem escapatória. Talvez morresse em algum lugar perdido da floresta de Beacon, ou seu corpo seria encontrado em uma vala qualquer, completamente desfigurado e rasgado por algum ser sobrenatural que pudesse ainda existir lá fora.

Não se importava. Enquanto Scott, seu melhor amigo – seu irmão – estivesse a salvo, então Stiles passaria por isso e mais. Passaria por todas as surras, noites mal dormidas, todos os pesadelos e toda a insanidade para manter seus amigos – Scott, Lydia, Allison, Isaac, Derek – Melissa e seu pai seguros, vivos.

[If you are in hell, keep going].

O quarto de hospital estava frio, e Stiles sentia-se esgotado e sem forças para pedir – “Você poderia continuar me abraçando Scott, por favor?” – a Scott algo tão egoísta naquele momento.

– X –

Scott estava sorrindo enquanto seu melhor amigo estava passando por um exame que poderia o diagnosticar com uma doença sem cura. E Scott estava sorrindo, sentado em uma cadeira dura de hospital e compartilhando uma conversa cheia de segredos com Derek.

Um segredo que envolvia o jovem hiperativo na outra sala. Um segredo que Scott estava aceitando tão facilmente quanto a que ele agora era um Alpha. Porque contra seres sobrenaturais e perigosos tentando matar pessoas ele sabia lidar, com aquela situação em que Stiles se encontrava não.

– Ele estava nos protegendo. – Essas palavras reverberaram em seu peito trazendo uma lufada de pânico aos pulmões, embrulhando o estomago e fazendo adrenalina correr pelas veias com seu lobo interior berrando junto – proteger, proteger, proteger.

O papel de Scott era proteger, mas era ele quem estava sendo protegido.

Infelizmente, Stiles parece ter falhado naquilo e o que se encontrava dentro dele, na mente dele havia ganhado aquela batalha.

[Scott tinha esperança que aquilo não venceria a guerra].

– X –

Lydia não era louca – louca, louca, louca –, mas certas vezes ela realmente se sentia assim. Louca e inútil. Onde a Lydia Martin popular, desejada e vangloriada por todos havia parado?

Aumentou o som do carro.

O som de um martelo batendo em uma bigorna continuou.

– É onde ele está. É onde Stiles está. – Lydia tinha tanta certeza de que estava certa, que era realmente aquilo que as vozes – aquelas malditas vozes na sua cabeça, as vozes dos mortos – diziam, berravam em uma cacofonia incessante nas linhas vermelhas – igual sangue, igual morte, vermelho tinha cheiro de morte – no quarto de Stiles.

Ele não estava lá e Lydia não parava de escutar as vozes, sempre o mesmo som – um martelo batendo em uma bigorna seguida de uma voz rouca e sibilada em meio a rosnados.

Sua cabeça latejava, sua garganta coçava para libertar o grito gelado e que a deixava rouca e com um gosto imaginário de sangue na boca.

Aumentou o som do carro.

O som de um martelo batendo em uma bigorna continuou como som de fundo.

O mundo pareceu ficar surdo por um instante.

Lydia gritou.

[E Stiles abriu os olhos não sendo mais Stiles. Scott sentiu-se perdido com a certeza de que Stiles havia feito aquilo].