Ninguém vai saber. escrita por Sai


Capítulo 1
Capítulo único.


Notas iniciais do capítulo

enjoy.



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Tentar encontrar um lugar, tentar encontrar um motivo pra continuar com o que eu faço, tentar dar algum sentido no porque de minha presença física neste mundo. Esta são perguntas frequentes que martelam em minha cabeça.

Sabe, durante o ensino médio eu nunca tinha me preocupado com isso, afinal, meus objetivos eram apenas “passar de série” e eu sabia o que me aguardava no próximo ano, outro ano de aula... Tentem entender, durante o ensino médio todos sabemos como vai ser o próximo ano, mas isso não está acontecendo comigo agora.

Vou contar minha história pra vocês.

Meu nome é Matheus, e se contentem com isto pois não vou dizer meu nome inteiro – Eu terminei o ensino médio no ano passado e agora me vejo em uma faculdade de direito, porque direito ? Nem eu mesmo sei. O critério que usei foram as coisas que eu mais gosto de fazer ler, escrever, jogar, dormir... Bom, Direito se encaixa nas 2 primeiras coisas que gosto e por isto eu escolhi esta profissão em que meu conhecimento neste momento é zero.

Acontece que pela primeira vez na minha vida tento ver o que me aguarda durante os próximos anos e nada vem na minha cabeça, parece que eu não tenho um destino, não tenho um objetivo. E tenho que lhes dizer, isto é ameaçador.

Eu tenho 18 anos e meu maior problema é a insegurança, e bota insegurança nisso; sou o tipo de pessoa que coloca quarenta peças de roupas e não me sinto bem com quase nenhuma, arrumo meu cabelo dez vezes ao dia e nunca está bom ao meu ver. Minha família deve me achar uma menininha e isso me deixa encabulado, oras, eu não sei porque sou assim.

Ontem a professora dirigiu a palavra a mim e eu quase morri de vergonha, mas convenhamos que isso é normal, minha turma tem exatas 40 pessoas e no momento que o ser que têm a atenção destas 40 pessoas se dirige a mim significam 40 cabeças curiosas se virando e me olhand – AHHHH- vai me dizer que você não sente vergonha ? E o pior de tudo é que eu não gosto nem que as pessoas me olhem, e olhar nos olhos então nem se fala, eu logo desvio o rosto. Isso da raiva.

Neste momento você deve estar achando que eu nunca fiquei com garota alguma então, mas calma, não é bem assim, na verdade eu fiquei sim, com uma garota. UMA garota, apenas UMA, nestes 18 anos em que minha presença habita este planeta azul chamando Terra, e eu nem sou feio, na verdade eu sou até que aceitável, o problema é a falta de confiança.

Ok, eu tenho que me preocupar com isto não tenho ? E o pior de todos estes detalhes é que, além de garotas, os garotos também me chamam atenção –não que alguém saiba disso- é um segredo que guardo desde que descobri no 2º ano do ensino médio, quando de repente eu comecei a gostar do meu colega de turma, Rafael. O mais extraordinário disto é que eu estudava com este mesmo ser no 1º ano e nunca senti nada por ele, por que depois, no 2º ano, eu haveria de sentir ? Pois é, colegas, também não entendo. Minha convivência com as pessoas no 1º ano não era lá essas coisas, eu meio que era zuado demais por ser meio atrapalhado, acreditem se quiser eu cai de um carro, em pleno movimento, porque não fechei a porta direito. Nem me machuquei, e talvez por isto geral ficou rindo da minha cara, se eu tivesse me machucado sentiriam pena, e entre pena e motivo de piada, eu prefiro piada. Voltando ao assunto, até então eu nunca tinha prestado atenção em Rafael, no 2º ano ele começou a sentar perto de mim, por algum motivo, e por consequência começamos a conversar, foi tudo muito rápido. Ele era bem bonito, tínhamos o mesmo tamanho e idade, nossos cabelos tinham o mesmo corte, apesar de ficar muito melhor na cabeça dele, e pra piorar minha situação jogávamos o mesmo jogo online. Nossa amizade ficava cada vez mais forte com o passar do dia, sempre sentávamos juntos, brincávamos um com outro, enfim, aí que comecei a me iludir, na verdade, eu meio que me iludo até hoje. Rafael ficava com muitas meninas da escola, mas o fato é que ele nunca chegava nelas, elas que faziam aquele montinho de garotas que falavam pra uma amiga que falava pra outra até que chegava nele, e ele sempre aceitava. No começo eu não me importava muito, eu meio que sentia que ele ia forçado por causa da pilha dos garotos, talvez seria isso.

Com o passar do tempo a coisa começou a ficar tão séria que eu chegava na escola e já ia logo procurando por ele, querendo ver com que roupa ele ia hoje, do que falaríamos e coisas do tipo. Era sempre um frio na barriga, uma emoção que não cabia em mim quando nossos olhares se encontravam. Ele era a pessoa mais gente boa que eu já tive a oportunidade de conhecer, era divertido, meio maluco e muito educado. Uma combinação perfeita.

O problema era que meu jeito parado pras coisas jamais diria o que sentia por ele e eu meio que ficava na expectativa de ele chegar e falar pra mim, porque na minha cabeça, era correspondido.

Sempre quando eu chegava na sala atrasado ele estava com a mochila na cadeira ao lado guardando lugar pra mim, sempre abria um sorriso quando eu entrava, fazia os trabalhos comigo... Isso que hoje eu entendo que deva ser coisas de amigo, porque afinal, ele foi o primeiro amigo verdadeiro que eu tive e eu não entendia ainda.

As vezes, quando ele me negava alguma coisa ou me xingava como a molecada sempre fazia, eu parava de falar com ele (de brincadeira), o que eu fazia era ignorar ele a aula inteira, o que o deixava furioso, coçando a cabeça de raiva por causa do meu silêncio. Acredite, nada irritava mais ele do que ser ignorado. A única maneira de eu voltar a falar com ele era uma regrinha que nós dois tínhamos, ele deveria dizer “ Desculpa, Matheus, você é o melhor amigo da galáxia”.

INFANTIL ? SIM, mas era a regra. Era ferir de mais o orgulho dele dizer isto, mas ele sempre dizia, e era a coisa mais apaixonante do mundo ouvi-lo dizer.

Teve uma vez que ele brigou com Rodrigo, nosso amigo, por causa de mim. Eu estava jogando um jogo de carro no notebook dele quando Rodrigo veio cheio de gracinha apertando os botões do computador enquanto eu jogava, dizendo “vai, perde logo” "Ta na minha vez " “você nem sabe jogar”... Coisas normais de garotos, mas foi ai que Rafael virou uma pessoa que eu ainda não conhecia. Ele ficou com muita raiva, levantou e deu um empurrão no Rodrigo dizendo –"Porra, cara. O Matheus ta jogando agora, você é cego ?" "Para de irritar-" E começou uma discussão besta que eu nem lembro direito mais, lembro apenas de Rafael entrando na minha frente e brigando com seu outro amigo por causa de mim. Olha, pra uma pessoa que nunca tinha se apaixonado antes, esse ato parecia ser a coisa mais linda do mundo. E foi pra mim. Gostar de garotos e ser um garoto é muito complicado, se eu pudesse trocar isto que eu sinto pra uma garota seria tudo tão mais fácil. Mas droga, já tentei e não da certo.

Bom, em novembro deste mesmo ano em que fiquei amigo do Rafael eu faria aniversário, e caia bem em um dia de aula. Um adolescente comum acharia isso um inferno e mataria aula com certeza, mas não eu, eu estava feliz porque achava que Rafael iria me abraçar –me julguem, mas eu queria muito saber como era o abraço dele- e talvez quem sabe me dizer algo que eu esperava o ano todo... Mas vocês sabem que isso não aconteceu, o que ele fez foi apertar minha mão e da “tapinhas” nas minhas costas.

Daí chegou o final do ano e eu estava decidido a esquecer ele nas férias. foram exatos 3 meses de férias, a gente se falava bastante por Skype e facebook, mas não tanto quanto falávamos na escola. Ele sempre dizia que estava com saudades de mim, e meu coração parecia que ia pular pra fora, por mais tosca que possa parecer esta frase.

Mas no entanto, eu não pensava tanto nele quanto antes, e estava feliz por talvez conseguir ser apenas amigo dele, como ele certamente me via.

Quando acabaram as férias e voltamos a estudar, eu tinha um desafio em mente,olhar pra Rafael e não sentir mais aquele friozinho na barriga, se caso acontecesse, eu teria o esquecido realmente.

No dia da volta as aulas eu estava muito ansioso pra encontrar ele, eu queria provar pra mim mesmo que conseguiria o ver apenas como amigo... E lá estava ele, conversando com os outros garotos, desta vez com um corte de cabelo novo, diferente do meu. Aquele corte modinha raspado um pouco nas laterais e com um topete, sabe ? Ele estava mais forte também, mais bonito. E eu ? A mesma coisa, deprimente.

O problema foi o que aconteceu a seguir. Ele me viu, e sorriu. Aquele sorriso que eu mal me lembrava de como era ao vivo, aquele jeito de me olhar que só eu sabia o quanto tinha de ser forte pra aguentar. Caminhou até a mim e me deu um abraço. Sim, um abraço. Abraço este que eu sempre quis ganhar e nunca consegui. – "Saudades, cara." – Ele disse. Foi ai que eu percebi, que por mais que eu tentasse eu não conseguiria esquecer ele, nem que eu passasse 1 ano longe. Ele sempre voltaria com aquele sorriso e eu me apaixonaria novamente.

Mas eu tenho que dizer logo de uma vez, este foi o pior ano de escola que eu já tive, não pense que foi por causa da escola ou dos amigos. Não. Foi por causa dele, na verdade, foi por causa DELA. Uma menina que, infelizmente, era bonita pra caralho, gostosa pra caralho e tantos outros adjetivo que possa te vier a mente. Entrou no 1º ano, nós estávamos no 3º, mas isto não impediu da menina querer ficar com ele, como acontecia de costume, uma amiga foi comentando com a outra até que vieram falar com ele, e eu achei que seria como antes – só uma ficada – Mas não foi. Foram muitas, continuam sendo muitas, porque até hoje, eles namoram.

Foi a partir daí que nossa amizade acabou, eu via nos olhos dele o quanto ele gostava da garota. Sempre postando aquelas frases melosas no facebook. Eu desisti, desisti dele. Quase não sentávamos mais perto, eu me afastei e no final ele quase não falava comigo também, e quando tentava eu o tratava super mal, não por causa dele e sim por causa do ciúmes que eu tinha. Eu fui meio arrogante, confesso.

Apesar dos pesares, eu tenho que dizer uma coisa, ele foi meu primeiro amor, por mais platônico que tenha sido, foi o primeiro. E eu sei que vou lembrar dele pra sempre, mesmo que não seja uma lembrança muito boa... As vezes ele só tinha um carinho muito grande por mim, carinho de amigo, e eu confundi tudo, estraguei tudo.

Nunca mais vi Rafael, ele nem dos encontros de turma quis participar, ficava sempre colado com a garota. Também nunca mais veio falar comigo, nem no facebook, nem mensagem, nada. Hoje eu vejo que foi melhor assim. Do que adiantaria a amizade dele se o que eu queria ele jamais poderia me dar ?

Pois é, e agora eu estou aqui sentando na última cadeira em uma sala com 40 pessoas estudando Direito e pensando no cara que já deve ter esquecido de minha existência. Ninguém sabe que eu gosto dele, ninguém nunca vai saber, nem mesmo ele.


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Notas finais do capítulo

Abraço :)