VIOLETTA

O avião chega à Buenos Aires com alguns minutos de atraso, mas já voei tantas vezes em minha vida que estou acostumada a isso. Espero de verdade que Francesca não esteja me esperando há muito tempo, sei o quanto ela é impaciente.

Quando consigo me desviar dos outros passageiros, a maioria mais alta que eu, estico-me na ponta dos pés para procurar a minha melhor amiga. Ela está usando o vestido azul com polca dots (vulgo bolinhas) que eu enviara para ela em seu último aniversário. Usa sapatilhas pretas com laços nas pontas, uma peça típica do guarda-roupa de uma bailarina, coisa que ela é.

Ela trabalha no Art Rebel, um teatro onde me convenceu a fazer um teste meses atrás, em minha última passagem pela Argentina. No começo, achei que não ia dar em nada, então só fiz o teste por insistência de minha amiga.

Mas eu estava errada. Há algumas semanas, o diretor do lugar, Gregório Hernandez Casal, como ele me lembrara constantemente durante o teste, me ligara em Madrid, perguntando se eu estava interessada na vaga.Depois de muito conversar com meu pai, retornei para Buenos Aires, decidida a aceitar.

Me aproximo de Francesca acenando o mais alto que posso para que ela me veja. Ela faz um único gesto em resposta e corre para mim, arrastando um garoto moreno consigo.

-Ah, Vilu que saudade de você! - Ela me abraçou - Como estava em Madrid? Muito frio? Me conta tudo!

Uma coisa em Francesca é que ela fala muito e muito rápido, então, o garoto que já parece ter notado que ela não ia parar de falar, toca de leve o meu ombro e acena.

Ele me parece de algum lugar, uma fotografia ou cartaz. Ao observá-lo com mais atenção, vejo que é Diego Hernandez, namorado de Francesca. Ela me enviara uma foto dele em uma carta. Trocamos um aperto de mão enquanto Francesca tagarela sobre seu trabalho no teatro.

Chegamos ao estacionamento e Diego aponta qual é seu carro. Trata-se de uma bela Mercedes vermelha, com um ótimo espaço interno e bancos confortáveis. Diego é um bom motorista e conhece bem a cidade, pois de vez em quando, me aponta alguns lugares especiais de Buenos Aires.

Quando o Art Rebel aparece na estrada, vejo sua fachada com uma enorme placa multi colorida “Art Rebel”. A cor das paredes é cinza, de modo que a placa se destaca.

-Não se preocupe - diz Diego - o interior não tem nada a ver com a parte de fora.

Não fazia ideia de como Diego estava certo.