Dilemma escrita por Han Eun Seom


Capítulo 24
Namorada?


Notas iniciais do capítulo

Fim de trimestre é uma bosta.
Parece que os professores resolvem dar tudo duas semanas antes de fecharem as notas.



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Acordamos com nossos pais nos sacudindo. Nós tínhamos que ir para casa e não havia discussão. Se bem que eu estava tão grogue que não tinha disposição nem para responder se queria água ou não. Levantamos da maca com certa dificuldade, Sara primeiro e depois eu. Nada como uma dor nas costas para fazer companhia a uma cabeça doendo.

Eles praticamente nos guiaram até o carro, minha mão segurando na de Sara, e disseram que nos levariam para minha casa. Iriam nos deixar lá e depois voltariam para resolver sei lá o que, eu não estava prestando atenção. Voltamos de mãos dadas durante o caminho inteiro, dava para sentir que Sara ia desmoronar a qualquer momento se eu a soltasse e também as coisas não estavam melhores comigo.

Imaginei que não nos fariam ir para a escola – até por que ainda era sábado – mas eu sabia que ainda naquela semana íamos ter que encarar os professores, nossos clubes e responsabilidades. É só nesses momentos que você percebe que o mundo funciona muito bem sem você.

As coisas não irão parar só por que deu merda na sua vida. Com um suspiro eu resolvi parar de pensar assim, Sara estava sem sombra de dúvida pior do que eu. Ela precisava de mim. Eu virei à cabeça para olhar para ela e pensei que naquele seu olhar perdido ela estava se culpando por coisas inexistentes. Provavelmente pensando que se tivesse interferido na discussão ou seguido Nicolas tudo teria sido diferente. Então vi seus olhos marejarem de novo. Era óbvio que estava pensando naquilo.

Eu me inclinei e beijei sua bochecha levemente atraindo sua atenção para mim.

– Já passou, Sara. Não tem mais volta – minha voz era baixa e suave, quase não a reconheci. – Tudo o que podemos fazer agora é esperar. Ele vai acordar.

Sara assentiu e eu a abracei. Sinceramente, eu não sabia o que mais me doía, ver Sara naquele estado ou Nicolas em coma. Eu depositei um longo beijo em sua testa e ela envolveu seus braços na minha cintura. É claro que eu sabia que as coisas não seriam fáceis, mas eu daria meu máximo para que Sara não sofresse mais do que já estava.

Enfim chegamos ao meu prédio e minha mãe se desculpou. Nem ela nem meu pai iam poder ficar com a gente, mas podíamos pedir o que quiséssemos. Assenti para ela e guiando Sara em praticamente transe, eu entrei no prédio sem falar com ninguém.

Já no apartamento, nenhuma das duas falou nada, só fomos direto para o meu quarto. Lá, ela tirou os sapatos e eu peguei uma roupa quentinha para ela. Uma calça de moletom vermelha, uma blusinha de frio branca e uma calcinha minha mesmo. Ela pegou e foi em direção ao banheiro.

Coloquei uma calça jeans e a mesma blusa de lã amarela que eu tinha usado quando fui levar o pen drive para Daniel. Suspirei pesadamente, fui para a cozinha buscar algo para preparar para nós e logo vi que não tinha absolutamente nada. Estava frio e tudo o que eu tinha era chá e - mesmo achando que isso nunca aconteceria - eu não estava no clima para tomar chá.

Bati na porta do banheiro e disse a Sara que eu estava indo na padaria, peguei a carteira quando ela concordou. Tudo o que eu fiz a partir daquele momento parecia distante e meio irreal para mim. Fui à padaria e comprei dois pedaços de bolo de coco com doce de leite para a gente além de achocolatado e leite.

Voltei para o apartamento e a encontrei no quarto abraçando os próprios joelhos e olhando para o nada. Aquilo estava me preocupando, mas eu não estava muito melhor. Como ela não tinha me notado, voltei para a cozinha e coloquei os pedaços de bolos num prato grande e em duas canecas, fiz leite com chocolate e os esquentei no microondas.

– Roxy...?

Virei-me e a vi de pé na entrada da cozinha, forcei um pequeno sorriso antes de tirar as canecas do microondas.

– Por que não ficamos aqui na sala? Pega os cobertores do armário que eu te ajudo a espalhar aqui – ela concordou com a cabeça e saiu. Esquentei mais um pouco o leite por que estava um frio do cacete.

Em dez minutos, nós arrumamos os cobertores e trouxemos os travesseiros e o laptop para a sala. Apoiamos o laptop no sofá e sentamos cobertas no chão. Com o prato de bolo na nossa frente e as canecas em mão, assistimos um pouco de desenho.

Sara tossiu um pouco e eu me aproximei mais dela, quando vimos estávamos deitadas abraçadas uma a outra praticamente dormindo... Acho que por mais que já tivéssemos dormido, o cansaço era grande demais e dormimos novamente.

E assim foi o dia seguinte. Meus pais ligaram dizendo que não tinham novidades e que não precisávamos ir para escola no dia seguinte. E não fomos. Nem segunda nem terça, mas na manhã seguinte eu e ela já não aguentávamos aquele apartamento. Era dia de grupo e usaríamos isso para nos dispersar. Tanto os meus pais quanto os dela acharam aquilo bom...

Não foi bom.

Eu deveria saber que eles ficariam importunando Sara para saber por que faltamos dois dias seguintes e devo dizer que aquilo não fez bem a ela. De saco cheio, eu disse para eles que um familiar próximo dela tinha sido hospitalizado e que se fosse possível que evitassem aquele assunto, nós agradeceríamos.

Eu sei calar a boca das pessoas quando eu quero e tenho certeza que aquilo não me deixou com uma reputação melhor do que eu já tinha. Sara foi mais paciente, conseguiu esboçar um sorriso e agradecer aos consolos que recebia, mas eu sabia que tudo o que ela queria era que calassem a boca.

Eu conheço Sara.

Enfim, chegou a hora do almoço e as aulas extracurriculares. Não sei se ela ficou agradecida, mas a levei até a sala do grupo de teatro, o que fez com que ninguém se aproximasse para fazer perguntas estúpidas.

– Você vai ficar bem? – eu perguntei e ela me abraçou. – Ei – eu passei a mão em seus cabelos. – Qualquer coisa, vai lá à minha sala. A professora te ama mesmo.

Ela sorriu um pouco e assentiu. Com aquilo, entrou em sua sala e eu fui para a minha. Ninguém falou nada quando me viu e eu agradeci tanto por ter escolhido aquele grupo. A professora me lançou um sorriso pequeno quando eu passei pela mesa dela e apontou para a lousa.

“Desenhe algo que te represente”.

O pior tema que eu podia receber naquele momento. Pensar não estava sendo o meu forte e eu senti uma dor de cabeça se formar atrás dos meus olhos. Ótimo. Olhei para o fundo da sala e vi Nuno ali, debruçado sobre seu caderno de desenho. Suspirei e nem hesitei em sentar ao seu lado.

Ele levantou o olhar e abaixou de novo para seu desenho. Eu realmente gostava daquele garoto. Peguei meu material e criativa do jeito que sou fiquei olhando a folha em branco, até pegar meu celular e colocar os fones de ouvido. Coloquei numa música depressiva para melhorar meu humor e encarei a folha por mais cinco minutos.

– Sua criatividade me impressiona – escutei ele falar e eu dirigi para ele um olhar sarcástico.

– Obrigada, Picasso.

Ele sorriu de lado e eu revirei os olhos. Aquilo não estava certo, eu não podia descontar meu estresse nele. Com um suspiro eu fiz um risco de leve no papel e nenhum dos dois falou mais nada por dez minutos.

– O que aconteceu? – ele falou.

Juro que achei que iria ficar furiosa se escutasse isso, mas vindo dele eu apenas suspirei. Tirei os fones do ouvido e ele largou o lápis e passou a me olhar.

– Por que pergunta?

– Por que esta estranha pra caramba – ele franziu a sobrancelha. – Mesmo só te conhecendo por... Uma semana.

– Deu merda sexta-feira de madrugada – eu disse e suspirei. – Deu uma merda gigantesca – ele arqueou as sobrancelhas. – O irmão de Sara sofreu um acidente e esta em coma agora. Ela estava tão mal, parece que entrou em um transe de depressão e só... Só estou pensando que vai ser difícil pra caralho tirá-la disso e ainda tenho que desenhar algo que me representa – eu revirei os olhos e ele soltou um risinho. – Isso é engraçado agora?

– É só que é bonitinho o jeito que se preocupa com sua namoradinha.

Que?

– Você está corando – ele riu mais ainda e eu soquei o braço dele com força. – Caramba isso doeu!

– Era para doer! – meu rosto queimava. – Sara não é minha namorada, seu idiota. Ela é minha melhor amiga.

– Mas não é isso o que parece – se ele tivesse tido isso no tom brincalhão que tinha talvez eu não tivesse ficado tão desconcertada como eu fiquei. – Olha, eu não sou bom em dar conselho e nem em... ser... hum... um amigo, mas relaxa. As coisas não vão ficar todas bem é claro, mas uma hora melhora.

Eu observei ele voltar ao seu desenho e várias coisas passaram na minha cabeça. Ele virou o caderno para mim e me mostrou o que tinha desenhado. Era um rosto masculino formado por nomes de bandas e o fundo preto. Ursos em um estilo fofo rodeavam o rosto e o cabelo curto de fios de fone de ouvidos. Ele desenhou tudo o que o tinha formado. Sorri de lado e já sabia o que desenhar.

– Obrigada – eu disse e coloquei os fones.

Uma hora melhora... Eu espero.


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Notas finais do capítulo

Eu espero que tenham gostado e peço perdão pela demora >.< heh

Digam-me o que estão achando :DD
Ah! E eu queria agradecer de coração a todos que estão comentando .< beeem.... Um beijão no coração de vocês.



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