Melissa

Já faz alguns dias que eu conheço Richard Hunter, o noivo melancólico. Me recordo de seus olhos tristes e vazios como um poço que secou, o castanho que os habitavam me recordava folhas secas, sua palidez como uma folha de papel. Tudo nele apontando tristeza, uma tristeza profunda.

Mas agora isso mudou, Richard ria de qualquer piada imbecil que fluía da minha boca e seus olhos sempre estavam cintilados, possuindo um brilho só dele. Não sabia que um simples pedido se transformaria em uma amizade imensa.

(...)
Quando conversei com minha mãe ao telefone, ela tinha questionado o motivo de eu não está em casa. Eu e ela moramos juntas, mas ela sempre estava ocupada demais com o trabalho e quase nós não nos vimos. Dei uma mentira esfarrapada e a mesma descobriu que eu estava mentindo só pelo meu tom de voz, eu até contaria para ela, problema nenhum, mas quero evitar comentários tipo:

"Ele é gostoso?"

"E aí? Já rolou?"

Por fim fui obrigada a dizer, e não fiquei surpresa com os comentários dela. Minha mãe sempre foi a única pessoa da minha família que agia com normalidade para todos os assuntos. Lembro que uma vez, quando tinha 7 ou 8 anos, a perguntei "o que era sexo?", então ela e meu pai se juntaram sobre minha cama, e eu sabia que nessas horas meu pai já estaria dormindo, e que ela o tinha acordado. Então, ela me explicou sobre tudo, exatamente tudo que uma criança com essa idade não deveria saber. Meu pai apenas ouvia ela explicar pois estava envergonhado. Então, depois de ela ter terminado de falar e me perguntar o porquê de eu estar chorando, eu a respondi que era para me explicar o que é sexo feminino e masculino e não aquilo. Naquela noite não consegui dormir, e também em muitas outras.

–Preciso ir mãe, tchau. -Digo.

–QUERO CONHECER ELE, MELISSA JONHSON - Gritou ela, dando nenhuma pausa para respirar. - Será que ele gosta de mulheres de 39 anos?

–42.

–Tanto faz.

–Acho que não, mas mando o recado, beijos! - Desligo o telefone, recebendo um olhar perverso do Richard.

–Pode dizer que gosto sim. - Disse, sorrindo maliciosamente. - panela velha é que faz comida boa.

–Vai te catar. - Jogo uma almofada em seu rosto.

❄️

Richard estendeu os braços para desligar o carro.

–Vamos para as compras, miga.- Disse imitando uma voz feminina. - Vamos arrazar nas caras das inimigas! - completou, sacudindo as mãos enquanto falava.

–Ai. Meu. Deus. - Digo entre risos. - Você parece uma galinha tendo um ataque epilético.

Saímos do carro ao mesmo tempo. A noite estava calma e serena, a lua cheia iluminava o céu estrelado. Tudo muito diferente ao que estamos acostumados em cidades muito movimentadas, se tivesse alguma câmera fotográfica ao meu lado eu iria tirar foto daquele encanto.

–Sonhando acordada? - Sinto uma respiração quente na minha nunca. Richard aparece ao meu lado, acompanhando meu olhar e ficando surpreso ao ver que observava a lua.

–É tão linda. - Digo, deixando escapar um sorriso admirado.

–Uhum, agora podemos ir? -Perguntou.

–Vamos em frente. - Respondi.

Fomos na loja de roupas e compramos algumas, especialmente camisas limpas para Richard. - Pelo menos, ele aprendeu a lição de não jogar mais sorvete em meu rosto. Depois decidimos ir comer algo em uma lanchonete já que estávamos morrendo de fome. Eu e ele até que fomos bem rápidos, 1 hora depois já estávamos entrando no carro para voltar ao hotel. Eu estava feliz demais e não conseguia parar de sorrir, isso era ótimo. Eu nunca mais sorri assim desde de... Meu sorriso se dissipou em poucos segundos.

–Ei, O que houve? - Perguntou Rick em um tom de preocupação, seus olhos me encaravam preocupados.

–Nada. - Respondi, sorrindo timidamente. - Só ... uma coisa que me lembrei aqui. - Disse com dificuldade, as lágrimas queriam cair.

Ele me fitou preocupado, mas depois de algum tempo desviou seus olhos e começou a dirigir calmamente. Deve ter percebido que não queria falar sobre respeito. Então eu resolvi falar, por mais que me dói o coração revelar isso em voz alta, eu tinha que falar. Richard me contou sobre tudo na sua vida, era o mínimo que eu pudia fazer.

–Já faz alguns meses.. - Iniciei. Me inclinando sobre o banco numa tentativa inútil de me esconder. - Eu namorava com esse cara, Brad Thompson, e nós eramos muito felizes juntos. - Ele era um namorado perfeito, sabe? Aquele que você só encontra em livros românticos. - Dou uma risada fraca. - Mas então começaram a discussão... Ele não aguentava mais minhas ligações, não gostava mais de andar de mãos dadas comigo, odiava que eu o beijasse em público... Em uma noite, ele terminou comigo, e disse que eu tinha que perder essa mania de acreditar em "finais felizes". Eu não o culpo! Sempre fui infantil demais, sonhadora demais, romântica demais e isso é ridículo. Em todos os casamentos que tiro fotos eu desejo que aquele casal nunca mais se separe porquê eles encontraram a felicidade que eu sempre estou buscando. - As lágrimas desciam tão rápido que embargaram minha voz.

Richard me analisou pelo espelho retrovisor. Seus olhos estavam em uma expressão de dó, sua boca estava em uma linha reta, mantinha o cenho franzido. E era isso o que queria evitar.

– Mas que cara idiota. Melissa, ele não merece suas lágrimas. Pare de chorar agora. - Falou, e eu limpei as lágrimas com as costas da mão quase no mesmo instante. - E segundo: Ele não te merecia, Mel. Não soube lidar com tanta responsabilidade de ter uma mulher incrível só para si,e agiu como idiota.

Estacionou o carro na frente do hotel.

–Eu não acho isso. - Anunciei. - Devia ter abandonado esse sonho desde que era uma garotinha. Eu cresci, Rick. Não devia agir assim.

–Claro que não, Mel. Crescer não é desculpa para nada, você cresce, os sonhos permanecem. - Disse.

Logo em seguida abriu a porta do carro, saiu, e veio na minha direção, abrindo a minha. - Me prometa que não irá abandonar esse sonho? - Perguntou.

–Não posso prometer isso.

–Promete, Melissa Jonhson? - Sorriu ao falar meu nome inteiro, erguendo as sobrancelhas.

–Prometo, Richard Hunter. - Desisto e dou um sorriso sinceiro.

–Agora vamos que está um frio do caramba aqui fora. - Ele arregalou os olhos e abraçou-se a si próprio. Comecei a rir.

–Você é um ótimo amigo, sabia? - Saio do carro.

–Pois é, já me contaram.