–É só ficar tirando fotos de um lado para o outro, o que tem de especial nisso? - Pergunto indignado, enquanto ela lavava as louças calmamente.

– Pra sua informação, meu querido, nós podemos retocar negativos, tirar, desfocar, ampliar e criar efeitos gráficos que só nós conseguimos. - Ela me encarou rindo da minha cara de surpresa.

Terminou de lavar o ultimo copo sujo e secou as mãos em um pano. Melissa fizera um trabalho incrível na minha casa, tudo estava em seu devido local. E o melhor é que ela fez tudo aquilo por vontade própria. Pra falar a verdade, eu e ela até que nos damos bem.

– Então... Posso mesmo passar a noite aqui? - Ela perguntou.

Eram 19h34 e a lua já estava iluminando pela janela. A televisão estava ligada, mas no mudo. A cidade estava calma. Tudo estava em um total silêncio. Apenas a respiração dela e a minha.

– Mas é claro, Imigrante nova iorquina! - Brinco.

Ela olhou para a janela, o ponto em que eu estava olhando, e depois me encarou. Ficamos nos olhando por alguns segundos, até que começamos a rir. Ela parecia ler minha alma apenas pelos olhos. E fiquei me questionando se isso era algum tipo de poder de fotógrafos. Saber tudo pelos olhos. O que é bonito para tirar fotos, o que necessita de "reparos gráficos", ou o que é disforme o suficiente para apenas ignorar.

– Estou com fome. - Disse.

– Irei pedir pizza. - Digo.

❄️

DOMINGO, 16 DE JUNHO DE 2015

Assim que abri meus olhos a claridade castigou-os, fazendo com que eu visse pontinhos pretos dançando em minha visão. A janela do quarto estava aberta, o sol clareava todo o quarto.

Uma voz feminina me despertou por completo. Estava falando por telefone com alguém em alguma extremidade do quarto. A sua voz saía em um tom calmo, como a de um psicólogo talvez, mas estava rouca, como se acabasse de acordar.
Então me lembro dela e das piadas que contamos na noite passada. Então começo a rir, mas logo fui interrompido por uma almofada voadora em meu rosto, e uma Melissa que formou nos lábios a palavra : Chefe.

Então cogito a ideia de parar de rir, já que era algo importante. Mas foi um pouco difícil, por fim, meu riso foi se tornando fraco, e depois se cessou.

–(...) Ok. Ás 21h00 estarei aí, obrigada. - Ela foi interrompida. - Sim, sim. Não chegarei atrasada, Obrigada. - Terminou a ligação.

Coloco meus pés no chão e procuro um par de chinelos mais próximo. Melissa fechou os olhos e se jogou na cama, resmusgando algo que não consegui entender, logo sua respiração foi relaxando e ela soltou o ar com mais tranquilidade. Então pensei que ela havia dormido. Mas de repente, seus olhos se arregalaram.

–Ah meu Deus! Richard. o que foi que eu falei no telefone? - Ela se levantou e começou a balançar meus ombros freneticamente. Eu dei um berro de susto. Seus olhos quase pulavam para fora.

–Alguma coisa de estar lá as 21h00 e de não chegar atrasada. - Digo assustado e com rapidez.

–Que horas são? - Ela perguntou desesperada.

–Deve ser umas 12h00, ai Melissa! - Reclamo de seus apertos nos meus ombros.

–Conseguimos chegar lá a tempo? - Perguntou, vejo a ansiedade aparecendo em seus olhos.

– Se íamos agora, provavelmente. - E então, ela liberou meus ombros.

Arrumamos pouca coisas para ir, na verdade, só comemos pedaços de pizzas que sobrou da noite passada e então peguei as chaves do meu carro pronto para ir para Nova Iorque com uma companhia.

Assim que entramos no carro liguei o aquecedor porque Melissa se queixava de frio, e então se queixou por Los Angeles ser tão legal e ela não querer abandonar a cidade. Aí eu ri, e ela também riu. Então percebi que estava com adrenalina pura entre minhas veias e contei para ela, que apenas agitou meu cabelo e disse para aproveitar a viagem, me senti um garotinho, mas manei a cabeça afirmadamente. Durante a viagem, conversávamos amigavelmente. Agora, começamos a entrar em uma discussão sobre o que as pessoas na rua eram e nós dois tínhamos opiniões diferentes ao casal que tomava sorvete juntos em uma praça.

– Estão comemorando o aniversário de dois meses de namoro. - Dizia Melissa convencida, dando um gole na diet coke em suas mãos. - Olha como mantém as mãos dadas de forma carinhosa, com certeza.

Dou mais uma olhada no casal, A garota estava com os cabelos ruivos soltos, e com um sorriso fofo. Ele segurava suas mãos de forma carinhosa, como disse Melissa, mas os nós de seus dedos estavam brancos, como se apertasse a mão da garota, como se temesse que ela fugisse, ou fosse embora.

–Errou feio. - O sinal fica verde e acelero o carro, deixando o nosso casal para trás. - Ele fez alguma merda e está reatando o namoro com ela. Olha como ele está segurando a mão dela - Digo vitorioso.

16H02

O GPS estava dizendo que faltava 4 horas e 45 minutos para chegarmos em Nova Iorque, Melissa estava protestando que iríamos levar uma multa bem alta, então a expliquei que tenho dons ninjas para evitar a polícia, mesmo ela não acreditando nisso, me deu mais alguns alertas e por fim aceitou que aquela era a velocidade máxima que temos que seguir para chegar a tempo.

As gotas de chuvas caíam severamente lá fora, embaçando o vidro. Um vento suave refrescava nossos rostos como carícias. Eu me sentia bem, eu me sentia ótimo. O sorriso no meu rosto denunciava o tanto de bem-estar que eu sentia. Como na passagem de um livro que li há algum tempo atrás : *Eu me sentia infinito.

*As Vantagens De Ser Invisível.