Richard.

Foram alguns minutos que se passaram rastejando que me fizeram perceber que nunca mais seríamos os mesmos um com o outro. Eu dirigia o carro com os olhos vidrados na estrada, querendo apenas ter a voz animada de Melissa tagarelando sem parar ao meu lado. Mas ela estava tão silenciosa que parecia estar de luto por algo, e Deus sabe o quanto o clima estava estranho ali.

Brad havia esbarrado com nós assim que descemos as escadas do hotel, e ele e Melissa agiram como velhos amigos, conversando sobre coisas que não fiz questão de prestar atenção. Só percebia a maneira em que ela se comportava perto dele, sorrindo animadamente, colocando suas mechas que escapavam atrás da orelha. Agindo do jeito que ela sempre fazia comigo.

–É aqui, certo? - Pergunto aos quatro ventos enquanto estacionava o carro, imaginando que Mel não me responderia por estar ainda com muita raiva de mim.

Ela pousou os olhos nos meus vagarosamente, desviando em questões de segundos, como se tivesse vergonha de estar no mesmo carro que eu. Soltou um suspiro profundo enquanto maneou a cabeça afirmadamente.

–É.

E essa foi a única palavra que ela falou durante o tempo em que ficamos no carro, o que me faz corrigir minha afirmação lá em cima: Foram aqueles minutos que se passaram rastejando que me fizeram perceber o quanto sou idiota.

Um idiota completo.

❄️

Flashback On'

O nome dela era Rachel, e eu só tinha descoberto isso quando estávamos subindo as escadas como loucos, provavelmente indo para uns dos quartos que aquela casa possuía.

Colocarei a culpa certamente nas bebidas, pois eu nunca faria aquilo sem estar sobre efeitos alcoólicos. Ouvi a porta atrás de mim se batendo, abaixei as alças de seu vestido lentamente, e então iniciei outro beijo preenchido por violência, prensando-a contra a parede enquanto ela abria os botões da minha camisa.

Ela deixou um gemido escapar de seus lábios quando distribuí beijos pelo seu pescoço, iniciando uma trilha até seus ombros. O cordão estava ali, a estrela dourada brilhando timidamente. E, quando fui perceber, não pude deixar de pensar nela, a mulher que fora minha companhia nesses dias; seus olhos azuis encantadores, seus lábios rosados e pequenos...

–Melissa. -Sussurro rouco e seco. E então eu soube no mesmo instante que eu tinha feito a maior loucura do mundo. Arregalei os olhos já sabendo que era o efeito das bebidas, ou pelo menos era a desculpa esfarrapada que arranjei para explicar o ocorrido.

–É Rachel. - Concertou-me com raiva a garota. - Quem diabos é Melissa, Richard?

Dou alguns passos para trás como se tivesse sido golpeado, estava confuso comigo mesmo. Abotoei minha camisa as pressas e evito encarar o olhar carrancudo dela, eu só queria sair dali urgentemente.

–Então é assim? Geme o nome de outra mulher no meu ouvido e irá embora? - Berrou irritada.

–Esqueça isso, você nunca me conheceu. - Fixo meus olhos nos dela, a mesma me fuzilou com os olhos e se virou comovida. Então saí daquela festa procurando Melissa com os olhos, e, quando soube por uma outra mulher que ela fora embora, voltei para o hotel preocupado com a mesma.

Eu tenho certeza que aquilo fora apenas um mal ocorrido, eu apenas pensei nela em uma hora imprópria e os resultados não foram bons. Minhas mãos tremiam no volante, estava nervoso. - Mas o que diabos passou na minha cabeça?– Perguntava para mim.

À vista disso eu já sabia a resposta, no entanto nunca terei coragem de falar em voz alta.

❄️

–O mesmo que ele. - Melissa sorriu de cantos dos lábios para o garçom. Ele devolveu o sorriso inocente para ela, escrevendo rapidamente numa folha o pedido e em seguida desaparecendo entre as mesas.

Seria mentira eu dizer que consegui dormir na noite passada, porquê de fato era estranho dormir sem o rosto dela debruçado em meu peito, e isso fez com quê eu não conseguisse pregar os olhos por nem sequer alguns minutos. Ela estava com o rosto virado para o outro lado, evitando tocar em mim. Seu cabelo louro estava desgrenhado em uma trança bagunçada, e passou inúmeras vezes em minha cabeça a ideia de arruma-los. Porém ela deixou bem claro que não quer que eu toque e a fale com ela, e isso estava me perturbando.

–Melissa, fale comigo, eu te imploro. - Peço angustiado, a encarando lamentavelmente. Ofereço minha mão sobre a mesa, em um sinal de desculpas. Ela ignora, fitando meus olhos implorando que eu tirasse minha mão dali, e assim faço.

Ela contraiu os cantos do rosto em um sorriso triste.

–Richard, me desculpe. - Sua voz rouca faz minha pele arrepiar, estava tomada de ternura e calmaria. -Eu sei que quer se divertir, faço questão de não o atrapalhar...

–Então por quê está agindo assim? - A interrompo franzindo as sobrancelhas, ignorando cada palavra dita de sua boca.

–Quero ir á Nova York. - Ela morde os lábios apreensiva, pregando os olhos no chão. Algumas pessoas nos encaravam com curiosidade, devem estar imaginado que é uma briga de namorados.

–É isso que estamos fazendo. -Comento com desgosto, revirando meus olhos diante daquilo tudo.

–Quero estar lá hoje ou amanhã. -Declara baixinho, semicerrando os olhos com receio. - Não quero mais ficar em outros lugares, quero ir para minha cidade.

–O quê? - Pergunto arregalando os olhos, sabendo que havia uma dose de mentira infiltrada ali. - Você não quer mais minha companhia por algo que eu fiz por estar bêbado?

–Você não entende. - Diz melancólica, erguendo os olhos novamente, repletos de emoção. - Mas não precisa me levar, vou de ônibus.

–Na verdade, eu entendo sim. - Levanto da cadeira, explodindo de raiva. E de repente, como se não conseguisse me controlar, digo furioso. - Você é só uma garotinha mimada, Melissa.

Todos puseram seus olhares sobre mim, e umas mulheres tamparam as bocas, surpresas. Sinto minhas bochechas corarem e minha respiração fugir. Melissa se encolheu inofensiva, e tudo aconteceu rápido demais, os pensamentos turbilhoavam em minha cabeça, não se encaixando de maneira alguma. Fiquei desnorteado, ainda em pé.

–Garotinha mimada. - Ecoa nos cantos mais obscuros da minha mente. - Você é só uma garotinha mimada, Melissa.

Aponto meus olhos em sua direção, seus olhos estavam rasos d'água e algumas lágrimas delinearam sua face, confirmando que minhas palavras a atingiram em cheio. Sinto meu coração falhar uma batida, naquele momento senti um ódio tão grande por eu ter falado aquilo preencher o espaço vazio em meu coração. Congelo diante de sua expressão.

–Eu não queria dizer isso, Mel. - Minha voz falha miseravelmente, meus olhos focados nos rastros de lágrimas que caíam de seus olhos por minha causa. Meu sangue ferve e minhas mãos tremem. O que eu tinha feito? Por quê falei aquilo?

–Tudo bem. Outros caras já me disseram isso, eu só pensei que você fosse diferente. - Algumas mechas colaram em seu rosto, a voz dela era um fio de som, quase inaudível.