Revirei os olhos enquanto eu trancava a porta da frente e o menino do cangote tagarelava sobre eu ir com ele de carona para a faculdade e os pontos positivos disso e blá blá blá.

–Cale a boca, menino do cangote. Eu já falei, vou correndo.

Me virei para ele e ele me encarou com uma cara brava, inesperadamente me empurrou contra a porta fechada, colou seu peito no meu e apoiou os dois braços - sendo um de cada lado da minha cabeça- na porta.

–Tá bom então Ashton!- ele rugiu. Depois disso ainda enfiou o nariz no meu pescoço e brincou com ele lá, foi tão rápido que nem tive tempo de reagir, ele saiu andando rapidamente e subiu na sua moto, em seguida desapareceu. Minhas bochechas estavam queimando.

–Q-que diabos foi isso?- Gaguejei para mim mesma, como se eu fosse obter alguma resposta.

Eu estava rosada, constrangida e parada como uma estátua, ainda apoiada contra a porta.

Logo em seguida fiquei com raiva, o que ele estava pensando? Andei até o meio da rua e gritei em alto e bom som.

–VÁ SE FODER!

Ele nem estava mais a vista, ou seja, estava longe e obviamente não tinha ouvido.

Como eu ia correr, tentando me recuperar, suspirei, sorri – o que? Por que eu sorri? – tirei o sorriso da cara na hora e enfiei a chave no cordão do meu colar, amarrei os cabelos num rabo alto já começando a trotar.

Todo bom corredor se alonga, ou seja, eu me alongava (modéstia a parte). Eu já tinha me alongado na companhia daquele ser desprezível, enquanto ele fazia um monte de gracinhas (todas totalmente sem graça, não para ele, aparentemente, já que a cada olhar irritado que eu lançava para ele, ele ria), e eu havia me limitado a revirar os olhos e bufar, arrancando mais risadas ainda dele.

Comecei a aumentar o ritmo e fui correndo cada vez mais rápido. Certo, assim eu iria soar, mas eu não me importava mais. Eu só precisava correr, correr e correr, cada vez mais rápido.

Quando estava faltando uns 500 metros dei um tiro que fez meu coração quase sair pela boca. Fui desacelerando, perto do portão da escola, até estar andando. Me sentei na grama e chamei por um vendedor ambulante que estava passando por ali. Comprei uma água e quando meu coração se acalmava ouvi aquela voz linda e irritante ao mesmo tempo. Voz linda? O que deu em você, Ashton Rutherford?! Cristo.

–Ei, Ash. – olhei na direção da onde a voz conhecida vinha e meus olhos pararam sobre o menino do cangote encostado em sua moto me fitando. Eu não pude deixar de notar quando ele passou a língua pelos lábios.

Primeiro levantei o dedo médio e desviei o olhar. Depois uma lâmpada brilhou na minha mente, que merda fora aquela de me prensar na parede? Levantei furiosamente e marchei até ele. Empurrei seu peito e cuspi as palavras nele.

–Qual é o seu problema? O que DIABOS você pensava que estava fazendo?

Ele continuou com uma cara séria e segurou meus pulsos que tentavam empurrá-lo de novo. Ficou me olhando e logo um sorriso foi surgindo.

–Admita, Rutherford, você gostou.

Me desvencilhei dele e andei até o portão, quando passei por ele e avistei Mandy, percebi que o menino do cangote estava ali do meu lado, de novo.

Revirei os olhos.

–Será que você não pode desgrudar?

Ele olhou para cima como se pensasse.

–Hm... Acho que...Não.

Bufei e andei até a Amanda, quando olhei para trás ele e Trenton estavam conversando, mas ele estava olhando diretamente para mim. Me voltei para frente de novo e desabei em um banco ao lado de Mandy, apoiando minha cabeça no ombro dela.

–Ihhh, sunshine, o que foi? – ela riu, divertida.

–Foi tão, tão, tão irritante Mandy... Você não faz ideia.

–O que?

–O meu incrível café da manhã ao lado do menino que não sei o nome.- falei cheia de sarcasmo.

–Quer dizer que vocês passaram um tempo juntos hoje logo cedo, hein? – ela sorriu maliciosa.- Ele dormiu na sua casa?

Meti um tapa no ombro dela depois de me afastar. Revirei os olhos e ela riu.

–Eu sabia que você ia fazer isso.

–Isso o que?- murmurei enquanto bebericava minha água.

–Revirar os olhos.

–Ela sempre faz isso.- disse uma voz forte. Olhei pra cima. Menino do cangote, obviamente.

–Você só me conhece há o que? Três dias? Idiota.

Eu quis muito revirar meus olhos, mas me segurei.

–Quatro, na verdade, mas você revira eles tanto que nem faz diferença.

Controlei o impulso de revirar de novo.

–É irritante.- ele completou.

Abri a boca pra protestar mas então ele a tapou com a mão enorme dele.

–Tudo bem, eu gosto.

Fiz uma careta que nem sei como descrever, de puro nojo e indignação. Mordi a mão dele para que eu pudesse falar e ele riu.

–Como se eu ligasse para o que você acha! Você não tem que gostar ou não gostar de nada!

Trenton chegou rindo e bagunçou meus cabelos (pra variar).

–Ei Ashy, tá nervosinha hoje, hein?

–O menino do cangote mexe com ela, Trent.- respondeu Amanda que até agora só havia observado nossa ceninha, sorrindo.

Fiz uma careta de desgosto que fez o menino do cangote sorrir.

–É claro que mexo. Veja só a cara de felicidade dela.-ele pegou no meu queixo para mostrar eles e me esquivei com ódio, o que fez os três rirem.

Mandy se levantou e se espreguiçou, depois se jogou no Trent.

–Eu estou indo baby, te vejo na aula de física.- ela disse pra mim e acenou. Saindo feliz com o Trent do lado dela, que piscou pra mim e falou algo que não prestei atenção só com os lábios para o ser do meu lado.

Bufei e ele se sentou.

–Dia difícil?

O olhei com raiva e depois revirei os olhos.

–É fofo.

–Quê?

–Quando você revira os olhos.

–Ah, cala a boca! Por favor!- pedi empurrando o peito dele e cruzando meus braços.

Ele colocou um braço envolta dos meus ombros sorrindo.

–Sabia que hoje tenho aula de física com você ?

***

Bati na porta da sala de física e o Sr.Mears a abriu sorrindo para mim.

–Ashton. – ele me conhecia pois eu meio que era muito boa em física, e depois do vestibular ele veio me elogiar, já que tive uma das melhores pontuações.

Como? Bem, eu havia machucado o tornozelo e não podia correr, então o que me restou foi estudar.

–Sr. Mears.

Ele assentiu segurando a porta para mim e entrei. Olhei rapidamente a sala procurando a Mandy e... Valeu Mandy! Ela estava sentada com Trent (sendo que a gente sempre sentava juntas!) e minhas opções eram: sentar com um garoto queparecia estar morrendo e estava sozinho ou com o menino do cangote. Menino do cangote? Oh, Deus, ele estava mesmo nessa aula.

Então era óbvio quem eu ia escolher. Fui caminhando rapidamente até a mesa ao lado do menino que não era o do cangote.

–Oi, eu sou a Ashton.

–Olha pra minha cara de quem se importa.

Ele respondeu sem ao menos me olhar.Arregalei os olhos impressionada e pigarreei incomodada, belo dia, primeira aula e levo um fora desses.

–Bem, alunos queridos. Bem vindos ao curso de física!- começou o Sr.Mears depois riu e voltou a ficar sério – é brincadeira.

E então começou um discurso extrovertido e definitivamente não decorado o que subiu um pouquinho meu humor, já que as aulas que eu mais teria seriam de física, pelo menos, o Sr.Mears era realmente bom.

Sai da aula voando, tentando evitar certas pessoas, que claramente vieram atrás de mim correndo.

–Eai, Ashy, gostou do seu parceiro?

–Sim! Sim! Ele é muito legal!- eu disse, tentando ao máximo parecer empolgada. Ele riu e arqueeou uma sobrancelha diante minha tentativa frustrada de mentir.

–Ele me deu um puta fora.-comentei bufando.

Ele me olhou e piscou.

–Viu? Você deveria me valorizar mais.- e saiu andando.

Revirei os olhos e então uma menina com um shorts minúsculo e peitos enormes (não que eu ficasse olhando peitos alheios, mas os dela eram tão grandes que era...era impossível não notar) apareceu na minha frente, parecendo bem brava.

–Você NÃO OUSE SENTAR PERTO DO MEU NAMORADO!

–Quê?- eu me limitei a dizer.

–O Perry!- ela diminui o tom de voz percebendo os olhares dos outros, mas ainda assim foi um tom impaciente.

–O ornitorrinco?- debochei.

Do que diabos ela estava falando?

E então ela me socou.