—Ei, tudo bem com você? —O Theo perguntou levantando minha cabeça.

—Não. —Eu disse entre um soluço e outro.

—Sarah como eu posso te ajudar?—ele perguntou verdadeiramente preocupado.

—Eu não sei. —Eu admiti enquanto ele secava cuidadosamente minhas lagrimas.

—O que aconteceu?—Ele perguntou parecendo cada vez mais preocupado. —Te fizeram alguma coisa? Me fala, por favor.

—Eu não quero falar nisso. —eu disse tentando evitar pensar naquilo, de verdade eu queria esquecer tudo.

—Tudo bem. —Ele concordou me guiando entre os corredores para um lugar mais afastado.

Ficamos em silencio. Eu gostava de estar com o Theo, ele não me julgava igual todo mundo, não que todo mundo soubesse da verdade.

—Aposto que você estava chorando por causa do Thiago. —ele disse quebrando o silencio.

—Está tão na cara assim? —Eu me sentia ridícula por aquilo.

—Estampado. —ele disse rindo e me fazendo soltar um sorriso fraco.

—Vocês terminaram pra valer?—ele perguntou erguendo a sobrancelha. —Porque eu podia jurar que vocês voltariam, mas ele apareceu com a Amanda e aquela melancia.

—Não fala isso. —eu disse cutucando ele. —Eu e o Thiago acabamos pra sempre.—eu disse segurando novamente as  minhas lagrimas. Era doloroso dizer aquilo em voz alta.

—Que bom, fico feliz.—ele disse sorrindo como que para comprovar suas palavras.

Pelo menos alguém fica feliz com isso.

—Você sumiu. —eu não queria dizer aquilo, na verdade eu não tinha o direito de cobrar nada dele. Mas eu precisava mudar de assunto, lembrar do Thiago era a ultima coisa que eu queria.

—Eu não queria ficar entre você e o Thiago, tava na cara que eu estava sobrando.

—Estampado. —e o imitei.

—Valeu. —ele disse rindo e pegando na minha mão. Eu me senti bem com aquilo, estranhamente bem.

—Sarah. b—ele disse ficando serio. —Será que agora que o Thiago ta em outra, eu não tenho uma chance?—Seus olhos estavam colados em mim, ansiosos.

—Eu não sei. —eu murmurei lentamente pesando cada palavra minha.

—Então não custa nada tentar. —Ele sussurrou de volta, se aproximando lentamente de mim, e pela primeira vez eu percebi que eu queria ter alguém do meu lado, e que esse alguém poderia ser o Theo. Seus lábios colaram no meu, receosos, a sensação era tão estranha, não tinha nada de perturbado nem nada que fizessem perder o fôlego igual ao beijo do Thiago... Eu não devia estar pensando nele enquanto beijava outro garoto, aquilo não fazia sentido.

—Então?—O Theo perguntou quando nossos lábios se separaram.

—Humm. —eu fingi que pensava profundamente. —Até que não é ruim.Eu acho que posso conviver com isso.

—Serio?—seu sorrio ia de orelha a orelha.

—Serio. —Eu disse rindo.

—Garota você fez a escolha certa. —Ele disse me pegando no colo e rodando.

Eu nunca tinha rido tanto nos últimos dias, as horas ao lado do Theo passaram voando, o que confirmou minha suspeita, eu tinha feito a escolha certa. Eu só esperava que realmente fosse a escolha certa, eu não queria me machucar mais ainda e muito mesmo o Theo, ele não merecia aquilo de jeito nenhum...

Assim que a noite chegou eu subi para o meu quarto, pela primeira vez o meu dia estava se tornando melhor, o sol estava voltando a clarear. Mas ainda existia um vazio dentro de mim. E esse nunca ia ser preenchido.

—Onde esteve?—A Dora perguntou assim que abriu a porta.

—Por ai.—Eu disse vagamente.

—Pelo visto esse por ai foi muito bom.—Ele olhou curiosamente para mim.

—Ótimo.—Eu me senti mais leve, apesar da imagem do beijo do Thiago não sair da minha cabeça.

—O que aconteceu você esta me matando de curiosidade.

—Eu e o Theo estamos namorando. — Eu tentei parecer entusiasmada.

—Jura. —Ela não parecia muito feliz com a noticia.

—O que?—A Bell gritou abrindo a porta do banheiro em um solavanco. —Eu mando você dar uma volta e você me aparece com um namorado.

—Eu achei que isso era bom. —Eu disse sem realmente entender.

—Bom?—Ela colocou as mãos na cintura. —Você namorar alguém que não gosta é bom?

—Quem disse que eu não gosto do Theo. —A Bell conseguia me irritar como poucas pessoas.

—Sarah pelo amor de Deus, todo mundo aqui sabe que você ama o Thiago.—ela disse como se isso fosse a coisa mais obvia do mundo, e certo ponto ela tinha razão. Mas eu poderia gostar de outra pessoa também.

—É eu gosto dele sim, mas posso esquecê-lo também, porque pra mim é como se ele tivesse morrido. —Elas palavras arranharam minha garganta.

—Mas ele não morreu. —ela me encarou esperando a minha reação. Eu fechei meus olhos e suspirei profundamente.

—A vida é minha e eu faço o que eu quiser.

—Isso acaba com ela. —ela disse ironicamente. —Parece muito esperto isso.

—Não se intrometa. —eu disse entrando no banheiro e fechando a porta com força. Será que ninguém, mais ninguém percebia meu esforço para sair daquilo tudo com o coração inteiro.

As noticia por aqui não correm, voam, era inacreditável o numero considerável de pessoas que já sabiam que eu e o Theo estávamos juntos. Eu não me importava muito com isso, o Theo estava sendo minha taboa de salvação. E eu me sentia extraordinariamente bem ao seu lado.

No café da manhã eu preferi me sentar com o Theo em uma mesa mais distante possível da nossa.  A Bell ainda estava inconformada com o meu namora, mas ela não poderia mudar aquilo, ela teria que aceita.

A aula ocorreu sem nenhuma intercessão, ou seja, agonizante como sempre. O Thiago e Amanda não haviam aparecido por ali, e eu acabei ouvindo sem querer que a Amanda tinha passado mal, durante a noite. Eu não queria me abalar com aquela noticia, afinal aquele não era mais o meu mundo, mais parecia que eu estava presa a ele, porque algo estranho cresceu assustadoramente dentro de mim.

Assim que o sinal tocou o Theo estava na porta da sala me esperando. Eu não pude deixar de sorrir com aquela cena.

—E ai como foi à aula?—Ele perguntou me dando um selinho enquanto algumas cabeças se viravam para nós.

—Adivinha?

—Chata como sempre. —Ele disse e eu sorri. Eu estava definitivamente encontrando um caminho para esquecer o Thiago.

A Bell passou sem olhar para nós enquanto a Dora deu um sorriso amarelo.

—O que houve com elas?—O Theo perguntou intrigado.

—Sei lá. —Disse dando de ombros. Eu não poderia dizer a verdade para ele. O Theo não merecia, e eu me senti desconfortável por aquilo.

Mas uma vez a minha tarde foi melhor do que eu esperava, eu estava começando acreditar que as coisas voltariam no lugar. Quando a noite chegou novamente o Theo me acompanhou até a escada que me levava ao meu quarto.

—A gente se vê amanhã. —ele disse me beijando novamente e saindo.

Eu podia esperar tudo, mas tudo menos o que me aconteceu em seguida

—O que você pensa que esta fazendo?—O Thiago perguntou parado na minha costa, eu me virei lentamente para me certificar que aquilo não era um sonho meu. E para minha surpresa o Thiago me fitava vermelho de raiva.

—O que?—Eu perguntei confusa.

—Como você pode fazer isso?

—Eu... Eu não estou te entendendo. —Eu disse realmente confusa agora.

—Por Deus Sarah para com isso? Você não pode estar realmente com aquele idiota. —Ele disse aquilo como se eu tivesse tentando matar alguém.

—Porque não. —Agora quem estava irritada era eu.

—Por quê?!—Ele pareceu confuso por um tempo. — Sarah... Ora Sarah ficar se agarrando com qualquer um na frente da escola inteira, eu achei que você tinha mas decência. Esta parecendo uma vadia qualquer.

Eu não conseguia acreditar no que eu estava ouvindo. O que ele estava tentando me dizer.

—Você não sabe o que esta dizendo. —eu retruquei enquanto tentava assimilar tudo o que estava acontecendo.

—Eu sei muito bem, eu vi você se esfregando nele. —Ele cuspia cada palavra com rancor.

—Para com isso Thiago. —Eu o interrompi sem saber onde ele queria chegar com aquilo. —As pessoas estão olhando. —eu disse olhando para os lados todos do salão comunal pareciam estar olhando para a mesma direção.

—Eu quero que elas se danem. — Ele disse erguendo a mão. —Eu estou mais preocupado com você e eu.

—Não tem você e eu Thiago. — Eu comecei a sentir meu corpo tremer, o que era aquilo uma provação de Deus. Ele não podia estar dizendo aquelas coisas. Não, não aquilo não estava acontecendo.

—Você não pode ficar com aquele idiota, será que você não entende... —Ele disse segurando meus ombros e balançando fortemente.

—Não eu não entendo. —Eu disse me livrando dos braços dele e andando pelo corredor mais deserto, o Thiago me seguiu seu rosto ainda estava vermelho de raiva.

—Mas que droga Sarah Cristina, ele não te merece. —Ele gritou me fazendo parar para fita-lo, eu queria entender o que se passava na sua cabeça, mais parecia impossível, eu não conseguia nem entender a mim mesmo.

—Eu não sei por que você esta fazendo esse escaldá-lo todo.

—Será que é tão difícil perceber. — Ele continuava gritando, seu rosto perturbado.— Será que você não nota que eu quero você pra mim...

Eu congelei no mesmo instante, aquelas palavras me atingiram com uma força incontrolável, meu corpo começou a tremer em solavancos e as paredes a minha volta começaram a rodar. Aquilo não fazia sentido.

 Ele me fitou com a respiração acelerada, seu rosto perturbado com as próprias palavras.

—Ele não pode ser melhor do que eu. —Ele murmurou ainda com raiva. — O que ha de errado comigo?—Ele parecia se debater internamente enquanto eu lutava com uma onda de emoções que me atingia violentamente.

—Além de ser um completo idiota. —Eu gritei tentando espantar aquela sensação. — Nada mais.

Então o Thiago me puxou contra seu corpo rígido com força me prendendo nos seus braços e colando seus lábios no meu em um beijo selvagem, quase que agressivo, suas mãos percorriam meu corpo com selvageria, e o ar se recusava a entrar nos meus pulmões, enquanto tudo a minha volta girava em uma velocidade alucinante, eu não conseguia sentir nada alem dos lábios do Thiago...

Levou algum tempo até eu perceber que ele havia me soltado minha respiração estava ofegante enquanto a dele próprio também estava.

—Então vai dizer que não gostou?—Ele perguntou com um sorriso débil nos lábios. Como que se quiser provar a si mesmo que eu o queria.

Eu juntei a força que tinha sobrado em mim e levei minha mão no seu rosto com uma força, ele não expressou reação nenhuma como se não tivesse sentido nada. Seu corpo ainda imóvel a um passo do meu, seus olhos se perdidos no nada.

—Nunca, mais nunca mais faça isso de novo. —Eu grite e sai correndo para o meu quarto não suportando mais aquilo. Todas as barreiras que eu tinha construído, tudo que eu havia lutado para me afastar, cada lagrima de dor que havia escapado ao pensar nele , tudo absolutamente tudo havia desmoronado me deixando novamente com a sensação desprotegida...