Música alta. Muitas mulheres. Danças provocantes. E muita bebida.

Se não fossem as circunstâncias, aquela seria só mais uma noite comum na vida de Remy LeBeau.

O convite que fora deixado à sua janela era claro demais para que houvesse um engano.

‘‘Les deux Moulins – 23h’’

Ao encontrá-lo sobre o parapeito da janela de seu antigo quarto no Instituto, ele pensara seriamente em ignorá-lo.

Apesar de nunca negar um mistério em potencial, havia coisas mais importantes naquele momento.

Fora o anexo do bilhete que fizera com que Gambit mudasse de ideia: uma carta da Dama de Copas.

Muito tempo atrás, sua Vampira havia lhe dado uma carta como aquela.

Não restavam dúvidas: o encontro lhe traria alguma informação sobre a Dama de seu Coração.

–Fico contente que tenha vindo, LeBeau.

Remy virou-se ao ouvir aquela voz. Uma mulher alta, morena, com longos cabelos negros e um sorriso misterioso estava parada atrás dele.

–Eu non perderia um encontro com uma belle femme como a senhorita por nada neste mundo – gracejou, convidando-a a sentar-se com ele.

Ela continuou a sorrir enigmaticamente ao perguntar:

–Sabe quem eu sou, Remy?

–Lamúria, se non me engano. Vous trabalhava para Sinistro no laboratório.

–Suponho que isso nos faça colegas, então?

Remy sorriu a contragosto, tomando um gole de seu drink.

A bebida desceu amarga como a verdade.

–Acho que sim.

Um curto silêncio se estabeleceu entre os dois.

Lamúria desviou o olhar, como se estivesse repensando sua decisão de se encontrar com Gambit.

–Por que me chamou aqui, Lamúria? – ele perguntou, começando a demonstrar impaciência.

Só então ela pareceu acordar de seus devaneios.

–Você já sabe por que. Vampira.

Remy não pôde evitar um sorriso. Um pequeno repuxar de lábios, mas que já dizia muito.

–Vim trazer a confirmação que os X-Men queriam. Vampira realmente está com Sinistro.

–Mas... por que? Por que ele a levaria?

–Por causa dos genes dela. Mesmo que ela própria não tenha percebido, Vampira é muito poderosa. Era só questão de tempo até que Sinistro notasse o potencial dela. Ele a está usando para criar uma vacina que confira o poder de absorver energia vital, para contornar a fraqueza, as doenças e até mesmo a morte.

–Então ele quer brincar de Deus, non?

Os olhos vermelhos faiscavam de raiva. Imaginava qual seria a melhor vingança contra um maluco que usava sua Vampira para manipular a vida e a morte.

–É quase isso. – Lamúria suspirou – A busca desenfreada pela perfeição genética.

‘‘Mas isso não é o pior. A vida de Vampira está em risco, Remy. Ele está usando correntes elétricas para condensar os poderes dela. Isso faz com que ela se torne momentaneamente tocável. O corpo dela tem reagido até agora, suas células ainda conseguem se regenerar. Mas tanto eu quanto Sinistro sabemos que isso não vai ser possível para sempre. ’’

–Ela... vai morrer? – ele perguntou horrorizado, a voz forte agora falha.

–Em breve. É por isso que vocês devem agir agora. –ela insistiu.

–Por que está fazendo isso, Lamúria?

Ela fixou seus olhos nos dele.

Podia ser por conta da falta de luz ou até mesmo de sua imaginação, mas parecera a Remy que os olhos de Lamúria estavam cheios de lágrimas.

–Eu pude sentir a dor dela.

O poder mutante dela lhe permitia sentir as emoções de outras pessoas.

Medo. Angústia. Tristeza. Dor.

Como sempre, os piores sentimentos eram os mais fortes.

–E por que eu? – perguntou por fim.

–Nós dois fomos usados e manipulados por Sinistro. Nós dois nos tornamos o pior que poderíamos ser. E merecemos uma segunda chance.

–No se preocupe. Eu vou salvar Vampira. É uma promessa.

Lamúria sorriu.

–Se eu não conhecesse você, LeBeau, diria que está apaixonado.

–E você não me conhece, Lamúria.