Por onde você andou, Miles Foxx? escrita por Lord


Capítulo 6
Adeus?




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Miles ainda dormia feito um anjo quando eu vesti minhas roupas silenciosamente. Fui até a escrivaninha, peguei um post-it e escrevi um bilhete dizendo que não havia acontecido nada na noite passada. Colei o bilhete no rosto do garoto e sai do quarto.

A porta da sala estava trancada, olhei em volta procurando pela chave.

– Já te falaram que é falta de educação sair de fininho? – Kyle perguntou me olhando com atenção.

Quase tive um ataque do coração. Kyle estava jogado no sofá lendo um grosso livro de capa vermelha. Ele chacoalhou um chaveiro em forma de peixe e sorriu.

– Eu não estava saído de fininho – Disse baixo. – Pode abrir a porta?

– Posso – o moreno respondeu voltando sua atenção para o livro. – Mas não vou. Volte e acorde seu namorado.

Pude sentir meu rosto corar. Como Kyle podia achar que Miles e eu estávamos namorando?

– Miles não é meu namorado. – Reclamei.

– Não é o que seu pescoço diz. – O moreno rebateu.

Fui até o menor determinado a pegar a chave da mão dele. Ao perceber isso o desgraçado colocou o objeto metálico dentro das calças e ficou de pé sorrindo maliciosamente.

– Vá chamar o Miles e se despedir. – o garoto disse com ar superior. – Ou você pode pegar as chaves.

Nem fodendo eu acordaria Miles. Fechei os olhos e puxei o elástico da calça de moletom do moreno. Pude sentir o corpo do garoto tremendo em uma risada silenciosa. Abri os olhos e encarei o olhar nervoso do moreno. Assim que ele percebeu que eu estava olhando deu um sorrisinho.

– Pegue. – ele sussurrou.

– Idiota.

Assim que eu escorreguei a mão para dentro da calça pude ouvir a voz de Miles. Com o susto acabei pegando onde não devia em busca da chave. Kyle mal se importou com o fato de eu estar tocando ele.

– Que diabos é isso? – O garoto perguntou indignado com o post-it ainda colado na cara.

– Olá, irmão. – Kyle sorriu. – Vou deixar vocês a sós.

– Kyle.

O garoto pegou a chave e jogou em direção a Miles que desviou com nojo.

Kyle subiu as escadas sorrindo satisfeito.

– Pode abrir a porta? – Perguntei.

– Usando a chave ou o pênis do meu irmão? – Miles perguntou sarcástico.

– Miles...

Miles caiu na gargalhada e Kyle desceu as escadas correndo.

– Quero meu dinheiro. – O moreno estendeu a mão. – Eu falei que eu conseguia. Desculpe, Leo.

– Você é um desgraçado. – Miles entregou uma nota de vinte para o outro ainda sorrindo. – Vamos tomar café.

Miles deu um pulinho para conseguir passar o braço pelo meu pescoço.

Não pude deixar de ficar irritado. Eu havia sido usado para uma aposta. Eu me sentia uma prostitua, Kyle era meu cliente e Miles meu cafetão. Bem, como Miles já havia dito, se nós estivéssemos na cadeia eu seria uma das vadias dele.

– Vocês tem alguma coisa para a dor de cabeça? – Perguntei.

– Cabeça? – Kyle pegou uma aspirina em uma das gavetas. – Tem certeza que a dor é só na cabeça?

Encarei o moreno.

– Por que você está assim? Tão feliz? – perguntei arqueando uma sobrancelha.

– Nada. – Kyle respondeu enchendo uma xicara de café.

xXx

A resposta da felicidade de Kyle chegou duas horas depois. Essa felicidade tinha nome e sobrenome, Carter Levesque. O pai dele. Carter tinha os mesmos cabelos negros e olhos verdes do filho. Parecia ser jovial e animado, coisas que o filho não havia herdado dele.

– Carter! – O garoto correu e deu um abraço apertado no seu pai.

– Kyle chama o pai dele pelo nome? – perguntei.

– Todos chamam. – Miles explicou. – Kyle morou por muitos anos com a mãe, ela não deixava que ele visse o pai. Quando Carter conseguiu o direito de visita e a guarda, Kyle já estava muito velho para se acostumar a chama-lo de pai.

– Olá Miles. – Carter deu um abraço no enteado. – E você quem é?

– Sou Leonard, amigo do Miles e do Kyle. – respondi.

– Meu amigo mais antigo. – Miles disse com tom superior.

Carter me deu um aperto de mão.

– Kyle, eu posso falar com você?

Miles e eu entendemos o recado e deixamos pai e filho sozinhos na sala. Voltei para o quarto acompanhado de Miles.

– Precisamos de um banho, vem. – O garoto sorriu me puxando pelo braço.

Encarei Miles.

– Não.

– Você já fez isso antes, qual é o problema? – Miles ergueu uma das sobrancelhas. – Vamos poupar tempo.

Ele era inacreditável. Havia me beijado, deixado marcas em mim, feito eu tocar o seu irmão e continuava agindo como se nada tivesse acontecido. Porém como a mente é sã e a carne é fraca eu acabei cedendo.

– Promete que não vai me tocar? – Perguntei. – E a água tem que estar fria.

– Ok. – ele revirou os olhos. – Água fria vai ser uma boa.

O que ele quis dizer com isso?

Entrei no box ao lado de Miles, que me mesmo tendo concordado com a água gelada continuava reclamando. Quando me virei para manda-lo calar a boca me deparei com um enorme par de olhos amarelados me olhando.

– Eu não posso te tocar, mas posso te olhar certo? – ele perguntou com um sorriso tímido.

– Você pode me olhar, mas não pode me tocar. – Eu disse superior.

Miles fez um bico e se virou para o outro lado.

A teoria de Miles que se tomássemos banho juntos pouparíamos tempo foi totalmente quebrada quando saímos do chuveiro e olhamos para o relógio. Já eram quase onze horas.

Kyle saiu do quarto carregando um par de malas.

– Que malas são essas? – Miles perguntou.

– Vou embora. – Kyle respondeu rabugento.

– Por quê? – Perguntei assustado, dentro de mim o sentimento de abandono começava a gritar novamente.

– Porque eu sou um filho da puta. – Kyle disse irritado. – E a puta conseguiu a guarda compartilhada.

– Kyle, não chame sua mãe assim. – Carter berrou do quarto.

– Não defenda ela, Carter. Tanta gente pra você engravidar e tinha que ser justo ela? – Kyle franziu a testa. – Eu não quero ir.

As lágrimas vieram de todos os lados – inclusive do meu.

Meu melhor amigo havia me abandonado uma vez, agora que eu havia feito outro ele também estava indo embora. Por mais que fosse por algum tempo, Kyle não estaria mais aqui, eu não teria ninguém para poder me apoiar e dizer “só vou se ele for” ou assistir filmes de terror.

– Você vai ficar com ela uma semana e com ele outra? – Perguntei.

– Ela mora longe, então eu vou ter que ficar seis meses lá e seis meses aqui – Ele secou as lágrimas. – Aquela vadia. A viagem não foi para negócios, foi para brigar pela minha guarda.

O moreno puxou Miles e eu para um abraço em grupo, que eu julgaria muito sentimental e com toda certeza detestaria fazer parte dele, mas se tratava de Kyle, e em poucos dias eu haviam ficado muito apegado a ele.

– Você faz dezoito em duas semanas, vai voltar, não é?

– Não sei se vou conseguir, mas assim que der eu entro em um avião e volto para casa.

– Vamos? – Carter chamou. – Acho que você vai querer passar na casa de uns amigos para se despedir.

– Não, isso só iria piorar as coisas para mim.

Pela primeira vez eu parei de pensar em mim e pensei em Miles. Talvez ele não tivesse se despedido para poupar a dor dele e não a minha. Por mais que esse seja um pensamento egoísta ao meu ponto de vista, obriga-lo a se despedir também era uma atitude egoísta vista pelo ponto de vista dele.


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