Por onde você andou, Miles Foxx? escrita por Lord


Capítulo 4
Miles, não sou um golfinho.


Notas iniciais do capítulo

Eu voltei e estou muito feliz pelo rendimento (mesmo que meio pequeno) da história.



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Assim que o horário do almoço chegou, Miles me obrigou a guardar minhas coisas e entrar no carro. O garoto parecia irritado e chateado. Não me respondia com mais de uma palavra e não me dava nem a mínima atenção, apenas dirigia. Querendo ou não aquilo estava me deixando ansioso e curioso.

– Podemos ligar o rádio? – Perguntei.

– Não.

– Vai me dizer onde vamos?

– Não.

Resolvi seguir o resto do caminho em silêncio. Miles estava como era antes, porém de uma forma também odiável. Talvez eu só estivesse magoado por ele ter se dado bem com outras pessoas, ou por ter mais amigos do que eu.

Kyle me mandou algumas mensagens perguntado onde eu estava, porém não me dei o trabalho de responder.

– Chegamos – Miles anunciou estacionando o carro em frente a uma grande estátua de leão.

– Você me tirou da escola para me trazer ao zoológico? – Perguntei intrigado.

– Como quando tínhamos nove anos. – o garoto disse saindo do carro. – Venha.

Segui Miles até a bilheteria, onde ele pagou nove reais por cada ingresso. Conforme fui crescendo passei a odiar zoológicos. Ninguém tinha o direito de retirar animais dos seus habitats naturais e trancá-los em jaulas. Por mais que os pobres animais fossem bem tratados aquilo era errado.

– Vem, quero te mostrar uma coisa.

Miles me arrastou até a parte de animais marinhos. Vários peixes e crustáceos ficavam expostos em grandes tanques. Aquilo era uma crueldade ainda maior, limitar quem tinha o oceano todo a poucos metros cúbicos de água salgada.

– Esses são Takan e Makun – Miles apontou para um grande tanque onde dois golfinhos nadavam tranquilamente. – Os dois nasceram em outro aquário, Makum chegou primeiro e depois de algum tempo Takan veio parar aqui. Mesmo tento ficado longe de Makum por um longo tempo, Takan continuo amando seu amigo sem julgá-lo por ter ido embora.

– Não sou um golfinho – reclamei.

Miles sorriu.

– Não, você não é.

Então eu sorri de volta e passei os braços pelo tronco do menor. Eu com todas certezas ainda o amava, ele era a melhor pessoa do mundo quando não estava ocupado sendo o tipo de pessoa que eu detestava. Miles tinha cheiro de limão, coisa que combinava com sua atual acidez, seu cabelo era macio e a pele gelada.

– Desculpe eu ter fodido tudo, eu devia ter te contado. – O garoto retribuiu o abraço. – Eu sou bom em foder as coisas, e geralmente não me importo, acho que se eu tivesse um lema seria “foda-se”.

– Foda-se – eu disse sorrindo.

– Foda-se – Miles disse mais alto.

– Foda-se – gritei.

Só então que eu percebi que não estávamos sozinhos. Uma mulher acompanhada com duas crianças pequenas nos encarava carrancuda.

– Desculpe.

Não houve resposta, a mulher simplesmente saiu arrastando as crianças e reclamando que os jovens andavam muito “mal-educados”.

– Eu te amo, Miles – eu disse largando-o.

– De uma maneira gay ou hétero? – Ele perguntou com o olhar ainda fixo nos golfinhos.

Dei uma gargalhada.

– Você não faz o meu tipo.

– Eu faço o tipo de todo mundo, eu sou Miles Foxx. – Miles sorriu convencido e começou a caminhar. – Ainda não aprendeu que é impossível não me amar?

Ficamos perambulando pelo zoológico por algum tempo. Descobri que os animas preferido de Miles eram as raposas e os corvos porque ambos eram inteligentes e independes, mas ele também gostava das baleias. Senti o meu pingente de baleia esfriar. Miles havia me dado aquilo no meu aniversário de nove anos e desde então eu nunca havia retirado. Ele possuía um pingente igual, mas eu não sabia se ele continuava usado ou não.

– Acho que temos que voltar – eu disse verificando o horário no celular, já estava quase na hora das aulas do período vespertino.

Caminhamos em silêncio até o carro. Eu estava levemente animado por ter melhorado a minha situação com o meu antigo melhor amigo. Miles também parecia, pois estava sorrindo mais que o comum.

– Estamos bem? – o garoto perguntou assim que bateu a porta do carro.

– Melhor do que antes – respondi. – Mas não estamos tão bem assim.

– Já é o bastante para você ir à festa? – Os olhos amarelados de Miles brilharam.

– Não, eu detesto festas – respondi.

– Se o Kyle for você vai, certo?

– Certo – confirmei.

– Então você vai – Miles deu um sorriso safado.

– Acho que Kyle não gosta de festas.

Eu só havia dito que só iria se Kyle fosse porque aparentemente ele não iria. Não consigo imaginar o moreno segurando um copo de bebida em uma festa cheia de gente estranha enquanto música pop/eletrônica invade o espaço.

– Ele realmente não gosta – Miles disse. – Mas eu posso dar um jeito de tirar ele de casa.

xXx

– Por onde você andaram? – Freya perguntou assim que atravessamos os portões da escola.

– Resolvemos algumas coisas – eu respondi.

– Depois você me conta como foi – a loira deu um beijo na bochecha do garoto e saiu correndo para a sua sala.

Kyle estava na mesma sala que Freya e era possível ver que ele não estava muito feliz com isso.

– É estranho como você e Kyle se dão bem – Miles comentou. – Geralmente ele leva muito tempo para socializar, e no mesmo dia que vocês se conheceram já foram para o quarto juntos, você é rápido.

– O que você está insinuando? – Perguntei.

– Vocês não se pegaram? – Miles perguntou confuso.

– Não.

O rosto do menor se iluminou.

– Enfim, Kyle não é muito sociável – Miles disse ainda sorrindo. – Foram precisos alguns meses para que ele falasse direito comigo, tomasse café comigo e coisas assim. Claro que deve ter sido estranho quando eu cheguei.

– Como você chegou?

– Estava chovendo muito no dia, já era madrugada e eu liguei para minha mãe de um telefone publico da rodoviária – Miles ficou sério. – Algum tempo depois meu padrasto chegou acompanhado do Kyle, minha mãe estava de plantão no dia. Eu fui para casa e tive que usar as roupas dele, já que as minhas estavam encharcadas. Acho que é estranho quando alguém chega na sua casa, rouba seu espaço e você é obrigado a chamar essa pessoa de irmão.

– Realmente deve ter sido estranho.

– Kyle me evitou por dias, porém ele aprendeu a me amar.

– Como você sabe que ele te ama? – arqueei as sobrancelhas.

–Eu só sei – Miles desviou o olhar. – Assim como você.

Fechei a cara.

– Foi no calor do momento – cruzei os braços. – Golfinhos amigos mechem com o meu psicológico.

Miles gargalhou.

– Como você sabia sobre os golfinhos?

– Talvez eu tenha inventado tudo – o garoto ficou tenso. – Eu seria capaz de escrever uma bíblia tentando te convencer a ficar de boa comigo.

O professor entrou na sala e cada um seguiu para o seu lugar. Enquanto ele explicava o conceito de probabilidades genéticas, completamente ignorado por mim, eu pude perceber que Miles realmente tinha razão.

Era impossível não amá-lo mesmo com toda a minha raiva por ele, isso porque ele era Miles Foxx.


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Notas finais do capítulo

E ai? Gostaram?



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