Por onde você andou, Miles Foxx? escrita por Lord


Capítulo 33
Bolha.


Notas iniciais do capítulo

Eu voltei, não me odeiem.



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É estranho estar em casa e tudo parecer diferente, até as coisas que permaneciam em seus devidos lugares. Como eu ainda estava com uma perna engessada, meu pai não quis arriscar deixar eu subir as escadas sozinho, então absolutamente todas as coisas do meu quarto foram parar em um quartinho menor que a minha mãe usava como “biblioteca”, mas era apenas um amontoado de livros, documentos e coisas que não tinham um lugar melhor para ir parar.

Talvez eu tenha me acostumado com o cheiro de hospital e com a comida sem gosto, mas de certa forma eu sentia falta do hospital, eu sentia falta de acordar no meio da noite com as pessoas correndo pelos corredores aos berros carregando os equipamentos para alguém que teve uma parada cardíaca. Eu sentia falta da atenção na medida exata, eu sentia falta dos comentários sarcásticos e ácidos de Kyle. Estranhamente eu sentia falta do Tommy.

Algumas vezes Miles vinha fazer uma visita, mas eram um pouco raras. Então ele decidiu comprar um casado que ficava gigante nele, usar por algumas horas e depois me dar o casaco. Um presente bem estranho, mas era o Miles e mesmo que eu quisesse esconder, eu não conseguia tirar o casaco.

— Você definitivamente tem que dar banho nessa gata. – Miles disse entrando no meu novo quarto. – Está usando o casaco, que lindo.

— Miles, eu mal consigo tomar banho sozinho, como vou dar banho na gata? – Perguntei.

— Você percebeu que está sendo muito passivo-agressivo? – Ele sentou na cama.

— Desculpe. – Falei meio sem jeito.

Provavelmente passar tanto tempo com Kyle tenha me deixado um pouco azedo, mas funcionava muito bem quando eu queria afastar as pessoas. Sofrer um acidente chama a atenção de pessoas indesejadas.

— Tudo bem. – Ele sorriu. – Você acha que consegue fazer?

— Fazer o que exatamente?

— Você sabe.

— Não, eu não sei. – Mordi o lábio inferior tentando segurar o riso.

— Sexo. – Miles corou.

Miles fucking Foxx corou e eu vivi pra ver aquilo.

— Acho que não. – Respondi sincero. – Não acho que seria uma boa ideia a gente tentar, se der errado eu vou ficar na vontade, você vai ficar na vontade...

— Eu estou na vontade faz muito tempo. – O moreno disse irritado. – Mas você está machucado, então eu vou deixar passar.

Dei um beijo demorado no garoto, do tipo que por algum motivo me lembra cookies saindo do forno, doce, quente e agradável. Depois de uma porção de beijos, mão-boba e provocações, decidimos parar.

Ficamos deitados conversando, nossa conversa se estendeu por uma centena de assuntos, nos lembramos das coisas que fazíamos quando erámos crianças, como foi o reencontro, as várias pessoas que passaram pelas nossas vidas. Então chegamos em Kyle.

— Ele está mudado, Leo. – Miles disse encarando o teto. – Meu irmão está literalmente quebrado.

— Não fale assim. – Tentei consolar. – Kyle vai ficar bem.

— Ontem eu fiquei deitado no chão do banheiro com ele por cerca de uma hora até ele perceber que eu estava ali. – A dor na voz dele podia ser sentida. – Não acho que deitar no chão faça a dor diminuir.

Não falei nada.

— Talvez no chão as coisas sejam mais tranquilas. – Miles falou.

Talvez. Vou deitar no chão na próxima vez que ele partir o meu coração, ver se a dor passa ou ver se as coisas só são mais tranquilas no chão. Não querendo ser pessimista, mas Miles magoa as pessoas sem perceber ou ele percebe e não liga.

Enquanto Miles falava eu acabei pegando no sono. Ele não podia me culpar e sabia disso, os remédios me davam sono e eu não podia me recusar a dormir no aconchego dele.

***

— Leonard Cage, bata na sua própria cara antes que eu mesmo bata.

Aquela voz. Aquela porcaria de voz que eu conheceria em qualquer lugar do mundo. Deus, de todas as pessoas que poderiam aparecer na minha casa e verificar como eu estava me sentindo, por que ele?

Primeiro eu pensei que estava sonhando e tentei me segurar em Miles, o meu Miles, mas então eu percebi que o garoto já não estava mais ali e eu estava completamente acordado.

— Marshall. – Sorri.

Marshall era só o meu lindo ex-namorado lindo, maravilhoso e atleta que eu acabei deixando quando tive que me mudar. Nunca mais falei com ele desde o nosso término, era complicado, eu ainda gostava um pouco dele, não o suficiente para abalar os meus sentimentos por Miles, mas o suficiente para causar. De certa forma, Marshall adorava causar um pouco.

— Como você quase morre e eu tenho que ficar sabendo pelo seu pai? – Ele pergunta surpreso.

Marshall era completamente diferente de Miles. Miles era um garoto pequeno, ácido, algumas vezes malvado e geralmente pensava apenas nele mesmo, Miles era uma pequena serpente do deserto, mas isso não me fazia desgostar dele, pelo contrário. Marshall era um atleta doce e gentil, tinha muitos amigos e era popular por seu talento em campo e tocando guitarra. Seu cabelo castanho estava cortado em estilo militar. Ele parecia ter crescido um pouco desde a ultima vez que eu vi ele.

— Desculpe. – Sorri. – Mas eu estou me sentindo melhor agora. Foi bem legal da sua parte se preocupar comigo.

— Você ainda é o meu garotinho. – Ele sentou na cama. – Mesmo nós não estando mais juntos, mas mesmo assim eu tenho uma consideração enorme por você.

— Eu senti a sua falta. – Falei.

Aquilo era verdade. Eu tinha Miles, Kyle e não era muito difícil eu conseguir outra pessoa para me satisfazer, mas eu realmente gostava de Marshall e não vai ser em um ou dois dias que eu vou esquecer o garoto completamente.

— Eu também senti. – O moreno sorriu. – Tem certeza que está tudo bem?

— Tenho. – Respondi sorrindo por já saber o que estava por vir.

— Absoluta? – ele se deitou ao meu lado.

— Absoluta. – Me aproximei.

— Mesmo? – Cada vez mais próximo.

— Mesmo.

Não sei direito o que aconteceu, mas eu acabei beijando Marshall. Foi como o nosso primeiro beijo, quente e de tirar o ar.

— Isso está errado. – Marshall disse se afastando.

— Também acho. – Falei ofegante. – Errar é humano.

Marshall deu de ombros antes que eu puxasse ele para outro beijo. Eu gostava de Marshall, gostava muito mesmo, porém eu amava o Miles, mas estar com Marshall era como estar em uma bolha de segurança, coisas concretas e carinho. E estar com Miles era como estar dentro de uma caixa de brinquedos quebrados, eu nunca sabia o que podia acontecer, eu nunca sabia se era real ou não, e bem, Miles praticamente me empurrou da escada.

— Você quer? – Perguntei.

— Mas e a sua perna? – Marshall perguntou com a respiração pesada.

— Eu vou ficar bem.


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