Nove Meses escrita por Teddie


Capítulo 1
Desengravidar


Notas iniciais do capítulo

Bem, aqui estou eu com mais uma fanfic de Austin&Ally, espero que gostem!



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Passei a mão pelos meus cabelos, tentando me convencer que era estupidez eu estar dentro desse banheiro fedido fazendo o que eu iria fazer.

O cubículo era apertado, escuro, sujo e fedorento; também não tinha trancas, o que me fazia apoiar uma das mãos na porta para segurá-la no lugar, a outra estava arrancando os fios do meu cabelo.

E o teste.

O teste estava sendo segurado pelos meus lábios. Lábios trêmulos de nervoso, já desconfiando do resultado do teste.

Então com cuidado, eu consigo segurar a porta, não sentar no vaso, não encostar nas paredes, abrir o pacote, e fazer o teste.

Saí do compartimento sem olhar para trás. O teste pronto, com dois riscos rosa, ficara jogado na lixeira entupida de papel higiênico.

Meus passos pelo meio fio das ruas de Miami são lentos, trêmulos. O sol do inverno é fraco, e eu sinto tanto frio que dói, mas não é por causa da temperatura – nunca faz frio em Miami, ou quase nunca; é por causa de mim.

Eu estou congelando por dentro. Na verdade, queria congelar de verdade, todos os meus problemas se resolveriam se eu pudesse congelar para sempre e talvez, só talvez, ser descongelada por alguns daqueles cientistas do futuro dotados de tecnologias maravilhosas.

Ok, Ally, não é hora para devanear.

A questão era: eu estava apavorada. A ideia de que minha vida mudaria para sempre assusta tanto que eu não consigo pensar direito.

Antes que eu pudesse prever, meus passos lentos viram passadas rápidas, e eu começo a correr. As lágrimas já começaram a me molhar, e eu não tinha noção de para onde eu estava indo, até chegar em frente a casa com cerca branca. Ela era pintada de um azul fraco e desbotado, e tinha dois andares, mas não era grande como parecia. A casa da Trish.

Toquei a companhia ainda hesitante, e JJ, irmão de Trish, atendeu.

– E ai, Ally? – ele ainda estava usando o uniforme dos escoteiros. Trish trabalhara como instrutora semana passada. Ele me olhou assustado, provavelmente meu rosto deveria estar vermelho e sujo de maquiagem, por causa das lágrimas.

Mas na semana passada ela também trabalhou na loja de fantasias, na lanchonete do Bill, e na loja de pranchas do Billl, com três L mesmo.

– Oi JJ, Trish está?

– Patrícia, Ally esta aqui.

Na casa de Trish, eles tinham essa regra de só falar espanhol, para manter a origem deles viva. Achava aquilo a coisa mais legal do mundo. Passei um mês aqui e adquiri fluência. Foram bons dias.

Agora posso denominar minha vida em duas etapas: antes do Grande Desastre, e depois do Grande Desastre.

A maioria dos eventos relatados aqui se passarão depois do Grande Desastre, só para constar.

– Ya voy, idiota. – Trish grita do andar de cima. Sempre delicada.

Logo a menina baixinha, gordinha e de cabelos encaracolados desce da escada. Hoje ela estava usando um colete de oncinha por cima de uma blusa rosa: Trish sempre amou essas duas coisas, rosa e estampa animal.

Ela reparou em meu rosto vermelho e sujo de maquiagem, e correu em minha direção, empurrando JJ e me abraçando. Voltei a chorar na hora, nunca me senti tão consolada em toda minha vida. Ela me puxou para o quarto dela, que era branco, com uma parede vermelha cheia de fotos e pôsteres de novelas mexicanas. Sua cama de dossel era coberta com uma manta de zebra, que combinava com a poltrona de mix de estampas.

Eu ainda chorava quando ela se sentou comigo, ainda sem dizer uma palavra. Trish não era uma amiga muito carinhosa, mas sempre soube o ser nas horas certas. Como essa.

– Que ha pasado? – ela bateu a mão na própria testa e eu sorri levemente pelo espanhol usado O que aconteceu, Ally? Dallas fez alguma coisa com você?

Sem forças, assenti brevemente e passei a mão pela minha barriga.

Trish arregalou os olhos, e isso me fez soluçar mais ainda. Eu estava desesperada. Ela me abraçou com força, e logo sua blusa toda estava molhada com minhas lágrimas. Era a blusa favorita de Trish, e eu estava a estragando toda.

Eu só fazia burrada mesmo.

Como isso aconteceu, Ally? – perguntou. Funguei, secando as lágrimas que ainda restavam.

– Acho que sabemos como isso aconteceu Trish – fui irônica, e ela me olhou chateada – Desculpa, é que eu não sei o que fazer! Isso vai mudar minha vida completamente. Eu sou muito nova para isso, Trish!

– Acalme-se, Ally. Eu já li em algum lugar que estresse faz mal para o – coloquei as mãos em seus lábios, impedindo-a de falar.

– Não fale – levantei de sua cama e passei a andar de um lado para o outro – Se você não falar, talvez signifique que não seja real.

– Ally, você não vai desengravidar – sibilei para que calasse a boca – Ou algo assim só por não falar da gravidez – sibilei de novo – Pare com isso! Eu entendo que esteja assustada, mas é algo que você tem que lidar.

Caí sentada no chão, recomeçando a chorar.

Eu não era chorona, longe disso. Desde que minha mãe foi embora para a África, dez anos atrás, eu não chorara. Eu não podia chorar, isso é demonstrar fraqueza, e eu não sou fraca.

Pelo menos até agora.

Decidi, por fim, que chorar na casa de Trish não ajudaria em nada, eu só pioraria mais ainda minha situação.

– Eu já vou indo, Trish. Chorar não vai me fazer desengravidar – zombei. – Preciso resolver essa situação o mais rápido possível.

– O que pretende fazer, Ally? Eu estou preocupada com você – falou.

Respirei fundo. Eu não fazia ideia do que eu faria, a não ser, parar de chorar e pensar em como não ser uma mãe aos dezessete anos.

Passei no banheiro da minha melhor amiga, tentando melhorar meu rosto, sem conseguir resultados muito bons. Minha face estava inchada e meus olhos vermelhos de tanto chorar. Meu cabelo estava um ninho, para completar.

Ajeitei-me do modo que eu consegui, prendendo os cabelos em um coque.

– Eu não sei, Trish – respondo quando saio do banheiro – Não faço a menor ideia.

Abracei a latina, e me dirigi a saída da casa. O vento estava mais frio, e batia em meu rosto uma brisa gelada que congelava meu nariz. Tudo estava dando errado para mim.

A noite caía, mas eu não sentia a menor vontade de voltar para casa. Meu pai estaria lá, e comentaria feliz sobre a Julliard, onde eu conseguira bolsa para estudar música no semestre seguinte, após minha formatura.

Era a realização de todos os meus sonhos, e tudo estava indo por água abaixo por causa da minha estupidez.

Andei sem rumo, até ver que tinha chegado à praia. Eu nunca fora muito fã de praia quando era menor, mas vir a praia a noite era tranqüilizante. O movimento era quase nenhum, e apenas existia o barulho das ondas batendo contra a areia. Era um pouco de paz para a confusão em qual meu cérebro se encontrava.

Dallas era um namorado muito doce e gentil. Respeitava-me, era inteligente e engraçado, e iria para a NYU, se fosse aprovado, para podermos ficar juntos.

Conhecemo-nos no baile de boas-vindas, ele estudava em outra escola, mas fora para acompanhar a irmã dele, que era novata e não conseguira um par. Eu estava sozinha também, porque ninguém no Marino além de Trish falava comigo, se não fosse para zoar, é claro.

Ele puxou assunto comigo, e dançamos, e rimos, e quando o baile acabou, ele me chamou para sair. Alguns encontros depois e uma transferência de escola, tínhamos engatado um namoro.

Fora a primeira vez dos dois, depois dos nossos seis meses de namoro, e foi tão especial, tão bonita, ele foi tão atencioso.

Claro que tínhamos que ter esquecido alguma coisa. A coisa mais importante de todas.

– Eu sou uma estúpida mesmo – passei a mãos pelo cabelo com fúria, desfazendo o coque. O vento fazia meu cabelo ir para todas as direções, mas eu sinceramente não me importava.

– Vou ter que concordar, Dawson. – pulei de susto coma voz masculina, e ao mesmo tempo, sentindo toda a ira divina me assolar novamente.

Não, Deus, sei que cometi um erro, que eu pequei feio, mas ele não. Tudo menos Austin Moon.

– Miami não é uma cidade tão pequena, Moon. Não tinha como ir para qualquer outro lugar?

Ele se sentou ao meu lado, abraçando os joelhos, exatamente como eu estava.

Austin Moon era o tipo de pessoa que eu mais repugnava no mundo. Capitão do time de basquete, exibido, popular, e tem um prazer estranho em ser mau com quem ele não vai com a cara. E claro, ele é abusado. No nosso primeiro ano, eu me recusei a fazer o trabalho dele de geografia, e desde então ele vem infernizando a minha vida!

E os amigos irritantes dele, seguindo a onda, implicam também. Quando Dallas chegou no Marino, as piadas diminuíram, mas Austin continuou. Ele tinha prazer em me ver para baixo. Era a pessoa mais mesquinha que existia no mundo.

– Gosto de andar pela praia à noite, e gosto de irritar você. Por que eu gostaria de estar em qualquer outro lugar?

Sacudi a cabeça em negativa, não acreditando no que aquele cretino estava dizendo. Hoje não, por favor, Deus! Meu dia já estava ruim o suficiente sem Austin Moon me infernizando.

Estávamos no recesso, e a melhor parte disso era não ter que olhar para cara de Austin. E em tantos dias para encontrá-lo, tinha que ser justamente no pior de todos.

Obrigada, universo!

– Por favor, Austin, não estou no clima para suas brincadeiras imbecis.

Ele notou meu tom de voz, e me olhou sério, e eu o encarei. A luz da lua estava forte, e era a única coisa que nos iluminava. Austin era bonito, não tinha como negar, mas toda a estupidez dele eclipsava qualquer outro tipo de coisa.

– Então, Ally, onde está o seu namoradinho?

Sacudi a cabeça de novo, encostando-a nos meus joelhos. Trazer Dallas a tona trouxe também todas as lembranças que eu queria excluir da minha vida.

Como ele reagiria ao saber? Eu deveria contar? Ele me odiaria! Eu estou me odiando.

– Austin, por favor, se vai ficar aqui, pelo menos cale a boca – minha voz estava embargada, e ele notou. Olhava-me indagador e, pasmem, preocupado.

– Ally, o que aconteceu?

Minhas lágrimas recomeçaram com força, e eu não conseguia fazer nada além de soluçar.

Eu via toda a minha vida ruir e se esfarelar em meus dedos. O colégio, minha família, meu namorado, Julliard. Tudo estava dando errado por uma droga de erro. Um erro meu.

– Eu estou grávida, Austin. Isso aconteceu – ele arregalou os olhos, mas não disse nada.

Voltei a chorar, mas cobrindo meu rosto com as minhas mãos. Austin Moon me vendo chorar era a última coisa que eu queria na minha vida.

Surpreendentemente, sinto seus braços me rodearem e meu rosto repousar em seu peito. Não agüentado mais, rodeei meus braços em torno da contra de Austin, e me permiti chorar mais.

– Ally, se alguém souber que eu te abracei, eu nego até a morte.

Soltei um riso esganiçado por causa das lágrimas, e me apertei mais contra ele.

– Como se eu quisesse que alguém soubesse que eu te abracei. Eca.

Foi a vez dele rir e me apertar. Era o que eu precisava, mesmo que fosse vindo de Austin Moon.

Ficamos em silêncio um tempo, até que eu me recuperasse. Funguei, me soltando de Austin, e limpando os resquícios de lágrimas que sobraram.

– Ei, Ally, vai dar tudo certo. – e sorriu para mim. Foi o primeiro sorriso dele que eu vi que não era zombeteiro ou implicante.

Eu esperava que desse. Do fundo do meu coração.

Talvez eu estivesse mentindo quando disse que me sentira mais confortada que nunca na casa de Trish. Porque agora, e com o ser mais irritante e detestável de Miami, eu me sentia em paz.

Eu sentia como se pudesse passar por qualquer situação.

Que esquisito que isso tenha acontecido justo com o panaca do Austin Moon.


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Notas finais do capítulo

O que acharam? Opinem, reclamem, sugiram. Enfim, comentem!