Rumo ao Leste escrita por Trezee


Capítulo 1
O amanhecer de um novo dia




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/61105/chapter/1

Acordei cedo. Na verdade eu não conseguia mais dormir. Penso que meu despertador nunca havia tocado tão cedo em uma manhã de sábado, mas tudo tinha uma primeira vez. Só bastava encontrar um motivo especial. E esse, sem dívidas, era mais do que especial.
Já era tradição na família, todo filho homem ingressar na marinha de Verópolis. Meu bisavô, avô e pai. Todos tiveram essa incrível honra e agora havia chegado minha vez de fazer um sonho se tornar real.
Arrumei tudo bem rápido e com um abraço apertado, vi os olhos da minha mãe se encherem de lágrimas e os da pequena Kiwi sorrirem para mim. Eu as deixaria, mãe e uma irmã ainda bebê, mas jamais elas sairiam da minha mente, pensaria nelas a cada segundo que eu estivesse viajando. Minha família.
Mas não estavam todos ali. Meu pai, comandante Hoipky, esperava-me no porto. Ele estava extremamente orgulhoso e eu, extremamente nervoso, com medo de fazer alguma coisa de errado.
Com um pouco de sorte e azar ao mesmo tempo, eu logo estaria a bordo de um navio, porém, justamente agora, na minha vez de entrar para a marinha, Verópolis estava em guerra. E, ah... Como eu adoraria entrar em um combate! Porém essa ideia se ofusca a cada vez que me lembro da minha família e como ela ficaria se algo de ruim acontecesse comigo. Mas a vida é minha, os desejos são meus e as consequência, bem, alguém tem quem arcar com elas...
Logo avistei meu pai, todo uniformizado e com um bigode gigante. Eu não o via há um mês. Era essa a vida de um marinheiro de Neopia. Nós nos despedimos sem muitos exageros, ele não podia perder sua formalidade e isso me doeu um pouco. Porém, agora eu estava suficientemente crescido para entender que a fase dos longos abraços ficara para trás...
- Terick! – ouvi meu pai dizer quando eu já estava a caminho do navio. – O vento sopra para o leste. É sinal que tudo vai dar certo...
Encarei-o pela última vez enquanto subia por uma pegena rampa de madeira, que ligava meu passado com meu futuro. Os grandes letreiros estampavam na borda:"Carolina do Oeste". Senti que ali seria minha nova casa, minha segunda família por bons tempos.
Enfileirados tivemos que ficar por quase duas horas enquanto os oficiais passavam de um a um recolhendo o registro. Fiz amizade com um cara franzinho que se encontrava ao meu lado. Percy, como ele se apresentou, não estava se sentindo muito a vontade no navio. Achei graça um marinheiro sentir enjôos, mas não pude rir disto. Eu não tinha esta permissão.
- E você, quem é? – perguntou um superior bem na frente do meu nariz enquanto eu ainda estava distraido.
- Hoipky, Terick Hoipky. – murmurei.
- Hoipky? Você é um Hoipky? – exclamou o superior, olhando desconfiado para mim.
- Sou... – respondi sem reação.
Ele fixou seus olhinhos opacos nos meus e anotou algo em uma pranchetinha que levava embaixo do braço.
- Muito bem, senhor Hoipky. Seu alojamento é no convés 3. E o senhor... – disse olhando para Percy.
- Numotis, Percy Numotis. – disse se apresentando.
- Bem, o senhor pode acompanhar o Sr. Hoipky no convés 3.
Fomos então arrumar a pequena trouxa que nos permitiam carregar. Não demorou praticamente nada para o convés já estar ajeitado e menos ainda para o dia dar espaço para a noite.
Era nossa noite de descascar batatas. Eu achava isso um trabalho totalmente inútil para jovens marinheiros tão dispostos como nós. Mas foi ali, naquela cozinha, que consegui conhecer Percy tão bem, que senti como se fossemos amigos de longuíssima data. Em uma única noite...
Antes de nos recolhermos, fomos avisados pelo capitão do navio, o Sr. Coodiky, que o dia seguinte poderia ser um dos piores, mesmo sendo apenas o segundo dia da tripulação. Então seria de extrema necessidade todos nós estarmos com os corações a mil, para enfrentarmos algo que não tínhamos ao menos a noção de que capacidade teria. O capitão fez questão de manter essa informação em segredo.
Custei algum tempo rolando de um lado para outro tentando dormir sobre o colchão duro que pinicava minhas entranhas. Mas esse não era o principal motivo da minha insônia. Um misto de medo, ansiedade, pavor e um frenesi incontrolável, tomavam conta da minha mente, que relutou bastante, mas que deixou, pelo menos por um instante, ser levada pelo sono.
Acordei com um pouco de dor de cabeça. O Sol forte já entrava pelas frestas da pequena janela em círculo. Precisei de muita força para conseguir tirar Percy da cama, parecia que ele estava grudado ali.
Apresentamos-nos aos restantes e com muito pesar, o capitão nos informou que o dia seria realmente duro e que teríamos possivelmente a chance de provar, ainda que tão cedo, que serviríamos Verópolis...Até a morte.
Esse comunicado gelou, sem dúvidas, as espinhas de todos nós. Olhei para o rosto de cada um e vi quanta vida ainda estava presente ali. Fechei os olhos e deixei que a brisa batesse no meu corpo, para que eu pudesse aproveitar ao máximo esse meu maior momento.
Não sei se as horas demoraram a passar porque a ansiedade era muito grande, ou então, porque elas tinham que passar devagar mesmo. Só sei que eu e todos os outros ficamos de vigia, prontos e a espera de algo que iria acontecer a qualquer momento.
Já estava quase para anoitecer e nada, nenhum sinal de ataque ou coisa do tipo. Estávamos com fome, cansados e até mesmo zonzos de tanto olhar para a imensidão azul e não ver nada além de um horizonte, que teimava em continuar tranquilo. Olhei para o lado e pude perceber o olhar acabado que cada marinheiro tinha nos olhos. Era necessário que nos recuperássemos.
Foi então que o capitão veio correndo até nós, que torrávamos embaixo do Sol poente.
- Ouçam todos! Acabamos de receber informações da base. Alarme falso, não corremos risco de ataque por hoje, os informantes infiltrados nos passaram novas coordenadas. – anunciou. - Rumo ao Noroeste!
Ninguém chiou. Apenas porque ninguém podia chiar, senão seria castigado. Fui me arrastando até algum lugar onde pudesse comer e beber água. Senti uma brusca virara do navio, tudo balançou e eu tive que ser muito ágil para não deixar que o meu prato escorregasse da mesa.
Quando terminei, o crepúsculo já havia tomado todo o ambiente. Resolvi ir para fora, tomar um ar. Vi Percy debruçado em um mastro caído. Pensei em ir falar com ele, mas no meio do meu trajeto, avistei uma coisinha brilhante no chão. Era uma argolinha dourada, talvez de ouro. Achei perfeita para um brinco improvisado. Por mais que essa fosse a marca registrada de um pirata, eu não seria expulso da marinha se o usasse, seria?
Nesse pequeno tempo que me agachei para pegar a argolinha reluzente, ouvi um tremendo estrondo. Fiquei de pé em um pulo.
- Terick! CORRE!!!
Percy gritou tão rápido quanto passou correndo pelo meu lado. Eu não estava entendendo nada. Custou um pouco para meus olhos caírem na realidade do que se passava, foi então que avistei no horizonte uma grande explosão. Era o "Carolina do Leste" que voava pelos ares em pequenos pedaços de madeira e ferro. Só então tudo se tornou extremamente claro na minha cabeça. Pude sem dúvidas compreender porque todos estavam aos berros e se lançando ao mar por todas as brechas que encontrava no navio. O Carolina do Leste fazia parte da nossa frota e agora estava destruído. Alguém o destruíra e com certeza tinha um bom motivo. Tão bom que não pouparia esforços para usar a mesma desculpa para destruir também o Carolina do Oeste. Meu navio.
Demorei tanto tempo para chegar a essa conclusão óbvia, que quando tentei me mover para qualquer lado, para qualquer tentativa desesperada de fuga, não fui capaz. Faltou-me a vez. Um clarão imenso invadiu meus olhos aos poucos e nada mais eu conseguia ver. Sem dúvidas foi a pior sensação que eu já havia sentido nos meus 19 anos. E estava acontecendo bem ali, naquela tarde de domingo. Já era quase noite...

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Comentem, por favor...
Gostando ou não!
Hã!
hauahauhauahua



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Rumo ao Leste" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.