Lembro-me como se fosse ontem, eu ria de suas piadas, sempre te olhando, apenas de longe, e você nunca me via. Quanto tempo se passou assim? Meses. Tinha sua amizade, nada demais, apenas a amiga de seus irmãos, a esquisita, que você às vezes falava, às vezes não, mas isso não me impedia de te olhar a cada segundo, me preocupar com você, pensar no que estava te incomodando toda vez que ficava serio sem motivo aparente.

Lembro-me quando você finalmente entendeu meus sentimentos, não sozinho é claro, com a ajuda dos amigos. O modo como me olhou, como um problema que devia ser resolvido, aquilo que você simplesmente não queria no momento, a pedra no seu sapato. Você disse que precisa de um tempo pra pensar, me agarrei firmemente a essa esperança, apenas me iludindo, desesperada por uma ação sua, que nunca vinha. Tínhamos um trabalho escolar para fazermos juntos, vi que cada segundo te incomodava, que você queria manter uma distancia segura, apenas colegas, só colegas, e isso se tornou minha tortura, vendo que você só estava ali por obrigação, até que me cansei e decidi te esquecer.

Lembro-me quando meu leal amigo se declarou para mim, algo que jamais esperava, fiquei tão surpresa quanto todos os outros, mas se me perguntar no que pensei no momento, direi que analisei todas as possibilidades, procurando a melhor decisão, mas sendo sincera comigo mesma, falarei em todas as palavras que só pensava em você, no que você pensaria de mim, e como você reagiria a isso. Dei a ele uma resposta gentil, pelo menos assim que vi, disse que era o melhor para todos, mas na verdade, era o melhor pra ele, não poderia ficar com alguém, quando meus pensamentos estavam em você, todos os dias decidia te esquecer, todos os dias desistia.

Lembro-me de sua reação à declaração, seu choque, depois seu silencio, você nunca tocou no assunto, mas vi seus olhos tristes e pensativos, me olhando como se estivesse diferente, como se fosse algo a se notar, mas logo as esperanças morreram de novo, você voltou a ser como antes, não me evitando, mas me tratando apenas como a amiga de seus irmãos, a esquisita, que ás vezes falava, ás vezes não. E mesmo assim te olhava, me importava, me machucava.

Lembro-me quando cansei de tudo e de todos, não queria me machucar mais e mais, era a hora de te esquecer completamente. A tristeza me acompanhou, tão triste, que esqueci a realidade, e me perdi em minha mente, você perguntou como eu estava e respondi que tudo estava bem, então virei para o lado e comecei a chorar, não exatamente por você, mas por minha tristeza. Uma amiga foi me consolar e com ela desabafei, não eu palavras, mas em lagrimas, e depois fui embora, mas antes de ir, vi seu rosto, sua expressão, tão serio, tão preocupado, mas não me importei, resolvi ficar longe de você.

Lembro-me quando você veio atrás de mim, se aproximou, se tornou um amigo. Não queria ficar perto de você, mas não resisti, sua conversa é envolvente, suas piadas me divertem, era impossível ficar longe de você, mas me contive, quis só sua amizade, era o suficiente no momento. Aproximamos-nos de forma impressionante, riamos juntos, brincávamos, conversávamos, eu era tão feliz, apenas por te ver feliz, cada vez te admirava mais, a gravidade me levava a você. Simplesmente gostar não era o suficiente, me apaixonei sem perceber, me apaixonei ao tentar te esquecer.

Lembro-me da primeira vez que você segurou minha mão. Você implicou comigo, não me deixava estudar, apagava tudo o que escrevia, então você me deixou em paz, mas sutilmente foi aproximando sua mão da minha, até entrelaçar nossos dedos. Nenhuma palavra foi dita, nós permanecemos assim por um bom tempo, fingindo que não era nada demais, tentando dar atenção a outras coisas, mas o sentimento que aquele simples gesto me causou é impossível de descrever, a esperança se acendeu como uma chama que jamais poderia se apagar. Naquele gesto vi que você me notou, que você também sentia, vi que nunca te esqueceria, nem em mil vidas.

Lembro-me quando você se declarou, rolou um empurrãozinho dos amigos, mas não me importei, você me encontrou sozinha e disse as exatas palavras “sabe que eu gosto de você, né?” e minha simples resposta “sei”, pode ter te surpreendido, talvez você não esperasse por isso, mas vi a felicidade em seu olhar, e a timidez. Não sabíamos exatamente como nos comportar, mas passamos a andar de mãos dadas, e toda vez que víamos nosso reflexo em algum abjeto, você dizia “que casal bonito”. Meu sorriso era tão grande e constante, que as minhas bochechas doíam, não que me importasse, era maravilhoso, passava o dia pensando em você, e toda vez que te olhava, você me olhava de volta, alegria era o meu nome do meio.

Lembro-me quando você finalmente me beijou. Estávamos conversando com nossos amigos, então eles se afastaram e assim que ficamos sozinhos, você se aproximou de mim e selou nossos lábios. Que beijo. Esse foi um dos melhores momentos da minha vida, te beijar parecia ser a coisa mais certa do mundo, algo tão maravilhoso e natural que não sabia como vivi sem isso antes. Quase explodi de tanta felicidade, finalmente, depois de tanta tristeza, deu certo, era oficial, estávamos juntos, queria que o mundo soubesse disso, nada poderia tirar a minha felicidade, absolutamente nada.

Lembro-me quando senti medo da chuva, meu eterno pânico, te liguei no meio da noite, chorando, desesperada,e você, mesmo achando meu medo bobo, me acalmou por uns minutos e voltou a dormir, me deixando sozinha. Senti raiva, muita raiva, mas entendi que você estava cansado, superei meu pânico, sozinha, pelo menos aquela noite. Depois você entendeu meu medo e nunca mais me deixou só, me acalmando a cada surto, me fazendo lembrar que não precisava ter medo, pois não estava sozinha, você estava comigo.

Lembro-me da nossa primeira grande briga, foi por ciúmes. Um cara me cantou e te contei, como uma brincadeira, não sei o por que. Você ficou tão bravo comigo, que me assustei, tão frio, falando coisas que me machucavam, sem nem medir suas palavras. Como chorei, chorei até não ter mais lagrimas, chorei como se minha vida dependesse disso, você havia me magoado de uma forma que parecia impossível. Depois de dois dias estávamos bem, se superamos isso, poderíamos superar tudo.

Lembro-me como fui feliz a seu lado, cada beijo, cada abraço, cada carinho, cada briga, cada crise, cada medo, nós podemos ter vários defeitos, mas aquele tempo foi perfeito. Você me fazia tão bem, e eu vi meu efeito sobre você, feliz, isso define. Então os problemas começaram, mortes por todos os lados, o mundo se tornou perigoso, mas não tinha medo, pois tinha você, minha esperança de que o mundo seria um lugar melhor.

Lembro-me quando a guerra chegou ao seu auge, nossos aliados morriam, amigos fugiam, e mesmo assim você me disse que tudo estaria bem, mas então tivemos que nos separar, fui para a caça as horcrux com o Harry e você ficou para proteger sua família. Tentei ser forte, mostrar que sou forte, meu amigos precisavam de mim, mas a cada segundo morria, morria por pensar que algo de ruim poderia acontecer a qualquer hora com você, morria ao pensar que poderia nunca mais te ver, morria ao pensar que talvez eu não voltasse e nunca iria me despedir de você. A agonia me acompanhou a cada instante, até que eu te vi, em meio da batalha, vi seu sorriso, me dando força, e então o pior aconteceu.

Todas essas lembranças me trouxeram até aqui, onde as vejo passaram diante de meus olhos.

Levaram você de mim, e eu não sei o que fazer, apenas chorar, não consigo me mover. A maldita parede caiu em cima de você e eu não pude te salvar, me desculpe Fred, eu não pude.

Estou morrendo, estou morrendo e não posso evitar, a dor é insuportável, eu preciso de você pra me acalmar, preciso segurar sua mão, mas você não esta aqui, por favor, fica comigo, não me deixe...

–Hermione, vamos...

Alguém me rebocou, não me importei em olhar quem, minha vida estava destruída, e não posso fazer nada, absolutamente nada. Você quebrou sua promessa, disse que nunca ia me deixar, e é exatamente isso que esta fazendo, acreditei em você, e você essa me abandonado. Sinto raiva de você, sinto raiva da parede, sinto raiva da estúpida guerra que nos separou.

Madame Pomfrey fazia algo com o seu corpo, mas não quis olhar, nunca pensei que chegaria o dia que não fosse querer te olhar, mas esse dia chegou, não posso suportar te ver assim.

–Tragam uma maca, rápido!

Eles te levaram, não sei pra onde, você, mais uma vez, foi levado de mim.

A guerra acabou, todos estavam comemorando. Pra mim a guerra apenas começou, lutar para viver sem você vai ser a coisa mais difícil que vou fazer.

–Hermione, precisamos conversar...

Então uma pequena faísca de esperança se acendeu. Não era o fim, você estava vivo, por um fio de vida, no qual você, meu forte guerreiro, se agarrou. Lute por nossas vidas, pois se você se for, não viverei, apenas existirei.

Dias se passaram, você não acordava, a incerteza me consumia, realmente não sei qual foi a ultima vez que dormi de verdade. A cada segundo possível estou aqui com você, esperando um mínimo sinal, qualquer um, de que você vai voltar. Voltamos na nossa historia, aqui estou eu, te olhando, me preocupando, me machucando, e você distante.

Desisti de esperar o melhor, é impossível manter a pequena chama de esperança viva, é difícil demais, tem dor demais, apenas esperei o pior. Então você, como sempre, ama me surpreender, quando estava me despedindo, pronta para te deixar, você aproxima sua mão da minha e entrelaça nossos dedos, como a primeira vez. Não foram necessárias palavras, apenas ver seus olhos abertos, me olhando confuso, mas sorrindo, com aquele sorriso que tanto amo, o sorriso pelo qual me apaixonei.

Eu morri Fred, morri mil vidas ao te ver, e vivi, vivi como ninguém viveu.

Quando os momentos difíceis voltarem, não sentirei medo, pois a lembrança do seu olhar nesse momento, do seu sorriso, vão me acompanhar a vida inteira. Agora estou segura, agora minha luz voltou, estou com você.

Leiam as notas finais!!!