Alguém tem algo a esconder escrita por Violet


Capítulo 7
Rainha da Noite


Notas iniciais do capítulo

- Tem personagem novo? Teeeeem!
— O título do capítulo é referente a Mozart!

Boa leitura :*



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A manhã despiu-se à volta de Ana. Um raio de sol alaranjado pareceu espreguiçar-se envolta da cortina, no balançar da brisa calma. Uma esperança qualquer fazia morada em seu coração, quis acreditar que tudo ficaria bem, um leve sentimento que farfalhava, ignorando tudo que ela havia vivido, usava-o como anestésico. Contornando os altos relevos das veias da mão esquerda de Vitor, notou o tic tac do relógio de parede. Ana não dormiu, não comeu, não sabia o que fazer. Tudo estava tão quente, mas lhe causava frio. O paradoxo das fatalidades lhe consumia. Ajeitando-se na cadeira de plástico, ausente de conforto, espreguiçou-se. O silêncio fúnebre do hospital deixava seus pensamentos como verdadeiros gritos projetados por um amplificador em sua mente. Respirou fundo, buscando o máximo que podia do ar que pairava de uma manhã levemente calma. Calma lá fora. Segurou a mão de Vitor, carinhosamente forte. Depois que ele chegou no quarto, não o soltou. Temia, temia pelo pior. Sua garganta parecia arranhar só de imaginar pronunciar que as coisas teriam tomado um rumo negativo. Como tudo poderia divergir, abrir veredas pequenas e tão devastadoras? Não sabia. Não queria ver desaparecer o sol dos olhos e do sorriso dele. Mas pedia aos céus com toda humildade pra que alguém ouvisse e tirasse os dois dessa.

O médico entrou no quarto:

– Bom dia, Ana. Não vou perguntar como passou a noite, sei que está sendo bastante difícil pra você segurar tudo sozinha. - Ele disse encarando-a com compaixão.

– Bom dia, Dr. James. Tudo bem. Obrigada. Vou precisar sair agora? - Ela disse ainda segurando a mão de Vitor.

– Sim, daremos continuidade aos procedimentos.- Sua voz saiu firme, tentava passar segurança.

Ana beijou a mão do seu melhor amigo e cordialmente recebeu um abraço do médico. Seus olhos marejaram, bastou apenas olhar para Dr. James, não precisava falar nada. Saiu fechando a porta por trás de si vagarosamente. Contendo suas lágrimas no braço de seu cardigan, sentiu que alguém se aproximara ao vê-la.

– Ana, como ele está? - Era Morgana querendo notícias.

– Inconsciente ainda, muitas fraturas. A equipe do hospital que está o acompanhando, fez apenas uma cirurgia, as outras se sucederão conforme grau de risco. - Ana informou.

– Que barra. Ligaram da universidade, acho que os pais dele queriam notícias. - Morgana falou preocupada. - Ah, já está em tudo quanto é jornal!

– Vou ligar para eles. - Ana abraçou a si mesma balançando a cabeça num breve e monótono "sim".

Ana andou pelo corredor do hospital ouvindo a reverberação de seus passos. Como iria explicar aos pais de Vitor tamanha situação? Encostou-se na parede e pôs suas mãos nos olhos, limpando-os. De repente, ouviu da recepção a voz que vinha de um televisor informando nestas palavras:

"- Vitor Martins, 23 anos, estudante de direito da universidade da Luz é encontrado no campus sem roupas, apresentando inúmeras fraturas e sinais de estupro. Mais informações..."

Ana engoliu o pesar que se formou em sua mente.

– Moça, preciso fazer uma ligação para a família de um paciente. -Solicitou na recepção e ligeiramente cedido o telefone, agradeceu. - Obrigada.

[Não tão distante dali...]

Meu novo projeto havia tentado escapar, eu sabia que era inútil sua desesperada busca pela alforria dentro de minha gigante casa laboratorial, mas como faz parte de mim, o jogo no qual quem tem medo é o oponente, segui o curso para me divertir. Fui à busca calmamente.

– Mais um passo e você não sobreviverá.- Mirei minha arma no centro de sua cabeça. Ela não ia sobreviver mesmo, mas o jogo me excitava em demasia.

O grito vulgarmente em pitch agudo reverberou na ala das múmias.

– Não acorde meus filhos. - Eu disse colocando as mãos para trás, numa pose de mordomo.

– Socorro! Socorro! Socorro! - Ela gritou tanto, que tive pena do atrito em vão a que ela dispôs suas pregas vocais.

– Venha cá, querida. - Eu a encurralei na estante de olhos. Segurando firme enquanto se debatia, tentei me segurar para não matá-la ali. Aquele medo que emanava de seu fino rosto, era como uma droga para mim. Tapando sua boca, disse-lhe num sussurro em seu ouvido:

– Posso saber o que você está querendo a qualquer hora. É inútil.

Mozart vinha até meus ouvidos pelas pequenas caixas de sons, postas pela casa. Em cada canto dos cômodos elas trabalhavam para mim. Como numa igreja, ali era meu santuário. Se eu sentisse algum sentimento desses dos humanos comuns, amaria Mozart. Porém, é meu preferido, a elegância é um quesito para os evoluídos.

– Conseguiu desatar este nó? Esperta! - Eu disse colocando-a sobre a mesa de cirurgias e amarrando-a às braçadeiras da mesa, agora não se soltaria. Ela continuava gritando em vão, porém atrapalhava Mozart. - Silêncio! Fique quieta! - Exaltei meu tom de voz colocando uma fita em sua boca, selando seus gritos agudos. Estando presa pelos pés e pelas mãos imobilizei a fujona. Seu rosto era peculiar, seus olhos redondos me olhavam num tom castanho claríssimo que me lembravam alguém. Cabelos lisos enfeitavam seu rosto, o preto com certeza lhe caia bem. Era graciosa. Uma obra feita pela natureza, agora era minha. Corri meus dedos pela sua mandíbula molhada pelas lágrimas.

– Não chore, querida! As de "enfeiurar" teus lindos olhos. - Eu disse admirando-a calmo. Antes que seus olhos inchassem e estragassem sua bela face, injetei em seu braço um veneno não mortal, mas lhe causaria mudanças significativas para mim, como: seu cérebro morreria nos giros e sulcos de consciência, uma espécie de zumbificação. A toxina é extraída de um peixe, misturada à substâncias alucinógenas.

Nessa linha de experiências, eu procuro por humanos aparentemente bonitos, pois vê-los em ausência de sua sã consciência moral e realista, me deixam na sensação de ter o controle sobre todos os meus desejos. Como um deus.

Logo a moça fechou seus olhos castanhos, agonizando aos efeitos. Só os belos são dignos de mumificação. Porque mais do que obter suas almas no processo de zumbificação, elas serão minhas em físico, materialmente falando. Estas são minhas crenças. Está é a minha arte, a elegância e o prestígio de tê-los faz sentir a chama dentro de mim acesa. Só para os belos dedico-me em demasia e mesmo tendo outros galhos divergidos entre minhas crenças, a raiz que mantêm meu mundo é a razão para meus feitos. Cada galho tem uma crença, crenças essas que seguem uma linha tênue entre a raiz mais profunda.

É preciso paciência e tenho bastante. Esperar minhas belas crianças renascerem só para mim, configura-me o prazer dos meus desejos mais íntimos. Esta jovem moça não sabia, mas jamais seria de alguém, se não minha. Tomando meu café, aguardo calmamente as 24 horas se completarem sentado, admirando minhas estantes em madeira de carvalho. Meus pedaços de vida em potes brilham na luz, meus tesouros.

Talvez eu seja peculiar nos meus gostos, na ciência e nas minhas crenças. A peculiaridade dos meus gostos muitas vezes até surpreende a mim mesmo, que não domino a arte dos sentimentos humanos, mas pra mim é fantástico, deslumbrante e... incrivelmente mágico.

Que todos sejam bem-vindos ao meu particular mundo mágico,

Cartola.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado! :*



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