Quem é a distância, perto do tolo? escrita por Tachibana Aoi


Capítulo 1
Redundância


Notas iniciais do capítulo

Originalmente, era para esse capítulo se chamar mutação corporal, mas acho que não faria tanto sentido. E... É isso. NÃO VASILEI S2



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Eu amava tocar piano.
E, por incrível que pareça, nunca precisei de aulas ou de tempo para aprender. Em algum lugar do fundo de meu coração, eu já sabia como tudo funcionava.

Nunca ninguém acreditou numa palavra do que eu dizia. Mas chamavam-me para tocar nas mais renomadas orquestras, que se abria com toques mágicos das palmas da platéia em meio ao puxar das cortinas vermelhas. Meu coração acelerava e não me importava se duvidavam ou aceitavam minha história. Eu só queria estar lá.

Depois de alguns anos, na minha décima sétima primavera, eu conheci Oz. Um garoto alegrinho, de olhos castanhos e cabelos coloridos de tudo quanto é cor. Um cara que super chamava atenção por onde passasse, quer fosse pela bizarrice, quer fosse pelo jeito caloroso que tratava a todos.

— Nossa, Agamemnon, é realmente incrível que já tenhas nascido sabendo tocar piano!

E essas foram as doces palavras que ele precisou para me ganhar.
Passadas semanas, vieram os mais doces ainda, beijos e carinhos que eu pude dele receber.
Passados meses, veio o longo preconceito que as pessoas têm e sempre terão conosco.
Nossa vida de orquestra acabou.

Mas nada inexistiu.

Ao invés de palmas, eu tinha meu nome sendo dito bem próximo aos meus ouvidos. Ao invés das cortinas vermelhas, as cobertas que eram puxadas, revelando meu corpo e talvez o dele, se não tivesse levantado para fazer meu café da manhã. Meu coração acelerava e não me importava se eu ficava vermelho ou não. Eu só queria estar lá.

No entanto, eu sentia hesitação vinda da parte dele. Teria algum arrependimento?

Chegou o dia em que eu comecei a ser afastado. Minha língua já não alcançava mais a dele, o idioma também não. Senti como se não pudesse me comunicar com nada. E se queria mesmo separar ou voltar atrás com algo, que fosse, eu ficaria triste, porém queria vê-lo feliz.

E minha solidão não tardou.

Sete, oito, nove, nossa música estava sendo pausada pela falta de amor e a melodia passou a ser a dor. Pesar. Mágoa. Até a décima vez que tentei me aproximar e fui rejeitado.

— Se não queres a mim, porque não rompes nossa relação?

— Eu quero a ti, mas quero que prossigas com a felicidade da música em teu coração.

Ele também pensou sobre arrependimento. A diferença é que ele não teve fundamento para seus pensamentos e desatou a errar e aceitar hipóteses erradas sem nem tentar prova-las antes. E causou a nossa infelicidade por um longo tempo.

Eu até gostaria de dizer que ele foi bonitinho por causa disso, contudo, minha raiva estava a crescer e gostaria de poder dar-lhe um belo dum sermão para que fosse menos tolo.

— Burrice tua. Levanta e rasga essa idiotice de dentro de si. A felicidade que tenho junto de ti é maior do que qualquer outra que eu poderia ter, tu sabes muito bem disso, ainda mais quando me declarei.




Eu amava Oz.
E, por incrível que pareça, nunca precisei de aulas ou de tempo para aprender. Em algum lugar do fundo do meu coração, isso já estava gravado desde que nasci, amarrado com uma fita vermelha com um nó de marinheiro, bem forte, para não desatar.

Depois de alguns anos, na minha trigésima sétima primavera, a maioria das pessoas não olhava torto para pessoas do mesmo género. E eu pude sair de mãos dadas em público com um tolo; meu amado, pela primeira vez.

Sentir suas mãos quentes, era estranho. Só me lembro da frieza que elas tinham ao tocar minha pele nua, que passavam tanto desejo, tanta malícia, mas nunca tentaram me ferir por prazer.

Eu queria poder beijá-lo uma vez na praça central, onde as árvores deixavam suas folhas dançarem durante a queda, quando o outono chegava. Entretanto, ele não queria. E negou isso a mim, várias vezes, também, pois pensava que eu me arrependeria depois.

Eu nunca me arrependi de nada ao lado dele. A não ser entornar o café quente que ele fez, no meu colo, e me queimar todo.

Oz, já disse que estás errado. Errar é humano, persistir no erro é burrice.




Mais tarde, fui chamado novamente por uma orquestra que não se importava com minha sexualidade. E recusei, para provar que de nada havia arrependido. E torço para que cheguem as chances para que possa provar a Oz que nunca me arrependi de nada que fiz, e poder tirar essa redundância dos pensamentos dele. E para provar que sempre amei os versos claros que ele me trazia.



Oz partiu aos quarenta e cinco.
E nem da morte dele eu me arrependi.
Não era algo banal como isso, que iria nos separar.


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Notas finais do capítulo

Cheguemos :3 eu consegui uma drabble dessa vez. De mão quebrada eu não ia escrever mais de mil palavras NUNCA XDD