Chihiro to Sen no Kamikakushi escrita por Delvith


Capítulo 15
A bruxa


Notas iniciais do capítulo

AVISO DE CONTEÚDO SENSÍVEL: Sangue

Oi gente, tudo bem? kkkkkk rindo de nervoso afinal Já fazem 84 anos, não é mesmo?
Ainda tem alguém por aí? A última atualização tem dois anos, meu deus.
Esse capítulo eu escrevi há dois anos, junto com o último postado, mas deixei ele inacabado e não mexi desde então. Até que hoje, depois de alguns dias pensando em voltar a escrever, completei ele. Eu ia seguir meu próprio conselho de deixar mais da história pronta antes de postar, mas agora eu tô animada e não consigo esperar kk foi mal aí
Espero que leiam e gostem!



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Se passaram 7 dias desde que Yubaba havia sido encontrada. Nos dois primeiros Sen não teve coragem de retornar e, nos três que se seguiram, sofreu com a retirada de sangue e as corridas furtivas para a sala. Agora era o raiar do Sol do quinto dia de sua provação física e sétimo dia desde o começo de sua tortura psicológica.

Depois do sol nascer, Sen enviou pedido de socorro para Zeniba, por meio de um homenzinho de papel encantado. Queria que as luzes da manhã cegassem aqueles que tentassem ver a pequena figura pálida voando para longe. A garota não tinha certeza se conseguiria resposta, já que comunicar-se com a bruxa era extremamente complicado, considerando onde Sen se encontrava. Além disso, qualquer tentativa de resposta poderia ser interceptada e o Senhor saberia as reais intenções da jovem. 

Entretanto, mesmo com os perigos precisava pedir ajuda; encontrar Yubaba mudou completamente o cenário. E Sen evitava pensar nisso, mas não se esqueceu da conversa que ouvira na sala do Senhor – de alguma forma a bruxa aprisionada o estava atrapalhando e ele não pararia até acabar com esse obstáculo. Caso ela não resolvesse tudo logo, seria tarde demais.

A menina se sentia cada vez mais fraca, por isso decidiu diminuir o ritmo que sua operação secreta estava levando. Afinal, não resistiria se continuasse daquela maneira. Mas a urgência da missão a alarmava, ainda mais porque perderia o acesso à sala em pouco tempo: depois dos três dias de visitas furtivas, a jovem percebeu que era mais efetivo fingir que ainda estava limpando o local. Sugeriu ao Senhor que objetos inúteis fossem destruídos ou jogados fora e informou que precisaria de alguns dias para fazer tudo. Quando voltou ao recinto de Yubaba, usou magia novamente, desta vez para bagunçar a sala.

Mantinha-se muito ocupada arrumando tudo manualmente. Perdia tempo e energia, mas pelo menos o trabalho físico ajudava a trabalhar a sua mente. Seja lá o que a esperava no futuro não poderia ser visto de forma leviana. Ela precisava entender a situação e saber o que viria.

Começou a pensar como seria a libertação de Yubaba e como enfrentariam o Senhor. Além de todos os problemas, ficava preocupada com Haku doente. Não houve melhora em seu quadro, ele seguia sem exercer suas funções. A febre ocasionalmente abaixava apenas para retornar ainda mais forte algumas horas depois.

Mesmo com o curto período, a jovem já percebia mudanças de comportamento no Senhor com a ausência de Kohaku. Estava extremamente raivoso, punindo funcionários ao mínimo erro. Às vezes, um erro nem era necessário; o infeliz estar no lugar errado, na hora errada, já era o suficiente. Era incapaz de controlar o gênio, enfurecendo-se a troco de nada. Durante o dia, seus gritos tomavam conta da Casa de Banhos.

Ela queria espionar, mas não podia nem imaginar o que aconteceria se fosse descoberta. Apenas a ideia já rendia calafrios percorrendo a espinha da garota. Apenas aceitou que estava ocupada demais e que já tinha informações suficientes para tentar começar a entender o plano geral.

O destino devia achar engraçado todo o medo que se acumulava na garota. Mas aparentemente não era o suficiente, então resolveu lhe pregar uma peça. Enquanto Sen aproveitava um de seus poucos momentos de tranquilidade física e mental, arrumando relatórios em uma sala qualquer, recebeu de outro funcionário a informação de que estava sendo chamada ao escritório do Senhor.

Quando chegou lá, ele apenas queria saber se Haku havia melhorado e se estava sendo cuidando por ela. Sen se esforçou para não revirar os olhos; era chamada constantemente para dar relatórios e acreditava que isso acontecia por dois motivos: o primeiro, mais claro, o Senhor queria intimidá-la. Ele tinha prazer nisso e sabia a ansiedade que ser chamada em sua sala provocava. Em segundo, ele tinha um interesse obsessivo por Haku. Mesmo antes de sua doença, ele sempre queria manter o jovem por perto, realizando tarefas para ele.

Esses pensamentos tomaram forma na mente da jovem enquanto se retirava da sala. Sen já começava a questionar qual era a relação entre os dois. A irritação do Senhor com a doença de Haku era possessiva – como se um “bem” precioso a ele estivesse fugindo de suas mãos. Mas ainda não conseguia conectar todos os pontos, porque se tinha uma coisa que ela sabia no meio disso tudo é que nada estava acontecendo por acaso.

Ela sabia da seguinte sequência de eventos: Yubaba, vendo que perderia o poder sobre Haku, quis mantê-lo para si a tal ponto que fez uma promessa para o Senhor. Ele utilizou dessa promessa para ameaçá-la e a seu filho, e assim prendeu Yubaba e conquistou a casa. Ainda não tinha como saber muitas coisas. O que o Senhor queria com Haku? E com a Casa de Banhos? O que aconteceu com o filho de Yubaba? E porque ela conseguia assistir pedaços de momentos do passado?

A suspeita de Sen para as duas primeiras perguntas era que o Senhor, como Zeniba lhe disse outrora, era um deus ruim que queria destruir tudo. Para isso, se alimentava e desejava por magia e então buscava por fontes poderosas: no caso, Haku e a Casa de Banhos. A Casa era um centro, tendo recebido diversos seres mágicos e sendo um local de importância naquele mundo. Kohaku era um dragão do rio, aprendiz de feiticeira. Mesmo jovem, já possuía grande poder. Mas ainda não sabia o que havia sido prometido ou o que havia acontecido com o filho de Yubaba.

Abriu as grandes portas principais daquele andar, tão semelhantes às de Yubaba. Seus pensamentos estavam tão altos em sua cabeça que temia que o Senhor pudesse ouvi-los. A ideia lhe provocou calafrios na espinha, e ela fechou as portas e saiu.

千 

Sen não podia passar o tempo todo na sala da bruxa, então manteve um ritmo mais lento em suas outras atividades para não ficar tão desocupada e precisar ir para lá. A garota honestamente não sabia de onde vinham as forças que ela ainda possuía. Todo o seu tempo livre era usado para desenhar, chorar e mentalizar Sem Face e a ponte, pensando em uma solução se a invisibilidade realmente fosse necessária.

Pensando na ponte e como a ausência de sua respiração escondia sua presença, refletiu se não havia alguma planta que provocasse um efeito similar. Então, aproveitava que precisava mesmo demorar e estudava o jardim, o efeito de cada flor e erva quando esfregadas em sua pele. Sua pele estava marcada com arranhões e leves queimaduras de plantas menos amistosas.

Quando retornou à sala de Yubaba, Sen foi tomada por lembranças repentinas do início de sua aventura. Lembrou-se de prometer que seria forte e não choraria mais. E desde então tem chorado muito, começando pelo momento em que estava sentada com Zeniba e Sem Face, ouvindo as notícias de que deveria se tornar Sen outra vez.

As lembranças a afetaram e as lágrimas escorreram sem que percebesse. Poderia ter quebrado a primeira promessa que fez para si, mas não quebraria a outra: não choraria naquele lugar. Não daria esse gostinho a seu inimigo, mesmo que ele não soubesse. Pelo menos ali, dentro daquela sala, ela tinha que ser forte.

Sen usou a palma direita para secar seu rosto, respirou fundo e adentrou o recinto. Com a mão esquerda, puxou o enorme pano preto que escondia aquele segredo horrível, pegou o saquinho que possuía, subiu as escadas e despejou o conteúdo no topo do gelo.

Vendo a última gota cair, sentiu-se fraca de repente e obrigou-se a ficar parada ali por alguns segundos. Desceu as escadas e, tomada pela melancolia ao observar aquela arte macabra, a garota ergueu seu franzino braço e posicionou a pequenina mão direita no gelo frio, sentindo a textura lisa e suave. Era incrível como uma magia maligna poderia criar algo assim. Se não houvesse uma mulher congelada ali de maneira tão horrenda, aquele gelo e cristal poderia até ser considerado bonito.

Tinha algumas pontas, finas e pontiagudas, mas que não machucavam ao toque. O azul era vivo e chegava emitir uma luz pálida, remetendo ao frio que emanava. Por ser uma mistura com cristal, porém, não era tão gelado. Sen podia sentir até um calor emanando na região que sua mão tocava.

Calor?

Direcionou o olhar para sua mão e quebrou o contato imediatamente, engasgando-se de susto. O local brilhava mais forte do que o resto, igual a quando ela despejava o sangue. Agora havia um sulco no formato de sua mão. Não era muito profundo, porém estava bem visível.

Afastou-se alguns centímetros, exasperada. Olhava de sua mão para o gelo e então do gelo para sua mão, completamente confusa.

Mas o que raios...

Sua mente estava em um turbilhão e Sen sentiu uma imensa e repentina necessidade de sentar. Intrigada, levou suas mãos ao rosto, apertando-o e esfregando-o, tentando entender o que estava acontecendo. Quando começava a se perguntar se agora possuía sulcos em formato de mão nas bochechas, Sen tocou o indicador no canto de seu olho. Ainda estava molhado. Passou os dedos em seu rosto, agora com mais calma, sentindo os rastros úmidos que marcavam seus sentimentos antes de entrar na sala.

Parou para recapitular. Estava chorando. Secou o rosto com a mão. Secou, com a sua mão, seu rosto, molhado, porque estava chorando. Chorou várias lágrimas e as secou. Lágrimas caíram dos seus olhos, no seu rosto, e então foram secas pela sua mão.

Lágrimas? Lágrimas. LÁGRIMAS.”

Sequer precisou apoiar-se para se erguer, jogou o impulso para os joelhos e se levantou de uma só vez. Correu os dois passos que a separavam da estrutura e nela posicionou as mãos. Quase gritou de surpresa, alegria, espanto, confusão, felicidade; tantos sentimentos, não podia conta-los ou registrar em que ordem eles vinham. Um brilho azul contornava sua pele e sentia seus dedos afundarem na estátua de gelo e cristal.

Sangue não era a única coisa capaz de destruir o feitiço do Senhor.

A garota começou a rir. Aquela era a primeira risada que soltava em todos os meses que estava na Casa de Banhos. Era uma belíssima risada, cheia de alegria, despreocupada. O som carregava embora todas as tristezas, pesares e dores.

Enquanto ria, Sen manteve as mãos exatamente onde estavam. No meio do seu turbilhão de emoções, percebeu que seus dedos ainda afundavam. Prestou atenção na profundidade do sulco, surpresa em perceber que metade de sua mão adentrava o gelo.

Um grito foi muito mal suprimido em sua garganta, fazendo com que emitisse um som alto, agudo e esquisito. Aquele cristal não só podia ser destruído também com lágrimas, ele era destruído mais rápido! Era preciso uma quantidade de sangue grande, comparada a meros resquícios de lágrimas em sua mão, para conseguir qualquer resultado.

Era só chorar que iria libertar Yubaba em tempo recorde. E chorar era algo que Sen estava muito familiarizada nos últimos tempos. Lembrou-se novamente de suas palavras para Zeniba. “Eu vou guardar minhas lágrimas”. Ela não exatamente guardou, mas parece que já sabia que ia precisar delas desde o início.

Sentou-se no chão, sentindo calma e esperança. Preparou-se para a enxurrada de lágrimas que viria e riu, desdenhando de seu inimigo. “Agora você já era.”

Exceto que nenhuma lágrima caiu de seus olhos.

Com o passar dos minutos, o nervosismo foi tomando conta e a garota se via desesperada novamente.

“Chora, droga, chora! É tudo o que você tem feito ultimamente! Anda, CHORA!”

A raiva começava a assolar sua alma. Não entendia porque, de todos os momentos, logo naquele não conseguia derramar lágrimas. Por quê? Andava em círculos pela sala, a ansiedade impedindo-a de ficar quieta. Grunhia, rosnava, reclamava de si consigo mesma, mas nada saía.

Irritada, forçou-se a sentar novamente. Respirou fundo, de olhos fechados, limpando a mente. Quando finalmente os reabriu, estava ligeiramente mais calma. Entretanto, foi só olhar para a estrutura novamente que suas bochechas queimaram e sua respiração pesou; a raiva e a frustração daquela maldita obra de seu inimigo a dominavam novamente.

Foi desta maneira que Sen percebeu o que estava acontecendo.

Orgulho.

Uma coisa era chorar sozinha, em seu quarto, ou até mesmo na porta fechada daquela sala. Outra era ceder e chorar de frente para a criação de seu inimigo. Demonstrar fraqueza diante daquela coisa. Esforçou-se tanto para ser forte durante todo esse tempo e de repente precisava derrubar suas barreiras. Era inaceitável. Imperdoável. Ele já havia tirado tanto dela e agora tiraria isso mais.

Não queria perder para ele. Queria ser mais forte, vencer e salvar seus amigos.

“Meus amigos...” o coração de Sen se apertou ao lembrar de todos. Haku, Yubaba, Zeniba, seus companheiros da Casa de Banhos. Todos passaram por tantas provações, tanto sofrimento. Seu peito se apertava novamente e suas bochechas queimavam ainda mais forte.

E assim, como uma tempestade não anunciada, as lágrimas vieram. Chorava aos prantos, aos berros. Um choro cheio de pesar, contendo toda a dor de Sen e seus amigos. Todo medo, angústia, sofrimento. Todo o peso que Sen vinha sentindo em seus ombros, o peso de ter que salvar a todos, completamente sozinha, sem comunicação com sua família ou qualquer pessoa de fora da Casa de Banhos. Podia não ter dez anos de verdade, mas sentia como se tivesse: tão frágil e pequena quanto uma criança.

Permaneceu grudada ao chão, ajoelhada sobre suas pernas, berrando gritos embargados e engasgados. As lágrimas rolavam por suas bochechas, acumulavam-se em seu queixo e caiam rapidamente. No chão, uma pequena poça se acumulava e dela partia um filete, conectando-a à estrutura. As gotas subiam e corriam em uma espiral que circundava o gelo, da base ao topo. O quarto era tomado por uma forte luz azul e brilhos espalhavam-se pelo local, iluminando o ambiente como milhares de pequenos vagalumes azuis e brancos. Porém, a beleza da cena passava despercebida para Sen que, com os olhos cerrados, encontrava-se mergulhada em desespero e dor, chorando copiosamente.

Demorou muito tempo para conseguir parar e juntar energias para ir embora. A testa de Yubaba já estava visível, mas o cristal estava sendo destruído de forma mais equilibrada, sua espessura em geral havia diminuído bastante. Então, o rosto dela ainda não estava livre, mas todo o seu corpo estava mais próximo disso. Quando Sen abandonou o local, com dificuldade para andar por causa da moleza de seu corpo, a noite já havia corrido até sua hora mais escura. Ela não conseguia enxergar nada do mundo lá fora quando olhava ocasionalmente pelas janelas das escadarias.

Chegando em seu quarto, jogou-se na cama e dormiu imediatamente. Estava extremamente fraca, exaurida de tanto chorar. Entretanto, sentia uma força que não experimentava há tempos.


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