Penelope Van De Velde

Wings – Little Mix

A senhora Clarissa me abraçou forte quando meu nome apareceu em letras curvadas e clássicas. Estava no asilo sendo voluntária quando na velha TV de 28’ foi anunciado meu nome. A comemoração e alegria dos velhinhos da qual tanto amava já me deixou alegre pelo dia todo. Uma boa noticia é rara para eles, cuja maioria seus filhos ou netos os deixaram a mercê do tempo e nem sequer lembram de sua existência. São como crianças, precisam de atenção e carinho, coisa que eu tenho de sobra.

Olho instintivamente para a porta onde vejo um casal e mais sete pessoas o acompanhando. Minha primeira reação é correr para os braços de papai, a emoção dele sendo sentida na minha pele contra a dele. Quando o solto, minha mãe me abraça forte, o que me surpreende, não deixando de pensar o quanto aquilo era rara a deixa de sua postura sempre dura. Leopoldine pisca para mim maliciosamente, me fazendo perguntar o que estaria passando por sua mente conturbada de irmã mais velha. Cathy, Nastya e Al vem me cumprimentar.

— Não acredito que a nossa pata desengonçada vai para o palácio! – Catarina diz sorrindo como sempre.

— Cathy! Pare de implicar! – Nastya reclama ao mesmo tempo em que me entrega um embrulho com o papel da nossa pequena fábrica de queijos. Seu rosto e orelhas tomam uma tonalidade vermelha assim que pego o presente. – Desculpa Penny, foi de última hora e coincidentemente acabei hoje.

Sorrio e dou um beijo em sua testa. Abro encontro lá dentro uma representação em um quadro pequeno, onde toda a família estava junta por meio de recortes e colagens. Sinto meus olhos encherem-se de lágrimas. Uma reclamação comum era a que não havia uma foto atual de toda a família junta.

— Ai meu Deus, ela vai chorar! – Albert fala e eu dou um tapa estalado em seu braço, o que só causa cócegas no garoto e uma risada limpa.

Me surpreendo quando as duas Marie’s e Guto me atacam com cosquinhas até cair ao chão.

Com minha família e amigos ao lado, seria impossível não pensar na infinita saudade que sentiria deles.

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Aisha Musto

I’m With You – Avril Lavigne

Um grito fino escapa de meus lábios quando, sem entender absolutamente nada, vejo meu nome no aparelho eletrônico da sala. Meus pais sorriem um para o outro e trocam olhares significativos, o que me deixa ainda mais confusa.

— Como eu estou participando dessa porcaria? – digo me levantando do sofá, metade de mim indignada e a outra negando os acontecimentos rápidos.

***

Eu tenho total certeza de que não deveria estar aqui. Não agora!

O livro de capa dura vermelha vinho repousa em meu colo e logo me arrependo de não ter pego mais filmes para minha maquina fotográfica, guardada na bolsa aos meus pés. Concordo ser totalmente injusto o fato de terem me inscrito sem eu autorizar. Na verdade, um absurdo. Mas por que não tirar proveito disso?

Respiro fundo mais uma vez para acalmar meus ânimos. Seria uma loucura cair de amores pelo príncipe sem noção? Seria. Totalmente. Foco Aish.

Mais uma vez me convenço disso. Tudo isso não basta de uma loucura, que eu farei questão de fotografar. O palácio, ao longe, visto pelo vidro da limusine passa um ar ainda mais “real” e icônico do que na televisão. Um dos guardas que havia me visitado, um dia depois de eu ter sido selecionada, me instruiu a vestir minha melhor roupa. Um vestido florido de cores azuis e tons pastéis e uma sapatilha nude é o mais próximo disso.

Tomo finalmente o livro em mãos e folheio as páginas, pensando, em quantos livros o sonho da França tem em sua biblioteca. Quantos corredores, quartos, banheiros, e até mesmo criados!

Solto o livro já sabendo que não conseguirei ler e pego a câmera. Limpo a lente e o foco, amarro sua “fita” na mão e abro o vidro, mesmo contra os protestos do motorista. Fecho um olho e disparo assim que cruzamos o portão de metal preto. Olho novamente a foto e fico satisfeita com o resultado.

“Nada mal para o primeiro dia.”

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Nicoletta Guildfort Mayne

Skating Away On The Thin Ice Of The New Day– Jethro Tull

Tiro da bolsa o primeiro casaco que vejo e o coloco no corpo. Jayden me conta que tanto como da Suíça, ou até mesmo a Alemanha, a França faz frio. Desço as escadas do avião, psicologicamente sentindo o frio adentrar meus ossos, mas uma brisa morna assopra meu rosto assim que coloco os pés na pista. Encaro meu assistente com uma das sobrancelhas arqueadas e ele logo trata de tirar o casaco de mim. Sorrio em agradecimento e tomo seu braço no meu.

Mais aliviada que antes, pelo peso da roupa extra, sorrio para as câmeras que incansavelmente miravam meu rosto.

— É verdade que a dama do gelo esta tendo um caso com seu assistente? – um dos repórteres pergunta e me faz revirar os olhos em resposta.

***

Dessa vez estou preparada para o clima. Entro no castelo com receio. A sapatilha preta escorrega no piso de porcelanato do salão. Ao meu lado, um guarda de farda caminha altivo e atento a qualquer movimento. Me sinto praticamente presa, numa gaiola de segurança máxima. Não posso correr, rir alto, subir em árvores ou até mesmo brincar de lutinha.

Me abraço forte com saudades da liberdade. E apenas cinco minutos dentro do castelo. Uma voz dentro de minha cabeça me dizia que iria enlouquecer.

Sigo em direção a fila de garotas em pé no meio do grande cômodo, todas estavam eretas e muitas mantinham uma expressão sonhadora, outras atrevidas, e algumas até quebravam o silencio do eco cochichando com a menina ao seu lado. Sou a décima quinta a chegar, ou seja, a última. Me direciono ao final da fila onde uma garota de cabelo castanho claro ondulado boceja e se espreguiça sem algum receio, me fazendo sorrir diante disso.

— Parece que você não dormiu bem...

— Só parece? Oh céus, então estou bem na fita. – Ela ri me levando junto do seu bom humor. — Odeio acordar cedo, não importa quantos anos eu tenha ou qual for a situação da minha vida.

— Qual teu nome?

— Camille Rubin. Prazer.

— Nicoletta Mayne. – Ela sorri e estende a mão para mim, que aperto já prevendo uma amizade.

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Alice Starry Sky Arkwright

Paradise - Coldplay

Katie sorria para mim como se nos conhecêssemos a tempos. É verdade que havíamos conversado como amigas de infância na primeira oportunidade. Além de ser uma tagarela sem limites, ela fazia graça e observava a tudo e todos ao nosso redor.

— Sem dúvida alguma, é fácil escapar daqui se você quiser muito! – Mais uma de suas observações me surpreende e faz rir.

— Como assim?

— Ora, olhe para essas janelas gigantes! Se você quiser ajuda pra fugir me avise que eu te ensino a atravessar o vidro sem se machucar! – ela ri mais uma vez e espera que eu faça o mesmo, mas não o realizo.

— Queres que eu fuja da seleção?

— Eu não disse isso! – Seu tom era visivelmente mais alto e me assusta um pouco, mas logo quando penso em pedir para que se acalme, passos são escutados do corredor, um homem de aproximadamente 23 anos é visto e todas ficam em silencio.

Ele veste um blazer preto em cima de uma camiseta branca, calças jeans e tênis. Seus cabelos castanhos claros estão totalmente bagunçados e ficam ainda mais quando este passa a mão pelos fios. O jovem para em nossa frente e nos avalia da cabeça aos pés com seus maravilhosos olhos azuis. Seu ar é sugestivo e um tanto quanto crítico.

— Bom dia moças. Sou Jason Della Mintra. Posso dizer que sou o tutor de vocês. Tratarei de assuntos de moda, estética, história, geografia, línguas e, principalmente, os bons modos. – uma série de arquejos são minimamente escutados — E bem, se não gostam disso, podem sair por aquela porta.

Ninguém se pronuncia então ele continua.

— Uma rainha não só serve para ser a esposa do rei, mas sim apoiar ou contrariar suas decisões, ser justa, leal, saber quando é certo se pronunciar, dar seu voto de confiança. É carregar o peso da coroa junto do monarca e não apenas usufruir dos benefícios que ela trás. – Jason diz sério, olhando para todas, uma atrás da outra.

Troco o pé de apoio. Eu estava ali por Romero e Clara. Certo?

No fundo o que eu fiz era também por mim. Ser aceita na própria família e deixar sorrisos no rosto dos “pais” assim como fazia com Samuel.

Respiro fundo. Um. Dois. Três.

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Abdalla Forence Cantyc

Love, Money, Party - Miley Cyrus feat. Big Sean

Sento na tampa de minha mala assim que coloco todo o meu guarda roupas dentro. A criada fecha e sem perguntar nada, leva até a parte de fora de minha casa de férias. Sigo em direção ao quarto de meu pai, onde respirava já com certa dificuldade.

— Meu querido pai. Se tivesse tomado mais cuidado – solto uma gargalhada alta e sarcástica – Talvez não teria essa vida. Essa filha ingrata. E talvez, seu tão querido e amado povo não sofresse como vão sofrer no meu reinado. Mas pense pelo lado positivo. Piores monarcas virão.

Mais uma vez, o aparelho que toma conta de seu coração apita. Começa a tossir mais e mais. Tomo suas mãos nas minhas, segurando forte e beijo sua testa. Saio do quarto assim que mais de uma enfermeira vem atender o atual rei.

***

Chego à França em poucas horas. O jatinho me deixa no heliporto do estado e sigo de lá com um táxi até o castelo. Sou brevemente recebida por Amélia, minha tia, pelos portões do fundo, pois os da frente estão sendo usados para receber as novas garotas e animaizinhos de estimação do castelo. Faço uma careta assim que penso nelas.

Blake sempre foi meu objetivo. Desde o começo de minha infância, o garoto mal humorado e estressadinho me encantou, com sua maneira nada convencional de ser. E além de também ser o futuro herdeiro do trono do meu país favorito.

— Querida Alla, como vai seu pai? – Amélia me chama, tirando-me dos devaneios.

— Oh querida tia, sinto que não vai durar muito, principalmente agora, com a vinda do inverno em nosso país. – Digo me dando o premio Nobel da melhor atuação.

— Não fale assim de teu pai! Bom, só desejo que ele não sofra, não é mesmo? – Ela sorri, como sempre, gentil.

“Pobre rainha, se soubesse do que sei...”