Depois de um longo tempo de voo as florestas frias do norte finalmente deram espaços paras os verdes e coloridos campos de flores das terras além da floresta.

Jennifer segurava Brown com dificuldade enquanto tentava se equilibra e se apoiar com a mão no ombro da amiga que guiava o grande pássaro vermelho.

Ao recuperar o equilíbrio e o controle da situação, Jennifer finalmente pôde avistar a beleza e o cenário do local.

Um enorme campo se estendia por todos os lados. Capim, flores, arbustos e coelhos; (Pequeninos e quase invisíveis do ponto de vista de Jennifer) Podiam ser avistados por toda parte.

Mas foram os cervos que mais lhe chamaram a atenção. Eram cervos enormes e muito bonitos, pastando tranquilamente enquanto algumas mamães corsas amamentavam os seus filhotes.

Porém a paz não durou muito tempo e uma garota ruiva armada com um arco e algumas flechas surgiu detrás de um grande arbusto e disparou uma flecha contra um pobre corso que estava mamando despreocupado em sua mamãe.

O filhote urrou de dor ao ser atingido o que causou desespero no bando de cervos que debandaram e fugiram imediatamente para longe da jovem caçadora.

Jennifer ficou chocada com a cena que havia visto e após cutucar Eleanor no pescoço, falou — Ei! Você viu o que aquela garota fez?

Eleanor virou o rosto para o lado, e após avistar os cervos correndo em desespero pela campina, ordenou que Feliz, o grande pássaro, desse meia volta para que ela pudesse observar melhor a situação.

Então, ao retornarem ao ponto de abate, Eleanor avistou a caçadora de longos cabelos vermelhos esfolando o pequeno animal enquanto observava o enorme pássaro vermelho.

Segure em mim! — Gritou Eleanor para Jennifer antes de mandar o pássaro descer.

Por que estamos descendo? — Perguntou Jennifer confusa e preocupada.

Porque eu preciso falar com aquela garota — Respondeu Eleanor de maneira curta e fria.

Ao chegaram no chão, Brown foi o primeiro a se jogar das costas do grande pássaro vermelho e sentir o toque suave da grama e das flores sobre as suas patinhas fofinhas.

Ora, ora, vejam só quem veio nos visitar! — Exclamou a garota ruiva em zombaria.

Sentiu saudades? — Perguntou Eleanor ao descer do pássaro e ajudar Jennifer a descer.

Hahaha... Não muito. Mas devo dizer que não esperava que você trouxesse companhia. Quem seria esta garota digna da companhia da condessa e princesa fria das terras do norte? — Perguntou a garota ao se aproximar de um jeito bem sedutor.

Você sabe muito bem quem ela é Diana! É a Jennifer. Aquela de quem você gostou tanto de conhecer.  — Respondeu Eleanor sem rodeios.

Então os boatos sobre a morte dela eram falsos? Hahaha... Você deve estar muito feliz com esta noticia. Não é mesmo? — Falou Diana ao abraçar carinhosamente a sua velha amiga.

Não tanto quanto você. — Respondeu Eleanor ao retribuir o abraço da duquesa.

Hêhehe... Não sou eu que estou completamente apaixonada por ela. Não é querida? — Perguntou Diana ao olhar para Jennifer.

Olá! — Respondeu Jennifer timidamente para a duquesa ruiva.

Olá! Quanto tempo não é? Só não te dou um abraço porque ainda estou um pouco suja de sangue de cervo. Mas porque não me conta como surgiu este boato de que você e toda a sua família estavam mortos? — Indagou Diana com um olhar curioso.

Bom, eu não sei ao certo. Aparentemente o barco da minha família afundou e apenas eu sobrevivi ao naufrágio. Mas eu não sei como. — Explicou Jennifer extremamente envergonhada.

Como assim você não sabe como? — Perguntou Diana confusa.

Ela está com amnésia. — Respondeu Eleanor de imediato.

Diana: — Amnésia? Então você não se lembra de nada do ocorrido?

Não. — Respondeu Jennifer sem jeito.

Nossa! Deve ter sido uma situação bem traumática para fazer você esquecer o ocorrido. Ainda bem que você tem a Eleanor para cuidar e proteger você. Ela é meio estranha, mas deve ser uma boa namorada. — Ironizou Diana ao cruzar os braços e sorrir sinicamente para as duas garotas.

Jennifer corou extremamente com a suposição de Diana, e quase desmaiou de vergonha. Eleanor por outro lado apenas suspirou e falou — A Jennifer não é a minha namorada.

Diana gargalhou alto e depois de limpar as lagrimas de riso dos seus olhos, falou — Sei... E eu e a Meg nunca dividimos a mesma cama ou tomamos banhos juntas e nuas. Hahaha...

Eu estou falando sério. — Replicou Eleanor mantendo a frieza de sempre.

Ah é? Você acha que eu sou idiota? Tanto eu, como a Meg, observamos e percebemos o quanto vocês ficaram amigas no baile de gelo e na sua festa de aniversario. Fala sério. Vocês até dançaram juntas no baile! Acha mesmo que nós, as suas únicas amigas, somos tão cegas a ponto de não perceber que você estava apaixonada?  Você pode querer não assumir ou contar para a Jennifer, mas não tente me enganar amiga. Os meus olhos são bons para este tipo de coisa. — Vangloriou-se Diana ao achar que estava certa.

Você pode até estar certa. Mas isso não muda o fato de que eu e Jennifer não somos namoradas. Até porque ela não se lembra de nada de antes do naufrágio. E isso inclui você e eu. — Revelou Eleanor sem rodeios.

Diana ficou chocada com as palavras de Eleanor e após esbugalhar os olhos e olhar para Jennifer, perguntou — Espera! Isso quer dizer que ela não se lembra de nada sobre a gente?

Sim! Ela só sabe o que eu contei para ela. — Esclareceu Eleanor.

Então por onde você esteve durante todo este tempo? — Perguntou Diana curiosa.

Em muitos lugares. — Respondeu Jennifer sem jeito.

Entendo. Bom, eu adoraria saber um pouco mais sobre o que aconteceu, mas antes eu gostaria de saber o motivo de vocês terem vindo até aqui. — Indagou Diana ao falar friamente com as duas garotas.

Ué. Eu não posso apenas vir visitar as minhas melhores amigas? — Perguntou Eleanor com certa ironia.

Diana riu sarcasticamente e respondeu — Eleanor querida, no dia que você vier nos visitar apenas para saber como a Meg e eu estamos, é o dia que nós te estudaremos para saber o que aconteceu de errado com você.

Digo o mesmo. — Respondeu Eleanor friamente.

Ótimo. Então porque não me dizem o que aconteceu logo, antes que aquele cachorro imundo coma toda a carne do meu corço. — Falou Diana ao apontar para Brown que se deliciava com a carne do filhote de cervo.

Desculpa! Ele é o meu cachorro. Brown. Eu vou tirar ele de lá! — Falou Jennifer ao correr em direção ao filhote e separa-lo da presa abatida.

Tudo bem! Eu caço outro se precisar. Além do mais é só um filhote de cervo mesmo. Mas que tal vocês pararem de me enrolar e me contarem o que vocês vieram fazer aqui? — Perguntou Diana impaciente.

Eu vim ajudar a Jennifer com a missão dela. — Respondeu Eleanor friamente.

E qual seria essa missão? — Perguntou Diana curiosa.

Essa resposta nem ela mesma sabe. Mas pelo o que eu entendi a nova princesa das rosas vermelhas á enviou para derrotar o grande mal. E para isso ela precisava chegar até aqui. — Respondeu Eleanor novamente.

E que grande mal é esse? — Perguntou Diana para Jennifer.

Eu não sei! Mas o corvo de três olhos me pediu para vir até aqui. E as fadas me entregaram um pó dourado que pode ajudar. — Respondeu Jennifer com sinceridade.

Corvo de três olhos? Pó dourado? Fadas? Acho melhor vocês resolverem isso com a Meg. Ela é a única pessoa do mundo que pode enxergar uma conexão entre todas essas coisas. — Falou Diana ao acreditar nas palavras da garota azarada.

Então você vai nos levar até Meg? — Perguntou Jennifer esperançosa.

Vou sim. Mas antes tenho que limpar aquele cervo antes de leva-lo até o castelo. — Explicou Diana ao apontar para o pequeno corço.

Não se preocupe. Eu posso levar ele no Feliz, e todas nós chegaremos muito mais rápido voando no pássaro da felicidade. — Falou Eleanor com orgulho.

Diana: — Feliz? Olha só, você até deu um nome para o animal. Você realmente mudou com o passar do tempo hein? Mas não, obrigada! Vocês podem ate ir no pássaro e levar o corço com vocês. Mas eu vou de outro jeito.

    De outro jeito? E como você vai? — Perguntou Jennifer curiosa.

Do mesmo jeito que eu vim até aqui! Cavalgando. — Respondeu Diana antes de assoviar alto para atrair e chamar a sua montaria.

Jennifer olhou para os lados esperando avistar um belo cavalo garanhão, digno de uma princesa. Mas para a surpresa da garota azarada, o animal que respondeu o chamado da duquesa era uma bela e gigante cabra negra.

Jennifer ficou maravilhada com o belíssimo animal. Os olhos vermelhos e os chifres pontiagudos e afiados faziam um belo contraste com o pelo negro e escuro do animal. Mas o que impressionava mesmo era o tamanho do bicho.

A cabra de Diana tinha um tamanho quase de um cavalo e um corpo forte e robusto que não combinava com o de nenhuma cabra que Jennifer tivesse visto antes.

Incrível. A Sally cresceu. — Comentou Eleanor ao se aproximar do belo e grande animal.

Sim! Você ainda se lembra de como ela era pequenina quando o rei Marion nos deu os filhotes? Se eu bem me lembro até a Jennifer estava lá. — Falou Diana ao olhar para Jennifer.

Sim! Foi quando ela nos conheceu. — Respondeu Eleanor ao acariciar a cabeça do negro animal.

É mesmo! Agora é que eu me lembrei. Bom, já que você não se lembra mais de mim, permita-me apresentar-me novamente. Eu sou Diana. Duquesa e princesa governante do reino dos espinhos. — Falou Diana ao fazer uma reverencia ousada e levantar o seu vestido ao ponto de mostrar as suas belas e torneadas pernas para Jennifer.

Prazer em conhecê-la novamente. — Falou Jennifer ao corar e fazer uma reverencia bela, humilde, e recatada com a ponta do vestido.

Diana riu pervertidamente ao perceber que Jennifer havia ficado interessada em suas belas pernas. Jennifer por outro lado apenas ficou curiosa por um certo curativo branco amarrado na parte de cima da perna direita da jovem duquesa.

Já deu Diana. Jennifer já viu o suficiente destas suas pernas feias e brancas de saracura. — Falou Eleanor com uma voz fria e indiferente que mascarava muito bem o ciúme que a princesa fria estava sentido.

Hahaha... Pernas feias e brancas de saracura? Hahaha... Devo dizer que ciúmes não cai muito bem em você, velha amiga. Ou vai negar que você não sente nada “aqui” ao olhar para as minhas pernas? — Insinuou Diana ao se aproximar de Eleanor e tocar-lhe o “ventre” enquanto mordiscava a ponta da orelha da princesa fria.

Eleanor apenas manteve-se fria e calma diante da provocação da jovem duquesa, e com uma voz seria e compenetrada, falou — Será que eu deveria contar para a baronesa que a duquesa do reino dos espinhos me acariciou e mordiscou uma das minhas orelhas enquanto me abraçava por trás e tocava a minha virilha?

Diana bufou de raiva, mas logo começou a rir ao perceber a esperteza da amiga para conseguir fazer com que ela parasse com as pequenas provocações.

Parabéns Eleanor. Você realmente não é tão estúpida, quanto eu e Margaret pensávamos. — Zombou Diana com ironia.

Nunca fui! — Respondeu Eleanor ao parar de acariciar a gigante cabra.

Eu... Será que eu posso tocar nela? — Perguntou Jennifer ao apontar para Sally.

Pode sim! Venha! Ela não é perigosa. — Falou Diana ao acariciar a sua montaria.

   É uma cabra muito bonita! — Falou Jennifer ao se aproximar e também acariciar o pelo negro e macio do bicho.

Sim. E corre muito rápido! Eu mesma a considero melhor do que qualquer cavalo que eu já montei. E olha que os cavalos e garanhões do reino dos espinhos são os animais mais velozes e resistentes do mundo. — Comentou Diana orgulhosa do seu animal.

Puxa. Deve ser muito bom poder montar em um bicho assim. — Sussurrou Jennifer ao acariciar o pelo fofo do animal e se lembrar do unicórnio que a sua princesa havia lhe dado de presente.

Gostaria de montar nela? — Perguntou Diana com um sorriso pervertido.

Eu posso? — Perguntou Jennifer eufórica.

Claro que pode! Vem comigo, e eu te levo até o castelo de Meg. — Falou Diana ao subir na cabra e oferecer a mão para Jennifer.

Jennifer ficou bastante empolgada, mas antes de dar a mão para Diana e subir na cabra, a garota azarada virou e encarou a princesa fria. As duas trocaram um olhar frio por alguns instantes, mas depois de Jennifer fazer um olhar triste e pidão, e de Eleanor ouvir a garota azarada pedir um “Posso?” Com uma voz tão fofa que faria qualquer coração de gelo derreter, a princesa fria falou — Tudo bem! Eu levo a sua mochila e as suas coisas. Mas o cachorro vai com vocês.

Aceito! — Falou Jennifer ao colocar Brown no braço e subir com ele nas costas da gigante cabra negra.

Diana apenas sorriu e falou para Jennifer se segurar firme nela e assim a garota azarada fez.

Eleanor montou no Pássaro gigante vermelho, que ainda estava com a mochila e as coisas de Jennifer em suas costas, e ordenou á ave que coloca-se o pequeno corço entre as suas garras afiadas antes de decolarem.

E então, as garotas se prepararam e partiram em direção ao castelo do duque, onde Meg estava ocupada lendo um de seus vários livros sobre torturas.