The Golden Rose - A Rosa Dourada escrita por Dandy Brandão


Capítulo 13
Capítulo 12


Notas iniciais do capítulo

Este capítulo tem muitas pistas para o que vai rolar na história! Estejam atentos!

Boa leitura! :)



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À noite, depois da longa tarde de passeio, Freyr jogou-se na cama para tentar ter uma boa noite de sono. Tinha consciência que seria bastante penoso, pois seus pais discutiam aos berros, sempre sobre o mesmo problema: dinheiro. As vendas na quitanda estavam cada vez mais fracas e o motivo das brigas agora era, exclusivamente, o dinheiro. Antigamente, Mary esbravejava sobre a bebida, a casa, os filhos e durante as noites, sempre era cheia de discussões. Ele fechou os olhos e tentou se concentrar apenas em sua mente, para não deixar o ambiente estressante lhe incomodar. Poucos minutos depois, já estava na melhor parte do sono: os sonhos.

“...Caminhando por um jardim de rosas douradas, Freyr sentia uma brisa doce e refrescante bater no rosto. Era um ambiente tranquilo, seu corpo não tinha mais angústias e a harmonia parecia reinar sobre tudo. Tomou sua atenção para o límpido céu azul, quando, de repente viu alguns dragões aparecerem no horizonte. Eles rodopiavam e faziam manobras, havia felicidade em seus movimentos. Quando chegaram mais perto, Freyr pode ver que alguns seres estavam montados sobre os dragões. Eles pintavam o lindo céu azul, espalhando luzes vibrantes e coloridas por todos os lados. O vento forte do bater das asas dos dragões fez esvoaçar as pétalas das rosas douradas, mas em vez de se dispersarem sobre o vento, as rosas começaram a girar ao seu redor – os cabelos loiros cresciam em fios de ouro e as vestes transformaram-se na mais pura seda branca.

Por entre as flores, surgiram duas crianças de cabelos negros e vestes brancas. Corriam e brincavam alegremente, como as criaturas. As crianças pareciam ser iguais em estatura, cabelos, roupas, a cor da pele... Ainda não viu o rosto deles. Um deles carregava a rosa branca e o outro a rosa negra em uma das mãos. Assim que os dois garotos avistaram Freyr, eles correram em sua direção com os braços estendidos. Como de instinto, o belo jovem de cabelos dourados agachou-se esperando o abraço dos dois garotos. Eles se aproximaram e o abraçaram com força. Freyr pode sentir a intensa e poderosa vibração vinda dos dois. O brilho dos olhos inocentes dos garotos transmitiam paz ao seu coração.

Os pequeninos entregaram as flores a Freyr, e logo entrelaçaram as suas mãos.

Sobre a palma da mão do loiro, as duas flores se fundiram, formando uma flor híbrida bicolor – metade preta e metade branca. Logo, um enorme fluxo de energia a rodeou e tornou-se uma luminosa rosa dourada. Um dos meninos observou a nova flor, com seus olhinhos arregalados. Tremeu dos pés à cabeça e agarrou-se ao seu próprio corpo, como se estivesse desconfortável diante dela. Entretanto, seu companheiro abraçou e acalentou, tentava confortá-lo. Freyr se levantou e estendeu as mãos para os garotos, que no mesmo instante aceitaram, segurando suas mãos fortemente, um de cada lado.

Ele saiu, caminhando por entre as flores, levava consigo os meninos. E as criaturas continuavam em festa no céu...”

Um forte onda de energia subiu pelo corpo do garoto, que despertou, assustado. Demorou a perceber de que tudo não passava de um sonho. Tateou seus cabelos, conferindo se não tinham crescido... Olhou ao redor, procurando flores douradas. Todo aquele sonho maluco passou por sua mente em flashes, conseguia lembrar-se de tudo, dragões, criaturas de luz, os cabelos das crianças... Menos a face delas. Cambaleante, ele levantou e foi se aprontar para a manhã de trabalho.

Por conta de sua ansiedade, Zeenon não conseguiu dormir durante a madrugada. Passou o tempo na sacada do seu aposento, observando a beleza da lua. Lembrava-se do maravilhoso momento com Heimdall, seu amado irmão. Finalmente, começava a sentir-se bem consigo mesmo. Estava amando, era aceito, via o início da reaproximação. Vivia amores que nunca imaginou ter. Com certeza, vivia tempos maravilhosos.

Quando chegou ao Darkvallum, já tarde da noite. Mark e Link dormiam tranquilamente, o que não era muito comum. Geralmente, eles ficavam acordados durante a madrugada... Talvez tivessem gastado muita energia durante o dia. Teve que esperar a manhã para contar sobre o acontecimento.

Assim que acordou, Link correu para o quarto do pai. Ficou preocupado pela demora, mas sabia que ele não estava a fazer nada de imprudente. Ao adentrar no aposento, deparou-se com seu pai, de costas, debruçado sobre a sacada. Parecia perdido diante da imensidão cinza azulada que se formava no céu da floresta.

Chegou-se mais perto do nobre rei e o interrogou:

– Por que chegou tarde, meu pai?

Zeenon virou a face para seu filho e, fingindo uma expressão zangada, rebateu:

– Não mereço um bom dia?

– Bom dia, pai.

Link o observou, sem compreender aquela aura radiante que ele emanava. Os olhos vermelhos de Zeenon brilhavam intensamente e, sua aura irradiava positividade. O garoto se aproximou de seu pai e, estendeu os braços, queria um pouquinho daquele calor.

– Gosto dessa aura tão feliz... O que aconteceu?

Agora, olhando para o horizonte, o rei respondeu,

– Eu e Heimdall... Nós... – Hesitou – Simplesmente selamos a paz... Oficialmente.

Após anos vendo o seu pai cabisbaixo, arrependido, sem muito contato com o mundo, uma intensa onda de felicidade invadiu o corpo de Link. Algumas lágrimas expiaram de seus olhos vermelhos, encontrava todo o contentamento do pai no calor da aura dele... Amava imensamente Heimdall, mas nunca podia demonstrar os seus sentimentos perto de Zeenon, que há tempos não aceitava que o filho se aproximasse do tio. Apertou o seu pai, um grande sorriso iluminou o rosto.

– Agora eu realmente posso chamar o Heimdall de tio?!

O rei desatou a rir quando ouviu aquela pergunta. Ajeitou sua posição, para ficar frente a frente ao seu filho.

– Tenho certeza que esse sempre foi um desejo do meu irmão...

– Lembro-me que certa vez, quando eu era pequeno, encontramos ele por acaso na floresta... Chamei o Heimdall de tio, e você se irritou comigo! Até me botou de castigo... – soluçou, contendo as lágrimas – eu não entendia, pai... Só tinha seis anos de idade...

– Eu sei, filho, desculpe-me... Ainda não tinha me perdoado totalmente.

– Saiba que estou muito feliz! Por você se perdoar, recomeçar a relação com o tio... Poder amar alguém verdadeiramente...

O sorriso e as lágrimas do garoto demonstravam a Zeenon que o filho realmente torceu por tudo aquilo. Como fora difícil esconder a afeição por Heimdall, ver seu pai sofrer durante anos... Ver aquela reação dava mais vivacidade à sua aura.

– Vou contar ao Mark! – desgrudou-se do seu pai, pronto para ir contar a novidade.

Antes que chegasse à porta, Link foi surpreendido ao ver seu companheiro entrar no quarto, furioso.

– Aí está você!! Desculpe a invasão, Zeenon. Mas... – O dragão celeste dirigiu-se ao seu companheiro, e o beliscou, intimando – Quantas vezes eu já te falei que não é para sair sem me avisar?

– Ai, calma! – Link esfregou a mão sobre o braço direito, avermelhado pelo beliscão.

Mark cruzou os braços e olhou para o mestre, lembrando-se da demora à noite.

– E você, por que demorou tanto? – apontou a cabeça para Zeenon.

– Estou em harmonia com meu irmão... De verdade.

Assim que terminou de ouvir a frase do seu mestre, Mark correu e o abraçou, felicitava-o pelo momento, sabia o quanto era importante para ambos os lados.

Enquanto tomavam o café da manhã na varanda do primeiro andar do castelo, Zeenon sentiu a aura de Loki aproximar-se. Sempre conseguia sentir o amigo mesmo não tão próximo, tinham uma ligação enorme. Provavelmente, ele já trazia o homem - chegou a hora de começar a execução do plano. Desceu rapidamente e foi para o portão esperar a chegada do feiticeiro. Curiosos, os garotos dragões seguiram atrás dele.

Um homem alto e forte com a pele bronzeada e cabelos castanhos curtos, apareceu no portão. Usava uma roupa totalmente azul-marinho, exibia uma insígnia no peito... Realmente, era o “cão do rei”. Zeenon deu ordens para que o deixassem entrar. Ele parecia hipnotizado e possuído por algo. Quando chegou mais perto de Zeenon e os dragões, o pescoço dele ergueu e seus olhos cintilaram em vermelho escarlate. Estufou o peito, deixando uma sombra negra emergir, que rapidamente se transformou em uma figura ruiva: Loki.

O fiel feiticeiro saudou os donos do castelo, curvando-se.

– Aqui está o homem, Senhor.

– Ótimo trabalho – disse, analisando o homem desacordado nos braços do ruivo – Vamos levá-lo para “aquele” lugar.

Zeenon virou-se e fez um sinal para que seus companheiros o seguissem.

Eles atravessaram os jardins, seguindo para os fundos do Darkvallum. Assim que chegaram ao porões do castelo, no assoalho, havia a entrada para uma câmara subterrânea. Finalmente, desceram a grande escadaria e chegaram à obscura sala onde Zeenon guardava suas piores armas, agora inutilizadas.

Loki passou o olho por todas aquelas espadas, armaduras e escudos encostados nas paredes de pedra do local. Queria vê-las em ação.

– Isso tudo é um desperdício. – comentou.

– Não quero entrega-las aos ferreiros do submundo... Talvez algum dia tenham serventia.

Apenas utilizando uma das mãos, Zeenon pegou uma cadeira de ferro cheia de correntes e pôs no meio da sala. Loki, que arrastava o homem hipnotizado pelo braço, o botou sentado e acorrentou seus braços e pernas. Assim que terminou o delicado processo, voltou-se ao mestre:

– Posso despertá-lo, Senhor?

– Pode, quero trocar umas palavrinhas com ele. Mark, Link posicionem-se.

Os dragões não poderiam estar mais excitados diante toda aquela situação... Sempre tiveram vontade de participar de algo assim. Como guardas, puseram-se um de cada lado da cadeira, não por proteção, mas para assustar o meliante, coisa que eles fariam muito bem.

Loki segurou a cabeça do grande homem e ditou encantamentos: “Sombras, despertem-se! Inshtar!” As pálpebras do rapaz começaram a levantar, lentamente. Pendeu a cabeça para o lado, ainda desorientado. Porém, assim que percebeu o ambiente e as pessoas ao seu redor, não conseguiu se conter e soltou um grito tão alto que poderia ser escutado a metros de distância.

Irritado, o dragão negro pôs a mão na boca do homem, interrompendo o berro. Ele balançava a cabeça para os lados, e a todo custo, tentava se livrar das correntes.

Os olhos frios de Zeenon encaravam a criatura acorrentada; curvou-se para assustar ainda mais o rapaz. Assim que fixou-se no olhar fervoroso do rei, o Andy estacou – pensava que via a sua própria morte naquelas íris vermelhas.

– Onde você acha que está? Se você gritar novamente, arranco sua língua. – O rei disse, incisivo.

Endireitando-se, olhou para o seu filho, dando-lhe permissão para que retirasse a mão da boca do homem.

– Comporte-se para que eu não perca a minha paciência com você.

Após libertar-se da mão sufocante de Link, Andy começou a observar Zeenon e seus companheiros, atordoado. Queria entender o que fazia ali.

– Eu só quero te perguntar uma coisa, cavaleiro. – retirou do bolso do casaco preto o punhal que Freyr lhe entregara e mostrou o brasão ao homem. – Você conhece isso aqui?

Andy olhou o punhal e arregalou os olhos. Os pingos de suor no rosto e a respiração ofegante revelavam sua culpa.

Com certa curiosidade, Link perguntou:

– Que punhal é este, pai?

– Freyr o encontrou no quintal de sua casa... Depois de passar um tremendo susto à noite. Alguém queria pegá-lo.

Andy continuava assustado, olhando o instrumento nas mãos de Zeenon. Já impaciente, o guardião da escuridão, falou:

– Se não responder, vou ter isso como um sim, ok?

– É meu, sim, porém... – não sabia como continuar, queria, pelo menos, sair daquela cadeira para respirar.

– Continua. – disse Zeenon, em um tom frio.

O prisioneiro observou os olhos de seu carrasco e perdeu toda a coragem. Sabia que estava diante de alguém que não era humano e podia morrer a qualquer momento, era só dar um passo em falso. Não queria trair o seu mestre Simun, mas se a situação piorasse, não teria outra alternativa. Queria falar, mas perdera a voz. Abaixou a cabeça, vendo o uniforme real ficar encharcado de tanto suor.

O rei suspirou e controlou-se para não agredir o homem.

– Você ainda terá muito tempo para falar... Hoje mesmo receberá uma visita – deu as costas para ele e chamou seus companheiros – Vamos antes que eu descumpra meu contrato de não-agressão.

Mark e Link o seguiram, enquanto Loki tratava de deixar Andy totalmente inconsciente.

A caminho do castelo, os dois jovens dragões comentavam, ansiosos, sobre o interrogatório que estava por vir e torciam para que Heimdall deixasse Zeenon agir à sua maneira após as perguntas. Animado, Link perguntou:

– Pai, eu e Mark podemos ficar na sala quando o Heimdall for interrogar aquele bruto?

– Não, Link. Somente eu, Heimdall e Loki ficaremos lá.

Os dois chiaram em desaprovação, eles queriam ver as táticas que o Guardião da luz usaria, sabiam o quanto Heimdall era inteligente e poderia tirar alguma informação preciosa de Andy. Utilizando sua calma e paciência. Os dragões continuavam a resmungar, quando Zeenon, já impaciente, parou e pôs-se em frente aos garotos.

– Não adianta reclamar. Não vão e pronto! E eu acho que já deveriam saber as razões, não é? – cruzou os braços, fixando o olhar firme neles.

Sabia o quanto eram teimosos e que poderiam se descontrolar no meio do interrogatório. Seria um verdadeiro desastre.

Mark se encolheu perto do companheiro, queria muito participar e, eles teriam que conseguir alguma desculpa para entrar em ação.

– Nós não vamos grunhir... – disse, fingindo inocência.

– Nem mostrar as nossas presas, pai.

– Não vão me enganar, fazendo-se de inocente... –inclinou-se, intimando os garotos.

Antes que o atrito continuasse, Loki apareceu pedindo permissão para se retirar.

– Senhor, eu tenho alguns assuntos a resolver no Submundo. Preciso ir. – curvou-se, fazendo honras ao Mestre.

– Tudo bem, Loki. Qualquer problema mais grave avise-me imediatamente.
– Certo. – preparou o portal, e sumiu, diante das luzes do submundo.

Mesmo depois de julgados pelo rei, Mark e Link ainda permaneciam esperançosos. Aproximaram-se e o abraçaram de lado, como gatos manhosos.

– Zeenon... Por favor...– disseram, juntos.

As mãos do rei subiram diretamente para a orelha de cada um dos dragões e, antes que pudessem reclamar, eles sentiram seus pés flutuarem, afastando-se lentamente do chão. Só, então, puderam prestar atenção na dor que sentiam:

– Pai! Isso Dói! – Berrou Link

– Isso é maldade!

Sem se importar muito com as reclamações, Zennon seguiu com os puxões, cada vez mais fortes,

– Vamos, eu vou ensinar a vocês um feitiço de “como manter a boquinha fechada”, que tal?

E saiu, rumo aos jardins do castelo, arrastando seus meninos queridos pelas orelhas.

O jovem Freyr passou toda a manhã tentando traduzir o sonho que teve durante a noite. Ele sempre tinha sonhos com criaturas fantásticas, mas esse parecia conter algo mais especial. Os elementos que mais intrigavam eram as crianças... Os sons das gostosas risadas de infância, o belo brilho dos cabelos negros, o abraço que dera nelas. Mas as suas faces... Não conseguia recordar. Assim que chegou ao trabalho percebeu que esquecera o colar de rubi em casa, começou a se preocupar, já que estava sem a proteção do seu amado rei. Ele o tirou para tomar banho e na correria para sair de casa, acabou esquecendo-o na gaveta do quarto.

As ruas de Vistorius estavam em polvorosa... Seja nos bairros mais ricos, no centro da cidade ou nas periferias, o povo se preparava para as grandes festividades de inverno. Apresentações culturais, com muita dança, música, teatro e marchas pelas ruas. O comércio ficava movimentado, inundado de visitantes de diversos outros reinos - o que aumentava o trabalho. Jude, o pai de Freyr, estava bem-humorado com o grande movimento do estabelecimento, já que nos últimos tempos estavam quase sem clientes, tinha até se permitido mostrar alguns sorrisos pela manhã.

Freyr atendia as pessoas, andava de um lado a outro dentro da loja e o seu pai ainda o obrigava a carregar algumas caixas pesadas com legumes e frutas que chegavam. Trabalhava só um turno, porém como chegava muito cedo e a rotina de trabalho era pesada, cansava rápido. Não era grande e forte como seu pai ou o irmão, puxou o corpo franzino da família da mãe. De corpo, era muito mais parecido com ela. E, nem mesmo no temperamento, assemelhava-se com Jude. Depois de tanto esforço, os músculos começaram a reclamar. Quando a loja acalmou um pouco, foi até o depósito, apenas para tomar uma água e sentar por alguns segundos. Saiu de fininho, tentando evitar a repreensão de Jude. Ao chegar no enorme espaço rodeado de caixas fechadas e legumes estragados espalhados pelo chão, o jovem jogou-se em cima das caixas e tateou-as atrás de algumas garrafas d’água. Quando finalmente encontrou uma, limpou a garganta, já seca de tanta sede.

Enquanto Freyr descansava por alguns instantes, Jude entrou no depósito, sem que o filho percebesse. Assim viu o jovem sentado, aparentemente fugindo do trabalho, o rude homem sentiu o rosto avermelhar-se de tamanha fúria. Ele andou a passos largos até o loiro, que se assustou ao ver a expressão furiosa do pai. Antes que Freyr pudesse reagir, Jude levantou a mão e golpeou-o no rosto, sem piedade alguma. Freyr não pode evitar o grito, de tamanha a força do golpe. Levou a mão ao machucado, percebendo que também não conseguiria evitar as lágrimas.

– Como ousa parar logo agora que a loja está tão movimentada? Levante-se e trabalhe! É com isso que alimento você e a ingrata da sua mãe!

– Eu só vim beber água! – disse, procurando forças para encará-lo.

Jude pegou, violentamente, os cabelos do filho e o jogou-o no chão, olhava aquele menino doce, como se fosse uma criatura desprezível. Queria, de toda forma, vê-lo humilhado, ferido e sem forças para responder.

Sentia prazer nisso tudo.

– Olha aqui, olha bem para mim! – pegou o queixo de Freyr, obrigando-o a encarar os olhos de monstro – Você só pode parar quando eu mandar! Se fizer isso de novo, eu arranco esses seus cabelinhos fora, ouviu?!

Sem saber como reagir diante tamanha agressividade, Freyr apenas chorava e tremia no chão. Seu rosto estava inchado pelo golpe, sentiu a cabeça latejar ao ter o cabelo puxado e, seus braços e pernas não aguentavam mais o esforço. Não tinha ideia de como teria coragem de levantar dali, mas, ao mesmo tempo, tinha vontade de sumir e não voltar mais. De todas as agressões que já havia sofrido do seu pai, essa foi a pior de todas. Ele estava no chão, agarrado a todas as dores e humilhações. Não conseguia olhar o semblante raivoso de Jude, causava-lhe repulsa.

– Levante! Ande! – berrou o homem

Juntando todas as forças que restavam, o garoto despertou e começou a levantar-se, ainda com lágrimas nos olhos. Tinha que ser forte para enfrentá-lo. Não aguentava mais aquelas agressões, tanto físicas, quanto psicológicas. Não podia mais ser molestado daquela forma. Era muito mais do que ele tentava lhe transformar.

– Eu... Eu não vou tolerar mais isso! – berrou, encarando os olhos raivosos do seu pai.

Finalmente, conseguiu se levantar e, antes que Jude pudesse lhe repreender, correu, chorando como uma criança. O homem ficou parado, no meio do depósito, sem entender as palavras dele. Para ele, Freyr não tinha para onde ir e logo voltaria. Não correu atrás dele, apenas falou consigo mesmo: “Você vai ver o que te espera quando voltar para casa, bastardo” e, como se esquecesse toda a situação, voltou para o trabalho.

Ele vagou pelas ruas de Vistorius, como se estivesse perdido. Lembrava, em flashes, dos olhos raivosos de Jude. No momento, seu desejo era nunca mais olhá-lo novamente, não sentir mais o peso daquelas mãos, não ouvir mais as suas palavras de ódio gratuito. Sofreu desde pequeno e, Mary, talvez por medo de também ser agredida, nunca protegia o filho mais novo. Mantinha-se afastada, ouvindo os gritos do menino e nem era capaz de acalentá-lo no choro. Freyr sempre foi um filho tão submisso; aguentava todas as agressões calado, quando criança trabalhou em casa, adolescente atarefava-se na quitanda e, mesmo assim, Jude continuava a maltratá-lo. Jimmy que sempre foi muito mais arisco que ele, não era tratado da mesma forma. Pelo contrário, era considerado o orgulho da família. O garoto caminhava pelas ruas de pedra da capital do reino de Ezra, olhando as pessoas ao redor, com um imenso vazio no peito. Permaneceu forte, mas a ferida em seu coração parecia mais exposta que nunca. Procurava algo, algo para se agarrar, para confortá-lo e dizer “Tudo ficará bem”. Queria tirar mais forças do seu corpo, mas todo o esforço que fez para encarar e dizer aquilo a Jude levara todas elas. Depois de tanto andar, Freyr conseguiu chegar à sua casa. Entrou no quarto, e logo pegou o rubi cintilante, agarrando-o em seu peito.

Agora estaria protegido.


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Notas finais do capítulo

Esqueci de adicionar esta nota no outro capítulo... Na verdade, não é uma observação, só uma curiosidade.
Quando iniciei a fic, não idealizava fazer Heimdall e Zeenon irmãos... Na verdade, eu só queria fazer uma história de um rei injustiçado pelos comentários humanos, porém quando comecei a desenvolver a relação dos dois guardiões surgiu a ideia do parentesco e daí, consegui desenvolver muito coisa :D



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