Eu gostaria muito de contar-lhe o que fiz na minha última semana de férias.

Sério.

                    O problema é que eu não fiz nada, além de derramar algumas lágrimas de vez em quando.

                    Acredite em mim, isso não é comum. Eu não costumo chorar, não mesmo. Nunca. A minha família costumava dizer que eu era insensível, principalmente a Natalia, ela sempre foi a chorona da casa.

                    Não é que eu não sofra, eu só não consigo chorar. Por quê? Eu não sei te responder.

                    Naqueles últimos seis anos, as únicas vezes que me lembro de ter chorado foi em algumas poucas noites e todas, absolutamente todas, por causa do Alex. Simples – eu sempre achei que nunca teria chances.

                    Aquela semana eu chorei porque quando tive uma chance, estava a sentindo sumir por entre os meus dedos.

                    Alguns dias antes eu me sentia a garota mais feliz do mundo. E naqueles dias, a mais ansiosa.

                    É claro, eles não poderiam ir embora sem suas coisas, nada estava empacotado, fiz questão de dar uma olhadinha na noite do piquenique quando Alex abriu a porta para mim. Eu estava sendo pessimista (como sempre), eles ainda iriam voltar – isso era certeza - e era provável que eles nem se fossem.

Mesmo assim, eu chorava só de pensar na possibilidade de perdê-lo.

                    Acho que é importante ressaltar. Eu tive pesadelos todas aquelas noites. Todas, sem exceção. Todas perseguições. Cada vez meus pesadelos se banhavam mais em sangue, e eu sempre era a vítima no final. Eu sempre acordava suando, aliviada por não ter sido nada além de um sonho.

                    Outra coisa importante é que Mi me ligou todos os dias daquela semana. Ela queria sempre sair, me encontrar, ir lá em casa. Eu sempre dava uma desculpa qualquer, talvez eu a tenha chateado. Mas eu não estava com vontade alguma de sair antes de tirar aquela dúvida da cabeça.

Eles iam embora ou não?

                    Acabou que na sexta-feira, Mi não engoliu minha desculpa esfarrapada e foi lá em casa. Me obrigou a tomar um banho. Escolheu uma roupa para mim e me fez vesti-la.

- Você vai sair e se divertir agora mesmo, mocinha!

- Mas, Mi...

- Nada de “mas”! Você se lembra? As melhores férias! É o último fim de semana para fazermos essa promessa valer!

                    Natalia apareceu na porta, cruzou os braços:

                    - Finalmente alguém vai tirar esse vegetal daqui! – seu telefone tocou e ela correu para o quarto.

Mi olhou para mim, que acabava de abotoar a camisa.

- Natalia nunca sai com a gente, né?

- Ela é metida a mais velha...

- Ela parece mais velha que você mesmo...

- É, todo mundo diz isso.

- Cadê a Sophia?

- Eu nem sei... eu não tenho saído muito do meu quarto esses dias...

                    Quando passamos na frente do quarto da Natalia, ouvimos um choro. Abri a porta devagar e coloquei só metade da cabeça para dentro. Vi Natalia, deitada na cama cobrindo o rosto com o travesseiro e soluçando.

- N-Natalia... ta tudo bem?

- É claro que não ta tudo bem, sua idiota! – Ela gritou entre os soluços altos.

                    Entrei no quarto e fui até ela, sentei na cama ao seu lado e coloquei a mão em sua cabeça, afagando. Mi estava dentro do quarto, mas esperava ao lado da porta.

- O que aconteceu?

- O imbecil do meu namorado acabou comigo!! – Isso ela gritou chorando, e eu mal pude entender.

- Você tem namorado?!

- AGORA NÃO TENHO MAIS!!!

                    Mi se aproximou.

- Sabe, você pode sair com a gente se quiser... vai se sentir melhor...

                    Natalia levantou o rosto do travesseiro e olhou para nós duas. O seu cabelo estava meio despenteado e algumas mechas teimavam em grudar no seu rosto pelas lágrimas, uma expressão meio triste e um pouco esperançosa surgiu em sua face. Nunca a tinha visto tão fofa, tão sensível. Foi a primeira vez que a vi como uma irmã mais nova.

- S-sério?

                    Eu e Mi sorrimos.

- É claro que sim!

                    Fomos ao shopping aquela tarde. Fazer compras! Fazia um bom tempo que eu não comprava roupas e minha mãe sempre fez questão que nos vestíssemos sempre muito bem.

                    Foi uma tarde divertida, entrávamos nos provadores e ficávamos vestindo várias roupas e combinações esquisitas, rimos muito. Natalia parecia melhor. Eu parecia melhor. Depois que tínhamos uns 3 pacotes de roupas, cada uma, decidimos fazer um lanche.

Enquanto tomávamos nossos sorvetes, Natalia gritou:

- AH NÃO!

- Que foi, Naty? – perguntou Mi.

Natalia se escondeu atrás de mim (não que fosse fazer muita diferença, eu era mais baixa e mais magra que ela).

- É ele! Ele ta ali!

- Ahn? Aquele cara ali sentado com outra garota? – Eu perguntei.

- É sim, eu não acredito! Ele acabou de acabar comigo e já está com outra?!

- Hm... que menino safado! – Eu falei inconformada.

De repente, aquele menino, o ex da minha irmã que – diga-se de passagem – era muito bonito, beijou a garota, bem na nossa frente. Ta, não bem na nossa frente, estávamos a alguns metros, mas ainda assim.

Mi e eu nos entreolhamos e depois olhamos para a Natalia que estava com o queixo mais caído do que os peitos da minha avó!

- N-naty....

                    Natalia começou a andar, em direção ao menino (nunca soube seu nome).

- Natalia, o que você vai fazer? – eu perguntei caminhando atrás dela, com Mi nos acompanhando.

                    Ela chegou bem perto dele, em silêncio e parecia séria. O garoto a olhou e tentou dizer algo como desculpas que eu não escutei, a única coisa que vi em seguida foi o chocolate do sorvete de Natalia escorrendo do rosto dele. Sim! Ela enfiou o sorvete dela na cara do garoto sem pestanejar! Depois saiu andando, normalmente como se nada tivesse acontecido.

Foi a vez de eu e Mi ficarmos de boca aberta.

Depois corremos atrás de Natalia e rimos, rimos e rimos da cara de idiota do rapaz!

                    Foi uma tarde divertida entre amigas, e eu estava precisando daquilo. Mais até do que eu podia imaginar na época. Eu mal sabia o que me esperava.

Naquela noite pedi para que Mi dormisse lá em casa.

E pela primeira vez, ela aceitou.

Ela foi na casa dela e chegou um pouco tarde, com uma mochila e uma bolsa menor.

Sophia chegou, tinha saído com umas amigas da idade dela.

Não fizemos muita coisa aquela noite, ficamos eu, Mi, Sophia e Natalia no meu quarto, conversando.

Contamos para Sophia o que havia acontecido aquela tarde.

Na manhã seguinte, liguei para Eliza.