Era segunda-feira. Eu estava sentada do lado da janela no colégio, vendo as gotas de chuva molhando o chão, as árvores, o vidro que me protegia dela.

Eliza estava atras de mim, brincava de girar a lapisera nos dedos.

A aula de geografia estava mais chata que o normal. Me virei para Eliza:

- Você acha que a Mi veio? Tá chovendo tanto...

- Sei lá.

- Você não acha ela um pouco misteriosa? Parece que sempre tem que fazer algo... acho que ela esconde alguma coisa...

- Hm.

- O que foi?

- Nada...

       O intervalo chegou.

- Cadê a Mi? Não a acho em nenhum lugar. Me ajuda a procurar, Eliza.

- Se quer tanto achá-la, procure sozinha.

- Nossa, que mau humor. Então eu vou mesmo!

    Mi havia faltado. Mi é um ano mais nova do que eu e Eliza, por isso está uma série a menos. Apesar de que parecia estar no primário!

A aula acabou. Só chuviscava.

- Eliza, acho que vou passar na casa da Mi agora, quer vir comigo?

- DROGA ALICE!! Tudo agora é MI MI MI! Mi pra lá, Mi pra cá! Antes era só Alex o tempo todo e agora eu tenho que ouvir você falando dessa garota?!

- M-mas... Eliza... calma...

- Nada de calma!! Eu cansei de você! Me deixe em paz! - Eliza virou de costas e correu antes que suas lágrimas pudessem escorrer pelo rosto, mas não antes das minhas.

- AH, é assim?? - Gritei, pra ela ouvir - Então você também me deixe em paz!!! Sua, sua... IDIOTA!

"droga"

Corri sem direção. Porque Eliza havia agido assim? Eu não entendia! Nós nunca havíamos brigado... talvez uma discussãozinha ou outra, mas uma nunca havia gritado com a outra. Será que era só ciúmes da Mi?

Quando me dei conta estava dentro de uma praça enorme. Eu a conhecia, mas só do lado de fora, chamavam de "praça fantasma" porque ninguém ia mais para lá.

Bem no centro da praça havia um lago e uma linda ponte de madeira. Não entendia porque ninguém mais andava por ali, era um lugar lindo.

Me apoiei no corrimão da ponte e fiquei olhando o lago enquanto enxugava minhas lágrimas.

- Até as borboletas deixaram de visitar este lugar.

Disse uma voz maravilhosa vindo por trás. Como eu conhecia aquela voz. Como eu amava aquela voz.

- Ah, oi Alex.

- Eu te vi correndo chorando por aqui, eu sei que a resposta é não, mas... tá tudo bem?

- hahaha, porque você sempre está por perto nos meus piores momentos?

- Vai saber, talvez porque eu deva estar por perto...

Ficamos em silêncio, eu não sei quanto tempo, não me senti desconfortável com aquele silêncio, não quando ele estava por perto.

- Você sabe porque ninguém mais vem para este lugar, Alice?

- Não...

- Dizem que uma mulher amava esta praça, em especial esta ponte. Ela vinha aqui todos os dias. Um dia, quando comemorava seu aniversário com o marido, apareceu um assaltante. O marido dela reagiu ao assalto e o homem acabou atirando na mulher, que morreu.

- Que triste...

- Sim, depois disso ninguém quis vir mais para cá. Dizem que cheira a perigo, morte e lágrimas. Na verdade, diz uma lenda urbana que até hoje a mulher passeia por aqui, pelo menos uma vez por dia... espero que não seja neste horário, né?

Tive um calafrio e me encolhi toda, me aproximando mais do Alex que me abraçou.

- Não se preocupe, eu protejo você.

Eu poderia passar o dia inteiro nos braços dele.

- Vamos sair daqui, senhorita assustada.

- T-tá!

- Alice - Ele disse enquanto andávamos em direção a saída - porque você não está com a Eliza?

- Então, é por isso que estou aqui, nós brigamos...

- Vocês brigaram?! Logo hoje?

- O que tem hoje?

- Como assim?! Eliza passou ontem o dia todo tentando planejar o dia perfeito para vocês passarem juntas! Hoje não é o aniversário de quando nos conhecemos?

Passei dois segundos processando a informação. Há exatamente 6 anos atrás nós brincávamos com Pingo, o poodle no jardim da casa deles.

- Droga!! Eu havia esquecido!! Então é por isso que ela estava tão irritada!

- HAHAHA, não acredito que você esqueceu! Eliza não falava em outra coisa! Acho até que ela comprou algo pra você!

- E-ela comprou um presente?! Nossa, então... eu preciso comprar algo para ela para compensar o meu deslize...

- Eu estou livre, posso lhe fazer companhia?

- Claro! Ah... depois... Depois poderíamos comemorar todos juntos, afinal, também faz seis anos que nos conhecemos, não é?

- Verdade... então vamos fazer de hoje um dia memorável!

"Hoje já é um dia memorável, para mim."