Red Johns Case escrita por SorahKetsu


Capítulo 8
That mean cold-hearted-guy




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Jane estava em sua casa, revisando, desde o início, tudo que aconteceu. Anotava num caderno que, invariavelmente, começava a encher de rabiscos que para a maioria das pessoas não faria sentido nenhum.

Ele estava arrasado, destruído, mas incapaz de deixar tudo isso impune. Sentia-se vulnerável. Afinal, havia, no mínimo, um simpatizante de Red John próximo dele enquanto estava com Lisbon, para deixar um recado e uma marca em seu carro. Se quisesse plantar uma bomba nele, se quisesse atirar nos dois juntos, com um único tiro teria se livrado de ambos.

E agora vinha à sua mente o fato de que, ao rever seu trauma devido à quase relação com Jane, Lisbon se lembrara exatamente do momento em que Red John lhe deixava uma mensagem. Obviamente Jane não seria capaz de ir até o fim com a hipnose, mas para que o trauma viesse à tona, bastava um empurrão, bastava que ela começasse a se lembrar. Não podia dizer que Red John previra até mesmo uma relação sexual entre eles. Ou melhor, não podia dizer que ele esperava que acontecesse assim tão rápido, mas o serial killer já dera provas de que estava na cabeça de Jane, por mais absurdo que isso possa parecer.

Como? Seqüestrando Lisbon, e não Van Pelt, por exemplo – e Jane anotou rapidamente no caderno tal pensamento. Se Red John não estivesse por perto, como saberia que Jane se importava muito mais com sua chefe do que com a ruiva? Claro, ele se esforçaria para salvar ambas da mesma forma, mas a dor de pensar em perder Lisbon seria imensamente maior.

Por isso devia também saber que numa situação delicada, em que ambos estivessem frágeis, uma relação dessas podia ocorrer. Se Red John tinha poderes pelo menos parecidos com os de Jane, saberia notar com facilidade a atração de Lisbon por ele. E com um pouco mais de esforço, desconfiaria da reciprocidade. Então era um ponto em que Red John poderia prever se: 1 – for um mentalista e 2- estava constantemente por perto.

Mas havia uma quebra de padrão muito óbvia.

Jane olhou as últimas páginas do caderno, voltou para o início, releu algumas anotações, voltou, comparou. Tudo era muito óbvio, nada que ele não tivesse notado desde o início, mas procurava qualquer semelhança pra ter certeza de que não estava errado. Red John estava, excitado, por assim dizer, em provocar Jane, não em matar. Afinal, ninguém, além do pônei, morrera, desde o início disso tudo. Ao menos não pelas mãos do serial Killer. Afinal Jane mesmo fora o assassino de um policial inocente.

Jane releu tudo.

Passo a passo, todas as páginas do caderno.

No começo, Red John mantinha um padrão muito típico. Sempre mulheres, os mesmos cortes, unhas pintadas com sangue e, claro, o sorriso na parede.

Mas Jane podia se lembrar claramente de um dos últimos assassinatos, quando não havia sorriso, até que um avião cruzou o céu, desenhando, em fumaça, o símbolo perfeito. Uma extravagância que custou ao assassino ceder informações valiosas a Jane. Altura, cabelo, gosto musical. Não era muito, mas já era alguma coisa.

E o fato dos assassinatos terem mudado de estado?

A primeira mulher a ser morta já mostrava um padrão a ser quebrado. Sem unhas pintadas. E pela foto que Jane vira, o sorriso na parede foi feito com mais pressa, sem o gosto que Red John costumava ter.

Eram mudanças pequenas, discretas, mas que Jane agarrava e se prendia a elas.

Mais uma vez escreveu no caderno.

“Teorias:

1 – Red John está mudando seus hábitos.

2 – Red John não é mais o mesmo da primeira investigação.

 

Mas ele continuava genial. Porém extravagante, arriscando demais. Jane estava quase certo de que ele estava se testando. O que ele queria? Ver o limite de suas próprias forças? Brincar com Jane para aumentar o próprio ego?

Red John agora parecia muito uma criança rebelde e mimada. Com um QI assustador, mas ainda assim uma criança. Um alguém muito mais preocupado com a própria imagem do que no início.

O que mudou?

Jane não fazia idéia.

A mensagem foi passada. Lisbon talvez tivesse a solução pra tudo. Talvez. De acordo com o próprio Red John, a mensagem continha a informação para encontrá-lo. Mas Jane já previa que não seria fácil assim. Devia haver algo na mensagem que impediria Lisbon de dizê-la.

Jane fechou o caderno. Já era madrugada. Sentia-se como se não dormisse há um milhão de anos, mas nem sinal do sono vir.

Quanto tempo devia esperar até que pudesse ir perguntar a Lisbon sobre a mensagem? Um dia, dois dias…? As coisas estavam muito mais preocupantes agora. O sentimento de ambos era claro. Jane ia precisar ir com extrema calma a partir de agora.

Portanto estabeleceu um tempo sem sequer entrar em contato com a chefe. Três dias.

Três dias sem nem ouvir a voz um do outro. Nenhum contato por parte nenhuma. Ele nem sabia se ela estava bem.

Foram três dias sem noticia nenhuma por lado nenhum, nem da CBI. O telefone parecia estar mudo. Ele até conferiu algumas vezes, mas funcionava normalmente.

Então, um tempo depois, às duas da tarde, ligaram para ele. Era da CBI.

Amanda Muller despareceu. Não há indícios de seqüestro. Não houve recado algum deixado”.

A cabeça de Jane teria se ocupado mais com isso. Mas não se ocupou. Havia um milhão de motivos pra se preocupar mais com Lisbon.

Aliás, após esse tempo de 3 dias, ele ligou para ela.

Perguntou como estava, não mencionou nada da mensagem, Ela disse que já tinha se recuperado, e que as coisas pareciam voltar ao normal.

Ninguém mencionou Red John em momento algum.

Depois de uma semana – na qual Jane só ligou duas vezes -, ele a convidou para visitá-lo. Disse que estava entediado e sem nada pra fazer, precisando vê-la. Claro que ela não aceitou, então ele acabou aparecendo lá de surpresa.

- Jane? – espantou-se Lisbon ao abrir a porta.

- Por que a surpresa? Eu disse que precisava te ver.

- Bem… ok, mas…

- Você tem chá?

Lisbon fez que sim e foi pegar. Jane se acomodou no sofá, sem olhar ao redor. Já conhecia aquela casa com perfeição. E ainda mais aquele esmo sofá.

Ela voltou após cerca de cinco minutos, com uma xícara para ele. Entregou e sentou-se na poltrona.

- Então? A que devo a visita?

- Creio que você saiba. – ele disse, bebericando o chá.

- Não. – ela afirmou, quase alegremente – Não faço idéia.

Jane olhou-a de canto. Ia ser muito mais difícil do que imaginava.

- Lisbon, na semana passada nós…

- Jane. – ela interrompeu, apressadamente. – Tem algo que eu quero dizer. É muito importante.

Ele estranhou, mas por um lado ficou feliz. Talvez não fosse assim tão difícil. Talvez ela tivesse percebido o quão importante isso era para ele, e mesmo com um motivo para não contar, resolvesse ceder.

- Diga. – ele pediu, deixando a xícara de lado.

- Jane… - ela tremeu, mas pareceu se esforçar demais para dizer. – Jane, eu gosto de você. De verdade. Acho que eu quero sim um relacionamento com você. Quero dizer, não que eu espere que você queira, é só que eu aceitaria, se…

Havia um traço de desespero em sua voz. Lisbon estava se esforçando mais do que se esperaria para dizer tais palavras. Numa situação normal, em primeiro lugar, ela não diria tais coisas. Em segundo lugar, não diria sem pensar um milhão de vezes antes, sem estar insegura, e sem tentar voltar atrás.

Não, ela parecia segura demais do que dizia, e ainda assim não parecia muito honesta. Forçado.

- Lisbon, o que você está fazendo?

Ela engoliu em seco, baixou a cabeça e corou.

- Me declarando. Diga o que você acha.

- Não, você não está.

Ela fechou os punhos, que tremiam. Num ato brusco, ela o beijou.

Mas não foi um beijo apaixonado.

Foi forçado. Como tudo naquela situação.

Então Jane segurou os ombros dela e separou os lábios. Olhou nos olhos dela. Havia temor, pena, tudo ali. Uma confusão de sentimentos. Mas definitivamente não havia pretensão alguma de beijar, de dizer que o amava. Havia apenas necessidade. Um motivo maior, que não verdadeiro sentimento.

- Está me ofendendo, sabia disso? Todo esse teatro pra quê? – questionou Jane – Você me conhece, Lisbon. Você sabe que não vou cair em nada disso.

Ela não disse nada. Apenas desviou os olhos.

- Você está tentando desviar a atenção do real motivo pelo qual estou aqui. – Jane afirmou. – Está se utilizando da sua esperança de que eu te ame pra me fazer esquecer o assunto.

- Como eu sou idiota, não é? – ela tinha mudado o tom para leve raiva – Achando que você esqueceria um serial killer se eu dissesse que te amo. – ela se levantou e ficou de costas. – Mas eu não vou dizer.

- Então é verdade que você se lembrou da mensagem.

- Pode ir embora, Jane. Não vou dizer.

- Lisbon, eu preciso saber.

- Não! Você não precisa! – ela se virou na direção dele, seus olhos estavam vermelhos, mas sua voz estava carregada de raiva – Não foi você quem disse que ia parar de persegui-lo para dar a ele uma chance de errar?

- É diferente, Lisbon! Dessa vez pode ser minha chance! Pode ser minha última chance!

- E se for mesmo a última!? – Lisbon sentiu um nó na garganta.

- Eu não posso deixá-la passar.

- Eu não vou falar, não importa o que você diga ou faça.

De repente, as coisas começaram a se fechar ao redor de Jane. Ele não se via mais com opções. Como um claustrofóbico numa caverna enchendo de água e sem saída, ele perdeu a razão.

“Quando todas as escolhas são erradas, é apenas o destino”.

Essa frase tornou as coisas menos desagradáveis para ele, mas não para ela.

- Eu preciso saber, Lisbon! – ele bradou, levantando-se do sofá num salto para equiparar-se a ela – Você não tem o direito de esconder isso de mim. – era quase uma ameaça.

- Obrigue-me a falar.

Ele a encarou por poucos segundos, antes de segurá-la firmemente pelos braços e chacoalhá-la.

- Lisbon, é a minha família, é minha vingança, estou dando minha vida a isso, eu não vou descansar um minuto até que Red John esteja fatiado depois de sofrer o inferno em terra pelas minhas mãos. Eu prometi a mim mesmo que não deixaria nada ocupar minha mente a não ser isso. Eu vou passar por cima de absolutamente qualquer coisa que se interponha a mim e Red John. – ele baixou o tom de voz, porém sem diminuir a raiva que carregava em suas palavras - E eu odiaria que essa coisa fosse você.

- Disse que tinha me colocado acima da vingança.

- Eu só não queria te perder. Mas agora eu entendo. Eu não tenho outra missão a não ser capturá-lo. O mais correto é não dar a ele fraquezas.

- Eu sou sua fraqueza?

- Eu quero que me diga onde posso encontrá-lo e então se esqueça de mim para sempre. Eu vou capturá-lo dessa vez.

Ela baixou a cabeça e deixou uma lagrima escorrer.

- Eu não vou dizer, Jane, me solte, está me machucando.

A fúria que se apoderou do consultor foi tamanha que num único movimento ele a empurrou, fazendo-a cair com tanta força na poltrona que esta ameaçou tombar pra trás.

Lisbon estava assustada. Sua respiração estava alta, e podia-se dizer que agora ela sentia certo medo de Patrick.

Ele botou as mãos na cabeça e girou em torno do próprio eixo, tentando se acalmar.

Então ele virou-se para ela.

- Desculpe. Desculpe, eu estou sendo um idiota, você tem toda razão. Eu devia deixar isso pra lá.

Ele se ajoelhou ao lado da poltrona e olhou no fundo dos olhos dela.

- Está tudo bem agora, eu não vou atrás de Red John.

Ela o mirava com espanto, a adrenalina em seu corpo ainda estava alta.

- Não se preocupe. – ele insistia – Apenas relaxe. Não vou mais te machucar, tudo vai ficar bem, estou do seu lado agora.

Aos poucos ela foi se deixando levar por aquelas palavras. Jane percebeu e continuou com elas.

- Apenas relaxe. – ele repetiu – Tudo vai ficar bem agora. Sente-se relaxada? Sente-se mentalmente descansada e livre de preocupações?

O olhar dela começou a baixar, quase como se fosse dormir. Ela apenas balançou a cabeça afirmativamente. Hipnose, claro. Como se Jane fosse mesmo deixar tudo isso de lado.

- Agora, pra deixar tudo isso de lado, antes, eu preciso que me diga onde posso encontrar Red John.

- Eu não posso dizer porque Red John vai matá-lo. – ela disse, claramente em transe.

Nem o melhor dos hipnotizadores seria capaz de fazer alguém ir contra seus princípios.

E era esse o motivo pelo qual Lisbon não queria dizer. Red John disse que o mataria. Por que diria isso?

Uma série de teorias correram pela mente de Jane. Se queria realmente matá-lo, não diria. Pra quê? Pra que fosse com o dobro de precaução? Não fazia sentido. Seria muito mais fácil pegá-lo desprevenido. Não, Red John dissera aquilo justamente para que Lisbon não quisesse dizer. Justamente pra que Patrick brigasse com ela.

- Eu não vou atrás de Red John, Lisbon, só quero saber para poder deixar tudo isso de lado e ficar com a consciência limpa. Vai me ajudar se disser, vai salvar minha vida.

Lisbon pareceu ficar confusa por alguns instantes, mas então começou a falar:

- Red John está onde você encontrou sua mulher pela primeira vez.

Jane parou para pensar. Todo o encontro lhe veio como um flash. Ela estava linda. Simplesmente linda. Era num parque de diversões.

- Obrigado, Lisbon. – agradeceu, tocando-a no ombro.

Ela balançou a cabeça e olhou ao redor, em seguida para ele.

Demorou apenas alguns segundos pra que entendesse o que tinha acontecido.

- Não… você não fez isso…

- Foi necessário.

- Onde foi? – ela perguntou entre os dentes – Onde foi o seu primeiro encontro?

- Por que eu diria? Pra que aparecesse lá com um monte de policiais pra espantar Red John? Como eu disse, Lisbon. – Ele se levantou, pegando as chaves do carro do bolso – É a minha vingança. E eu gostaria muito se você não ficasse no meu caminho.

- Você disse que estaria sempre lá pra mim.

- E?

- Se você morrer, não estará.

- Eu não vou morrer. E se eu morrer, pode ter certeza que Red John já estará morto.

- Eu não me importo com Red John! – berrou Lisbon – Eu me importo com você!

- Essa é a última vez que você me vê. – ele deu dois passos na direção dela – Eu me demito. Red John estará morto até amanhã. E então eu não terei mais motivos para estar aqui. Adeus, Lisbon.

Então ele saiu.

E Lisbon sentiu como se ele saísse de sua vida para sempre, levando consigo parte de seu ser, de sua carne, de seu corpo. Ela sabia que tudo seria decido no dia seguinte. Um dos dois morreria. Independente de quem, Lisbon nunca mais veria Patrick Jane, e isso a destruía por dentro. Pois apesar de forçada, a declaração foi verdadeira.


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Notas finais do capítulo

Prévia do cap. 9:
Jane estava cansado. Estava ansioso por descansar de todos esses anos de perseguição, sofrimento e vingança. Queria poder dormir, deitar a cabeça no travesseiro e não pensar nas pistas deixadas por Red John. Queria poder ficar com Lisbon. Queria que tudo isso não custasse a morte de Muller, mas custava.
— Vamos, Jane, é apenas o destino.
É apenas o destino?
Um fino sorriso se formou nos lábios de Jane.
"Não dessa vez", ele pensou, tão logo sacou a arma que pegou da casa de Lisbon e atirou.