Red Johns Case escrita por SorahKetsu


Capítulo 11
Lenda sem rosto




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Logo após Lisbon ter desligado o telefone, o mesmo tocou em seguida. Ela atendeu imediatamente, com a voz chorosa. Algo dentro dela ainda não acreditava que Jane havia morrido. Esperava ser só mais uma brincadeira. Mas do outro lado da linha era Cho.

- Lisbon, houve um incêndio num parque em São Francisco. Eles acham que foi intencional. O corpo de Amanda Muller foi encontrado carbonizado no foco do incêndio. Querem que peguemos o caso.

- Amanda Muller? O que ela fazia lá?

- Não fazemos idéia.

Lisbon agradeceu a informação e foi até o banheiro. Lavou o rosto, porém logo em seguidas novas lágrimas começaram a rolar. Mais uma tentativa de lavar os olhos e ela guardou um pacote de lenços na bolsa.

Enquanto dirigia, flashes vinham à sua mente. Lembranças de Jane. Deitado em seu sofá, olhando pra mancha em formato de Elvis. Rindo. Fazendo uma mágica qualquer. Tudo isso era agora não mais que um vão em sua vida.

Dirigiu por cerca de uma hora até chegar no local. As centenas de pessoas saíam em fila. Os brinquedos haviam sido desligados e o parque estava lotado de policiais. Havia um carro de bombeiros parado mais à frente, trabalhando em extinguir as últimas chamas do trem fantasma. Uma ambulância carregando um ferido preparava-se para deixar o local. Lisbon sentiu o coração saltar e correu até ela, como um raio de esperança.

Mas quem estava lá dentro era um jovem atingido por um fragmento, provavelmente vindo de uma explosão.

Na verdade nem sabia se era lá mesmo que Jane estava.

Ou o corpo dele.

Ela mostrou o distintivo a um oficial, que a deixou passar. Ela olhava ao redor, procurando por Jane, inconscientemente. Mas nem sinal do consultor.

Chegou ao trem fantasma e encontrou Cho, falando com um dos chefes dos bombeiros. Rigsby estava analisando o circuito elétrico, procurando algo que pudesse ter iniciado o incêndio. Ao ver a chefe, Van Pelt, que até então falava com outro oficial, foi até ela.

- Chefe, encontramos galões cheios de gasolina num depósito subterrâneo. Parece ter sido usada no incêndio.

- E Amanda Muller…? O que estava fazendo aqui?

- Não fazemos idéia, mas vamos olhar as fitas de segurança. Não dá pra afirmar, mas há indícios de que ela estava na sala de controle, numa cadeira.

Alguns metros dali, Cho recebia uma ligação. Ao desligar o celular, correu até Lisbon. Havia preocupação em sua voz.

- Chefe, o prédio da CBI acaba de ser explodido. Cerca de 30 agentes e mais 25 funcionários morreram.

Definitivamente, tudo aquilo que Lisbon mais prezava estava desmoronando ao seu redor. Sentia que se recebesse outra má notícia explodiria.

- Uma coisa de cada vez, Cho. Vamos ver essas fitas de segurança.

 

***

 

Os quatro se sentaram em frente uma única televisão para assistir tudo que se passara naquela sala.

Primeiro o homem encapuzado, que entrou na sala com Muller desacordada em seus braços. Ela foi amarrada numa cadeira e deixada sozinha.

Após algumas horas Jane entrara na sala.

O coração de Lisbon ameaçou parar. Seus joelhos cambalearam e suas mãos começaram a tremer e suar frio. O homem, que na televisão estava tão vivo, já não existia mais.

E então toda a conversa sobre Muller ser Red John, mas não ter matado a família de Jane.

Logo em seguida o ultimato do homem encapuzado e o tiro que Jane lhe dera. Lisbon reconheceu a arma imediatamente. Nem se deu por falta, mas pertencia a ela. O consultor deve ter pegado da última vez que esteve lá.

As peças começaram a se encaixar então. O homem de defendeu dando outro tiro em Jane. A câmera não permitiu ver onde pegou, mas Jane não pareceu ter sentido.

Depois disso Red John corria e o consultor recebia a dica de Muller.

 “Ele é alguém próximo de você”, e Jane partira.

Era a última imagem antes que a sala fosse consumida por chamas.

- Jane deve estar ferido em algum lugar por aqui! – disse Van Pelt, desligando a televisão.

- Rápido, precisamos de agentes pra procurar-no. Red John também deve estar pelas redondezas. – afirmou Rigsby.

Só Lisbon permaneceu sentada. Quando os demais agentes perceberam sua imobilidade, se detiveram.

- Chefe?

- Patrick Jane está morto. Mas sim, é importante procurar por ele.

 - Como… como assim ele está morto?

Ela suspirou. Baixou a cabeça pra tentar esconder as novas lágrimas. Um nó subiu em sua garganta, de forma que chegou a doer.

- Ele me ligou uma hora atrás. Morreu enquanto falava comigo.

Os três tiveram as mesmas mudanças faciais: Primeiro a surpresa, com a boca aberta, os olhos incrédulos. Depois a aceitação, e eles fecharam a boca lentamente. Depois o pesar, quando baixaram suas cabeças tristemente.

- Red John explodiu o prédio da CBI – ela afirmou – para aumentar o número de suspeitos. Se ele é alguém próximo de Jane… com certeza estava lá esse tempo todo. Se ele desaparece enquanto seu ferimento se fecha, nós saberíamos quem ele é. Por isso matou de uma só vez 55 funcionários do CBI.

- Como se estivesse tudo preparado. – comentou Cho.

- Não. – negou Lisbon. – Ele não sabia que Jane ia atirar. Ele ficou surpreso demais para alguém que esperaria toda essa situação.

- Então como implantou uma bomba assim tão rápido? Ferido ele não poderia dirigir até Sacramento e explodir um prédio federal. – concluiu Van Pelt.

- Ele não está em Sacramento. Alguém no CBI recebeu essa ordem. Explosivos é o que não falta lá. Não seria necessário um grande planejamento. – ponderou Cho.

- Então o que faremos agora?

- Red John não pode ter ido longe, estando ferido. – disse Lisbon. – Mandem viaturas patrulharem tudo por aqui. Também devem procurar pelo parque pelo corpo de Jane.

- Sim, chefe. – disseram os três.

- E o que a senhora fará? – quis saber Rigsby. – Vai procurar Jane?

- Não… - ela pensou na hipótese de encontrar o corpo do consultor e decidiu que não queria tal visão – Vou atrás de Red John.

Lisbon saiu da sala e atravessou o parque até seu carro. Deu uma rápida olhada para os arredores, até parar a visão no trem fantasma. A porta por onde ambos saíram ficava na direção contrária, logo, em desespero, Red John provavelmente saiu em linha reta.

Lisbon deu a volta no parque, até parar na rua de cima, alguns níveis mais alta. Parou o carro e desceu. Os policiais ainda não haviam chegado ali, portanto ninguém tinha visto as gotas de sangue no asfalto, as quais Lisbon sabia reconhecer e seguir muito bem.

Tirou a arma.

Melhor do que fugir é arranjar um bom esconderijo. Ela sabia disso. Não esperava que Red John estivesse muito longe. E as gotas de sangue pouco espaçadas confirmavam isso. Ele fora atingido no ombro, mas poderia morrer por perda de sangue em questão de horas. Precisava de atendimento médico e não era louco de sair dirigindo por aí com um ferimento desses. Ou melhor, Lisbon imaginava que ele não era louco a tal nível.

De qualquer forma, houve um momento, algumas ruas depois, que o sangue simplesmente parou.

Ela pensou na hipótese de Red John ter entrado num carro, mas se considerasse isso podia dar adeus a qualquer chance de pegá-lo.

Por alguns segundos ela cogitou desistir e voltar para o carro.

Mas então ela girou o corpo e olhou para a rua.

Sentiu um frio na espinha arrepiar todo seu corpo ao pensar na hipótese que acabara de criar em sua mente. Mas não tinha outra melhor. O bueiro.

Lisbon ajoelhou-se ao lado do primeiro bueiro depois do fim das gotas de sangue.

Com a ajuda de seu casaco, puxou a tampa, que já estava mal presa. O cheiro era insuportável. Mas havia algo que a movia para frente, sem deixar que pensasse em parar: vingança.

Ela puxou o comunicador da policia e avisou onde estava e que talvez fosse precisar de reforços. Em seguida desceu as escadas até o esgoto.

Era um grande túnel circular infestado de ratos e baratas, com um fluxo constante de esgoto passando numa canaleta.

Lisbon colocou a blusa sobre o nariz e olhou ao redor. Sentiu um misto de felicidade e medo ao ver uma mancha de sangue parecida com uma mão que ali se apoiara, numa parede próxima. Olhou a escada, com a ajuda de uma lanterna e reparou que os degraus também estavam sujos de sangue. Não tinha como Red John não estar ali.

Ela procurou não fazer barulho, mas o piso sujo não contribuía. A construção circular e vazia aumentava qualquer som provocando eco. Ela apertava a lanterna numa mão e a arma na outra. Estava consideravelmente calor no lugar. Seus passos eram cautelosos devido ao piso lodoso. Conseguia enxergar sem a luz, mas ficava difícil de andar. A adrenalina entupia suas veias. A situação toda testava seus nervos de policial.

Após cinco minutos caminhando e seguindo as marcas de sangue na parede e no chão, estas desapareceram. Lisbon girou a lanterna tentando ver mais pistas, mas elas haviam simplesmente parado.

 

No momento seguinte, a policial estava afundada naquela água, debatendo-se para respirar e se voltar ao estado normal, e com uma dor insuportável na nuca, onde fora acertada.

A correnteza estava forte, ela rapidamente começou a ser arrastada. Quando teve a oportunidade, viu um homem correndo na direção contrária.

Lisbon se segurou na borda e com algum esforço conseguiu sair da canaleta. Imediatamente pôs-se a correr. A partir de então tudo aconteceu muito rápido.

Ela tentava se equilibrar para não escorregar. A visão também estava desnorteada devido ao impacto. Mas ela corria o mais rápido que podia. Pegou o comunicador e pediu reforços, sem parar de correr.

Deu o primeiro tiro. O barulho foi tão alto que ambos encolheram a cabeça de susto, mesmo Lisbon. Talvez tenha sido escutado a quilômetros dali. Isso a fez pensar duas vezes antes de atirar de novo.

Red John estava fraco e sangrando demais para ser capaz de continuar correndo rápido o suficiente para que Lisbon não o alcançasse. Portanto após cerca de trinta segundos, ela estava perto o suficiente para atirar e conseguir acertar.

Porém ele não estava tentando escapar, como ela descobriria em breve. Apenas queria chegar à arma que usara para matar Jane, e assim que o fez, parou e mirou nela.

Lisbon parou imediatamente, sem baixar sua arma.

Red John ainda usava o capuz.

Agora os dois estavam a cinco metros um do outro, ambos com berettas apontadas para frente.

Lisbon já havia se encontrado com aquele mesmo homem semanas antes. Aquele mesmo capuz, a pose intimidadora. Entretanto, da ultima vez ele a havia hipnotizado.

- Abaixe a arma. – mandou Lisbon.

Ela ouviu um riso doente por parte dele, sob o capuz.

- Ou?

- Eu atiro.

- Acho que de nós dois sou em quem não tem nada a perder, querida.

Lisbon se lembrou de Jane naquele momento.

- O que eu tinha pra perder, já perdi.

- Não. – ele discordou, calmamente – Você está com medo. Você não quer morrer.

- Se você não tivesse nada pra perder, já teria atirado. – afirmou Lisbon.

- Bom ponto. – ele admitiu – Mas qual seria a graça de atirar em você quando eu posso cortá-la, estuprá-la e pintar suas unhas com seu próprio sangue?

- A questão é: você não pode. Não enquanto eu tiver uma arma apontada pra você.

Red John ficou quieto por alguns segundos. Ele moveu a cabeça lentamente. Lisbon não podia ver sua expressão, mas imaginou que fosse de curiosidade.

- Jane está morto? É isso mesmo?

- Ora, como se você não soubesse, seu bastardo. Você o matou! – bradou Lisbon.

- Eu não sabia que o ferimento seria mortal. – ele alegou, rindo – Então ele realmente atirou em mim e morreu antes? Mas que idiota! – surpreendendo Lisbon, ele jogou a arma na água – Pode me prender, querida. – e ergueu os braços – Eu arranquei tudo dele e agora arranquei tudo de você. Dou-me por satisfeito. A vitória, no fim, é minha.

Lisbon se aproximou sem baixar a arma.

- O que te faz pensar que eu vou te prender e não te matar?

Red John soltou uma risada mórbida que se assemelhava a um corvo.

- Você não vai me matar porque vai contra seus princípios.

- Era o que Jane faria.

- Mas não o que você faria. Ora, vamos, Lisbon, querida. Abaixe logo essa arma e me coloque as algemas.

- Muller está morta. Ela não vai mais te tirar do hospício.

- Não acha que eu coloco fogo em alguém e ainda espero que ela saia viva, não é? Ou que, se por acaso, sobreviver, ainda colabore comigo. Seria muito idiota da minha parte. Não… está tudo de acordo com o plano…

Lisbon se aproximou ainda mais e esticou a mão para retirar-lhe o capuz, porém não conseguiu.

- Ah. – ele começou – Isso também faz parte do plano. Eu nunca tive uma identidade, e agora abdico completamente de uma.

Lisbon tomou expressão de choque momentâneo.

- Você colou esse capuz no rosto? Seu doente! Há um milhão de formas de descobrir quem você é por exames de DNA!

- Você não entende, não é? Não importa quem eu sou, mas o que eu represento.

- O que você representa? Um doente mental com um capuz colado no rosto?

Ele riu novamente.

- Você me diverte, querida. Mas eu sou muito mais do que isso. Eu sou ninguém. Eu sou um sem rosto, sem identidade, sem alma, sem coração, sem escrúpulos, sem sanidade, sem compaixão. Eu represento a pura maldade do homem. Sem uma identificação, apenas atos. Surgirão muitos depois de mim. Ocultando meu rosto para sempre eu me tornarei lenda.

Lisbon assumiu expressão de desdém. Segurou-o pelo ombro machucado, fazendo-o gemer de dor e o virou, para colocar as algemas.

- Ok, senhor lenda viva. Hora de pôr a camisa de força.

No comunicador, alguém chamava seu nome. Ela fez Red John se ajoelhar e respondeu.

- Lisbon, o celular de Jane foi encontrado ligado a aproximadamente cem metros do foco do incêndio. – era a voz de Rigsby.

- E o corpo?

- Você vai adorar ouvir isso. Jane está no hospital de São Francisco. Ele não morreu falando com você, simplesmente deixou o telefone na grama quando o encontraram e o levaram pro hospital.

Red John grunhiu ao ouvir isso. Tentou se levantar pra escapar, mas Lisbon pressionou o ferimento, o que o fez cair no chão gemendo de dor.

- E como ele está?

- Está na UTI. Perdeu muito sangue, mas parece que não atingiu nenhum órgão vital. Segundo os médicos, vai depender somente dele agora. Já foi feita transfusão de sangue. O maldito acabou com o estoque de O negativo do hospital.

Lisbon pôs-se a chorar de felicidade.

- Obrigada por avisar, Rigsby. Jane ficará feliz com as notícias quando acordar.

- Notícias?

- Red John está algemado. Os reforços já estão chegando. O caso foi encerrado.

Lisbon ouviu Rigsby passar a notícia a todos ao redor, que fizeram barulho suficiente pra que ela ouvisse.

Alguns minutos depois, cerca de quinze policiais chegaram à altura dos dois no esgoto. Colocaram-no no camburão. Red John se debateu e gritou, mas de nada adiantava.  Esse era o destino.


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Notas finais do capítulo

Prévia do cap. 12
Foi quando percebeu que lhe chamavam no comunicador. Aliás, não chamavam só a ela, mas a todos os carros de policia da região.
“O carro que transportava Red John foi seqüestrado e desapareceu. Repito, o carro que transportava Red John foi seqüestrado e desapareceu”.



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