A filha do Rei escrita por Jess


Capítulo 2
Amizade Conturbada


Notas iniciais do capítulo

Uma amizade começa, mas ninguém sabe o que virá depois...



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A garotinha saiu correndo do carro em direção ao parque, e seus tios atrapalhados correram logo em seguida. Ela olhou de um lado para o outro e teve uma ideia.

– Tio Timão, tio Pumba, vocês podem comprar algo para comer? – Disse ela parando próximo ao chafariz.

– Ótima ideia! – Concordou Pumba sem ar.

– Eu sugiro um hot dog com bastante recheio. – Os olhos de Timão brilharam.

– Por favor! – Pumba zombou – Um hambúrguer é muito melhor.

O homem pequeno e magro gargalhou.

– Como você pode achar isso?! Hambúrguer não tem aquele delicioso gosto de salsicha.

– E hot dog não tem a gostosura da carne.

Kiara ficou observando com desdém.

– Chega, chega! Se for assim, vocês podem comprar os dois, eu estou com muita fome!

Os dois desviaram o olhar um do outro e marcharam um para cada lado do parque a procura dos lanches. Essa foi a deixa para Kiara, ela correu em direção ao lago dos crocodilos que por sorte não era tão longe de lá, alguns minutos depois chegou, parou para recuperar o ar e passou por uma cerca com arame esfarpado com cuidado para não se machucar. Quando chegou do outro lado sentiu um mau cheiro vindo do lago, era sujo e escuro, não viu nada parecido com um crocodilo, somente a água poluída e barro vermelho. Passou os olhos de um lado a outro e então avistou o que parecia ser um garotinho no lado oposto do lago, estava sentado na borda jogando pedras. Kiara se animou, finalmente achou alguém para brincar. Ela tentou encontrar algo que desse para atravessar o lago e viu uma fileira de pedras. Foi pulando em uma por uma. O menino do outro lado era Kovu, ele percebeu o movimento e se assustou, levantou bruscamente e então correu para avisá-la. Kiara já estava chegando ao final quando escorregou e caiu sentada na água, que não era funda, porém, ela sentiu algo se movimentar de baixo dela e tremeu de medo.

– Venha rápido, antes que eles comam você! – Kovu gritou e estendeu uma mão.

Kiara viu o garoto e então entendeu do que se tratava, levantou-se e correu o mais rápido que pôde, segurou na mão dele e quando olhou para trás viu meia dúzia de crocodilos na direção deles, Kovu a puxou e os dois correram até uma árvore. Ele a ajudou a subir e depois subiu também. Ficaram lá em cima respirando fundo, enquanto os crocodilos bisbilhotavam a árvore a procura deles.

– Você por acaso é burra? – O garoto gritou.

– E-eu não sabia, não pode me culpar. – Ela falou com os lábios tremendo de frio.

– Não sabia por que é burra.

– Pare de me chamar assim ou eu te empurro daqui.

– Tente! – Ele a olhou friamente. Os dois se encararam por alguns minutos, e a garota suspirou.

– Apesar de qualquer coisa, você me salvou... Obrigada. – Ela agradeceu. Kovu suavizou a expressão e sorriu levemente.

Ainda no parque, Timão e Pumba voltaram correndo com os lanches em mãos, procuram desorientado pela garotinha e começam a ficar preocupados por não a encontrarem.

– Ligue para Simba! Temos que encontra-la. – Timão grita. Pumba retira o celular desajeitadamente de seu bolso e disca o número de Simba.

– Alô. – Simba responde do outro lado da linha.

– S-sr. Simba, temos uma má noticia.

Alguns minutos se passaram e Kiara olhou para baixo procurando os crocodilos.

– Eu não os vejo mais, será que já é seguro descer?

– Acho que sim, eles não atacam se não se sentirem ameaçados.

– Então vamos.

Os dois descem da árvore, e Kiara agita a saia para retirar o excesso de água. Ela olha para o garoto que está de braços cruzados e com uma expressão carrancuda.

– Onde você mora? – A garota pergunta.

– E o que isso te importa? – Kovu diz grosseiramente.

– Você é um exilado?

– Não me chame assim! – Ele grita, Kiara hesita instantaneamente. Kovu franze o cenho, e dá um passo para frente, a garota dá um passo para trás no mesmo instante. – Você não vai correr? – Ele pergunta desafiador.

– Meu pai disse pra nunca dar às costas a um exilado. – Kiara cospe as palavras e o garoto fica muito ofendido.

– Então você é a garotinha do papai? – Ele brinca.

– Não!

Os dois se entreolham friamente depois de alguns segundos caem na gargalhada, pois percebem que não tem motivos para estarem brigando.

– Eu vim conhecer esse lugar, mas não me parece muito divertido. – Kiara diz.

– Pelo menos é espaçoso para correr.

– Você nunca foi ao Parque? Lá tem bastante espaço, bem mais do que aqui. Eu e meu pai fomos lá muitas vezes. É divertido, por que não vem algum dia?

O garoto faz uma expressão triste, então Kiara entende o motivo, ela decide mudar de assunto logo.

– Então, qual seu nome? Depois disso tudo eu me esqueci de perguntar.

– Kovu. – Ele diz meio tímido, parecia ter criado algum tipo de afeto por ela.

– E eu me chamo Kiara... Vamos brincar de esconde-esconde?

Kovu olha para ela franzindo o cenho.

– Nunca brincou de esconde-esconde? – A garota estranha.

Ele faz que não com a cabeça.

– Um conta de 1 a 100 e o outro se esconde.

– E pra que isso serviria?

– É divertido. Vamos, você conta primeiro e eu vou me esconder, mas você tem que fechar os olhos.

O menino para por alguns segundos avaliando essa proposta e depois fecha os olhos.

– 1... 2... 3...

– Espera! Espera! – Kiara grita, e ele abre os olhos assustado. – Primeiro, faça isso. – Ela segura suas mãos e leva até seus olhos. – Isso vai garantir que você não veja nada. – Ela continua segurando as mãos dele em frente ao rosto, ele afasta um pouco as mãos e os olhos deles se encontram, Kiara fica encantada com o verde brilhante dos olhos dele, Kovu começa a ficar vermelho sob o olhar da menina. E ela solta de uma vez suas mãos percebendo a reação dele.

– Desculpe, pode contar agora. – Ele pisca e depois coloca suas mãos sobre seus olhos novamente e recomeça a contagem. Kiara corre para uma árvore a alguns metros de Kovu e se esconde, ela fica atenta à contagem dele. Alguns segundos se passam e quando ele começa a procura-la, ela fica mais encolhida atrás da arvore. Kiara se sente estranha ao sentir uma presença e se vira de uma vez, dá um grito ao ver uma mulher de cabelos assanhados com olheiras avaliando-a.

– Ora, ora, veja o que eu encontrei. – Ela segura o pulso de Kiara, que por sua vez tenta escapar, mas não é forte o suficiente. As duas saem de trás da árvore e Kovu olha animado percebendo a presença, mas desanima rapidamente ao ver sua mãe segurando a garota.

– Mamãe, o que está fazendo?! – Kovu grita.

– Solte minha filha, agora! – Simba aparece do outro lado do lago, com uma expressão muito severa, que até Kovu tremeu. Ele começou a atravessar o rio sem se importar com sua calça de linho.

– Papai, não! Os crocodilos... – Kiara grita. Mas Simba sabia exatamente por onde passar. Ele se aproxima mais de Kiara e da mulher que ainda a segurava. Atrás dele aparecem Nala, Timão e Pumba muito preocupados. Os três atravessam o rio pela ponte de pedras com muito cuidado, até que ficam ao lado de Simba.

– Simba... Nala... – A mulher com olheiras pronunciou os nomes de uma forma ameaçadora e Kiara se assustou ao perceber que ela os conhecia.

– Zira... – O casal falou. – Devolva minha filha, Zira. Ou irá sofrer com as consequências. – Simba apertou os olhos.

– Eu só ia mostrar a ela seu caminho. Aqui não é lugar para uma princesa... – Zira soltou a menina que correu para os braços de seu pai. Ele a pegou no colo e segurou firme.

– Está acabado, Zira. Volte para seu lugar. Você sabe das regras. – Disse o rei enquanto se virava para ir embora. Zira com os mesmos movimentos pegou Kovu no colo e se virou para ir embora, mas antes sussurrou para si mesma:

– Não, Simba. Ainda está para começar. – Deu uma risadinha irônica e assustadora.

Kovu acenou para Kiara se despedindo, e ela retribuiu.

Algumas horas mais tarde, no carro Kiara não disse nenhuma palavra, Simba estava no bando do motorista e Nala ao seu lado. Enquanto Timão e Pumba sentaram um de cada lado da princesa na parte de trás. Quando todos chegaram, desceram do carro, menos Simba.

– Kiara, fique no carro. Precisamos conversar. – Os outros saíram sem discutir, e Nala deu um leve sorriso para o Rei, que retribui com um aceno de cabeça. Simba fez um gesto para que sua filha sentasse ao seu lado e ficou alguns segundos com a mão apoiando o queixo pensando no que iria dizer.

– Eu estou decepcionado com você, Kiara. Desobedeceu-me e pôs sua vida em perigo. O que você acha que eu faria se tivesse te perdido?

Kiara se sentiu envergonhada e olhou para suas mãos sobre seu colo. O Rei levantou seu queixo para que ela o encarasse.

– Um dia, você será rainha. Acha que esse é um comportamento de uma princesa? Uma rainha agiria assim?

– Eu sei que não... Desculpe-me, papai. Eu acho que sou muito nova para agir como uma rainha, e-eu só queria brincar.

– Você pode brincar, mas também deve entender que tem uma linhagem honrosa atrás de você. E nós queremos proteger essa linhagem. – Ele faz uma pausa – E a honra também.

– Então é só isso que importa? A honra? Eu não quero isso, papai. Eu nem tenho amigos. Ninguém me ver pelo que eu sou, mas só por “princesa” ou “futura rainha”. – Seus olhos se enchem de lágrimas.

– Eu vejo você por quem você é. Você é Kiara, minha filha, uma garota linda, esperta e muito inteligente, mas também princesa e futura rainha, pois isso faz parte de você. E eu gostaria que você tivesse orgulho disso. – Ele limpa uma lágrima no rosto de Kiara.

– Eu tenho orgulho de você.

– E eu de você. – A garotinha sobe para o colo de seu pai e os dois se abraçam ternamente.


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