We found love right where we are escrita por ColorwoodGirl, WaalPomps


Capítulo 1
Unique




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Eu vou te amar mesmo quando você for uma velhinha resmungona e rabugenta, ele havia prometido à ela. Não havia mentido, mas ela também dissera a verdade quando disse que ele seria pior do que ela.

Devia saber que aquela alma de moleca espoleta e briguenta jamais envelheceria. Que eles teriam 70 anos e ela ainda iria querer correr pelo asfalto, de tênis e shorts, chutando e driblando a bola como se ainda tivesse 23 anos e eles tivessem acabado de se apaixonar.

Mas não devia ter subestimado tanto o tempo e o preço que ele cobra das pessoas. A osteoporose, a artrite, a pressão alta e todas essas doenças infelizes que deveriam ser banidas da face da Terra pela tecnologia.

Certas vezes, ele queria poder ser Deus e acabar com tudo aquilo. Se suas mães estivessem vivas, lhe dariam uma coça na orelha simplesmente por cogitar aquilo; nem queria imaginar se proferisse tal disparato em voz alta.

Agora, Giane era uma senhora de cabelos brancos e costas levemente curvadas, o corpo começando a ficar mais largo e deformado pela idade; mais lentamente que o dele, um eterno sedentário, mas não mais aquela peça esguia de quando eram jovens.

Não podia mais jogar bola com os quatro netos do casal, todos jovens adultos àquela altura. Tiveram que se mudar para uma casa térrea, já que nenhum dos dois aguentava mais as escadas da mansão em que foram viver quando recém-casados. Ela não conseguia mais andar da sala até o quarto sem o apoio de uma bengala, e Fabinho já não conseguia mais carregá-la para fazer tudo parecer uma brincadeira.

E quando o medo que isso a derrubasse o possuía, ela vinha salvá-lo uma vez mais. Abria aquele sorriso sapeca, lhe beijava a boca “inapropriada” para a idade que tinham e seus olhos de jabuticaba brilhavam.

“Você ainda vai ter que me aguentar por muito tempo, fraldinha, pode desistir dessa ideia de se livrar de mim.”

Depois de cinquenta anos de casados, ele ainda se surpreendia com tudo: com o quanto a amava, com o quanto podia amá-la, como apenas de estar de mãos dadas com ela ajudá-la a caminhar pela rua cheia de flores, podia despertar todos os sentimentos que possuía.

Todas as noites, impreterivelmente, eles se sentavam na varanda dos fundos e observavam o céu. Certos dias contavam e falavam sobre as estrelas, em outros apenas observavam a lua e se beijavam, em pedidos silenciosos que eram repetidos há décadas.

É claro que tudo isso acontecia com ela, mas ele não escapava. Seus cabelos castanhos e bagunçados deram lugar a fios ralos e brancos, que agora mais podiam ser vistos, já que caiam em uma velocidade absurda. Não era mais um publicitário renomado e confundia o nome dos netos com o dos filhos, sem mencionar histórias passadas com presentes.

Mas sua maloqueira sempre estava lá, corrigindo-o de maneira nada suave e com piadas ferrenhas na ponta da língua velha, um sorriso sempre trespassando os lábios finos. Eram duas metades de uma laranja velha, um tanto podre por dentro, mas que se alegrava por estar completa.

“Foi uma vida boa, não é?” Perguntou certa noite, os dois abraçados na cama com os olhos voltados para a lua cheia, brilhando pelo vão da janela aberta.

“Tirando as diversas mancadas que você cometeu, foi perfeita.” Ela aporrinhou como de praxe, seus cabelos espalhados pelo peito do marido enquanto ouvia seu coração batendo com suavidade.

“Você fala como se fosse perfeita.” Ele resmungou, sempre mordendo a isca das provocações da esposa. Ela ergueu os olhos para ele, sorrindo emocionada.

“Nós fizemos e criamos duas pessoas maravilhosas, que são a Isabelle e o Miguel. Vimos e ajudamos a formar quatro jovens extraordinários, que são a Catarina, o Rafael, o Ana Luiza e a Rebecca. Mudamos o nosso pedacinho de mundo e do das pessoas que estiveram à nossa volta. Demos o exemplo de amor e de companheirismo.” Ela enumerou com a voz rouca de emoção e ele sorriu para ela, beijando a ponta de seu nariz fino.

“Nós tivemos uma vida excelente, pivete, melhor do que a de muitos personagens de filmes e novelas por aí... Eu prefiro o nosso final “quase felizes” para sempre do que qualquer final de contos de fadas.” Garantiu com a voz suave, a ajeitando de novo em seus braços.

Não podiam mais correr com uma bola nos pés, nem rodopiar mais no ar ou cair arfantes no chão. Sobre fazer amor, preferiam não comentar. Seus beijos tórridos e explosivos perderam a intensidade e deram lugar à calmaria e serenidade.

Mas o brilho de seus olhos sempre seria o mesmo ao olhar para a lua e se darem as mãos; porque qualquer que fosse o lugar em que estivessem no mundo, se ela brilhasse alta no céu pareceria o lugar onde encontraram o amor.


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Notas finais do capítulo

Com todo o amor e carinho para a minha querida Ca Marcussi, seu prêmio da promoção das 100 curtidas na page. Demorou mas chegou, e eu amei o resultado ♥
See you ;*
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