Acordei de repente com o despertador.
“Droga...” murmurei. Ainda estava completamente dominado pelo sono. E apesar de ter configurado o despertador, não fazia idéia de que horas eram.
Levantei o mais lentamente possível para então olhar no relógio.
“EEEEEEEEEEEEEEEEEH? 12:30?!” gritei e sai correndo pelo apartamento apressado “Merda, merda... Ryo-san já deve estar me esperando em Shibuya!” apressadamente disquei para o número dele, pouco tempo depois ele atendeu, a barulheira no fundo impedia de eu lhe ouvir muito bem.
“RYO-SAN!!” eu gritei “Me desculpe! Eu só acordei agora, devia estar com tanto sono que configurei o despertador errado...”
Ele deu sua típica risadinha e respondeu bondosamente “Está bem IV-kun, estou em frente à estação de Harajuku, vem pra cá.”
“Ok, vou me arrumar e daqui uns quarenta minutos eu estou aí.”
“Un!”
Corri desesperadamente pelo apartamento até chegar ao banheiro, liguei o chuveiro e tomei um banho rápido.
Logo que acabei me apressei em colocar uma camiseta branca, uma calça jeans, um boné rosa e um óculos preto, para não ficar muito reconhecível, às vezes são bons momentos de privacidade.
Peguei minhas coisas e me apressei para pegar o metrô.

***

Cheguei à estação e como esperado Ryoga estava lá. Também não muito reconhecível com o cabelo preso e sem seus habituais piercings, também de óculos escuros.
Fiz uma longa referência “Me desculpe Ryo-san!” ele riu e respondeu gesticulando com a mão “Está bem, está bem IV-kun” e deu umas palmadinhas em minha cabeça.
“Então... Em que loja você quer ir?”
“Oh sim... Eu não sei o nome, mas é aqui perto”
Ele riu.
“Ok vamos lá...”
Então caminhamos entre a multidão. Vários jovens vestidos de estilos nada convencionais. E eu chegava a me esquecer que fazia parte ‘daquilo’.
“Eles são tão estilosos...” comentei com Ryo-san e ele riu.
“Nós somos mais.” Eu concordei e nós rimos juntos.

Fomos até a loja e logo compramos a jaqueta que eu tanto queria, Ryoga analisou algumas roupas, mas nenhuma pareceu lhe agradar. Peguei minha sacola e saímos de lá, nos misturando à multidão novamente.
Ao andarmos Ryoga abordou um assunto que eu jamais pensei que fossemos conversar
“IV-kun...”
“Hm?”
“Você ama o Shin-kun não é?”
Eu fiquei paralisado, não sabia o que responder.
“D-d-d-do que você está falando Ryoga?”
“Ah, por favor, não se faça de idiota! Todos nós já notamos o modo como você olha pra ele.”
“Eu não estou entendendo Ryo-san... Eu e Shin somos amigos... Somos homens!”
Ele deu uma risada sarcástica.
“Você não é ignorante assim IV... Desde quando isso é importante? Nós não escolhemos por quem nos apaixonamos.”
Eu estava como sempre, vermelho.
“Eu não sei... Nós somos companheiros de banda e...”
Fui interrompido por uma revelação que eu nunca poderia ter imaginado.
“Eu amo o Reno.”
Fiquei ainda mais sem palavras, aquilo parecia ter tirado toda consciência de minha cabeça, e eu não sabia se tinha ouvido direito.
“O que?” perguntei incrédulo.
“Sim, eu amo o Reno. Ele é meu companheiro de banda e é um homem.”
“Ryo-san...”
“E sinceramente isso não importa, até por que o Reno é completamente apaixonado por você.”
Meus olhos quiseram saltar.
“Vai me dizer que você nunca notou isso?”
“Ok... ele já tentou... hã...” eu precisava escolher as palavras certas “me assediar algumas vezes” notei o olhar de Ryoga, definitivamente aquela não era uma palavra certa.
“Eu já suspeitava disso” ele então deu um sorriso que me soou forçado. “Ele pelo menos é bom de cama?”
Eu não sabia se queria rir o chorar.
“Ryoga-san! Eu não cedi pra ele!” disse tentando soar magoado.
“É, é... você é meio bobinho mesmo.”
Fiz bico, tentando parecer bravo, mas logo rimos juntos.
“Sinceramente, não sei o por quê dele te desejar tanto... Sou bem mais bonito que você” e rimos juntos. ESPERAVA que ele estivesse brincando. Não era muito do perfil de Ryoga definir amor somente por beleza.
“Mas então IV-kun, não fuja do assunto.”
“Eeeeh?”
“Por que você não se declara?”
“Está fora de cogitação Ryo-san!”
“Acabou de admitir que está apaixonado...” ele disse rindo e eu fiquei vermelho novamente.
“Eu... vou ficar bem... Sempre fui bem para me lidar com sentimentos. Dessa vez não vai ser diferente.”
“Eu duvido muito, seu amor não é platônico, o Shin-kun só não voa em cima de você por que tem medo de você rejeitá-lo.”
“O quê?”
“Essa loja parece ser legal, vamos entrar.” Disse ele me ignorando e entrando na loja.
“Não!” eu disse correndo atrás dele e o segurando “Agora diga.”
“Não tenho mais nada pra dizer, IV, seu bobinho. Agora é com você.”
Tentei absorver aquelas palavras, e quando as fiz Ryoga já estava dentro da loja, então eu corri para alcançá-lo.

***
Quando nos misturamos à multidão novamente, senti meu estômago roncar.
“Essa não...” eu disse “Nem tomei café da manhã.”
Ryoga riu. “Vamos comer algo.”
Eu concordei com um gesto de cabeça, e nos dirigimos à loja de Ramen mais próxima, ao entrar ouvi uma voz conhecida.
“Ele me disse que estariam aqui em Shibuya...”
“Ah, por favor, Reno-san, eu estou morrendo de sono... E até agora não os encontramos”
Eu então corri até a mesa onde Reno e Shin se encontravam.
“IV!” gritou Reno animado.
“Shin!” eu disse sem perceber, e notei o olhar de frustração de Reno.
“Oh, Reno-san” disse tentando reparar o erro sendo o mais simpático possível.
“Boa tarde!” os dois disseram juntos.
Ryoga veio logo atrás e os cumprimentou, agora que eu já sabia, parecia bem mais claro seu entusiasmo ao conversar com Reno.
“O que vocês estão fazendo aqui?” perguntei para Shin.
Ele pareceu sem jeito “Ah... Eu precisava vir comprar umas calças... quando Reno...” e Reno se intrometeu
“É, então eu o chamei para vir, aproveitando que estava com vontade de vir pra Harajuku... E só agora lembrei que vocês viriam também! Tremenda coincidência não?”

Eu ri e assenti.
Nós fizemos nossos pedidos, e quando fomos sentar, Ryoga propositalmente sentou-se do lado de Reno, me fazendo sentar ao lado de Shin. Reno parecia inquieto.
Eu realmente não sabia o que dizer e por alguns segundos eu e Shin trocamos olhares silenciosos, ele parecia tenso.
Comemos conversando sobre aleatoriedades e quando terminamos decidimos andar pelo local.
Andamos sem rumo, e Ryoga novamente foi ao lado de Reno, enquanto eu caminhava ao lado de Shin, que parecia tão tímido quanto eu.
Porém aos poucos, ele parecia voltar ao normal, e estava realmente doce comigo.
“Você quer um sorvete IV-chan?” ele me ofereceu. ‘Chan’ me soou íntimo, porém não comentei.
“Sim eu aceito!” disse sorrindo.
Ryoga se apressou em dizer: “Eu e Reno esperaremos aqui...”
Reno tentou se manifestar: “Mas eu...”, porém logo foi interrompido por um beliscão nada discreto de Ryoga na barriga.

Nós nos afastamos dele, e então entramos na loja de sorvete.
“Do que você vai querer?” ele perguntou com um lindo sorriso. Tão bonito que me fez perder as palavras.
“De... de... shi... hm... creme e chocolate!” eu corrigi, desejando me estrangular
Ele deu outro sorriso, e fez o pedido.
Enquanto esperávamos, eu olhava para o chão e podia senti-lo olhando para mim, quando de repente seus dedos se entrelaçaram nos meus.
Meu coração se disparou como nunca. Eu não sabia o que estava acontecendo, mas queria que isso continuasse para sempre.