Rick observava em silêncio Carl e Michonne conversando. Não porque ele não tinha mais o que fazer, mais porque queria. Desde que a guerreira negra havia voltado de sua busca pelo Governador, Rick havia passado a observá-la com intensidade e com algum outro sentimento que não tinha certeza do que era. Quando ela estava longe, ele se sentia vazio. Quando ela estava perto, ele se sentia completo. Não sabia exatamente quando isso havia começado, mas quando percebeu já era tarde demais. Ele estava apaixonado por ela.

Seu jeito reservado e inseguro, o fazia lembrar de quando ele mesmo era assim, em seus tempos de xerife. E o que só ajudou a fortalecer essa ligação que ele sentia com ela, foi seu filho. Ela rapidamente se tornou importante para o garoto, que sempre perguntava ao pai quando ela iria voltar de suas buscas, fazendo Rick responder decepcionado que não sabia. A pressão que ele sentia em seu peito, ao não saber se ela estava viva ou morta além daqueles portões era imensa. Assim que ela colocava os pés de volta na prisão, o antigo xerife suspirava de alívio, por vê-la ali bem em sua frente.

Rick sempre se culpava silenciosamente, por ter ao menos cogitado a ideia de entregá-la ao Governador. Não queria nem imaginar as coisas horríveis que aquele homem faria com a mulher. Agradecia aos outros, por o terem feito mudar de opinião. Agora, quando pensava em como ela havia aparecido do nada carregando uma cesta com fórmula de bebê no meio dos walker's, tudo lhe parecia uma lembrança distante. Ela havia conquistado seu lugar naquele grupo, não era menos merecedora do que ninguém.

- Você leu todos ontem à noite? Seguiu meu conselho?- Rick foi libertado de seus pensamentos e voltou a prestar atenção na conversa da mulher e de seu filho, assim que ouvi a pergunta de Michonne. A voz dela era doce e áspera ao mesmo tempo, demonstrando que mesmo depois de tudo o que haviam passado, as pessoas ainda podiam ser gentis.

-Sim. Esperei meu pai dormir, peguei minha lanterna e li todas.- Carl disse, esquecendo-se de que seu pai estava presente no momento.

-Você fez o que?- Rick falou, não entendendo mais nada da conversa. A expressão confusa em seu rosto fez Michonne e Carl rirem alto.

-Desculpe Rick, seu filho me pediu ajuda e eu forneci, mesmo que isso tenha sido contra suas regras.- a guerreira explicou, contendo o riso.

Rick deu uma risadinha, se divertindo ao ver que seu filho e ela eram cúmplices.

-Espero que não se repita.- Rick fingiu um olhar sério.

Michonne e Carl se entreolharam, depois deram de ombros.

-Hora de ir para a cama, garotão.- Michonne disse, se levantando. Carl se levantou também e ela bagunçou os cabelos escuros do garoto.

Rick sorriu ao ver aquilo. O fez lembrar de quando Lori colocava Carl na cama e lhe contava uma história, para fazê-lo pegar no sono. Ele vinha tentando não pensar muito em Lori, mas depois de algum tempo passou a lembrar dela não com tristeza, mas com felicidade. Porque tudo o que passou com ela foram lembranças boas, e ele sabia que em algum lugar, ela esperava que ele criasse novas lembranças boas, que ficariam guardadas como essas.

-Boa noite pai.- Carl deu um abraço rápido em Rick, esfregando os olhos devido ao sono.

-Boa noite filho.- Rick deu tapinhas nas costas do menino, agradecendo a alguma força maior por ter tido mais um dia com ele.

Carl e Michonne sumiram dentro de uma das celas da prisão, que agora haviam se tornado quartos. Rick ficou rodando sua aliança no dedo, deixando o tempo passar. Após alguns minutos, ouviu passos e levantou o olhar. Michonne vinha em sua direção.

Ele ficou de pé, como que para recebê-la.

-Ele demorou para dormir?- Rick perguntou, puxando assunto de um lugar onde sabia que a agradaria.

-Não, ele dormiu logo que se deitou. Eu só gosto de vê-lo dormir.- ela contou sorrindo,como se o menino ainda estivesse ali de olhos fechados e respiração profunda.

-É, eu também.

-Rick, tenho que te contar uma coisa.- Michonne falou.

O xerife ficou precupado. Se Michonne, que era fechada e na maioria das vezes não compartilha as coisas tinha algo para lhe contar, era algo com que deveria se preocupar.

-Diga.- disse, inseguro.

-Eu vou partir amanhã de manhã.

-o-o quê?- Rick não pode deixar de gaguejar. Ela mal havia chegado.

-Eu vou continuar minha busca. Daryl não vai mais me ajudar, mas eu tenho que seguir com isso.- ela admite.

-Mas, sozinha você corre ainda mais riscos. Pode acabar sendo morta e sem reforços!- Rick disse, passando as mãos pelos cabelos, nervoso.

-Eu posso tomar conta de mim mesma. Não tenho a quem fazer falta, risco é algo que corremos todos os dias.- Michonne falou.

Rick se aproximou dela, dando dois passos a frente. Estavam perigosamente próximos. Podiam sentir a respiração um do outro, que rapidamente havia se tornado irregular.

-Michonne...- ele disse o nome dela com voz rouca, baixando os olhos para seus lábios carnudos por alguns segundos, voltando novamente aos seus olhos depois.- eu me importo com você. Não faz ideia o quanto. Já perdi muita gente, não posso perdê-la também.

Mais nada precisou ser dito. Essas palavras deram a ela a confiança que precisava para fazer aquilo que queria a muito tempo. Bastou um passo, para que seus lábios roçassem um no outro com desejo. Suas bocas se completavam, aproveitando o momento. As línguas travavam uma batalha silenciosa, tentando determinar quem estava no controle. Ambos eram fortes, não cederiam. Os braços da samurai passaram-se ao redor do pescoço de Rick, que segurava firme na cintura fina da mulher. Eles se separaram, em busca de ar.

-Ainda vai partir?- ele perguntou, esperançoso.

-Sim.- ela respondeu, simplesmente.

Rick baixou a cabeça, decepcionado e ferido.

Michonne tocou-lhe o rosto.

-Não se preocupe Rick, eu sempre volto.